Budismo. Livro O Evangelho de Buda. Vida e Doutrina de Sidarta Gautama. A ILUMINAÇÃO DE BUDA. Afugentado Mara, o Senhor Buda entregou-se à meditação. Ante os olhos do espírito passaram os males e misérias do mundo, procedentes das más ações com seus consequentes sofrimentos. Então ele disse: É verdade que se os homens soubessem antecipadamente o resultado de suas más ações não as cometeriam. Todavia, a personalidade é cega e eles continuam sujeitos aos seus perniciosos desejos. Desejam ardentemente o prazer, e engendram a dor. Quando a morte destrói sua personalidade, não encontram a paz. Continuam sujeitos à roda de mortes e renascimentos, e aparecem em outra personalidade em novas existências. Assim permanecem movendo-se num círculo, sem poder fugir do inferno que eles mesmos criaram. Vãos são os prazeres e ineficazes seus esforços. Ocos como o bambu, e vazios como a bolha de sabão. O mundo está cheio de pecado e aflição, porque nele domina o erro. Os homens se extraviam porque pensam que o erro vale mais que a Verdade. E mesmo que vejam a Verdade, os homens a desprezam pelo erro porque é no momento mais atraente. Embora dê como resultado a aflição e a infelicidade. Buda começou então a expor a doutrina do dharma. O dharma é a verdade, a lei, a religião. Somente o dharma pode livrar-nos do erro, do pecado e da aflição. Ao considerar as causas do nascimento e da morte, o Bem-aventurado reconheceu que a ignorância é a fonte envenenada de todo mal. Desencadeando-se nas dozes vidanas. No princípio da existência não há conhecimento, e dessa ignorância surgem os apetites da vida de sensação. Que por sua vez projetam as formas orgânicas com os seis campos de percepção. Ou seja, os cinco sentidos e a morte em que os cinco se resumem. Os seis campos se relacionam com o mundo exterior e, desse contato, provém a sensação que tece a rede da personalidade com o apego as coisas materiais. A personalidade se perpetua nos sucessivos nascimentos que ocasionam dor, angústia, abatimento, velhice e morte. A causa de toda dor é a ignorância. Dissipe a ignorância e os apetites que nascem dela se desvanecerão. Desaparecerá a falsa percepção do mundo material e vocês se livrarão da concupiscência, do erro, da ilusão, do egoísmo da personalidade. que se sobrepõem a enfermidade, a velhice, a morte e os renascimentos. O sábio viu as quatro nobres verdades que mostram o caminho do nirvana e o aniquilamento da personalidade. A primeira nobre verdade é que o sofrimento existe. Sofre-se ao nascer, o crescer, ao adoecer e ao morrer. Sobre quem está unido ao que repugna. Sofre quem se ver forçado a separar-se de quem ama. Sofre quem anela o que não consegue obter. A segunda nobre verdade é que o sofrimento provém da concupiscência. O mundo objetivo excita a sensação, e a sensação desperta o desejo com ânsia de imediata satisfação. O desejo de viver para satisfazer os desejos da personalidade nos prende nas redes do sofrimento. O prazer sensual é um acontecimento que resulta em dor. A terceira nobre verdade é que o sofrimento pode cessar. Quem subjuga a personalidade, se livra da concupiscência e, por conseguinte, do desejo e da dor. A quarta nobre verdade é que pelo caminho óctuplo chega-se à eliminação do sofrimento. Apenas aquele que submete sua vontade ao dever salva-se do sofrimento. O homem inteligente segue o caminho óctuplo e desse modo deixa de sofrer. Eis as oito etapas do caminho: I. Reta compreensão. II. Reto proposito. III. Reta palavra. IV. Reta conduta. V. Retos meios de subsistência. VI. Reto esforço. VII. Reta atenção. VIII. Reta meditação. Trilhe-o respeitando o dharma, isto é, cumprindo o seu dever e evitando prejudicar outros seres. Pense na lei de causa e efeito, na lei do karma que forja o destino do homem e domine os seus sentimentos. Essa é a doutrina da reta compreensão. Seja benévolo com tudo quanto vive. Extirpe a maledicência, a inveja e a ira de tal sorte que você se assemelhe ao suave sopro da brisa. Esse é o reto propósito. Cuide de seus lábios como se fossem os portais do palácio de um rei. Que todas as suas palavras sejam francas, sinceras e corteses, como se você estivesse na presença do rei. Essa é a reta palavra. Que cada uma de suas ações elimine um vício e estimule uma virtude. Como se entrevê um fio de prata entre as pontas cristalinas de um colar. Assim se deve mostrar o amor em toda boa ação. Essa é a reta conduta. As outras quatro etapas superiores só podem ser percorridas pelos pés que já pisam não pisam caminhos mundanos. Almas cujas asas não têm mais plumagem! Não tente voar até o Sol!. O ar das regiões inferiores lhe é suave, e conhecidos e seguros lhes são os caminhos e níveis domésticos a que você está acostumado. Apenas os seres vigorosos podem abandonar o ninho que cada qual fabricou para si. O amor da mulher e do filho são valiosos. Eu sei disso. As amizades e os recreios da vida são agradáveis. As compassivas qualidades de uma conduta virtuosa são úteis. Faça de sua debilidade uma escada de ouro e eleve-se pela convivência diária com essas ilusões até as verdades mais dignas de ser amadas. Desse modo, você alcançará cumes mais serenos, a sua subida será menos penosa. Suas culpas não pesarão tanto, e você se fortalecerá pela vontade para quebrar as ligações dos sentidos e entrar no caminho. Esse é o dharma. Essa é a religião. Essa é a Verdade. E o sábio exclamou: Quanto tempo andei por caminhos errados! Ligado durante muitas vidas pela cadeia dos desejos. Busquei inutilmente a origem da inquietação que tortura o homem. Do egoísmo e da ansiedade inerentes a vida terrena, com seu nascimento, suas dores e sua morte. Porém já o descobri. É a personalidade. Não construam, oh senhores do karma, nova casa para mim. Porque eu rompi o jugo do pecado e quebrei o leme da inquietação. Meu espírito entrou no nirvana. Desvaneceu-se o desejo. Ali está a personalidade e aqui a Verdade. São incompatíveis. A personalidade é erro transitório do samsara, a roda dos nascimentos e mortes. A isoladora separação egoísta, mãe da inveja e do ódio. A personalidade é a insensata avidez e prazeres, o louco afã dos ilusórios triunfos e da vaidade. Em troca, a verdade se origina da reta compreensão das coisas. É eterna. É realidade da existência. É a bem-aventurança que conduz ao reto caminho. A personalidade é uma ilusão, e não há no mundo nem vício nem pecado que não derive da afirmação da personalidade. Para alcançar a Verdade é indispensável reconhecer a ilusão da personalidade. Não é possível caminhar com pés firmes pelo reto caminho sem que se tenha antes abandonado o embaraçoso lastro das paixões egoístas. A paz perfeita requer o abandono de toda vaidade. Bem-aventurado quem compreende o dharma, Bem-aventurado o que não prejudica os demais seres humanos. Bem-aventurado quem venceu o pecado e está livre de paixões. Desfruta de completa felicidade quem vence o egoísmo e a vaidade, porque já é perfeito e santo. Alcançou a suprema iluminação. Abraço. Davi
Nenhum comentário:
Postar um comentário