quarta-feira, 26 de novembro de 2025

O SERMÃO DE VARANASI

Budismo. Livro O Evangelho de Buda. Vida e Doutrina de Sidarta Gautama. Por Yogi Kharishnanda. O SERMÃO DE VARANASI. O Senhor Buda voltou para o lugar onde estavam os cinco eremitas que, ao verem aproximar-se o antigo mestre, resolveram não lhe dar mais esse título. Mas chamá-lo pelo nome, pois diziam entre si: Ele quebrou o seu voto e fracassou na santidade. Já não é dos nossos, mas apenas Gautama, um homem que vive na abundância e se entrega aos prazeres mundanos. Todavia, quando o Bem-aventurado se aproximou deles, ergueram-se os cinco inconscientemente para recebê-lo e saudá-lo. Embora o chamassem pelo nome e o tratassem como amigo.  O Bem-aventurado lhes disse: Não chamem ao Tathágata pelo seu nome nem dê a ele o trato de um amigo. Porque já é Buda, o Iluminado, que olhado, que olha todos os seres com a mesma compaixão, e por isso o devem chamar de pai. É mau faltar com respeito ao pai. É pecado menosprezá-lo. O Tathágata não crê que a autenticidade seja o caminho para a salvação. Porém, isso não quer dizer que se entregue aos prazeres mundanos e viva na abundância. O Tathágata encontrou o caminho do meio. A abstenção de carnes ou pescados, raspar a cabeça ou trançar o cabelo, vestir-se com túnica grosseira, cobrir-se de pó e oferecer sacrifício a Ani. Nada disso purificará aquele que não se libertou do erro. A leitura dos Vedas, as dádivas aos sacerdotes, a mortificação pelo calor ou pelo frio, e outras penitências semelhantes com intuito de alcançar a imortalidade, não purificam quem não se libertou do erro. A ira, a embriaguez, a teimosia, a hipocrisia, a presunção, a maledicência, a arrogância, as más intenções, são impurezas e certamente não são limpas pelas mortificações corporais. Permitam que eu mostre a vocês o caminho do meio que é equidistante dos extremos viciosos. O devoto extenuado pela penitência confunde a sua mente, e seus pensamentos são doentios. A austeridade mortificante não constitui meio eficaz para subjugar os sentidos da percepção. Aquele que alimenta sua lâmpada com água em vez de azeite não dissipará as trevas, e nem é possível avivar o fogo com lenha podre. As mortificações são tão penosas quanto inúteis. E mesmo que o homem leve uma vida austera, não poderá emancipar-se da escravidão da personalidade se não extinguir o fogo da concupiscência. Toda mortificação é inútil se a personalidade persiste em desejar os prazeres do mundo e os deleites do céu. Porém, quem subjuga a personalidade está livre de concupiscência, não deseja prazer nenhum. Nem mundano nem celeste, e por isso, não o contaminará a satisfação de suas necessidades naturais. Que coma e beba para a manutenção do corpo. A água que rodeia a flor de lótus não molha as suas pétalas. Toda sensualidade é enervante. O homem sensual é escravo de suas paixões e degrada-se de maneira vil ao buscar o prazer. Porém, não é mau satisfazer as necessidades da vida. Ao contrário, é nosso dever manter a saúde do corpo. Porque de outra maneira não poderíamos manter acesa a lâmpada da sabedoria, nem dar fortaleza e lucidez à mente. Esse, é Oh devoto, o caminho equidistante dos dois extremos. E os cinco devotos tornaram-se os primeiros discípulos do Senhor Buda. O Bem-aventurado falou bondosamente aos seus discípulos, mostrando compaixão pelos erros deles e representando-lhes a inutilidade de seus esforços. A pequena desconfiança que existia no coração deles desapareceu ao calor e persuasão das palavras do Mestre. Então o Bem-aventurado pois em movimento a roda da lei. Começando a pregar aos cinco discípulos, abrindo-lhes a porta da imortalidade e expondo-lhes as excelências do nirvana. Quando o Senhor Buda começou o sermão, os mundos estremeceram de júbilo. Os devas abandonaram a sua mansão celeste para ouvira as doces palavras da Verdade. Os santos que já haviam saído desde mundo congregaram-se em torno do Grande Instrutor para receber as felizes novas. Até os animais gozaram do benefício que fluía de suas sábias palavras. Todas as criaturas, deuses, homens e animais escutaram e compreenderam, Cada qual em seu grau de inteligência a luminosa mensagem de libertação. Assim disse o Senhor Buda: os raios da Roda são as regras da retidão de conduta. A justiça é a uniformidade de sua circunferência. A sabedoria é a sua faixa, a meditação é o cubo em que se fixa o eixo da verdade inflexível. Aquele que percebe a existência da dor e conhece a sua causa, o seu remédio e a sua extinção, compreende as quatro nobres verdades e está em bom caminho. Seu reto propósito será a luz que iluminará seus passos, e a palavra verdadeira o seu refúgio. Caminhará em linha reta, porque reta é a conduta. O trabalho honroso terá seu consolo. Seus esforços serão seus passos. Seus bons pensamentos, seu hálito e a paz serão sua companheira inseparável. Tudo quanto teve princípio terá fim. É vão todo cuidado com a personalidade, todas as atribulações que a afetam são passageiras, e se desvanecerão como um pesadelo quando o sonhador acorda. Quem desperta para o conhecimento da Verdade, livra-se de todo temor e conhece a futilidade de suas inquietações, ambições e sofrimentos. Acontece que, às vezes, ao sair de um banho, a pessoa pisa numa corda úmida e a confunde com uma serpente. Horrorizada sofre a agonia idêntica à causada por uma picada venenosa. Quão alegre ficará o homem ao reconhecer o seu engano e a não existência de tal serpente. O motivo de seu espanto está no seu erro, na sua ignorância e ilusão. Quando souber que pisou numa corda, reconquistará o sossego e a tranquilidade. Essa é a atitude de quem conhece a ilusão da personalidade, e que a causa de todas as suas dores, sofrimentos, inquietações e vaidades é uma miragem, uma sombra, um sonho. Feliz aquele que vence o egoísmo, alcança a paz e encontra a Verdade. A Verdade liberta-nos do mal. Não há no mundo libertador igual. Confiem na Verdade, mesmo que no começo a sua doçura pareça amarga. O erro extravia, a ilusão é a mãe do mal, embriagada como bebida fermentada. Todavia, muito logo se desvanece, deixando o homem abatido e desgostoso. A personalidade é uma febre, uma visão passageira, um sonho. Porém a Verdade é sublime, saudável, eterna. Unicamente a Verdade é imortal, permanece para sempre. Exposto esse ensinamento, o venerável Kaudinya, o discípulo mais idoso, viu a Verdade com os olhos do espírito e exclamou: Certamente, Oh Senhor Buda, o senhor encontrou a Verdade! E os devas, os santos e os espíritos bons das gerações mortas, que ouviram o Sermão do Tathágata, receberam alegres a doutrina e exclamaram: Em verdade o Bem-aventurado comoveu a Terra. Pôs em movimento a Roda da Lei, sem que ninguém no universo, deuses e homens, possam movê-la em sentido contrário. A mensagem da Verdade será proclamada em todo o mundo. A justiça a boa vontade e a paz reinarão na Terra. Abraço. Davi 

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