terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O EVANGELHO E O REINO - CAPÍTULO I

 

Cristianismo. Livro O Evangelho e o Reino. Por Witness Lee (1905-1997). Leitura bíblica: Mateus 4:17; 24:14. João 3:3,5. Apocalipse 5:9-10 e Romanos 14:17. O EVANGELHO E O REINO – CAPÍTULO I. Neste livro consideraremos a relação entre o reino de Deus e a Igreja. Em primeiro lugar, portanto, desejamos fazer uma pergunta essencialmente relacionada com nosso tema: Qual é o objetivo do evangelho? Em nossa pregação, geralmente contamos a história e raramente a partir do ponto de vista divino. Por um lado, a nós, pregadores, falta uma noção suficientemente elevada do evangelho. Por outro, é mais fácil pregar a partir do ponto de vista humano, pois, assim, podemos fazer um apelo mais pessoal à nossa audiência. Se pregarmos o evangelho do ponto de vista de Deus, nossos ouvintes poderão considerá-lo muito distante e, por não sentirem que é de interesse imediato, será difícil tocar na emoção deles. Portanto, fazemos da salvação do pecado o objetivo do evangelho e, assim, oferecemos alegria e paz a nossa plateia. Ocasionalmente, elevamos um pouco o padrão e apresentamos a vida como o alvo. Nosso ponto de partida é o pecado, a inquietação, a miséria e a condição morta do homem. Nosso alvo é perdão, paz, alegria e vida. Já que enfatizamos a necessidade humana quando pregamos o evangelho, nossos convertidos enfatizam o que ganharam quando aceitaram o evangelho. Eles dizem: “Eu cri no Senhor e obtive perdão de pecados; ganhei paz, alegria e vida”. Mas se examinarmos cuidadosamente a Bíblia, deixando de lado nossos próprios conceitos, veremos que a apresentação bíblica é muito diferente da nossa. Ela é assim: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”. Ela apresenta o reino como o objetivo do evangelho. Deveríamos arrepender-nos não simplesmente para obter perdão, paz e vida, mas por existir um reino celestial que exige nosso arrependimento. Devemos arrepender-nos para que nos tornemos participantes desse reino. Podemos estar satisfeitos por haver obtido perdão, paz e vida, mas Deus não está satisfeito com isso. Não foi somente João Batista que começou sua pregação com as palavras: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”. Essas mesmas palavras também foram faladas pelo Senhor Jesus quando começou seu ministério. Na dispensação do Novo Testamento, ao apresentar o evangelho ao homem, Deus mostra o reino como seu objetivo transcendente. Quando, no Novo Testamento, substitui a lei pela graça, Deus o faz por causa do reino, porque a lei era impotente para introduzir os homens no reino. Uma vez que virmos o reino, perceberemos quão insuficiente era nossa antiga compreensão do evangelho. Quão familiar é o assunto do novo nascimento! Quantos têm pregado sobre esse tema baseados em João 3. Mas quantos têm visto o propósito do novo nascimento? Nosso Senhor disse: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” João 3.3. O objetivo apresentado do novo nascimento é capacitar-nos a entrar no reino! Temo que não muitos tenham este conceito sobre o novo nascimento: que Deus nos deu sua vida a fim de que possamos participar do seu reino. Se quero viver no reino de Deus, devo possuir uma vida diferente da vida que tenho por natureza. Preciso nascer de novo. Preciso receber a vida de Deus, pois se não possuir sua vida, não posso viver em seu reino. O que dissemos torna suficientemente claro que o evangelho sempre tem em vista o reino de Deus, portanto ele é chamado de “evangelho do reino”. Mateus 24:14 diz: “Será pregado este evangelho do reino em toda a terra habitada”. Mas que é o reino? O cristianismo hoje fez do reino uma questão principalmente de profecia, algo relacionado ao futuro. Muitos pensam que “entrar no reino” é o mesmo que “ir para o céu”. Quando criança, ouvi muita pregação desse tipo,, colocando “o reino do céu” ou “o reino de Deus” como um lugar de felicidade eterna reservado para o futuro. Essa apresentação é contrária às Escrituras Sagradas. A Bíblia mostra que o reino de Deus ou o reino dos céus está relacionado a nossa vida no tempo presente. Reconhecemos que há um aspecto do reino que se refere ao futuro, mas a ênfase bíblica está mais no presente que no futuro. O reino influencia efetivamente nossa vida diária. A palavre “reino”, usada no Novo Testamento, é um termo forte na língua grega. Alguns tradutores têm defendido o uso da palavra “soberania” como sinônimo. Trata-se da ideia de um governo soberano, de autoridade real. Você se lembra das palavras de Apocalipse 20:4 e 6? Os dois versículos falam dos santos ressuscitados reinando com Cristo mil anos. A palavra “reinar” usada em ambos os versículos vem da mesma raiz da palavra “reino”. O reino de Deus é o reinar de Deus, o reino dos céus é o reinar dos céus. Mas qual é a implicação disso? Certamente não é difícil entender. Antes de sermos salvos, estávamos sob o domínio de Satanás e exteriormente nossa vida era governada pelos homens. Quando crianças, estávamos sob a autoridade dos nossos pais. Como estudantes estávamos sob a autoridade de nossos professores. Como cidadãos, estávamos sob a autoridade do Estado, mas não havia nenhuma autoridade divina em nossa vida. Veja as cidades modernas. Quanta ordem! Uma linha amarela é traçada no meio da estrada e controla as mãos de direção. Ninguém cruza essa linha. Quando alguém está para entrar em determinada via e vê uma placa indicando contramão, não vai nessa direção. Em outro lugar, ele vê: “Proibido Estacionar” e não estaciona ali. Que ordem! Mas, remova o governo a polícia e os tribunais e veja como as cidades ficam! Haveria um caos total. Por que as pessoas hoje as ordeiras? Porque o governo, a polícia e os tribunais exercem controle sobre elas. Será que elas estão sobre a autoridade de Deus? Não! Tampouco estávamos nós, antes de sermos salvos. Não estávamos sob o governo de Deus, o que significa que não estávamos no reino de Deus. Mas um dia, por meio do evangelho, Deus veio até nós e disse: “Você tem de se arrepender!”. Arrepender-se de que? Não simplesmente arrepender-se de determinados erros, de determinados pecados, mas arrepender-se radicalmente, arrepender-se de não ter estado sob a autoridade do céu. Arrepender-se de não se submeter à soberania de Deus. A razão de nossos erros é primeiramente nossa não aceitação do governo de Deus. Os homens cometem todo tipo de pecado, porque não querem deixar que Deus exerça sua autoridade sobre eles. Mas como é que ele pode trazê-los para debaixo de sua autoridade? Por meio do evangelho! O evangelho que o Novo Testamento revela é um evangelho proclamado a rebeldes, a homens que têm resistido a autoridade de Deus, a homens que não querem estar sob seu reinar. Esse evangelho limpa tais homens e põe a vida de Deus dentro deles de tal forma que eles possam aceitar o governo de Deus, Isso é o evangelho do Novo Testamento! Você ouviu o evangelho, creu e foi salvo, mas será que viu que o evangelho o colocou sob o governo de Deus? Você viu que foi salvo para o propósito específico de ser trazido para o seu controle? Viu que sua salvação não está relacionada meramente a perdão, paz e vida. Mas o verdadeiro objetivo de você ter sido perdoado e da vida lhe ter sido transmitida é levá-lo para estar sob o governo soberano de Deus? Isso é o evangelho! Apocalipse 1:5-6 diz: “Aquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino”. A razão de Deus nos ter lavado no sangue precioso é para que pudéssemos ser levados a estar sob seu governo. Como tenho pregado o evangelho em diversos lugares, tendo tido contato pessoal com inúmeras pessoas que foram claramente salvas e, após sua salvação, disseram-me algo parecido com isso: “Por que será que, desde que fui salvo, pareço estar sob certo tipo de controle? É como se alguém tivesse tomado o controle da minha vida. De tal maneira que, quando desejo realizar determinada coisa, algo em mim diz: “Você não pode!”. E quando eu quero fazer aquilo diz: Não! Não. Anteriormente eu era senhor de mim mesmo: agora, simplesmente já não posso fazer o que me agrada. Que significa isso? Não é essa também a sua história? Sim, essa é a história de todo aquele que é salvo. Entretanto, no momento da nossa salvação não imaginamos que alguém entraria em nossa vida e assumiria o comando. Muitas pessoas, quando recém-salvas, não entendem isso e me pedem uma explicação. Tenho procurado explicar da seguinte maneira: Como você creu no Senhor? Você não o recebeu em sua vida? Então, não sabe que o Senhor Jesus que você recebeu não é apenas Salvador, como também é Rei? Ele não é apenas o crucificado, mas é também o exaltado ao trono de Deus. Ele recebeu “toda autoridade nos céus e na terra”. “Deus o fez Senhor e Cristo”. Hoje ele não é mais o Salvador na cruz. Ele é o Salvador no trono. É como Rei que ele se tornou seu Salvador. Por isso, a vinda dele trouxe seu trono para a sua vida. Toda pessoa salva está debaixo de um governo interior, e esse é o governo do reino. Até agora você sabia de uma restrição sobre si, mas não havia percebido que há um trono em sua vida. O reino de Deus está no seu interior. Alguns dias atrás encontrei alguém que disse espantado: “Meus colegas podem envolver-se totalmente com todo tipo de diversões, e eu desejo fazer o mesmo. Entretanto, quando quero tomar parte nessas diversões, há uma forte restrição interior. Por que há todo esse transtorno interior? Às vezes dizemos às pessoas que há um transtorno interior porque elas têm interiormente a vida do Senhor Jesus. Isso é verdadeiro, mas não é toda a verdade. A questão não é simplesmente uma vida interior, mas uma autoridade interior. Paulo disse: “O reino de Deus, não é comida e nem bebida, mas, justiça, paz e alegria no Espírito Santo” Romanos 14:17. Que estamos “comendo e bebendo”? Trata-se de questões muito práticas da vida diária. O reino de Deus é igualmente um assunto muito prático na vida diária, tão prático como comer e beber. O reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Quando permitimos que a autoridade do reino de Deus opere em nós, essas três coisas caracterizarão nossa vida diária. Seremos rígidos em nós mesmos em todas as questões relacionadas à justiça, em nosso relacionamento com os outros. A característica será a paz e em nosso andar com Deus teremos alegria no Espírito Santo. Se não tivermos alegria no Espírito Santo algo estará errado conosco. Quando nos livramos da restrição divina, permanecemos em silêncio enquanto os outros estão louvando. Enquanto eles cantam suas aleluias, não conseguimos nem mesmo proferir um amém. Nosso espírito torna-se tão pesado que não conseguimos nos alegrar. Quando a justiça caracteriza nosso andar pessoal, quando temos paz em nosso relacionamento com os outros e quanto temos alegria na presença de Deus. Então o reino está manifestando-se em nossa vida diária. Deixemos de pensar no reino como um assunto meramente de profecia. O Novo Testamento revela que tão logo somos salvos, o trono de Deus é trazido para nosso interior, para que, daí por diante, nossa vida seja vivida em submissão ao seu reino. Livro o Reino e a Igreja. Abraço. Davi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário