Hinduísmo – Livro Mahabharata Recontado por Krishna Dharma. II. A MANSÃO CELESTIAL. Em poucos dias, Maya
voltou com muitos rakshasas que carregavam os materiais para a construção do
salão. Junto com as pedras preciosas, trouxe também uma grande maça, que deu de
presente a Bima, além de uma concha celestial conhecida com Devadata, que
ofereceu a Arjuna. Essa maça é igual a 100 mil outras maças, e o som desta
concha encherá de terror qualquer inimigo. Então, numa data prefixada pelos
sinais das estrelas auspiciosas, o danava começou a trabalhar. Marcou uma área
de 5 mil cúbitos quadrados e, usando seus poderes celestiais, começou a construção.
Levou mais de um ano para terminá-la. Milhares de pilares de ouro foram
erigidos para apoiar o salão esplêndido, que parecia uma massa de nuvens novas
alçando-se no céu. Cheio de luz terrestre e celestial, parecia estar
incandescente. Era espaçoso, fresco, elegante e leve para a mente. Adornado com
paredes e portões de joias, foi decorado com inúmeras pinturas e enfeites supra
reais. Possuindo escadas de cristal, arcos de ouro e lindas piscinas, o salão
ultrapassava em beleza até o salão Sudarma dos iadus, que tinha sido trazido
diretamente dos céus. Então, Iudistira entrou no salão. Para invocar o bem e a
prosperidade, distribuiu muitas doações entre milhares de brâmanes. Um festival
foi aberto na cidade, com atletas, atores, bardos, lutadores e músicos, todos
exibindo suas habilidades. Foram feitos muitos rituais e cerimonias, nas quais
Vishnu e todos os deuses foram reverenciados com utensílios lindos e caros.
Quando Iudistira se sentou no grande salão central, muitos rishis celestiais se
aproximaram, de todas as partes do universo. Ocuparam lugares de honra,
parecendo muitas luas que brilhavam, iluminando o salão. Um deles era Narada,
sempre reverenciado por Iudistira e seus irmãos com todo o respeito. Depois de
se sentar perto dos pandavas, Narada perguntou a Iudistira. Oh rei, está
protegendo adequadamente o povo? Sua mente está firmemente centrada na virtude?
Você os quatro objetivos da vida – religião, lucro, prazer e liberação – cada
um no seu tempo correto? Narada fazia essas perguntas minuciosas ao rei atento,
e suas questões constituíam efetivamente instruções sobre a arte de governar. A
sabedoria e o conhecimento do rishi eram famosos no universo todo. Também era
conhecido como um grande servidor de Vishnu, familiarizado com o plano divino
do Senhor. Seus movimentos pelo mundo sempre eram feitos com o intuito de
ajudar aquele plano. Os pandavas e toda a assembleia silenciaram, enquanto ele
falava. Narada explicou que o dever essencial de um rei era proteger todos os
seres vivos dentro de sua jurisdição, não apenas proporcionando-lhes os meios
materiais de subsistência, como também assegurando o progresso de todos na vida
rumo à emancipação espiritual. Quando Narada acabou de falar, iudistira
respondeu: Oh sábio onisciente, o senhor descreveu perfeitamente a verdadeira
religião e a verdadeira moral. Farei tudo o que me sugeriu. Meus conhecimentos
aumentaram com suas instruções. Pela graça do Senhor, esforço-me para cumprir
meu dever e para acompanhar os passos dos meus nobres ancestrais, embora não
possua a mesma habilidade que eles possuíam. Percebendo que Narada admirava o
salão celestial, Iudistira perguntou-se já havia visto algum outro que se
igualasse àquele em todo o universo. O rei sabia que o sábio costumava visitar
todos os planetas superiores. Então, Narada começou a descrever todos os salões
de audiências que já havia visto, a começar pelo de Indra. Em suas descrições,
mencionou os nomes de diversos ancestrais de iudistira que haviam ascendido aos
céus. O rei soube, então, que seu pai Pandu vivia no grande salão de Yamaraja.
Sabendo também que o grande rei Harischandra morava com Indra, iudistira ficou
curioso e perguntou a Narada: Como é que meu pai ainda não alcançou a morada do
rei dos deuses, como Harischandra? Que tipo de atos piedosos aquele rei
realizou que meu pai deixou de realizar? Narada explicou que Harischandra tinha
feito o grande sacrifício da Rajasuya, que subjugava todos os outros reis e
estabelecia o monarca que o realizava como imperador do mundo. Durante sua
realização, o monarca tinha de distribuir riquezas imensas, como caridade, a
centenas de milhares de brâmanes. Qualquer rei que tivesse executado na terra
esse sacrifício, mantendo o mundo inteiro na senda da virtude, tornava-se
qualificado a alcançar a morada de Indra. Então Narada lhe disse: Oh rei, seu
pai me pediu que lhe desse uma mensagem. Deseja que você faça a Rajasuya, para
elevar a si próprio e a ele ao mundo celestial de Indra. Tanto Narada quanto
Pandu sabiam que os deuses queriam que Iudistira fizesse o sacrifício. Era
parte de um plano divino para livrar o mundo das influências demoníacas. Desde
a morte de Pandu, muitos reis maus tinham se tornado poderosos e estavam
explorando a terra com propósitos pecaminosos. Iudistira precisaria superá-los
antes de fazer a Rajasuya. Narada compreendeu que Krishna amava Iudistira e
seus irmãos, e que pretendia usá-los como instrumentos para restabelecer a
religião no mundo. O sábio concluiu: Oh rei, pense sobre isso. Considere fazer
a Rajasuya. Mas, cuidado, não será fácil. Espíritos poderosos das trevas serão
seus oponentes. Como resultado, pode ocorrer uma guerra que destruirá todos os
reis e guerreiros da terra. Sabendo disso, faça o que mais lhe convier. Narada
disse que logo iria visitar Dwaraka para ver Krishna. Temendo não ter o poder
nem os recursos necessários para fazer a Rajasuya, iudistira disse: Por favor,
peça ao Senhor infalível que venha em breve a Indraprasta. Preciso de sua ajuda
e orientação mais que nunca. Narada assentiu e se levantou. Junto com os outros
rishis, se alçou no ar e desapareceu. Sentado em seu magnífico salão de
audiências que recebera o nome de Mayasaba, Iudistira governava Indraprasta com
justiça e compaixão. Seu procedimento virtuoso atraía a cooperação de todos os
deuses e, assim, seu reino não se afligia nem com eventuais perturbações
naturais. As chuvas caíam no tempo certo e a terra produzia frutos em
abundância. Os homens viviam até a velhice, livres de doenças e ansiedade,
tendo tudo o que queriam e de que necessitavam. Todos seguiam seus deveres
religiosos adequadamente e se devotavam a Deus. Ninguém alimentava qualquer
hostilidade contra Iudistira, e dessa forma ele se tornou conhecido como
Ajatasharu, ou aquele que não tem inimigos. Os anos se passaram e os pandavas
continuavam governando Indraprasta. Draupadi dera um filho a cada um dos irmãos
que, como seus pais, floresciam como os deuses no céu. Mas iudistira não estava
feliz. Pensava muito na Rajasuya. Reconhecendo que esse era o desejo dos deuses
e, portanto, do próprio Senhor, desejava intensamente executá-la. Quando, por
fim, sentiu que a ideia já estava suficientemente amadurecida, decidiu ir em
frente com a Rajasuya. Convocou uma assembleia para discutir o que deveria ser
feito. Quando todos estavam presentes, disse: Acho que devo fazer a Rajasuya.
Embora não sonhe com o domínio dessa terra para mim, pretendo cumprir o desejo
do Senhor. Iudistira entendia que ao sacrifício também seria uma oportunidade
para firmar a posição suprema de Krishna pelo mundo todo. Se todos reconhecessem
a supremacia de Krishna e o reverenciassem, progrediriam bastante no caminho
para a libertação. Esse era o único objetivo apropriado para um imperador
alcançar. Todos os ministros concordaram. Não podiam pensar em outra pessoa,
além de iudistira, que pudesse se tornar imperador. Se seu governo virtuoso se
estendesse até o outro lado da terra, esta se tornaria exatamente como o céu.
Daumya se levantou e falou, em resposta: Oh grande rei, o senhor certamente
deve fazer o sacrifício que lhe dará soberania universal. Primeiro, porém, terá
de obter a aceitação de todos os outros reis. Iudistira tinha decidido enviar
seus quatro irmãos nas quatro direções, para vencer os reis. Os que não
aceitassem seu governo teriam de ser derrotados. O pandava sabia que alguns
prefeririam lutar. Discutiu com seus ministros a melhor maneira de proceder.
Todos concordaram que deveriam, primeiro, consultar Krishna. Iudistira rezou a
ele em seu coração, sabendo que este certamente compreenderia seu desejo. E
Narada também o informaria. Se Krishna realmente desejasse vir, sem dúvida logo
chegaria a Indraprasta. Mahabharata – Recondato por Krishna Dharma. Abraço.
Davi
Nenhum comentário:
Postar um comentário