Editor do
Mosaico. O SENTIMENTO UNIVERSAL DA PÁSCOA. Comemoramos no cristianismo em
(10/04/2023) o Domingo de Páscoa. Momento de confraternização familiar. Muitos
parentes reúnem-se para almoçarem juntos ou dependendo de circunstâncias
jantarem. Esse sentimento vem com a tradição judaico-cristã, no caso de nosso
país, o Brasil. Apesar de oficialmente laico, tem arraigado em sua cultura a
religião católica, e quase igualando em números os protestantes de várias
tendência e facções. Sendo um evento espiritual contido nas três religiões
monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo) a Páscoa reveste-se de importância
fundamental. Quando pensamos na integração de filosofias e espiritualidades do
mundo em que estamos incluídos. Essa é a proposta do Mosaico, valorizar todas as
correntes do pensamento religioso universal. Reconhecendo em cada uma sua
peculiaridade e particularidade como motivos de complementariedade para ajustar
e reparar as diferenças. Harmonizando e sintonizando a cultura exotérica de
cada povo. Aparentemente uma sugestão ousada, mas a semente do entendimento
humano precisa ser lançada em todas as direções. Assim, um dia, veremos os
frutos desse laborar universal mesmo que seja em posteriores renascimentos.
Três palavras (Pessach, Ashura e Páscoa) têm semelhantes significados. Todavia
com simbolismos e compreensões diferentes. Dentre as religiões aludidas acima,
não há dúvida que o judaísmo é a origem dessa tradição. Tudo começou com o
patriarca Jacó, que desceu para o Egito, segundo as escrituras com 70 almas, por
volta de 1300 AC. Os descendentes do primeiro patriarca hebreu, Abraão,
estiveram nesse país como escravos por aproximadamente 430 anos. Saindo
posteriormente, conforme Êxodo 12 em quantidade estipulada de mais de 2 milhões
de pessoas contando mulheres e crianças. Sendo que o texto sagrado menciona 600
mil homens como visto em Êxodo 12,37 "Assim partiram os filhos de Israel
de Remesses para Sucote, cerca de seiscentos mil a pé, somente de homem, sem
contar os meninos". Esse trecho bíblico narra a saída do povo de Israel do
cativeiro no Egito. Êxodo 12: 3. "Falai a toda a congregação de Israel,
dizendo: Aos dez desse mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas
dos pais, um cordeiro para cada família. 4. "Mas se a família for pequena para
um cordeiro, então tome um só com seu vizinho perto de sua casa, conforme o
número dos almas: cada um conforme ao seu comer, fareis a conta conforme o
cordeiro.". 5. "O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula, um macho de
um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras". 7. "E tomarão do
sangue, e colocarão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em
que o comerem". 8. "E naquela noite comerão a carne assada no fogo,
com pães ázimos com ervas amargas a comerão". 11. "Assim pois o
comereis: Os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso
cajado na mão; e o comereis apressadamente, está é a Pessach – Páscoa – do
Senhor". Os judeus têm toda uma tradição espiritual em relação a esse
evento. Sendo uma refeição ritualística preceituada no Talmud escrito e oral,
de igual modo, na Torá escrita e oral. Não detalharemos os pormenores, mas é
bom saber, que nas famílias o pai ou responsável, deve conhecer esse mandamento
para celebrar conforme está ordenado. Eles comem na Pessach – o cordeiro, as ervas
amargas e o pão sem fermento. Além de tomarem vinho, e outros ingrediente
usados hoje, relembrando tudo que D'us realizou por eles. Como a milagrosa
saída do Egito, o livramento de seus primogênitos que não pereceram pelas mãos
do anjo da morte, ao obedecerem a ordenança de mancharem, tingirem, com sangue
os umbrais das portas. Eles têm um sentimento, que individualmente todo judeu é
um servo de D'us durante toda sua vida. O cordeiro entre eles não é símbolo do
Messias, nem de Jesus, mas cada judeu, na condição de filho deve assumir com
seu Criador um pacto de vida e morte. Colocando-se à disposição do Todo
Poderoso desde seu primeiro suspiro ao último. O sentido da Pessach é passagem,
denotando que, os judeus seriam sempre peregrinos no mundo. Um período de vida
na terra com um intervalo de tempo intercalado entre cidades, nações e
continentes variados. Encontrariam convivências em diversas culturas e
tradições, passando por momentos de cordeiro assado em família. Ervas amargas
em muitas situações de perseguições e mortes. Tendo a restrição da fome
gustativa do pão sem fermento em muitas ocasiões. Seriam bem recebidos em
alguns lugares, mas em outros discriminados. Os judeus têm um sentimento
nacionalista de autopreservação, e um "medo" coletivo, quando necessário
há fuga à retirada eminente, indo para outras Terras. A comunidade dos judeus
messiânicos celebra a Pessach, páscoa, de maneira mais livre. Sem um dogmatismo
litúrgico, e como os cristãos vendo no cordeiro a figura de Yeshua (Jesus),
como um ser divino, o Filho encarnado de Deus. Mas a grande maioria dos judeus
conservadores, liberais, ortodoxos e ultra ortodoxos não creem que Jesus é o
Cristo o filho do Deus Vivo. Tendo-o como um profeta, assim, como os demais
patriarcas Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Josué e Arão que formaram o povo
Judeus em seus primórdios. Os judeus celebram a Pessach em 15 e 16 de Nissan ou
15 e 16 do mês de abril, estando atualmente no ano religioso de 5783. Os
muçulmanos também têm sua Páscoa, porém para eles, o evento tem um significado
diferente que o dos cristãos. Acontece em outra data, a comemoração é chamada
de Ashura. Celebra a libertação dos escravos israelitas do Egito, sendo feita
no 10º dia de Muharram, o primeiro mês do ano no calendário lunar, que será em outubro.
Segundo o professor universitário Said Mounsif, Iman da comunidade muçulmana no
Pará – Brasil. o Islã pregado pelo profeta Muhhamad, em árabe mesmo, já que o
nome "Maomé" é considerado uma referência pejorativa. Surgida no
período das cruzadas, era a mesma religião pregada pelos profetas mencionados
na Torá e na Bíblia. Quando o Profeta Muhhamad (570-632) chegou em Medina -
Arábia Saudita, encontrou a comunidade judaica jejuando na Pessach. Ele
perguntou: que festa é esta que o judaísmo está fazendo? E a resposta dos
companheiros foi, que era o dia da saída dos Hebreus do Egito. Ele disse, vamos
fazer deste dia nosso também. Porque o Islã honra o Profeta Moisés, e os
patriarcas, explica Mounsif. Para os fiéis do islamismo, porém, existe uma divergência
com o que aconteceu com Jesus. Enquanto os cristãos celebram sua ressurreição
como o principal milagre da igreja, os muçulmanos acreditam que Cristo não
morreu. Após a última ceia, o profeta Jesus teria sido arrebatado, indo ao
reino dos céus sem ser submetido ao calvário da crucificação. No islã,
Muhhamad e Jesus são profetas de Aláh. Mounsif continua explicando: para nós,
muçulmanos, os dias que antecedem a Páscoa não trazem qualquer significado
especial espiritual, pois não cremos em sua morte e por consequência em sua
ressurreição. Uma vez que só ressuscita ou volta a vida, aquele que morreu,
pondera o Iman. Ainda assim, Mounsif incentiva muçulmanos convertidos a não
perderem o contato com suas famílias de outras religiões durante a comemoração
da Páscoa cristã. Mesmo que não participem de missas e outros eventos
religiosos. Os muçulmanos têm parentes e famílias cristãs, evangélicas,
católicas. Então eles devem participar da festa que não pode ser desprezada ou
eliminada. A família, quando se reúne, é uma felicidade para a comunidade
muçulmana ratifica Mounsif. Nós cristão, pelo menos minimamente, em nossa
experiência, conhecemos o conceito da Páscoa. Advindo dos ensinos bíblicos
adquiridos desde criança nos catecismos, nas escolas dominicais ou retiros
infantis. Onde tomávamos lições das principais doutrinas das Escrituras
Cristãs. Aprendemos, que a última ceia que Jesus comemorou com seus discípulos
representava, em relação a ele ser judeu, a instituição de um novo mandamento. Não
mais como o modelo antigo do cordeiro sendo a refeição principal à família
judaica, mas agora, os cristãos celebrariam sua morte e ressurreição. Prefigurando
seu triunfo sobre a condição espiritual proveniente do velho judaísmo. Desse
modo, os discípulos e seguidores, também, após a conversão e batismo nas águas,
seriam, pós mortem introduzidos no reino do Pai Celestial. Poderíamos entrar em
questões teológicas que suscitariam longos argumentos para explicarmos, e,
penso, que não devemos enviesar nesse caminho, para não corrermos o risco de
embaraços. Mas como cristãos temos inúmeros problemas retóricos e dogmáticos.
Como exemplo, algumas facções cristãs, não aceitam a divindade de Jesus, os
Testemunhas de Jeováh, que inclusive tem uma hipótese, que Jesus não morreu em
uma cruz, como recorrentemente é ensinado pela teologia ortodoxa. Porém, foi
pregado em uma estaca. Também, os Adventistas do 7º Dia reconhecem em seus
ensinos exotéricos, a ordenança do mandamento do sábado, como requisito para
fazer parte dos 144 mil que entrarão na Nova Jerusalém. Um grupo especial de
cristãos que reinarão com Cristo, no plano espiritual invisível. Sendo os
governantes de países, cidades e logradouros no mundo inteiro. Os demais
cristãos estarão incluídos, numa esfera visível, no milênio, os mil anos em que
Cristo reinará junto as nações da terra. Temos costume nas igrejas,
principalmente protestantes, de diminuir a importância da Páscoa e aumentar o
valor da Ceia do Senhor. Muitos cristãos dizem que a Páscoa representa a velha
aliança realizada por Deus com seu povo no deserto. Todavia hoje temos a Nova
Aliança simbolizada pelo sacramento do pão e vinho místicos, tipificando o
corpo e o sangue de Jesus vertido na cruz do calvário para a salvação da
humanidade. Esse segundo aspecto sim, é prevalecente, em nossa experiência com
Deus. Mas devemos perceber que cada perspectiva da doutrina, nesse particular,
tem relevância específica num pormenor da experiência de cada indivíduo em sua
cultura espiritual. Não existe, penso, esse conceito de um ensino sobrepor-se
ao outro como melhor ou pior, pois é notório, que as idiossincrasias devem ser
mantidas representando aspectos da verdade de cada tradição religiosa.
Fica claro que o cristianismo das três religiões mencionadas aqui, é a única
que tenta ter primazia quando citamos os dogmas e crenças relacionados a
espiritualidade. Isso cria um entrave para podermos compreender e aceitar
outras proposições, que não sejam necessariamente, concordante com aquilo que
pensamos. Mateus 26: 26. "E, quando comiam, tomou Jesus o pão, e
abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isso é o
meu corpo". 27. "E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lhe,
dizendo: Bebei dele todos". 28. "Por isto é o meu sangue, o sangue do
novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados".
29. "E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até
aquele dia que o beba novo no reino de meu Pai". Páscoa, um tema tão nobre
e rico em simbolismo espiritual na tradição judaico-cristã. Passa hoje, no
mundo Ocidental, a fazer parte do racionalismo materialista da pós-modernidade,
reduzindo seu valor ao consumismo social capitalista. É espantoso que
muitos cristãos assumiram a postura comercial e utilitarista dum ensino tão
precioso como este. Cooperamos com a liberdade de mercado lucrativa ao
adulterar com tipos das figuras de coelhos, "ovos" de Páscoa,
presentear chocolates para amigos ocultos com representações conscientes nas
reuniões familiares. Estereotipando o verdadeiro símbolo místico. Esses são a
família, o cordeiro, os pães ázimos, as ervas amargas, a água e o fogo que o
texto bíblico nos faz ponderar. Nestes dias, suponho, ser recomendável
voltarmos para uma visão espiritual e interior do verdadeiro sentido cristão da
Páscoa. Tentarei trazer luz nessa rica alegoria que precedeu a saída do povo
hebreu do Egito. Usarei o texto acima de Êxodo 12:5,7-1. I. Lombos cingidos,
sapatos nos pés e cajado na mão. Entendo como nossa responsabilidade em
percorrer a senda espiritual. A ideia de que nossa humanidade será testada ao
extremo pelo "caminho estreito e a porta apertada", em Mateus 7,14.
As provações nos virão, neste mundo tipificado pelo "deserto" com
serpentes e escorpiões. Montanhas, escassez d'água e alimento. Frio, calor,
miragens, desejo de retornar ao velho Egito. Desentendimentos, espreita dos
inimigos; por incrível que pareça, todos, instrumentos para nos elevar ao
Divino. II. O cordeiro como representação do Cristo, deveria ser perfeito e
imaculado. Sua morte redentora e vicária, substitutiva, forneceria a satisfação
e alegria dos filhos de Deus como famílias da Terra. Ele foi sacrificado
"a tarde" no monte Gólgota ou Caveira, assumindo nossa culpa e
inumeráveis pecados. Seu sangue cobriu nossas transgressões, quitando nossa
impagável dívida e nos reconciliando com Deus. III. A família reunida teria o
cordeiro como o prato principal, que promoveria uma solene refeição. Não era
mais uma, mas a última numa Terra estranha na qual estiveram vivendo por mais
de quatrocentos anos; tendo esperança de um dia partir para a Terra da
Promessa. IV. O fogo lembra carne assada, o doloroso e sofrido injúria,
vergonha, humilhação, insulto, ofensa e injúria pela qual o Cristo passou para
promover nossa salvação. Também a purificação pela provação, muitas vezes nos
tornando cinzas para ressurgirmos do pó, tal como o pássaro mitológico phenix.
V. A água traz a ideia da purificação interior e a finalização de um processo
para entrar num estágio mais elevado de espiritualidade, ascensão. Seu batismo
é exemplo desse procedimento quando em Mateus 3.16 é dito "sendo Jesus
batizado, saiu logo d'água, e eis que se lhe abriram os céus e viu o Espírito
de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele". Isso pode representar uma
alusão a nossa iniciação quando somos imersos nas águas, fazendo parte do
mistério da vida cristã. VI. Ervas amargas dizem respeito as adversidades
retratadas nas doenças, angústias, ansiedades, medos, tristezas que enfrentamos
em nosso cotidiano. Noite e dia, é o cálice que devemos estar prontos para
tomarmos, sem murmuração e agradecendo a Deus o privilégio de padecer por ele.
7. Pães ázimos, penso, o discernimento que devemos estar capacitados a usar nas
decisões, escolhas, sentimentos, intuições que envolvem as mais variadas
situações que enfrentamos. Aqui devemos estar intimamente ligados ao Senhor,
sendo um com ele em espírito. O discernimento é um atributo do espírito humano.
A comunhão com Deus produz está sabedoria do alto. Nossa esperança está
tipificada na travessia do rio Jordão, entrando na Terra Prometida de Canaã.
Deuteronômio 8,7 "Porque o Senhor teu Deus te põe numa boa Terra, Terra de
ribeiros de águas, de fontes, e de mananciais, que saem dos vales e das
montanhas. Terra de trigo e cevada, e de vides e figueiras, e romeiras; Terra
de oliveiras, de azeite e mel. Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada
te faltará nela; Terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o
cobre". Essa Terra é a representação de Cristo, crescendo em nosso
espírito. Quero ter o prazer de ver na mesma mesa, sentados, judeus, muçulmanos
e cristãos celebrando a Ceia do Senhor Eucaristia numa mesa ou igreja. De igual
modo, o mesmo grupo, participando das comemorações da Ashura muçulmana numa
mesquita. Semelhantemente esses, também, festejando a Pessach, numa sinagoga
judaica. É possível esse fato? Creio que podemos fazer nossa parte, para que,
esse sonho torne-se uma realidade. Páscoa é comunhão fraternal com Deus -
Família - Irmãos - Amigos. Feliz páscoa a todos. Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário