sexta-feira, 7 de abril de 2023

O SENTIMENTO UNIVERSAL DA PÁSCOA

 

Editor do Mosaico. O SENTIMENTO UNIVERSAL DA PÁSCOA. Comemoramos no cristianismo em (10/04/2023) o Domingo de Páscoa. Momento de confraternização familiar. Muitos parentes reúnem-se para almoçarem juntos ou dependendo de circunstâncias jantarem. Esse sentimento vem com a tradição judaico-cristã, no caso de nosso país, o Brasil. Apesar de oficialmente laico, tem arraigado em sua cultura a religião católica, e quase igualando em números os protestantes de várias tendência e facções. Sendo um evento espiritual contido nas três religiões monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo) a Páscoa reveste-se de importância fundamental. Quando pensamos na integração de filosofias e espiritualidades do mundo em que estamos incluídos. Essa é a proposta do Mosaico, valorizar todas as correntes do pensamento religioso universal. Reconhecendo em cada uma sua peculiaridade e particularidade como motivos de complementariedade para ajustar e reparar as diferenças. Harmonizando e sintonizando a cultura exotérica de cada povo. Aparentemente uma sugestão ousada, mas a semente do entendimento humano precisa ser lançada em todas as direções. Assim, um dia, veremos os frutos desse laborar universal mesmo que seja em posteriores renascimentos. Três palavras (Pessach, Ashura e Páscoa) têm semelhantes significados. Todavia com simbolismos e compreensões diferentes. Dentre as religiões aludidas acima, não há dúvida que o judaísmo é a origem dessa tradição. Tudo começou com o patriarca Jacó, que desceu para o Egito, segundo as escrituras com 70 almas, por volta de 1300 AC. Os descendentes do primeiro patriarca hebreu, Abraão, estiveram nesse país como escravos por aproximadamente 430 anos. Saindo posteriormente, conforme Êxodo 12 em quantidade estipulada de mais de 2 milhões de pessoas contando mulheres e crianças. Sendo que o texto sagrado menciona 600 mil homens como visto em Êxodo 12,37 "Assim partiram os filhos de Israel de Remesses para Sucote, cerca de seiscentos mil a pé, somente de homem, sem contar os meninos". Esse trecho bíblico narra a saída do povo de Israel do cativeiro no Egito. Êxodo 12: 3. "Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez desse mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família. 4. "Mas se a família for pequena para um cordeiro, então tome um só com seu vizinho perto de sua casa, conforme o número dos almas: cada um conforme ao seu comer, fareis a conta conforme o cordeiro.". 5. "O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula, um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras". 7. "E tomarão do sangue, e colocarão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem". 8. "E naquela noite comerão a carne assada no fogo, com pães ázimos com ervas amargas a comerão". 11. "Assim pois o comereis: Os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente, está é a Pessach – Páscoa – do Senhor". Os judeus têm toda uma tradição espiritual em relação a esse evento. Sendo uma refeição ritualística preceituada no Talmud escrito e oral, de igual modo, na Torá escrita e oral. Não detalharemos os pormenores, mas é bom saber, que nas famílias o pai ou responsável, deve conhecer esse mandamento para celebrar conforme está ordenado. Eles comem na Pessach – o cordeiro, as ervas amargas e o pão sem fermento. Além de tomarem vinho, e outros ingrediente usados hoje, relembrando tudo que D'us realizou por eles. Como a milagrosa saída do Egito, o livramento de seus primogênitos que não pereceram pelas mãos do anjo da morte, ao obedecerem a ordenança de mancharem, tingirem, com sangue os umbrais das portas. Eles têm um sentimento, que individualmente todo judeu é um servo de D'us durante toda sua vida. O cordeiro entre eles não é símbolo do Messias, nem de Jesus, mas cada judeu, na condição de filho deve assumir com seu Criador um pacto de vida e morte. Colocando-se à disposição do Todo Poderoso desde seu primeiro suspiro ao último. O sentido da Pessach é passagem, denotando que, os judeus seriam sempre peregrinos no mundo. Um período de vida na terra com um intervalo de tempo intercalado entre cidades, nações e continentes variados. Encontrariam convivências em diversas culturas e tradições, passando por momentos de cordeiro assado em família. Ervas amargas em muitas situações de perseguições e mortes. Tendo a restrição da fome gustativa do pão sem fermento em muitas ocasiões. Seriam bem recebidos em alguns lugares, mas em outros discriminados. Os judeus têm um sentimento nacionalista de autopreservação, e um "medo" coletivo, quando necessário há fuga à retirada eminente, indo para outras Terras. A comunidade dos judeus messiânicos celebra a Pessach, páscoa, de maneira mais livre. Sem um dogmatismo litúrgico, e como os cristãos vendo no cordeiro a figura de Yeshua (Jesus), como um ser divino, o Filho encarnado de Deus. Mas a grande maioria dos judeus conservadores, liberais, ortodoxos e ultra ortodoxos não creem que Jesus é o Cristo o filho do Deus Vivo. Tendo-o como um profeta, assim, como os demais patriarcas Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Josué e Arão que formaram o povo Judeus em seus primórdios. Os judeus celebram a Pessach em 15 e 16 de Nissan ou 15 e 16 do mês de abril, estando atualmente no ano religioso de 5783. Os muçulmanos também têm sua Páscoa, porém para eles, o evento tem um significado diferente que o dos cristãos. Acontece em outra data, a comemoração é chamada de Ashura. Celebra a libertação dos escravos israelitas do Egito, sendo feita no 10º dia de Muharram, o primeiro mês do ano no calendário lunar, que será em outubro. Segundo o professor universitário Said Mounsif, Iman da comunidade muçulmana no Pará – Brasil. o Islã pregado pelo profeta Muhhamad, em árabe mesmo, já que o nome "Maomé" é considerado uma referência pejorativa. Surgida no período das cruzadas, era a mesma religião pregada pelos profetas mencionados na Torá e na Bíblia. Quando o Profeta Muhhamad (570-632) chegou em Medina - Arábia Saudita, encontrou a comunidade judaica jejuando na Pessach. Ele perguntou: que festa é esta que o judaísmo está fazendo? E a resposta dos companheiros foi, que era o dia da saída dos Hebreus do Egito. Ele disse, vamos fazer deste dia nosso também. Porque o Islã honra o Profeta Moisés, e os patriarcas, explica Mounsif. Para os fiéis do islamismo, porém, existe uma divergência com o que aconteceu com Jesus. Enquanto os cristãos celebram sua ressurreição como o principal milagre da igreja, os muçulmanos acreditam que Cristo não morreu. Após a última ceia, o profeta Jesus teria sido arrebatado, indo ao reino dos céus sem ser submetido ao calvário da crucificação.  No islã, Muhhamad e Jesus são profetas de Aláh. Mounsif continua explicando: para nós, muçulmanos, os dias que antecedem a Páscoa não trazem qualquer significado especial espiritual, pois não cremos em sua morte e por consequência em sua ressurreição. Uma vez que só ressuscita ou volta a vida, aquele que morreu, pondera o Iman. Ainda assim, Mounsif incentiva muçulmanos convertidos a não perderem o contato com suas famílias de outras religiões durante a comemoração da Páscoa cristã. Mesmo que não participem de missas e outros eventos religiosos. Os muçulmanos têm parentes e famílias cristãs, evangélicas, católicas. Então eles devem participar da festa que não pode ser desprezada ou eliminada. A família, quando se reúne, é uma felicidade para a comunidade muçulmana ratifica Mounsif. Nós cristão, pelo menos minimamente, em nossa experiência, conhecemos o conceito da Páscoa. Advindo dos ensinos bíblicos adquiridos desde criança nos catecismos, nas escolas dominicais ou retiros infantis. Onde tomávamos lições das principais doutrinas das Escrituras Cristãs. Aprendemos, que a última ceia que Jesus comemorou com seus discípulos representava, em relação a ele ser judeu, a instituição de um novo mandamento. Não mais como o modelo antigo do cordeiro sendo a refeição principal à família judaica, mas agora, os cristãos celebrariam sua morte e ressurreição. Prefigurando seu triunfo sobre a condição espiritual proveniente do velho judaísmo. Desse modo, os discípulos e seguidores, também, após a conversão e batismo nas águas, seriam, pós mortem introduzidos no reino do Pai Celestial. Poderíamos entrar em questões teológicas que suscitariam longos argumentos para explicarmos, e, penso, que não devemos enviesar nesse caminho, para não corrermos o risco de embaraços. Mas como cristãos temos inúmeros problemas retóricos e dogmáticos. Como exemplo, algumas facções cristãs, não aceitam a divindade de Jesus, os Testemunhas de Jeováh, que inclusive tem uma hipótese, que Jesus não morreu em uma cruz, como recorrentemente é ensinado pela teologia ortodoxa. Porém, foi pregado em uma estaca. Também, os Adventistas do 7º Dia reconhecem em seus ensinos exotéricos, a ordenança do mandamento do sábado, como requisito para fazer parte dos 144 mil que entrarão na Nova Jerusalém. Um grupo especial de cristãos que reinarão com Cristo, no plano espiritual invisível. Sendo os governantes de países, cidades e logradouros no mundo inteiro. Os demais cristãos estarão incluídos, numa esfera visível, no milênio, os mil anos em que Cristo reinará junto as nações da terra. Temos costume nas igrejas, principalmente protestantes, de diminuir a importância da Páscoa e aumentar o valor da Ceia do Senhor. Muitos cristãos dizem que a Páscoa representa a velha aliança realizada por Deus com seu povo no deserto. Todavia hoje temos a Nova Aliança simbolizada pelo sacramento do pão e vinho místicos, tipificando o corpo e o sangue de Jesus vertido na cruz do calvário para a salvação da humanidade. Esse segundo aspecto sim, é prevalecente, em nossa experiência com Deus. Mas devemos perceber que cada perspectiva da doutrina, nesse particular, tem relevância específica num pormenor da experiência de cada indivíduo em sua cultura espiritual. Não existe, penso, esse conceito de um ensino sobrepor-se ao outro como melhor ou pior, pois é notório, que as idiossincrasias devem ser mantidas representando aspectos da verdade de cada tradição religiosa.   Fica claro que o cristianismo das três religiões mencionadas aqui, é a única que tenta ter primazia quando citamos os dogmas e crenças relacionados a espiritualidade. Isso cria um entrave para podermos compreender e aceitar outras proposições, que não sejam necessariamente, concordante com aquilo que pensamos. Mateus 26: 26. "E, quando comiam, tomou Jesus o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isso é o meu corpo". 27. "E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lhe, dizendo: Bebei dele todos". 28. "Por isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados". 29. "E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia que o beba novo no reino de meu Pai". Páscoa, um tema tão nobre e rico em simbolismo espiritual na tradição judaico-cristã. Passa hoje, no mundo Ocidental, a fazer parte do racionalismo materialista da pós-modernidade, reduzindo seu valor ao consumismo social capitalista.  É espantoso que muitos cristãos assumiram a postura comercial e utilitarista dum ensino tão precioso como este. Cooperamos com a liberdade de mercado lucrativa ao adulterar com tipos das figuras de coelhos, "ovos" de Páscoa, presentear chocolates para amigos ocultos com representações conscientes nas reuniões familiares. Estereotipando o verdadeiro símbolo místico. Esses são a família, o cordeiro, os pães ázimos, as ervas amargas, a água e o fogo que o texto bíblico nos faz ponderar. Nestes dias, suponho, ser recomendável voltarmos para uma visão espiritual e interior do verdadeiro sentido cristão da Páscoa. Tentarei trazer luz nessa rica alegoria que precedeu a saída do povo hebreu do Egito. Usarei o texto acima de Êxodo 12:5,7-1. I. Lombos cingidos, sapatos nos pés e cajado na mão. Entendo como nossa responsabilidade em percorrer a senda espiritual. A ideia de que nossa humanidade será testada ao extremo pelo "caminho estreito e a porta apertada", em Mateus 7,14. As provações nos virão, neste mundo tipificado pelo "deserto" com serpentes e escorpiões. Montanhas, escassez d'água e alimento. Frio, calor, miragens, desejo de retornar ao velho Egito. Desentendimentos, espreita dos inimigos; por incrível que pareça, todos, instrumentos para nos elevar ao Divino. II. O cordeiro como representação do Cristo, deveria ser perfeito e imaculado. Sua morte redentora e vicária, substitutiva, forneceria a satisfação e alegria dos filhos de Deus como famílias da Terra. Ele foi sacrificado "a tarde" no monte Gólgota ou Caveira, assumindo nossa culpa e inumeráveis pecados. Seu sangue cobriu nossas transgressões, quitando nossa impagável dívida e nos reconciliando com Deus. III. A família reunida teria o cordeiro como o prato principal, que promoveria uma solene refeição. Não era mais uma, mas a última numa Terra estranha na qual estiveram vivendo por mais de quatrocentos anos; tendo esperança de um dia partir para a Terra da Promessa. IV. O fogo lembra carne assada, o doloroso e sofrido injúria, vergonha, humilhação, insulto, ofensa e injúria pela qual o Cristo passou para promover nossa salvação. Também a purificação pela provação, muitas vezes nos tornando cinzas para ressurgirmos do pó, tal como o pássaro mitológico phenix. V. A água traz a ideia da purificação interior e a finalização de um processo para entrar num estágio mais elevado de espiritualidade, ascensão. Seu batismo é exemplo desse procedimento quando em Mateus 3.16 é dito "sendo Jesus batizado, saiu logo d'água, e eis que se lhe abriram os céus e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele". Isso pode representar uma alusão a nossa iniciação quando somos imersos nas águas, fazendo parte do mistério da vida cristã. VI. Ervas amargas dizem respeito as adversidades retratadas nas doenças, angústias, ansiedades, medos, tristezas que enfrentamos em nosso cotidiano. Noite e dia, é o cálice que devemos estar prontos para tomarmos, sem murmuração e agradecendo a Deus o privilégio de padecer por ele. 7. Pães ázimos, penso, o discernimento que devemos estar capacitados a usar nas decisões, escolhas, sentimentos, intuições que envolvem as mais variadas situações que enfrentamos. Aqui devemos estar intimamente ligados ao Senhor, sendo um com ele em espírito. O discernimento é um atributo do espírito humano. A comunhão com Deus produz está sabedoria do alto. Nossa esperança está tipificada na travessia do rio Jordão, entrando na Terra Prometida de Canaã. Deuteronômio 8,7 "Porque o Senhor teu Deus te põe numa boa Terra, Terra de ribeiros de águas, de fontes, e de mananciais, que saem dos vales e das montanhas. Terra de trigo e cevada, e de vides e figueiras, e romeiras; Terra de oliveiras, de azeite e mel. Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; Terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre". Essa Terra é a representação de Cristo, crescendo em nosso espírito. Quero ter o prazer de ver na mesma mesa, sentados, judeus, muçulmanos e cristãos celebrando a Ceia do Senhor Eucaristia numa mesa ou igreja. De igual modo, o mesmo grupo, participando das comemorações da Ashura muçulmana numa mesquita. Semelhantemente esses, também, festejando a Pessach, numa sinagoga judaica. É possível esse fato? Creio que podemos fazer nossa parte, para que, esse sonho torne-se uma realidade. Páscoa é comunhão fraternal com Deus - Família - Irmãos - Amigos. Feliz páscoa a todos. Abraço. Davi.

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