Judaísmo. www.morash.com.br. SUCOT:
AS QUATRO ESPÉCIES E AS BENÇÃOS SOBRE LULAV. Sucot, festa de sete dias que se
inicia no 15o dia do mês judaico de Tishrei, é conhecida por
seus dois mandamentos, constantes na Torá: habitar na Sucá, uma cabana
construída de modo a oferecer sombra, e ter nas mãos as Arbaat HaMinim – as
Quatro Espécies: o Lulav – a folhagem fechada da tamareira; o Etrog – uma cidra
amarela; o Hadás – um ramo da árvore da murta; e a Aravá – um ramo folhoso do
salguei Ter-se em mãos as Quatro Espécies em Sucot é um dos
mandamentos da Torá que nem todos entendem. Mas, esse fato não é o mais
importante. O essencial é cumprir o mandamento de forma correta, de acordo com
as leis da Torá. No entanto, a Torá nos estimula a entender o significado de
seus mandamentos, pois o Judaísmo não espera que cumpramos cegamente suas leis.
São inúmeras as lições que podemos depreender de cada um de seus versículos e
de cada um de seus mandamentos. E justamente o das Quatro Espécies não só constitui
uma mitzvá – isto é, um mandamento Divino que devemos cumprir pela
simples razão de ser a Vontade de D’us – mas transborda de significado que
transmite lições eternas para o Povo Judeu. O Midrash (Vayicrá
Rabá 30:12) comenta que as Quatro Espécies indicam quatro tipos
diferentes de judeus. O Lulav – a folhagem longa e fechada da
tamareira – representa os judeus que dedicam a vida unicamente ao estudo da
Torá. Como passam a maior parte de seu tempo mergulhados em seus ensinamentos,
eles não têm o tempo, energia ou recursos para praticar muitos atos de bondade.
O Hadás – o ramo de murta – representa a antítese, o contrário
do Lulav: simboliza os judeus que são tão ocupados realizando atos
de bondade que não têm tempo de estudar muito a Torá. O Etrog –
o fruto da cidreira – personifica aqueles dentre nós que têm o melhor dos dois
mundos: estudam a Torá e realizam atos de bondade. E, por fim, a quarta
espécie, a Aravá – o ramo do salgueiro, que representa os
judeus que nem estudam a Torá nem se dedicam muito a realizar atos de bondade. Em
cada um dos dias da festa de Sucot – exceto no Shabat –
cumprimos o mandamento de ter em mãos as Quatro Espécies, formado por um Lulav,
um Etrog, três Hadassim e duas Aravot.
Na falta de uma das Quatro Espécies, ainda que seja a Aravá, estamos
impossibilitados de cumprir esta mitzvá. Antes de cumpri-la,
dizemos uma bênção, uma berachá, como é comum fazer antes de
realizar uma mitzvá. Mas, como menciona o Talmud, há
algo que chama a atenção sobre a bênção dita antes de ter em mãos as Arbaat
HaMinim: a berachá termina com a frase al netilat
Lulav (“ao ter em mãos o Lulav”). Perguntamos: qual a
razão para a bênção apenas mencionar esta espécie? Por que não termina com
… al netilat Arbaat HaMinim (“ao ter em mãos as Quatro
Espécies”)? E se, por alguma razão, a berachá tivesse que
mencionar apenas uma das espécies, qual a razão para ser escolhido o Lulav?
Uma razão dada pelo Talmud é que o Lulav é o mais
alto dentre as quatro espécies (Talmud Bavli, Sucá 37b).
No entanto, o Midrash indica que o Etrog é a
espécie preferida entre as quatro pelo fato de se referir a judeus que tanto
estudam a Torá quanto realizam atos de bondade. Esse fruto da cidreira reúne as
virtudes do Lulav e também as do Hadás. Dentre
as Arbaat HaMinim, o Etrog constitui o único que
não tem falha alguma. Sendo assim, repetimos nossa pergunta: por que a bênção
das Quatro Espécies termina com as palavras al netilat Lulav, em
vez de al netilat Arbaat HaMinim, ou ainda, al netilat
Etrog? A Superioridade do Estudo da Torá face às Mitzvot. Para
responder com propriedade à pergunta do porquê de o Lulav ser
a única espécie mencionada na bênção das Arbaat HaMinim, primeiro é
preciso entender que o Judaísmo possui duas vertentes principais: Talmud
Torá (o estudo da Torá) e Mitzvot (mandamentos
Divinos). Ainda que o estudo da Torá seja um de nossos mandamentos – segundo
uma opinião no Talmud, é o mais importante dos mandamentos do
Judaísmo – há diferenças significativas entre o estudo da Torá e o cumprimento
das mitzvot. Um aspecto singular do Judaísmo é a importância
suprema que atribui ao estudo de seus textos sagrados. Não se trata de uma
religião que se baseia na fé, senão no fato. Não se restringe à crença em
certas coisas, mas ao conhecimento das coisas. Judaísmo é a busca por D’us – e
como D’us é a Verdade, o estudo da Torá é a busca pela Verdade. De forma
sucinta, o estudo da Torá é primordial para o Judaísmo, pois apenas se
estudarmos suas leis poderemos cumpri-las. Mas esta não é a única razão para
estudarmos nossos livros sagrados. Grande parte do que se estuda na Torá não
pode ser praticado. Por exemplo, vários tratados do Talmud discutem
em grande detalhe os serviços realizados no Templo Sagrado de Jerusalém. E nós
seguimos estudando tais tratados, apesar de que o Templo não existe há quase
dois mil anos. Se o único propósito do estudo da Torá fosse aprender a cumprir
seus mandamentos, esse estudo estaria limitado aos livros da Lei Judaica – e
unicamente aos assuntos relevantes à época em que vivemos. A principal razão
para estudarmos Torá é para podermos nos conectar com seu Autor - Aquele que
nos deu esses livros sagrados. A Autoria Divina da Torá – a Divindade inerente
em obras como o Tanach, o Talmud e o Midrash tornam-na
sagrada e única. Em nossas orações matinais e a cada vez que recebemos
uma Aliyá dizemos a Birkat HaTorá – a bênção
sobre a Torá. Um dos propósitos dessa bênção – na qual agradecemos a D’us por
nos dar a Sua Torá – é nos fazer lembrar de sua Autoria Divina e diferenciar seu
estudo de qualquer outro campo do saber e do conhecimento. Mas, de que maneira
o estudo da Torá forja a conexão entre o homem e D’us? Uma das respostas a essa
pergunta é que sempre que o leitor mergulha nos textos de um escritor sério –
especialmente quando este autor se entregou de corpo e alma a seu trabalho – o
leitor vislumbra a alma do escritor. Forma-se uma conexão especial entre autor
e leitor. Na maioria das vezes, aprende-se mais sobre um autor lendo suas obras
do que analisando seus dados biográficos. E esse conceito se aplica tanto a
autores humanos quanto ao Autor Supremo, que escreveu a Torá. O Talmud nos
ensina que D’us metaforicamente pôs Sua Alma na Torá. Quem deseja ter algum
entendimento sobre D’us – que é o máximo a que nós, seres finitos, podemos
aspirar acerca do Infinito – precisa estudar o livro escrito pelo Autor Divino
– a Torá. Uma das razões pelas quais o estudo de nossos textos sagrados nos
conecta com D’us é o fato de que a Torá constitui a Sabedoria e Vontade
Divinas. Como D’us é indivisível, Ele e Sua Sabedoria são unificados. Portanto,
se alguém estuda a Torá - a Sabedoria Divina - e depreende algo sobre ela,
capta o Divino em sua mente. Como ensinou o Rabi Shneur Zalman de Liadi,
o Ba’al HaTanya1, o autor do livro sagrado Tanya,
sempre que um judeu assimila algum conceito da Torá, ocorre uma fusão celestial
entre a sua mente e a Mente Divina. E como a mais elevada faculdade humana é a
mente – principal morada de sua alma – quando ele estuda a Torá, ele emprega
seu atributo mais elevado para se conectar com D’us. Assim sendo, o estudo da
Torá é a ponte que nos leva a D’us. Nada neste mundo pode nos levar ainda mais
próximos a D’us. Nenhum outro mandamento do Judaísmo tem o mesmo efeito. Ainda
que cada mitzvá constitua uma conexão entre o homem e D’us, o
estudo da Torá se coloca acima de qualquer outro mandamento que leve o ser
humano a um lugar mais próximo do Altíssimo. Outra maneira na qual o estudo da
Torá é superior ao cumprimento dos mandamentos reside no fato de o conhecimento
ser permanente enquanto as ações serem transitórias. Quando aprendemos algo,
levamos esse conhecimento conosco para o resto de nossa vida, guardando-o em
algum canto de nossa memória. Mesmo se o esquecermos, um dia poderemos
recuperá-lo – ou, no mínimo, será mais fácil o aprendermos uma segunda vez. Por
outro lado, nossas ações – mesmo se tiverem efeito duradouro em nós ou nos
outros – não se tornam parte de quem somos. A palavra mitzvá vem
do hebraico tzivui – um mandamento – mas também tem relação
com a palavra, em aramaico, tzavta, que significa “conectar” ou
“unir”. Uma mitzvá une a pessoa ao Ser Supremo, D’us, criando
um relacionamento e vínculo especial entre eles. No entanto, a conexão apenas
existe enquanto a mitzvá está sendo realizada. Por exemplo, um
dos mandamentos centrais no Judaísmo é a mitzvá de se
colocar Tefilin. Quando os colocamos, nos conectamos com D’us. Mas
quando os retiramos, ainda que o mérito de ter cumprido esse mandamento seja
eterno, a conexão se interrompe. Os Tefilin nos unem a D’us,
mas não se tornam parte intrínseca a nós, como o conhecimento sobre a Torá. Como
explicam nossos Sábios, o estudo da Torá se compara com a ingestão de alimento
e bebida, que são assimilados por nosso corpo, ao passo que o cumprimento
das mitzvot é semelhante a fragrâncias agradáveis – que não se
tornam parte de nosso organismo e acabam por se dissipar. Isso não significa
que o estudo da Torá possa substituir o cumprimento dos mandamentos. Um não
exclui o outro. Nada seria mais desrespeitoso perante D’us do que o estudo de
Sua Torá, que nos ordena cumprir Seus mandamentos, se ignorarmos esses
mandamentos. A Torá não apenas é a Sabedoria Divina, mas também a Sua Vontade.
O estudo da Torá deve levar a pessoa mais perto de D’us: isso significa não
apenas uma fusão entre a sabedoria humana e a Sabedoria Divina, mas também uma
sujeição da vontade humana à Vontade Divina. Portanto, é erro interpretar
o Lulav como sendo o judeu que estuda a Torá, mas não cumpre
seus mandamentos. Um erro grave. O que o Midrash subentende ao
dizer que o Lulav representa os judeus que têm Torá, mas não
as mitzvot? O que representam o Lulav e o Hadás. Qual a
razão para que o Midrash associe o Lulav a
judeus que estudam muito a Torá; o Hadás àqueles que cumprem
muitasmitzvot; o Etrog àspessoas que estudam a Toráe
cumprem muitasmitzvot; e a Aravá a judeus que não fazem
nenhum dos dois? O Midrash aponta que o Lulav está
associado ao sabor, pois é a folhagem da tamareira, mas não tem odor. O Hadás (a
murta) tem odor agradável, mas não tem sabor, por ser uma planta que não dá
frutos. Como vimos acima, nossos Sábios comparam o conhecimento da Torá ao
alimento e os mandamentos a fragrâncias. Assim sendo, eles associam o Lulav ao
estudo da Torá e o Hadás ao cumprimento das mitzvot.
O Etrog (a cidra) tem sabor e odor, portanto representa os
judeus que estudam a Torá e cumprem suas mitzvot. E a Aravá (o
ramo do salgueiro), que não tem nem sabor nem odor, simboliza os judeus
despidos do conhecimento sobre a Torá e que não cumprem mitzvot. Quando
o Midrash menciona que o Lulav representa o
judeu que é rico em conhecimentos sobre a Torá, mas despido de mitzvot,
não está se referindo aos mandamentos que todo judeu deve cumprir. Aquele que
estuda muito a Torá sem cumprir seus mandamentos, não é um estudioso da Torá,
mas um blasfemador. Portanto, ao falar sobre as Quatro Espécies, o Midrash usa
a palavra mitzvot de modo figurado para se referir a boas
ações. E, de fato, quando o Talmud Yerushalmi (o Talmud de
Jerusalém) usa o termo mitzvá sem determinar um mandamento
específico, está-se referindo à Tzedacá. A definição de mitzvot como
sendo boas ações esclarece o ensinamento do Midrash sobre os
tipos de judeus representados pelo Lulav e pelo Hadás.
O Lulav simboliza o estudioso de Torá que passa a maior parte
de seu tempo imerso em seus estudos. Ele obviamente coloca os Tefilin,
ora três vezes ao dia e cumpre os demais mandamentos. Mas dedica seu tempo, sua
energia e sua capacidade ao estudo da Torá. Os judeus simbolizados pelo Lulav passam
seus dias nas yeshivot e nas sinagogas. São alunos e
professores – não líderes, ativistas, filantropos ou pessoas que passam o dia
realizando boas ações, como alimentar os pobres ou visitar doentes. Têm uma
única ocupação e missão em sua vida – estudar e disseminar o conhecimento da
Torá. O Hadás fica no espectro oposto do Lulav. O
ramo de murta representa os judeus que cumprem muitas mitzvot –
muitas boas ações – mas dedicam pouco tempo ao estudo da Torá. Em claro
contraste com os judeus representados pelo Lulav, os representados
pelo Hadás estão muito ocupados ajudando outros seres humanos
e não têm muito tempo para dedicar ao estudo da Torá. Por exemplo, a maioria
dos filantropos estão sempre extremamente ocupados – empenhados em ganhar
dinheiro para doá-lo a causas nobres – e não dispõem de tempo ou energia para
passar horas a fio estudando a Torá. Pode-se dizer que seria um erro grave –
quem sabe, um sério pecado – tentar fazer com que um judeu que é um Hadás se
transformasse em um Lulav. A pessoa não tem o direito de deixar seu
trabalho e devotar sua vida ao estudo da Torá se a vida de outras pessoas
depende dela. Lulav e Hadás representam dois tipos
de judeus que têm missões diferentes, talvez mesmo contrárias na vida. O que um
possui falta ao outro. Mas se o Etrog – o bonito fruto –
representa o melhor dos dois mundos – o estudo da Torá e as mitzvot –
por que razão a bênção das Quatro Espécies menciona o Lulav,e não
o Etrog? O Etrog. Os judeus simbolizados pelo Etrog são
aqueles que estudam a Torá e têm uma profissão que contribui para a sociedade.
São os médicos, advogados, engenheiros, cientistas, comerciantes, empresários e
financistas, entre vários outros profissionais, que equilibram sua vida
religiosa com a profissional. O Etrog – a linda cidra –
simboliza as pessoas que têm uma vida harmoniosa, assim demonstrando que é
possível ser um judeu que estuda a Torá, observa as mitzvot e
contribui para a sociedade. Lulav e Hadás representam
os dois extremos do espectro. Um possui o que falta ao outro. Já ao Etrog,
de forma oposta, não falta nada. No entanto, sua força também é sua fraqueza. O
fato de que os judeus simbolizados pelo Etrog têm uma vida
equilibrada – estudam a Torá, contribuem à sociedade com seu trabalho e realizam
atos de bondade – indica que não conseguem dedicar-se inteiramente ao estudo da
Torá e ao cumprimento das mitzvot. O judeu que é um Etrog não
estuda tanto a Torá como o que é um Lulav, nem se dedica
integralmente a ajudar os demais, como faz o Hadás. O Etrog éum
indivíduo harmonioso que não domina a Torá nem é líder ou ativista que trabalha
dia e noite em prol de alguma causa nobre. Por que razão o Lulav é a espécie
superior? Podemos, agora, entender por que razão a bênção das Quatro
Espécies menciona apenas o Lulav. Se concluísse com as
palavras al netilat Arbaat HaMinim (“ao se ter nas mãos as
Quatro Espécies”), estaria indicando que não há diferença entre essas quatro
espécies. Essa premissa seria errada, pois são grandes as diferenças entre cada
uma delas. É importante ressaltar que não se pode cumprir a mitzvá das Arbaat
HaMinim se alguma das quatro espécies estiver faltando. Pode-se ter
o Etrog mais lindo do mundo, mas mesmo se estiver faltando a
simples Aravá – a de menor importância dentre as espécies – a
pessoa não pode cumprir o mandamento das Quatro Espécies. A exigência de que
nenhuma das quatro espécies pode estar faltando nos ensina que o Povo Judeu não
está completo se um único judeu estiver alienado ou ausente. Contudo, ainda que
cada uma das quatro espécies tenha um papel imprescindível no mandamento, elas
não têm igual importância. O Lulav – aqueles judeus
representados por esta espécie têm um papel central, e é por esta razão que a
bênção termina com as palavras al netilat Lulav. O Lulav tem
um papel central entre as outras três espécies pois, quando não se estuda a
Torá, o Judaísmo não é Judaísmo, mas sim Humanismo. É errado acreditar que ser
judeu significa, apenas, ser um bom ser humano, pois para tanto não é
necessário ser judeu. O mundo está cheio de boas pessoas – de todas as
religiões, raças, nacionalidades e etnias. É bem verdade que a contribuição do
Povo Judeu à humanidade é grandemente desproporcional a seu número. Contudo,
apesar de todas as teorias conspiratórias antissemitas sobre os judeus, seu
poder e suas posses, a verdade é que as nações e pessoas mais ricas e poderosas
do mundo não são judias. Um judeu que pratica muitas boas ações, mas não estuda
a Torá nem cumpre seus mandamentos pode ser um excelente ser humano, mas não é
um excelente judeu. Se o propósito Divino ao nos dar a Torá fosse apenas fazer
dos judeus pessoas ótimas, praticantes da bondade, D’us não nos teria dado
tantas leis que nada têm com as relações interpessoais. Se cada um de nós,
judeus, fôssemos um Hadás – se o nosso povo apenas praticasse
a bondade, mas não estudasse a Torá – não tardaria para o Judaísmo ser
negligenciado e se perder, e para os judeus deixarem de existir. Uma das razões
para a bênção das Quatro Espécies mencionar o Lulav e não
o Etrog é que a infinita profundidade da Torá, sua abrangência
e complexidade requerem que as melhores cabeças judias a estudem e transmitam,
continuamente. O judeu que é um Etrog – que divide seu tempo de
modo a estudar a porção semanal da Torá ou uma página ou duas do Talmud,
diariamente – não adquirirá conhecimento suficiente para dominar, esclarecer e
disseminar a Torá entre nosso povo. O estudo de algumas horas de Torá por dia
não faz desse judeu um legislador. Assim como um ótimo atleta, ganhador de
medalhas olímpicas, necessita treinar todos os dias, incessantemente, também um
mestre em Torá precisa estudar o tempo todo e dedicar-se inteiramente a isso.
Necessita canalizar sua energia física, mental e espiritual exclusivamente ao
estudo da Torá. A escolha do Lulav para ser a única espécie
mencionada na bênção das Arbaat HaMinim é controversa – razão
pela qual o Talmud e o Midrash a discutem em
detalhe. Mas a História Judaica torna evidente a razão para a superioridade
do Lulav. Os maiores heróis do Povo Judeu são os nossos Profetas e
nossos Sábios. As figuras mais reverenciadas em nossa história são e sempre
serão os mestres em Torá. Através dos séculos tivemos incontáveis judeus que
deram contribuições extraordinárias ao nosso povo e à humanidade: cientistas,
médicos, filantropos, escritores, artistas e pensadores. Mas costumamos dar aos
nossos filhos o nome dos heróis e heroínas da Torá ou dos Sábios do Talmud.
O Judaísmo existe por causa de nossos grandes Sábios e Mestres que se dedicaram
inteiramente à Torá – visando a preservar sua integridade e garantir sua
perpetuidade. Os judeus representados pela Aravá, pelo Hadás e
mesmo pelo Etrog continuam a existir graças aos judeus
simbolizados pelo Lulav. Todos os judeus podem ser um Lulav. O
fato da bênção das Quatro Espécies mencionar apenas o Lulav nos
ensina que o estudo da Torá tem importância capital. É o alicerce do Judaísmo e
a ponte que conduz o Povo Judeu até D’us. Há muitos judeus que cumprem
muitas mitzvot – que realizam coisas extraordinárias e fazem
contribuições inestimáveis à humanidade. E, ao fazê-lo, glorificam nosso povo.
No entanto, o conhecimento da Torá é fundamental para a preservação da
identidade judaica da pessoa. E para isso, não há substituto para o estudo da
Torá. O Lulav também nos ensina a reverenciar nossos Sábios.
Essa espécie representa os judeus que se sacrificam pela Torá – não os que a
usam em benefício próprio. Ser um Lulav é ser humilde, pois
nossos Sábios nos ensinam que D’us concede a dádiva da Torá os humildes. Uma
pessoa que é um Lulav não se considera melhor do que outra, mas
precisa ter consciência de que desempenha um papel primordial em assegurar a
perpetuidade do Judaísmo e de seu povo, o Povo Judeu. Nem todo judeu nasceu
para ser um Lulav e essa é uma das razões para mais três
outras espécies comporem, juntas, as Arbaat HaMinim. Todo ser
humano tem uma missão na vida. E, como vimos acima, pode ser perigoso que uma
pessoa escolha um caminho que não é o seu. Mas cada judeu pode ser,
temporariamente, um Lulav desde que se entregue profundamente
ao estudo da Torá. Mesmo a pessoa mais ocupada pode dedicar algum tempo, em sua
vida diária, para isso. E, ao fazê-lo, deve se entregar inteiramente a isso. Ao
se envolver nessa união com a Torá e seu Autor, essa pessoa não deve
distrair-se com nada mais. O mandamento das Quatro Espécies nos ensina acerca
da união entre o Povo de Israel, indicando o quanto cada um dos judeus é
indispensável à nação. Mas o fato de que a bênção das Quatro Espécies apenas
menciona o Lulav obriga cada um de nós a reexaminar seu
comprometimento com o Judaísmo. O Pirkei Avot – tratado
da Mishná que ensina a sabedoria e a Ética Judaica – afirma
que mesmo que somente um de nós, judeus, se envolva no estudo da Torá, a Shechiná
– a Presença Divina explícita neste mundo – está ao lado dessa pessoa.
Quando um único judeu estuda a Torá, ele ajuda a disseminar a Luz Divina no
mundo, fortalece sua alma e a alma de cada um de nós, judeus – mesmo a daqueles
que já se foram deste plano terrestre – e ajuda a trazer bênçãos e paz a toda a
humanidade. www.morasha.com.br.
Abraços. Davi
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