Editor do Mosaico. Assistindo recentemente ao FILME
A CABANA do diretor Stuart Hazeldine (1971 -
) com lançamento em 6 de abril de 2017, aqui no Brasil. Percebi segundo
aqueles que leram ao bestseller do mesmo nome, que circulou pelo mundo em
vários idiomas vendendo mais de 12 milhões de exemplares. Que ele é fiel ao
livro do autor William Paul Yong (1955 -
) publicado primeiramente em 2007. O enredo foi muito bem elaborado em
estilo drama, usando os recursos que a tecnologia cinematográfica
disponibilizada, mas comedido entre o simples e modesto, sendo isto
objetivamente com o intuito de introduzir a "fantasia" e imaginação
como elementos de interpretação contextual. Como diz Albert Einstein
(1879-1955) "Ser suficiente artista é ter a capacidade de desenhar a
imaginação. A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é
limitado. A imaginação envolve ao mundo". Para quem não leu o livro, que é
o meu caso, o filme é revestido de cenas surpreendentes e muitas vezes comoventes,
fazendo a gente ficar ligado no enredo apresentado pelo diretor do início ao
fim. A história passasse numa família cristã, que costumava comparecer à missa
no fim de semana. A igreja com vitrais coloridos, sugerindo cenas de Jesus e a
imagem de Deus estampada nas janelas era avistada pelo pai, que se
impressionava com a figura de Deus com barba longa uma face envelhecida e
carrancuda. Entretanto, esta condição de ouvir o sermão do oficial encarregado
e cantar com a congregação, não refletiu satisfatoriamente no caráter daquele
que era o chefe da família, que era constituída de dois adolescentes, uma
menina e a mãe. Ele com caráter possessivo-temperamental tentava resolver seus
conflitos existenciais jogando a culpa nos membros familiares, discutindo com a
esposa e incriminando o filho mais velho. Sem nenhum diálogo com o mesmo,
inflamava sua conversa na brutalidade, tanto que, num desses momentos, à noite
no meio da chuva, espancou o filho chicoteando-o, e fazendo com que ele
recitasse um versículo bíblico nessa situação de agonia. O filho não aguentando
tamanha agressão recorrente, e também, sem nenhuma orientação tanto ética
quanto espiritual para compreender e resolver a questão de maneira racional não
usando a violência contra seu genitor. Numa missa ouvindo o sermão, é compelido
a confessasse, contando baixinho ao pároco sua angústia (conflito com o pai)
que o roía por dentro. Mesmo assim o clérigo, não tomou providência para ajudar
diretamente o rapaz, nem depois que descarregou sua fúria sutilmente. Como seu
pai bebia, ocultamente foi ao porão da casa e misturou veneno a bebida
provocando a morte dele. A história "começa" neste ponto, onde o
filho parricida torna-se o protagonista, carregando até o final a culpa, o
pecado e perversidade desse ato. Em Êxodo 12,13-14 diz: "Honra teu pai e a
tua mãe, a fim de que venhas a ter longa vida na terra, que Yhweh (o nome
impronunciável), o teu Deus te dá. Não matarás". "O carma negativo é
gerado invariavelmente pelas más intenções. Sempre que, proposital ou
invariavelmente, prejudiquemos outro ser, somos culpados de agir com más
intenções. O Buda nos ensinou os cinco preceitos para nos auxiliar a superar o
hábito de lesar os demais e a nós mesmos com as nossas más intenções.
Fundamento da moralidade budista e ponto de partida para o verdadeiro
crescimento do ser humano, os Cinco Preceitos são: 1. Não matar. 2. Não roubar.
3. Não mentir. 4. Não ter má conduta sexual. 5. Não se entorpecer com álcool ou
drogas". O roteiro não destacou o crime praticado pelo garoto em sua
questão jurídica criminal, contudo tomando o caminho da crise existência, a
mesma da qual seu pai foi acometido. Evidentemente a natureza não deixaria
impune este delito, pois o carma é a "lei universal de causa e efeito que
governa as ações intencionais. De acordo com ela, todos os atos intencionais
produzem resultados, que mais cedo ou mais tarde serão sentidos por quem
realizou a ação. Boas ações produzem efeitos cármicos positivos, ao passo que
os efeitos cármicos das más ações, são negativos". O rapaz casasse, adquire
família tendo dois filhos como seu pai, contudo convivendo com o
"fantasma" da culpa, remorso e ressentimento. A família decide passar
férias num balneário a beira mar com alguns amigos para descansar e lazer. Ao
dormirem eles têm um diálogo interessam onde a criança interroga sobre Deus,
quanto a ser uma lenda ou uma verdade. Ela chama Deus de papai. Ele adverte os
filhos quanto aos perigos do local, mas situações imprevistas são difíceis de
controlar. Tanto que seus filhos passeavam no mar num barco quando esse vira, e
o garoto ficando preso quase morre, sendo salvo por seu pai que o vê
desesperado afogando e batendo os braços lançasse prontamente ao mar. Após, um
estranho fato ocorre, sua filhinha brincando no local afastasse o bastante para
perdesse. Todos saem em busca da garotinha, inclusive muitos dos que estavam no
balneário. A polícia é chamada e procurando por todos os lados do parque, não a
encontra em lugar nenhum. Algumas investigações feitas dão indícios que a
menina esteve numa Cabana. A família volta arrasada para casa, na esperança de
encontrar a filha de alguma forma. O carma negativo cobrava do pai sua atitude
transgressora no passado. Ele começava a culpar Deus por aquela situação,
achando-se injustiçado não se conformando com a perda da criança. Esse é um
importante ponto que o diretor soube explorar bem, mostrando como é difícil
para nós suportar a perder de entes queridos, seja qual for a ocorrência em que
se dar o fato. Nunca pensamos diretamente em nossa finitude, vivendo como se
fossemos durar sempre. Nesse ponto o enredo faz um recorte para explicar o que
se passava no interior do pai que precisava ser resolvido, e como essa
circunstância o afetava ao ponto de fazê-lo revoltar-se contra a divindade, sem
que tivesse razão nenhuma para tal. Em sonho o pai vê uma cabana, pressentindo
que por lá sua filha teria estado quando na floresta costeira passavam férias.
Nesse sonho segue de carro até o local, e virando numa curva bate o veículo.
Nesse devaneio idílico ou realidade abstrata está ambientada a dimensão extra-sensorial,
onde mostra-se a maneira que o diretor imprimia à que demos conta da
profundidade do Mistério e a circunstância que envolvia a interioridade do
protagonista. Ele vai através duma floresta gelada e encontra a Cabana, da qual
recebeu referência no bilhete que sonhara. Entra, e logo percebe sangue no
assoalho, também algumas veste que supostamente eram de sua filha. Desespera,
chorando amargamente. Neste instante aparece a figura de um jovem que o conduz
por uma estrada clara e límpida, onde vê-se cores definidas na vegetação
esplendorosa e tranquila. Além de um rio calmo e cristalino. Mais adiante uma
casa de madeira toda ornamentada com simplicidade e os utensílios domésticos
necessários. A ideia do filme é mostrar que essa "atmosfera" é uma
representação do céu ou paraíso cristão. O apóstolo João diz no Apocalipse 21,1
"Então vi, novo céu e nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira Terra,
haviam passado, e o mar já não mais existia". Ele quis mostrar, que podemos
ter surpresas quanto a simbologia celeste que necessariamente não corresponde a
literalidade vista pela maioria dos cristãos mais dogmáticos. Essa parte é
bastante rica em detalhes que não vou especificar, esperando que os leitores
possam assistir e perceber como o diálogo entre os personagens introduzidos nas
cenas imaginadas na "visão" que o "herói" está se
descortinando à sua existência. Deus nesse devaneio é representado por uma
mulher negra. Imagina a aceitação da figura feminina como Deus numa sociedade
acentuadamente machista, sexista, e em alguns casos homofóbica (preconceito
contra os homossexuais) como a nossa; a visão causa certo estranhamento. Jesus
o salvador do mundo está tipificado pelo rapaz, que se tornou seu amigo ao
entrar nesta dimensão celeste. Jesus aqui é um jovem franzino e contextualizado
no tempo, mais preocupado com o aqui e agora, que o futuro por acontecer. O
Espírito Santo é uma jovem de descendência oriental. Interessante essa mescla
de divindades realizada pelo roteirista, trazendo a consciência coletiva que
todas as tradições em sua representação pensam Deus de forma e maneira
diferentes – o certo ou o errado foge da análise cultural no aspecto de
confrontação – devendo ser vista pela assimilação e comparação. Deus mostra-lhe
que não havia motivos para sua revolta. Sua atitude era mesquinha e egoísta,
necessitando perdoar seu pai, mesmo depois de tudo que ele sofreu, não
importando que havia falecido. A situação passada era resultado de seus atos
impensados e sem reflexão. Jesus leva-o a ver o mar, andando com ele sobre as
águas como no caso do apóstolo Pedro em Mateus 14,25-31. Mostrando que ele,
perdera a fé e consequentemente se entulhava de ceticismo e incredulidade.
Entretanto havia esperança de que as coisas se normalizariam. O Espírito Santo
mostra-lhe as almas daqueles que estavam no céu. Aparentemente contrariando a
doutrina onde o pecado é castigado com a disciplina, seu cruel pai estava lá, e
se encontraram. A ideia aqui é que nos renascimentos futuros seu pai, já havia
passado pela disciplina e sofrimento cármico quitando sua dívida. Ele chorando
pediu perdão ao pai se reconciliando dos seus malfeitos com um abraço mútuo.
Também sua filha aparece, mas infelizmente ele não pode abraçá-la. Precisará
entender o porquê da separação. Jesus o encaminha à uma gruta para encontrar-se
com sua consciência, Nesse interessante diálogo ele fica claro de sua situação
hipócrita e chorando arrependesse de tudo, compreendendo sua real situação.
Saindo da caverna encontra um ancião; junto a esse, ambos vão por um labirinto
descobrir onde está o corpo de sua querida filhinha. Chegando ao local
reconhece-a envolta em lenções, bem como a roupa que usava quando havia
desaparecido. Dolorosamente reconhece que ela foi abusada e deixada sem vida
naquela caverna. Ele aos prantos carrega-a, indo pela estrada até a casa onde
estava hospedado com a trindade divina. No céu, fazem o sepultamento de sua
querida filhinha, e mesmo em meio a muita desolação, agradece a Deus tamanha
benção de entender os caminhos pelos quais a vida muitas vezes deve passar,
para rompendo a morte entrar no paraíso divino. O protagonista é acordado desse
sonho, quando está dirigindo seu carro indo a Cabana, e de repente, o acidente
é concretizado pelo desastre em realidade. É hospitalizado, devido aos
ferimentos sendo visitado por um amigo, e nessa condição toma consciência do
ocorrido. Recebendo a visita dos familiares, agora com uma visão completa das
circunstâncias que passou, explica aos mesmos o êxtase da visão e como deu-se
seu encontro com Deus. Geralmente nossa experiência para encontrar o fio da
meada existencial envolve muitos conflitos e sofrimento. Feliz daqueles que não
deixam para encarnações futuras a solução de situações que podem ser decididas
agora. Evidentemente, numa vida apenas, não podemos quitar o débito. Porém,
cada gesto de amor e compaixão serão frutos de mérito e virtude à nossa
evolução posterior nesta Terra. Abraço. Davi
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A SEMENTE DO GRÃO DE MOSTARDA. Recontada por Fábio Lisboa. “Desde criança,
Gotmai era a mais magra das crianças e por isso era chamada de Kisa Gomati
(Gotami Magricela). Kisa Gotami era pobre, órfã e sofria com as humilhações, no
entanto, mantinha o seu coração puro e livre de ódio. Ela, inocentemente, sem
saber, ajudou um rico e avarento mercador. E este a fez casar-se com o seu
filho. Casada, Gotami achou que iria melhorar de vida, mas aí é que as coisas
pioraram. Apesar de não sofrer mais dificuldades financeiras, o marido a tratava
como escrava e a humilhava ainda mais. Seu corpo magro até aguentava o
sofrimento, mas a sua alma se entristecia cada vez mais com a violência e
injustiça do mundo. Quando o seu filho veio ao mundo, finalmente, o mundo de
Kisa Gotami mudou completamente. Ela amava aquele bebê
mais do que tudo em sua vida! E o amor infantil e inocente que ela recebia em
troca era um tesouro inestimável! A mãe ajudou o filho a dar os primeiros
passos e logo o menino começou a andar sozinho. Mas o marido continuava
exigente e intransigente e naquele dia exigiu tantas coisas que o filho acabou
ficando sozinho. O menino ficou andando pelo quintal, até cair, dando um grito.
E caído ficou choramingando. A mãe chegou como um raio em socorro ao filho,
pegou o menino nos braços e viu uma cobra saindo de perto da criança. O menino
foi ficando roxo, chorando cada vez mais baixinho, se acalmou nos braços da
mãe, até que o choro parou e ele se foi, empalidecido. Kisa Gotami saiu
correndo com o filho no colo, em desespero, pedindo por ajuda: Por favor, me dê
um remédio para curar o meu filhinho! Ela tocava nas casas e era humilhada: As
pessoas, carrancudas, batiam a porta em sua cara. Depois riam e comentavam: Que
mulher louca! A criança está morta! A mulher ouvia, mas não queria acreditar.
Por que você não se mexe, filho? Eu quero você de novo andando e brincando –
pensava ela. “Por favor, me dê um remédio para o meu filho, ele não se
mexe! Um homem sensato se compadeceu da dor da mãe que não queria aceitar a
morte do filho e disse: Eu não tenho esse remédio que você procura, mas eu
posso indicar quem o tem. E eu te suplico: me diga quem é! Você precisa falar
com Sakyamuni, o Buda. A mulher à beira da loucura foi ver o Iluminado e
exclamou, chorando: Senhor, meu filho estava brincando entre as flores e
tropeçou numa serpente que se enroscou no seu braço. Depois ficou pálido e
silencioso. Não posso aceitar que ele deixe o meu colo assim. Senhor, meu
mestre, dá-me um remédio que cure o meu filho. O Iluminado respondeu: Sim
irmãzinha, há uma coisa que pode curar teu filho e a ti, se puderes
consegui-la, porque os que consultam os médicos tomam o que lhes é receitado.
Procura uma simples semente de mostarda preta, porém só deves recebê-la de uma casa
onde nunca tenha entrado a morte. Aflita, a magra Gotami foi de casa em casa
pedindo o grão de mostarda. As pessoas se compadeciam dela e lhe davam a
semente, porém, quando ela perguntava se já tinha morrido alguém naquela casa,
lhe respondiam: Ah! São muitos as pessoas queridas que já morreram nesta
família. Não nos lembre da nossa dor. Agradecida, ela lhes devolvia a semente
de mostarda que não serviria para preparar o remédio e dirigia-se a outros que
diziam a ela: Aqui está a semente, porém já morreu nosso empregado. Aqui está a
semente, porém o semeador morreu entre a estação chuvosa e a colheita. Pode
levar esta semente, mas saiba a morte levou a nossa filha antes da hora. E
assim foi, o dia todo procurou, porém não encontrou nenhuma casa onde a morte já
não tivesse passado. Nenhuma semente serviria para trazer o seu filho de volta.
No começo, achou que ninguém entendia a sua dor. No decorrer do dia, percebeu
que a dor da morte não era só sua. Muitos sofreram com ela e ela sofreu ao
ouvir histórias de pessoas que se foram, avôs, avós, pais, mães, filhos,
filhas, irmãos, irmãs, empregados, amigos, parentes e até animais queridos. Ela
entendeu a mensagem do Iluminado. Enterrou sozinha o seu filho, contudo sabia
que era como se estivesse ao lado de muitos conhecidos e desconhecidos, dando o
último adeus ao menino. Kisa Gotami voltou até Buda, o Desperto, que lhe
perguntou: Encontrou a semente? Não, Mestre. Mas procurando o que não poderia
encontrar, achaste um amargo bálsamo (...). Enterraste o teu filho? Sim. Sobre
o meu seio, o meu menininho dormiu hoje o sono da morte. E eu só pude chorar
sozinha (...). De manhã estava sozinha, no fim da tarde, ainda sozinha, percebi
que havia uma multidão comigo. Agora sabes que, cedo ou tarde, todo mundo chora
uma dor semelhante à tua. Por que, meu Senhor? Nenhum nascido pode evitar a
morte. Assim como os frutos maduros caem da árvore, assim os mortais estão
expostos à morte desde que nascem. A vida corporal do homem acaba partindo-se
como a vasilha de barro do oleiro. Jovens e adultos, ignorantes e sábios, todos
estão sujeitos à morte. Porém, o sábio que conhece a Lei não se perturba,
porque nem pelo pranto nem pelo desânimo obtém a paz, todavia pelo contrário,
isso tudo aviva as dores e os sofrimentos do corpo. A morte não faz caso de
lamentações. Embora viva dez ou cem anos, acaba o homem por separar-se de seus
amados ao sair deste mundo. Quem deseja a paz da alma, deve arrancar de sua
ferida a flecha do desgosto, da queixa, da lamentação. Feliz será aquele que
consegue vencer a dor”. www.contarhistoria.com.br. Abraço. Davi.
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