Lao Tse. Tao Te Ching. O Livro que Revela Deus. Por Huberto Rohden (1893-1981).
POEMA II
Só temos consciência do belo
Quando conhecemos o feio
Só temos consciência do bom
Quando conhecemos o mau
Porquanto o Ser e o Existir
Se engendram mutuamente
O fácil e o difícil se completam
O grande e o pequeno são complementares
O alto e o baixo formam um todo
O som e o silêncio formam a harmonia
O passado e o futuro geram o tempo
Eis por que o sábio age. Pelo não agir
E ensina sem falar. Aceita tudo que lhe acontece
Produz tudo e não fica com nada
O sábio tudo realiza - e nada considera seu
Tudo faz - e não se apega a sua obra
Não se prende aos frutos da sua atividade
Termina a sua obra. Estando sempre no princípio
Por isso a sua obra prospera
Explicação Filosófica: Neste capítulo Lao Tse proclama a grande lei da bipolaridade do Universo e de todas as coisas. Nada é somente o Uno, e nada é somente o Verso. Tudo é Universo, unidade na diversidade, equilíbrio dinâmico, harmonia cósmica. Não há círculos uni cêntricos no Universo, há tão somente elipses bi cêntricas. Quer no mundo dos átomos, quer no mundo dos astros. E como o anthropos é um microcosmo, feito a imagem e semelhança do grande kosmos. Deve também o homem obedecer a mesma lei da bipolaridade, que rege o macrocosmo. Quem só enxerga o belo no belo no bom é uni cêntrico, monótono, acósmico ou anticósmico, por quê, unipolarizado. Para ser bipolarizado, univérsico, como o cosmos, deve o homem ver o belo e o feio, o bom e o mau, como duas antíteses complementares. Que se integram na grande síntese, sem se diluírem nela. Se o belo e o feio e se o bom e o mau fossem duas antíteses contrárias. Em vez de complementares, nunca poderiam integrar-se numa síntese harmoniosa, feita de unidade na diversidade. Essa bipolaridade unvérsica rege o mundo infinitamente pequeno dos átomos. Onde os elétrons negativos giram elipticamente em torno do seu próton. Rege o mundo infinitamente grande dos astros, onde os planetas traçam a sua órbita elíptica em torno do seu sol. Rege o mundo misterioso da eletricidade e da eletrônica, onde luz, calor, movimento, som e cores são produzidos por dois polos. O ânodo (positivo) e cátodo (negativo). Rege o mundo de todos os seres vivos superiores, que só existem graças aos polos masculinos dativo e feminino receptivo. O Ser Infinito, que se revela nos existires finitos. O Criador-Uno, que se manifesta nas Criaturas-Verso. Brahman, revelado e velado por Maya - são expressão da bipolaridade do Universo. Quando então o homem possui a reta experiencia cósmica do seu Ser, prática ele a reta vivência ética no seu agir. Age dinamicamente, sem ruído nem afobação. Age extensamente em virtude da sua profunda intensidade. Ensina silenciosamente pelo que ele é internamente. Não pelo que diz ou faz externamente no plano do seu agir. Trabalha intensamente, como diz Krishna, mas renuncia a cada passo aos frutos do seu trabalho. Depois de ter feito tudo o que devia fazer. O sábio diz, segundo as palavras de Cristo: agora sou servo inútil, cumpri a minha obrigação, nenhuma recompensa mereço por isso. O sábio desaparece sempre por trás das suas obras. Ele é tão anônimo como Tao, cuja ausência invisível realiza todas as presenças visíveis. É ativo na passividade. O sábio está invisivelmente presente em suas obras e visivelmente ausente de todas elas. Porque ele age pelo seu Ser, muito mais que pelo seu fazer ou dizer. Age sem agir. É cosmo agido e não ego agente. Neste capítulo celebra Lao Tse a apoteose do homem universico. Cuja invisível fonte "Eu" fez fluir as águas vivas pelos canais visíveis do seu "ego". Assim como, no cosmos sideral, o Uno Infinito se revela em todos os Versos Finitos. Toda a sabedoria está em que o Verso (ego) se deixe sempre guiar pelo Uno (Eu). Que este vá sempre na vanguarda e aquele na retaguarda. Profano=Verso sem Uno. Místico=Uno sem Verso. Cósmico=Uno e Verso - Universo. Abraço. Davi
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