sexta-feira, 10 de outubro de 2025

A MORTE E POSTERIDADE DE CONFÚCIO

Confucionismo. Biografia de Confúcio. Memória Histórica de Sima Qian. 8. A MORTE (479 a. C.) E POSTERIDADE. No ano seguinte (480 a. C.) Tselu morreu, em Wey. O próprio Confúcio caiu doente, e Tsekung veio visitá-lo. Encontrou o Mestre passeando devagar perto da porta, apoiado a uma bengala, e ouviu-o dizer: - "Ah Sze, por que tão tarde vieste?" E suspirou Confúcio, e cantou:

Ah! O T' aishan (monte) se desmorona!
O pilar está caindo!
O filósofo vai passando!

Então verteu lágrimas e falou a Tsekung: - "Por muito tempo o mundo tem vivido em confusão e nenhum governante foi capaz de seguir-me. O povo da Dinastia Hsia guardava seus caixões mortuários, antes do enterramento, sobre os degraus de leste (do pátio chinês); o povo da Dinastia Chou guarda-va-os sobre os degraus de oeste, e o povo da Dinastia Shang guardava-os entre duas pilastras (na área principal). Esta noite sonhei que estava sentado entre as duas pilastras, fazendo uma libação. Talvez porque eu seja um descendente dos Shangs," Sete dias depois faleceu, aos setenta e três anos de idade.[17] Foi no dia chich'ou de abril, no ano décimo sexto do Duque Ai (479 a. C.) Aos funerais de Confúcio o Duque Ai enviou um orador, que em seu nome assim falou: - "Ai de mim! O Céu não tem pena de mim e não me poupou o Grande Ancião. Deixou-me, coitado, sozinho e ao desamparo ante a nação, e eis que sou agora um homem enfermo. Ai de mim, Pai Ni! (ou Chung Ni, o nome de Confúcio). Grande é a minha dor! Não vos esqueçais de mim!" (literalmente: "não cuideis apenas de vós"). E Tsekung observou: - "Pois Confúcio não morreu no país de Lu?” (Confúcio não estava no poder, apenas por culpa do duque.) O Mestre disse que "quando não se cumprem a rigor as cerimônias, as coisas entram em desordem; e quando as palavras são usadas incorretamente, andam as coisas fora dos lugares. Desordem significa que o homem perdeu seus princípios morais, e fora dos lugares também significa que o homem não tem o que merece" (ou não se acha na posição justa). Enquanto o Mestre vivia o duque não o quis empregar, e esperou que ele morresse para mandar rezar em seus funerais, o que não tem cabimento. Ao referir-se a si próprio como um "coitado" aplica, outrossim, erroneamente a terminologia." Confúcio foi inumado em Lu no Rio Sze, ao norte da cidade. Seus discípulos guardaram, todos, o luto de três anos, ao fim dos quais despediram-se uns dos outros e afastaram-se, chorando outra vez sobre o túmulo do Mestre antes de partirem definitivamente. Alguns ficaram ainda, mas só Tsekung demorou seis anos, numa choupana junto ao túmulo. Umas cem famílias, de discípulos de Confúcio e nativos de Lu vieram morar nas imediações e ali surgiu assim uma aldeia conhecida como K'ungli, ou "Vila K'ung". Durante várias gerações, nas épocas próprias, sacrifícios eram oferecidos no Templo de Confúcio, e os Confucionistas realizavam debates acadêmicos e festivais populares, inclusive torneios de arco, no recinto do túmulo. O mausoléu tinha de área um mow (cerca de um sexto de acre), e bem podia acolher os discípulos em seus salões. Os pertences pessoais de Confúcio, mantos, boinas, instrumentos de música, veículos e livros, foram conservados no Templo Confuciano, por gerações sucessivas. Assim aconteceu durante mais de dois séculos, até a época do primeiro imperador da Dinastia Han (desde 206 a.C.), o qual fazia culto a Confúcio com grandes oferendas (de vacas, ovelhas e suínos - altos sacrifícios). Sempre que chegavam magistrados e príncipes, antes de entrarem no exercício de suas missões lá iam render homenagem a Confúcio em seu Templo. Confúcio gerou a Li, aliás Poyu, que faleceu antes dele, aos cinquenta anos de idade; Poyu gerou a Ch’i, aliás Tsesze, que uma vez foi preso em Sung e que escreveu Harmonia Central, falecendo aos 62 anos; Tsesze gerou a Po, aliás Tseshang, que morreu aos 47; Tseshang gerou a Ch’iu, aliás TseChia, que morreu aos 45; Tsechia gerou a Ch’i, aliás TseChinq, que morreu aos 46; Tseching gerou a Ch'uan, aliás Tsekao, que morreu aos 51; Tsekao gerou a Tseshen, que uma vez foi ministro de Wei, e morreu aos 57; Tseshen gerou a Pu, que morreu em Ch'en aos 57, tendo sido poshih (doutor ou professor de certas Artes Clássicas) durante o reinado de Ch'en Sheh; o irmão mais moço de Pu, Tsehsiang, que morreu aos 57, serviu uma vez como poshih sob a gestão imperial de Hsiaohuei (de Han) e também foi magistrado de Ch'anqsha, media nove pés e seis polegadas de altura; Tsehsiang gerou a Chunq, que morreu aos 57; Chung gerou a Wu; Wu gerou a Yen-nien e Ankuo; Ankuo foi poshih no tempo do último imperador, e uma vez foi magistrado em Linhuai, morrendo jovem; Ankuo gerou a Ang, e Ang gerou a Huan. Escreve o Historiador Mestre[18] *: "O Livro dos Cantares diz que “Alta é a montanha que contemplo e brilhante o exemplo que temos a seguir! Ainda que não possa alcançar o cume, salta para ele o meu coração." Ao ler os livros de Confúcio, eu imaginava como seria ele em aparência. Em visita a Lu, vi as carruagens, as roupas e os vasos sagrados que se exibem no Templo; e observei como os estudiosos de Confúcio adquiriam o conhecimento histórico no próprio local onde ele habitara, e por ali fiquei sem poder afastar-me. Tem havido muitos reis, imperadores e grandes homens na História, os quais desfrutaram em vida honrarias e fama, e ao morrer ficaram sendo nada, enquanto Confúcio, um letrado comum, trajando modesta roupa de algodão, passou a ser reconhecido o Mestre dos mestres, por mais de dez gerações. Toda a gente que na China é versada nas artes, desde os imperadores e reis e príncipes até os de mais baixa categoria, todos veem o Mestre como autoridade máxima." Abraço. Davi

Nenhum comentário:

Postar um comentário