Espiritualidade.
Escrito por Osho (1931-1990). EGO - O FALSO CENTRO. "O primeiro ponto a ser compreendido é o
ego. Uma criança
nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E
quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não
é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é
natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os
ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o
exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso. Nascimento significa vir a esse mundo: o
mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce nesse mundo. Ela
abre os olhos e vê os outros. O outro significa o tu. Ela primeiro se torna consciente da mãe.
Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Esse também
é o “outro”, também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o
corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo. É dessa
maneira que a criança cresce. Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro,
e então, pouco a pouco, contrastando com você, com tu, ela se torna consciente
de si mesma. Essa
consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é.
Ela está simplesmente consciente da mãe e do que ela pensa a seu respeito. Se a
mãe sorri, se a mãe aprecia a criança, se diz “você é bonita”, se ela a abraça
e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Assim, um ego começa
a nascer. Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é ela
boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está
nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro. A
criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensa a seu
respeito. E esse é o
ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem
alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um
ego nasce – um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida, sentindo-se
inferior, sem valor. Isso também é ego. Isso também é um reflexo. Primeiro
a mãe. A mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe,
e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna,
porque muitas opiniões dos outros são refletidas. O ego é um fenômeno
cumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive
totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai
ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a
conhecer o seu verdadeiro eu, não. O verdadeiro só pode ser conhecido
através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele.
Ele é uma disciplina. O verdadeiro só pode ser conhecido através da ilusão.
Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer
aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através
desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o
falso como falso, a verdade nascerá em você. O ego é uma necessidade; é
uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o
que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos
você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá à escola e o professor
refletirá quem você é. Você fará amizade com as outras crianças e elas
refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estarão adicionando algo ao seu
ego, e todos estarão tentando modificá-lo, de modo que você não se torne um
problema para a sociedade. Eles não estão interessados em você. Eles estão
interessados na sociedade. A sociedade está interessada nela mesma, e é assim
que deveria ser. Eles não estão interessados no fato de que você deveria se
tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça
eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. Assim,
estão interessados em dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a
moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Se
você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro (...). Moralidade significa simplesmente que você
deve se ajustar à sociedade. Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade
muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A
moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada
de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade
está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no
fato de que você deveria chegar ao autoconhecimento. A sociedade cria um ego porque o ego pode ser
controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se
ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível. E a criança necessita de um centro; a criança
está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um
centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que esse é o seu centro, o
ego dado pela sociedade. Uma criança volta para casa. Se ela foi o
primeiro lugar de sua sala de aula, a família inteira fica feliz. Você a abraça
e beija; você a coloca sobre os ombros e começa a dançar e diz 'que linda
criança! você é um motivo de orgulho para nós.' Você está dando um ego para
ela, um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, foi um
fiasco na sala - ela não passou de ano ou tirou o último lugar, então ninguém a
aprecia e a criança se sente rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima
vez, porque o centro se sente abalado. O ego está sempre abalado, sempre à
procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está
continuamente pedindo atenção. Você obtém dos outros a ideia de quem você
é. Não é uma experiência direta. É dos outros que você obtém a ideia
de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto
que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta
de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele. Assim,
você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela
própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade
- o ego. Esse é algo falso - é um grande truque. Através do ego a
sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa
maneira, porque somente assim a sociedade irá apreciá-lo. Você tem que caminhar
de uma certa maneira; você tem que rir de uma certa maneira; você tem que
seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente assim a
sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando
o ego fica abalado, você já não sabe onde está, você já não sabe quem você
é. Os outros deram-lhe a ideia. E essa ideia é o ego. Tente entendê-lo o
mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a não ser
que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no
falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E
lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego
estará se despedaçando, quando você não saberá quem você é, quando você não
saberá para onde está indo; quando todos os limites se dissolverão. Você estará
simplesmente confuso, um caos. Devido a esse caos, você tem medo de perder
o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir
o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for
medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o
período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas
(,,,). Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de "eu sou".
Afastando-se do que é conhecido, o medo toma conta; você começa sentir medo da
escuridão e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte de
seu ser... É o mesmo que penetrar numa floresta. Você faz uma pequena clareira,
você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena
cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de
sua cerca - a floresta, a selva. Mas aqui dentro tudo está bem: você planejou
tudo. Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em
sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a.
Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a
cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que ali
você possa se sentir em casa. E então você passa a sentir medo. Além da cerca
existe perigo. Além da cerca você é, tal como você é dentro da cerca – e uma
mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos
estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu
centro verdadeiro está oculto. Precisamos ser ousados, corajosos.
Precisamos dar um passo para o desconhecido. Por um certo tempo, todos os
limite ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por
um certo tempo, você vai se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse
havido um terremoto. Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se
você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro
oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse
centro é a sua alma, o eu. Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a
se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade.
Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa
não é a ordem da sociedade - essa é a própria ordem da existência. É o que
Bhuda chama de Dhamma, Lao Tse chama de Tao, Heráclito
(535 AC 475) chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria
ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira
vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No
máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las,
mas elas nunca podem ser belas (...). O ego tem uma certa qualidade: a de que
ele está morto. Ele é de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o
dão a você. Você não precisa procurar por ele; a busca não é necessária. Por
isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você
ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais um na
multidão. Você é apenas uma turba. Se você não tem um centro autêntico, como
pode ser um indivíduo? O ego não é
individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele
lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar
satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por
isso você é tão infeliz. Como você pode ser feliz com uma vida de plástico?
Como você pode estar em êxtase ser bem-aventurado com uma vida falsa? E
esse ego cria muitos tormentos. O ego é o inferno. Sempre que você estiver
sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em
algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego segue encontrando motivos
para sofrer (...). E assim as pessoas se tornam dependentes, umas das outras. É
uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende dos outros.
E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um mestre; ele
deixa de ser um escravo. Tente
entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua
conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os
olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre
descobrirá que o falso centro entrou em choque com alguém. Você esperava algo e isso não aconteceu. Você
espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você
fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a
razão. As causas
não estão fora de você. A causa básica está dentro de você - mas você sempre
olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me tornando infeliz?' 'Quem
está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a minha angústia?' Se você olhar para fora, você não perceberá.
Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a
infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu
ego. E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela. Se você puder
ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vai preferir
abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma
vez que a tenha entendido. Mas lembre-se, não há necessidade de abandonar
o ego. Você não o pode abandonar. E se você tentar abandoná-lo, simplesmente
estará conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: 'tornei-me humilde' (...).
Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desse
território do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem da
miséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente
desaparece. Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece. Quando você
sabe que ele é o fogo, ele desaparece. Quando você sabe que esse é o inferno,
ele desaparece. E então você nunca diz: “eu abandonei o ego”. Você
simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada, pois você era o
criador de toda essa infelicidade (...). É difícil ver o próprio ego. É muito
fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar.
Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe. Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente
o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um
dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por
si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra
maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma
folha seca. Quando você
tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com
totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você
simplesmente vê a folha seca caindo (...) e então o verdadeiro centro surge. E esse centro verdadeiro é a alma, o eu, o
deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome,
aquele que preferir." www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi.
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