segunda-feira, 2 de agosto de 2021

UM GAROTINHO NO PARAÍSO

 

Espiritualidade. UM GAROTINHO NO PARAÍSO. “Um garotinho bateu a porta do paraíso e quando São Pedro chegou, ele pediu permissão para entrar. São Pedro disse-lhe para esperar um pouco, enquanto ia consultar Deus. Enquanto esperava, o menino olhou em volta, para a ampla paisagem que o rodeava. Como era fim de outono, as árvores estavam cobertas com folhas douradas, avermelhadas, alaranjadas e verdes. Até onde o olhar podia alcançar, havia árvores fulgurantes, umas atrás das outras, colinas e colinas de beleza flamejante. São Pedro então retornou. Eu tenho a resposta de Deus. Você vê todas aquelas árvores? E mostrou com a mão 360 graus no horizonte. O garotinho respondeu: Sim. São Pedro continuou: Deus disse que, quando as folhas tiverem caído dessas árvores tantas vezes quanto há folhas nas árvores, você poderá entrar no paraíso. O garotinho sentou-se sem pressa e, olhando para São Pedro, disse-lhe: Por favor, diga a Deus que a primeira folha já caiu”. Mateus 18:2-4 “E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles. E disse: Com toda a certeza vos afirmo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Portanto, todo aquele que se tornar humilde, como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus (...)”. A fábula acima mostra a visão simples, ingênua e autentica de uma criança interessada em adentrar ao paraíso. A franqueza e singeleza das crianças conseguem penetrar a realidade do mistério, desse que, atormenta e deixa desacordado os exegetas e hermeneutas estudiosos da bíblia. A belíssima paisagem no fundo da narrativa onde o menino está incluído com árvores, provavelmente de todos os tamanhos, encimadas com folhas douradas, avermelhadas, alaranjadas e verdes. Além do outono, a estação que caem as flores, completam o cenário da vida humana renascente que alcançará prelúdio místico. A menção do outono é um referência a normalidade dos estágios humanos. A primavera é nossa chegada ao mundo como ser, criança. O verão é o desabrochar de nossa adolescência e efervescer da juventude. O outono é nossa maturidade, fase adulta, advinda da fase adulta.  E o inverno é a velhice prenunciando a morte como retorno de onde viemos e para onde vamos. Gênesis 3:19 “Portanto es pó e em pó tornaras”. Editor do Mosaico Espiritual. No contexto da fábula temos duas estações vivenciadas pela criança, onde chegando ao paraíso ela é primavera, uma candura capaz de transcender nossas inquietações e ultrapassar os conflitos expressos no sofrimento. Seu olhar outonal revela um dos requisitos para ultrapassar o portal do gozo e desfrute do Senhor, aquilo que é dito em Mateus 25:21 “entra no gozo do teu Senhor”. Assim não vemos no paraíso a inquietação de opiniões e conflitos de identidade manifestados no verão. Nem a rigidez de conceito inalteráveis, ranzinza e inconveniente no falar no inverno. Característica de muitos idosos desprovidos da sabedoria vinda do alto. Deus nos guarde de envelhecermos com tal feiura expostas em vícios tão horríveis. Que a beleza dos atos virtuosos possam sobressair em nossas atitudes para com o próximo. Marcos 8:24 “E, levantando ele os olhos disse: Vejo os homens, pois os vejo como árvores que andam”. As árvores são a tipologia do homem em evolução espiritual. Na lenda narrada cada árvores tem uma cor específica, tonalizada em níveis de aproximação com a natureza divina dourada. O verde representa a cor primordial, a essência de todas as espécies vegetais, imprescindível ao desenvolvimento da vida. O alaranjado manifesta um progresso rumo ao Divino e o avermelhado, comparado ao fogo, tipifica a centelha divina contida em cada ser existente. O conto é interessante principalmente por não se ater apenas a tradição cristã, mas incluir elementos de outras espiritualidade criando um prisma (diferentes cores), símbolo da verdade na filosofia espiritual. Vejamos, num panorama geral, o céu aqui apresentado não é um estado real ou físico como imaginamos em nossa cultura. Quando o vemos nesse “quadro” pintado pelo autor percebemos que ao mesmo tempo que ele está fora do garotinho, ele também está dentro de sua consciência. A ideia passada é que o paraíso é inerente ao ser humano, todos tendo acesso a esse descanso. Mas a “entrada” se faz em dois aspectos: pelo contar das folhas das árvores e nosso tempo harmonizado pelas “estações” do ano. Desse modo alguns demorarão mais tempo para ser incluídos nesse sossego, tranquilidade e paz que outros. Por dedução, esse tempo terá períodos diferenciados dependendo da coloração de nossas folhas, incorporando o conceito bíblico que somos num certo sentido vegetais. As árvores que se aproximam do dourado, parecem ter preeminência nesse intervalo temporal com mais longevidade. O garotinho imagino como a figura da alma humana, aquela que está a viajar pelo microcosmo, tipificada pela nossa consciência e coração, e pelo macrocosmo o universo infinito e eterno. Nessa viagem ela procura o tempo todo pela sua própria origem que é Deus. Nunca desistindo desse propósito, pois para isso ela foi formada e infalivelmente chegará ao seu destino. Deus é aquele que nos aguarda de braços aberto, esperando pra beijar-nos e colocar-nos em sua morada, que é Ele mesmo. João 6:37 “O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. No conto não se passa a ideia que Deus está trancado num lugar, sentado num trono ou num gabinete luxuoso, cercado dum cerimonial e guardiães a escolta-lo. Pouco se fala Dele, admitindo-se que seu revelar está no oculto e no escondido, e pra penetrar nesse portal da presença divina, só com o esvaziamento do Ego e desapego das coisas mais preciosas que valorizamos. Como diz o Mestre Jesus em Mateus 29:19 “Também todos aqueles que tiverem deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou terra, por causa do meu nome, receberão cem vezes mais e herdarão a vida eterna”. Um texto de difícil interpretação, e geralmente as que lemos são equivocadas, pois fixam-se mais na literalidade do argumento, dando margem a absurdas explicações. Aqui enuncia a renúncia e abnegação extremas, apenas adquirida por místicos e indivíduos comprometidos com a fraternidade humana e interesse em ajudar na evolução espiritual de todos os seres. A figura de São Pedro como tendo a chave do céu é um arquétipo mitológico encontrado em tradições espiritual dos antigos egípcios, sumérios e babilônios. Evidentemente não nesse contexto específico, mas em condições que acessam ao postulante do paraíso sua entrada nesse reino de consolação e refrigério. Que possamos permitir que o Eterno trabalhe as estações do ano em nossa vida com equilíbrio, aparando os excesso, mudando a tonalidade de nossas folhas, depurando nossa personalidade e temperamento para termos condições de frequentarmos por um milénio ou mais esse tão maravilhoso e indescritível estado mental consciente chamado paraíso ou céu. Há momento em  nossas vidas que, em êxtases ou insight espirituais temos uma amostra dessa realidade imprimida em nosso espírito. Afinal o garotinho entrou no céu ou não? Não tenhamos dúvida. Todo o ambiente em que ele se encontrava era o paraíso. Ele lá estava antes mesmo de chegar; essa ideia é desprendida na narrativa onde não conseguimos mensura o tempo que normalmente imaginamos como passado, presente ou futuro. O menino já vivia uma atemporalidade, transcendera o espaço-tempo. É incrível pensar que o céu ou paraíso, baseado no argumento do conto, é o aqui é agora. Podemos antecipadamente desfrutar parte dessa delícia espiritual desde que assumamos a responsabilidade de pureza, santidade e amor ao próximo, visualizado na frase: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus”. Abraço. Davi.

 

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