segunda-feira, 7 de abril de 2025

AVISO ÚTEIS PARA A VIDA ESPIRITUAL. Parte IV

Cristianismo. Livro Imitação de Cristo. Por Tomás de Kempis (1380-1471). AVISO ÚTEIS PARA A VIDA ESPIRITUAL. Parte IV. 16. A tolerância com os defeitos alheios. Aquilo que o homem não pode emendar em si mesmo ou nos demais, deve ele tolerar com paciência. Até que Deus disponha de outro modo. Considera que talvez seja melhor assim, para provar tua paciência, sem a qual não tem grande valor nossos méritos. Todavia, convém, nesses embaraços, pedir a Deus que te auxilies, para que os possas levar om seriedade. Se alguém, com uma ou duas advertências, não se emendar, não contendas com ele. Mas encomenda tudo a Deus para que seja feita a sua vontade e seja ele honrado em todos os seus servos, pois sabe tirar bem do mal. Procura sofrer com paciência os defeitos e quaisquer imperfeições dos outros, pois tens também muitas que os outros têm de aturar. Se não te podes modificar como desejas, como pretendes ajeitar os outros na medida de teus desejos? Muito desejamos que os outros sejam perfeitos e nem por isso emendamos as nossas faltas. Queremos que os outros sejam corrigidos com rigor e nós não queremos ser repreendidos. Estranhamos a larga liberdade dos outros e não queremos sofrer recusa alguma. Queremos que os outros sejam apertados por estatutos e não toleramos nenhum constrangimento que nos caiba. Donde claramente se vê quão raras vezes tratamos o próximo como a nós mesmos. Se todos fossem perfeitos, que teríamos então de sofrer nós mesmos por amor de Deus? Ora, Deus assim dispôs para que aprendamos a carregar uns os fardos dos outros. Porque ninguém há sem defeito. Ninguém sem carga. Ninguém com força e juízo bastante para si. Todavia cumpre uns aos outros nos suportemos, consolemos, auxiliemos, instruamos e aconselhamos. Quanta virtude cada um possui, melhor se manifesta na ocasião da adversidade. Visto que, as ocasiões não fazem o homem fraco, porém revelam o que ele é. 17. A vida monástica. Aprende a abnegar-te em muitas coisas, se queres ter paz e concórdia com os outros. Não é pouco habitar em mosteiros ou congregações religiosas, viver ali sem queixas e perseverar fielmente até a morte. Bem-aventurado é aquele que aí vive bem e termina a vida com um fim abençoado! Se queres permanecer firme e fazer progresso, considera-te como desterrado e peregrino sobre a terra. Convém fazer-te louco por amor de Cristo, se quiseres seguir a vida religiosa. De pouca monta são os hábitos e a tonsura: são a mudança dos costumes e a perfeita mortificação das paixões que fazem o verdadeiro religioso. Quem outra coisa procura senão somente a Deus e a salvação de sua alma, só achará tribulações e angústia. Não pode ficar por muito tempo em paz quem não procura ser o menor e o mais submisso de todos. Para servir vieste, não para mandar, lembra-te que foste chamado para trabalhar e sofrer e não para folgar e conversar. Aqui, pois, se provam os homens, à semelhança do ouro na fornalha. Aqui, ninguém perseverará, se não quiser humilhar-se, de todo o coração, por amor de Deus. 18. Os exemplos dos Santos Padres. Contempla os salutares exemplos dos santos Padres, nos quais brilhou a verdadeira perfeição religiosa, e verás quão pouco ou quase nada é o que fazemos. Ah! Que é a nossa vida em comparação com a deles? Os santos e amigos de Cristo serviram ao Senhor em fome e sede, frio e nudez, trabalho e fadiga. Em vigília e em jejuns, em orações e santas meditações, em perseguições e muitos opróbrios. Oh! Quantas e quão graves tribulações sofreram os apóstolos., os mártires, os confessores, as virgens e todos quantos quiseram seguir as pisadas de Cristo! Odiaram suas almas neste mundo, para possuí-las eternamente no outro. Oh! Que vida austera e mortificada levaram os Santos Padres no deserto! Que contínuas e graves tentações suportaram! Quantas vezes foram atormentados pelo inimigo! Quantas orações fervorosas ofereceram a Deus! Quer rigorosas abstinências praticaram! Que zelo e fervor tiveram em seu adiantamento espiritual! Que guerra fizeram para subjugar os vícios! Com que pura e reta intenção buscaram a Deus! Durante o dia trabalhavam e passavam as noites em orações, ainda que trabalhando não interrompessem um momento a oração mental. Todo o tempo empregavam utilmente. Toda hora lhes parecia breve, convivida com Deus, e pela grande doçura das contemplações se esqueciam até da necessária refeição do corpo. Renunciavam a todas as riquezas, dignidades, honras, amigos e parentes. Nada queriam do mundo, apenas tornavam o indispensável para a vida e só com pesar satisfaziam as exigências da natureza. Assim eram pobres nos bens terrenos, mas muito ricos de graças e virtudes. Exteriormente lhes faltava tudo. Interiormente, porém, se deliciavam com graças e consolações divinas. Ao mundo eram estranhos, mas íntimos e familiares amigos de Deus. A si mesmos tinham em conta de nada, e o mundo os desprezava, contudo eram preciosos e queridos aos olhos de Deus. Mantinham-se na verdadeira humildade, viviam em singela obediência, andavam em caridade e paciência. Assim, cada dia faziam progresso na vida espiritual e mais a Deus agradavam. Esses foram dados por modelos a todos os religiosos e mais nos devem estimular ao progresso espiritual, do que a multidão dos títulos ao esmorecimento. Oh! Quão grande foi o fervor de todos os religiosos, nos primeiros tempos de seus santos institutos! Quanta piedade na oração! Que emulação nas virtudes! Que austera disciplina vigorava então! Que respeito e obediência aos preceitos do superior reluziam em todos! Os vestígios que deixaram ainda atestam que foram verdadeiramente varões santos e perfeitos os que em tão renhidos combates venceram o mundo. Hoje já se considera grande quem não é transgressor da regra e com paciência suporta o jugo que se impôs. Oh tibieza e desleixo do nosso estado, que tão depressa declinamos do fervor primitivo e já nos causa tédio o viver, por tanta negligência e frouxidão! Oxalá em ti não entorpeça de todo o desejo de progredir nas virtudes, já que tantos modelos viste de perfeição! Abraço. Davi

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