Judaísmo. morasha.com.br. OS SONHOS. Os sonhos vêm fascinando os homens ao longo da História. Tornaram-se símbolos de esperança de um futuro melhor, inspiraram místicos e poetas, cientistas e filósofos. E, desde as mais remotas épocas, o homem tem procurado entender as mensagens E significados desses fenômenos intrigantes, envoltos em mistério. Os sonhos vêm fascinando os homens ao longo da História. Tornaram-se símbolos de esperança de um futuro melhor, inspiraram místicos e poetas, cientistas e filósofos. E, desde as mais remotas épocas, o homem tem procurado entender as mensagens E significados desses fenômenos intrigantes, envoltos em mistério. O que tem variado, ao longo do tempo, é a importância que lhes é atribuída e a compreensão que se tem dos mesmos. No judaísmo, sempre tiveram um papel importante. Para os profetas da Torá, prediziam o futuro, trazendo advertências e mensagens Divinas. Para o Talmud, os sonhos são um meio de comunicação entre o Divino e os homens. O Zohar leva este conceito mais adiante, afirmando que num mundo onde não há mais profetas, a Sabedoria Divina pode vir a ser revelada através dos sonhos. Numa visão mais terrena, mais concreta, são vistos como a chave para uma auto-avaliação pessoal pois, ainda segundo o Livro do Esplendor - o Zohar, já citado, tem o potencial de nos auxiliar em nosso cotidiano. Mas, alertam nossos sábios, nem todos os sonhos são mensagens e nem todas as mensagens são verdadeiras. Por isso, antes de adentrar neste mundo e na riqueza de suas interpretações, precisamos de muita cautela e uma certa desconfiança. A própria Torá nos exorta a ficar longe de quem usa os sonhos como presságios, bem como daqueles que afirmam ver a presença Divina em seus sonhos, usando tal argumento como "prova" para apregoar que D'us os teria investido de algum tipo de autoridade. Na história. As culturas antigas os consideravam portadores de importantes mensagens. Diziam que seus ancestrais e deuses se comunicavam através dos sonhos. Mas, a partir da Era Moderna, do cientificismo, o homem ocidental abandonou a idéia de que os sonhos podiam ter algum significado e suas interpretações passaram a ser vistas como meras superstições. Quando Freud começou a pesquisar a literatura médica de sua época em busca de informações sobre os sonhos, descobriu que pouco havia sobre o tema. Em 1899, ao publicar "A interpretação dos sonhos", foi ridicularizado por seus pares e sua teoria de que continham significados foi considerada absurda, durante vários anos. Hoje, a ciência moderna, principalmente a psicologia, vê os sonhos como poderosa ferramenta para aperfeiçoar o bem-estar emocional e físico do homem. Afinal, o sono e a produção da mente humana durante esse período desempenham um papel vital em nossa vida, pois passamos um terço da mesma dormindo e, durante o sono, sonhamos em um quarto desse tempo. A ciência caminhou bastante no conhecimento dos mecanismos do sono e seus ciclos. Sabemos que nele há duas fases: A primeira, chamada NREM - em português, Não-REM, de Non-Rapid Eye Movement, movimentos oculares não rápidos - que ocupa 75% do tempo que dormimos. Nesta fase, a pressão sanguínea e o batimento cardíaco decrescem e o cansaço físico é eliminado. A segunda, a fase REM, de movimentos rápidos dos olhos, ocupam os restantes 25%. Esta fase é a base de nossa recuperação psíquica e é nela que ocorrem os sonhos. Após a ciência ter estabelecido que todo homem sonha, cientistas e psicólogos vêm tentando explicar a razão e o mecanismo que nos fazem sonhar. Várias são as teorias sobre o assunto. Umas afirmam que sonhar nos permite processar as experiências de nosso cotidiano; outras que os sonhos podem, de forma simbólica e em linguagem própria, revelar questões de nossa personalidade que precisam ser trabalhadas, além de apresentar soluções para os problemas do cotidiano e regular emoções internas. De forma simplista, os sonhos são "avisos" de que algo precisa ser feito. Outra linha de pensamento os vê como uma forma de acessar nosso inconsciente coletivo. Numa visão mais biológica, o sonhar permite ao sistema nervoso livrar-se de memórias "desnecessárias" e, ao fazê-lo, estimula a mente. O judaísmo, leva muito a sério, este assunto, sendo surpreendente a quantidade de referências que há sobre o fenômeno, na Torá, no Talmud, noMidrash, assim como em obras filosóficas, códigos de leis judaicas e especialmente na Cabalá e na Chassidut. Nestas e em outras obras, os sábios discutem e tentam responder a perguntas do tipo "como e por quê sonhamos"; "como e quem pode interpretar um sonho"; "qual a importância que se deve atribuir aos sonhos", se é que se deve. E, finalmente, "o que fazer quando ficarmos perturbados por um sonho negativo". O sono: viagem da alma. De acordo aos textos sagrados do judaísmo, o sono e os sonhos desempenham um papel importante em nossa vida. O primeiro contribui diretamente à saúde física e mental. Por isso, o ser humano não deve negar a si próprio um descanso adequado, pois é através deste que recuperamos energias e abrimos nossa mente a influências superiores. Além do mais, ensina a Cabalá, o sono tem um propósito espiritual, como também o têm outras atividades necessárias ao corpo, tais como comer e beber. Quando dormimos, explica o Zohar, algo extraordinário nos acontece: a alma - que pode ser comparada a um periscópio que tudo vê, até mesmo o que os olhos não alcançam - liberta-se das limitações e vínculos que o corpo lhe impõe enquanto acordado e se eleva em direção à sua fonte espiritual. Lá se "recarrega" e, ao despertarmos, retorna para começar um novo dia. Apenas uma pequena parte de nossa alma fica ligada ao corpo enquanto dormimos. O quanto a alma consegue se elevar e atingir esferas espirituais superiores depende das ações e conduta do homem, durante o dia. Quanto mais puro for o coração de uma pessoa e quanto mais honesta sua vida, mais altas serão as esferas com as quais sua alma conseguirá conectar-se. Enquanto está em sintonia com sua fonte - onde não há limitações de tempo e espaço impostas por nosso mundo material - a alma recebe avisos ou visões de eventos futuros. Mas, se a alma não atingir igual pureza e as ações do homem não tiverem igual retidão, sua alma fica retida em uma esfera mais baixa, onde forças impuras a impedem de se elevar. Estas próprias forças impuras podem revelar à alma certos assuntos mundanos e terrenos. Muitas das "revelações" são falsas, enquanto outras podem conter algum fundo de verdade. Há sábios que dizem que estas forças negativas são o nosso próprio ego. Todos esses vislumbres são, em seguida, filtrados de volta para o corpo. E, após serem mentalmente "processados" e transformados em símbolos, tomam a forma de sonhos. Tipo de sonhos. Segundo o Talmud, um sonho é uma forma menor de profecia (Berachot, 57b). Desta afirmação pode-se concluir que o mesmo pode conter predições ou advertências, mas há que se fazer a respeito importantes ressalvas. Todos os sonhos, alertam nossos Sábios, mesmo os que vêm das esferas mais elevadas, contêm alguma coisa inverossímil, algo que não é verdade. "Assim como é impossível encontrarem-se espigas de milho sem palha", ensina o Talmud, "assim também não existem sonhos sem aspectos vãos". Há que se diferenciar, também os sonhos proféticos de outro tipo de sonhos. Mesmo em se tratando de sonhos decorrentes de alguma conexão da alma com esferas espirituais superiores, nem todos os sonhos são iguais. Raros são os sonhos proféticos que transmitem a Voz e a Vontade Divina. Maimônides, em cuja obra podemos encontrar vasta análise sobre sonhos proféticos, afirmava que muitos profetas "viram" suas profecias em sonho. Numa categoria inferior estão os sonhos que contêm visões. Apesar destes terem um significado básico positivo ou negativo, não têm, como os proféticos, um significado absoluto. Podem, portanto, ser influenciados de alguma forma pela interpretação que lhes é atribuída. Como vimos anteriormente, nem todo sonho é de origem Divina. Alguns ocorrem quando a alma fica à mercê de forças espirituais negativas, das quais recebe, por assim dizer, "informações". Há uma outra categoria de sonhos, aqueles que são simples reflexos de nossa mente. Resultam de pensamentos e acontecimentos do cotidiano de cada um de nós. Nada mais são do que consequências naturais de nossa constituição psicológica e física, "incrementadas" pelo pode de nossa imaginação. Um acontecimento que deixe forte impressão, ou uma refeição pesada, podem ser responsáveis por um sonho perturbador. A maior parte de nossos sonhos é composta por uma mistura de imagens criadas pela mente com algum vislumbre vivenciado pela alma. Para os místicos, deve-se atentar mesmo para os sonhos que são reflexos de nossa mente, já que podem revelar emoções profundas e ocultas que devem ser confrontadas. Não é correto ignorá-los ou descartá-los como "irrelevantes". Outra característica básica dos sonhos é seguirem uma lógica diferente da que elaboramos quando despertos, na qual podem coexistir opostos, paradoxos e contradições. Quando estamos acordados, somos seres racionais, realistas, ao passo que ao sonhar vivemos experiências totalmente diferentes, sem limitações temporais ou espaciais. Sonhos proféticos na Torá. São de nossos patriarcas os primeiros sonhos proféticos relatados na Torá. O primeiro é de Abraão. Ao cair em sono profundo, ouviu D'us lhe prometer que seria pai de uma grande nação e lhe mostrar o futuro de sua descendência, assegurando-lhe que deles seria a Terra de Israel. O segundo pertence a Jacó. Enquanto dormia, viu uma escada que se erguia do solo e cujo topo chegava aos Céus, pela qual anjos subiam e desciam. No alto, estava o Eterno, que falou a Jacob (Gênese, 28: 12-13). Prometeu-lhe proteção e assegurou-lhe que a terra pertenceria à sua descendência. Através desse sonho extraordinário, D'us desvenda a Jacob não apenas o seu próprio destino, mas principalmente o futuro de seus descendentes. O terceiro sonho profético relatado na Torá é de José, que sonhou com os feixes nos campos. Chamado por seus irmãos de "sonhador" e "mestre dos sonhos", José, que tanto em seus sonhos como em suas interpretações via a Mão de D'us, é sem dúvida o mais famoso interpretador de sonhos de toda a Torá. Estes têm um papel muito importante em sua vida e, consequentemente, na história do povo judeu. Se por causa de um sonho iniciaram-se suas atribulações, a solução do enigma contido em vários outros sonhos funcionou como um tapete voador em seu caminho rumo ao poder, no Egito. Outras figuras bíblicas receberam mensagens Divinas em seus sonhos, entre os quais o Rei David, o Rei Salomão e os profetas Samuel e Daniel. Outros ouviram a Voz de D'us através de sonhos e receberam mensagens que sustentaram o povo judeu particularmente no exílio. Ensina o Talmud, "Mesmo que esconda Meu rosto a Israel, comunicar-Me-ei com ele por meio de sonhos" (Talmud Chaguigá, 5b). Interpretação de sonhos. Se os sonhos têm fascinado os homens através dos tempos, tentar desvendar suas mensagens constituíram um fascínio ainda maior. O tratado Berachot, do Talmud, que consagra muitas páginas à sua interpretação, afirma que "Um sonho não interpretado é como uma carta não aberta" (Talmud Berachot, 55a). Mas quem estaria habilitado a interpretá-los? Houve sábios judeus que se dedicaram ao estudo dos sonhos e de suas interpretações. Os reis da antiga Israel contavam com assessores que possuíam o dom e o conhecimento para fazê-lo. Sabiam que os sonhos clarividentes só podiam ser interpretados por alguém com espírito elevado e em conexão com a Fonte Divina. Pois que é D´s, Ele Mesmo, em Sua Plenitude, quem provê a chave para se deslindar o segredo dos sonhos. O Todo Poderoso, se comunica através de imagens e a solução do enigma de cada sonho nele mesmo é contida. Mas, se a maioria deles não são proféticos, como interpretá-los? O Talmud ensina que "o sonho segue o poder dos lábios" - ou seja, segue a interpretação que lhe for dada, contanto que esta seja consistente com seu conteúdo. Pois está escrito que "assim como nos foi interpretado, assim aconteceu". Sendo assim, temos que procurar sempre interpretar os sonhos para o bem. Somente os sonhos proféticos, que transmitem a Voz e Mensagem Divina, têm significado absoluto. Isto quer dizer que não podem ser mudados por diferentes interpretações, como no caso dos sonhos dos patriarcas. Por outro lado, mesmo os que são definidos como "visões" e que contêm avisos e um significado básico, podem ser, de alguma forma, influenciados por diferentes interpretações. Os sonhos chamados de "falsos "ou "comuns" são sujeitos a distintas interpretações. Não podem ser entendidos como presságio definitivo sobre algum evento futuro, nem como significado único. Têm uma multiplicidade de significações plausíveis. Neste caso, lhe é atribuída uma explicação, e, enquanto o sonho não for interpretado, oculto permanecerá o seu significado. O Talmud relata que na época do Segundo Templo havia em Jerusalém 24 pessoas com o dom de interpretar sonhos. Houve mesmo situações em que para um mesmo sonho foram dadas 24 interpretações diferentes, todas consistentes - e, o que mais impressiona - todas se realizaram (Berachot, 55b). Perguntamo-nos, por quê? Os sábios explicam que a maioria dos sonhos contêm vários significados possíveis, que são "acionados" por suas respectivas interpretações. Mas, como é possível que a palavra tenha o poder de definir o significado de um sonho? Esta pergunta foi amplamente discutida. Segundo o Zohar e o Talmud, sua interpretação tem um papel decisivo em seu significado porque o sonho é uma "profecia menor" - ou, para sermos mais exatos, o sonho é o nível mais baixo da Revelação Divina. Sua mensagem resulta de uma mistura de "revelações" com os produtos de nossa imaginação. É sobre este último aspecto do sonho que o poder da palavra exerce influência determinante. A palavra, arma potente que pode ser usada pelo homem tanto para o bem como para o mal, tem o poder de influenciar o aspecto espiritual da realidade. No caso dos sonhos, a palavra os concretiza, dá-lhes forma e "direção". É como se fosse o primeiro passo para sua materialização. Isto posto, não é difícil entender por que nossos sábios nos alertam sobre com quem devemos compartilhá-los. Não devemos fazê-lo com qualquer pessoa, pois, como vimos, sua importância depende não só da compreensão de quem os sonhou, como também da interpretação que outros lhe possam acrescentar. O Zohar nos exorta a revelar nossos sonhos apenas ao amigo mais próximo, a alguém que zele por nosso bem. Tamanha cautela decorre do medo de que o ouvinte perverta seu significado. Um sonho ruim pode transformar-se em bom, desde que seja interpretado para o bem - e vice-versa. A preocupação com a inveja, o charlatanismo e o "comércio da espiritualidade" está presente nessas advertências. Ao ler as páginas do Talmud, podemos observar que a interpretação dos sonhos sempre foi "um bom negócio", como na história de Bar Hedia (Berachot, 56a). Especializado em interpretar sonhos, ele o fazia de uma forma bem peculiar: quanto melhor o pagamento, mais favorável a revelação do sonho. Transformando Sonhos. Uma das perguntas mais frequentes é o que se deve fazer ao ter um sonho bom. E quando for ruim? Ensina o Zohar que se o sonho é bom, devemos lembrá-lo para que se realize, pois "um sonho esquecido nunca se cumpre". Mas, nunca se cumprirá em sua totalidade, pois como Rav Chisda afirmava, "um sonho positivo não se destina a se realizar em toda a sua plenitude, assim como um negativo tampouco se cumprirá em sua totalidade (Berachot, 55a)". E os sonhos ruins? Como vimos acima, há sonhos que nada significam, são simples fruto de nossa imaginação ou de algum mal-estar físico. Aliás, os sábios alertam que, se durante o dia tivermos sérias preocupações ou motivos para angústia, não devemos preocupar-nos com um eventual sonho negativo. Além do mais, até que seja interpretado, o sonho não é nem positivo nem negativo. Relata o Talmud: quando Samuel tinha um sonho ruim, recitava o seguinte verso "Os sonhos contam-nos mentiras". E, com isso, desmistificava a noção de que tinham um significado. Por outro lado, quando se via diante de um sonho positivo, dizia: ... "Mas será que mentem os sonhos? Pois que está escrito que 'Em um sonho Eu falarei a ele...' - o que implícita que os sonhos podem conter mensagens verdadeiras". Há, também, inúmeros exemplos no Talmud do que dissemos acima, que um sonho negativo pode ser transformado em positivo pela interpretação que recebe, e vice-versa. Por exemplo, há uma passagem em que Bar Kapará disse ao Rebi: "Em sonhos, vi que minhas mãos haviam sido cortadas". E Rebi lhe respondeu que "isto significa que você não mais precisará do trabalho de suas mãos". Em outras palavras, ele ia prosperar e, no futuro, não precisaria executar trabalho manual para garantir seu sustento. Mesmo os sonhos negativos têm, na literatura rabínica, o seu lado positivo. Podem levar-nos a uma autoanálise, a rever nossas ações. Consta, também, que a tristeza ou o sofrimento mental que sentimos no decorrer do sonho serve como forma de expiação de nossas falhas. Mas, se apesar de todas essas explicações - de certa forma "aliviadoras" - a pessoa continua impressionada com algum sonho, há várias formas de se despreocupar. Entre outras, a oração e a tzedaká, pois ambas têm o poder de afastar "decretos negativos". Há também uma oração descrita no Talmud para "remediar" os supostos maus desígnios contidos em um sonho. Durante a oração intituladaHatavat Chalom - o "aperfeiçoamento do sonho" - aquele que teve um sonho ruim apresenta-se diante de três amigos que, por meio de fórmulas rabínicas e combinações dos Salmos, simbolicamente "revertem" o aspecto negativo do sonho, restaurando a confiança na pessoa angustiada.
sexta-feira, 4 de julho de 2025
OS SONHOS
quarta-feira, 2 de julho de 2025
UM GAROTINHO NO PARAÍSO
Cristianismo. Editor do Mosaico. UM GAROTINHO NO PARAÍSO. "Um garotinho bateu à porta do paraíso e quando São Pedro chegou, ele pediu permissão para entrar. São Pedro disse-lhe para esperar um pouco, enquanto ia consultar Deus. Enquanto esperava, o menino olhou em volta, para a ampla paisagem que o rodeava. Como era fim de outono, as árvores estavam cobertas com folhas douradas, avermelhadas, alaranjadas e verdes. Até onde o olhar podia alcançar, havia árvores fulgurantes, umas atrás das outras, colinas e colinas de beleza flamejante. São Pedro então retornou. Eu tenho a resposta de Deus. Você vê todas aquelas árvores? E mostrou com a mão 360 graus no horizonte. O garotinho respondeu: Sim. São Pedro continuou: Deus disse que, quando as folhas tiverem caído dessas árvores tantas vezes quanto há folhas nas árvores, você poderá entrar no paraíso. O garotinho sentou-se sem pressa e, olhando para São Pedro, disse-lhe: Por favor, diga a Deus que a primeira folha já caiu”. Mateus 18:2-4 “E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles. E disse: Com toda a certeza vos afirmo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Portanto, todo aquele que se tornar humilde, como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus (...)”. A fábula acima mostra a visão simples, ingênua e autentica de uma criança interessada em adentrar ao paraíso. A franqueza e singeleza das crianças conseguem penetrar a realidade do mistério, desse que, atormenta e deixa desacordado os exegetas e hermeneutas estudiosos da bíblia. A belíssima paisagem no fundo da narrativa onde o menino está incluído com árvores, provavelmente de todos os tamanhos, encimadas com folhas douradas, avermelhadas, alaranjadas e verdes. Além do outono, a estação que caem as flores, completam o cenário da vida humana renascente que alcançará prelúdio místico. A menção do outono é um referência a normalidade dos estágios humanos. A primavera é nossa chegada ao mundo como ser, criança. O verão é o desabrochar de nossa adolescência e efervescer da juventude. O outono é nossa maturidade, fase adulta, advinda da fase adulta. E o inverno é a velhice prenunciando a morte como retorno de onde viemos e para onde vamos. Gênesis 3:19 “Portanto es pó e em pó tornaras”. No contexto da fábula temos duas estações vivenciadas pela criança, onde chegando ao paraíso ela é primavera, uma candura capaz de transcender nossas inquietações e ultrapassar os conflitos expressos no sofrimento. Seu olhar outonal revela um dos requisitos para ultrapassar o portal do gozo e desfrute do Senhor, aquilo que é dito em Mateus 25:21 “entra no gozo do teu Senhor”. Assim não vemos no paraíso a inquietação de opiniões e conflitos de identidade manifestados no verão. Nem a rigidez de conceito inalteráveis, ranzinza e inconveniente no falar no inverno. Característica de muitos idosos desprovidos da sabedoria vinda do alto. Deus nos guarde de envelhecermos com tal feiura expostas em vícios tão horríveis. Que a beleza dos atos virtuosos possam sobressair em nossas atitudes para com o próximo. Marcos 8:24 “E, levantando ele os olhos disse: Vejo os homens, pois os vejo como árvores que andam”. As árvores são a tipologia do homem em evolução espiritual. Na lenda narrada cada árvores tem uma cor específica, tonalizada em níveis de aproximação com a natureza divina dourada. O verde representa a cor primordial, a essência de todas as espécies vegetais, imprescindível ao desenvolvimento da vida. O alaranjado manifesta um progresso rumo ao Divino e o avermelhado, comparado ao fogo, tipifica a centelha divina contida em cada ser existente. O conto é interessante principalmente por não se ater apenas a tradição cristã, mas incluir elementos de outras espiritualidade criando um prisma (diferentes cores), símbolo da verdade na filosofia espiritual. Vejamos, num panorama geral, o céu aqui apresentado não é um estado real ou físico como imaginamos em nossa cultura. Quando o vemos nesse “quadro” pintado pelo autor percebemos que ao mesmo tempo que ele está fora do garotinho, ele também está dentro de sua consciência. A ideia passada é que o paraíso é inerente ao ser humano, todos tendo acesso a esse descanso. Mas a “entrada” se faz em dois aspectos: pelo contar das folhas das árvores e nosso tempo harmonizado pelas “estações” do ano. Desse modo alguns demorarão mais tempo para ser incluídos nesse sossego, tranquilidade e paz que outros. Por dedução, esse tempo terá períodos diferenciados dependendo da coloração de nossas folhas, incorporando o conceito bíblico que somos num certo sentido vegetais. As árvores que se aproximam do dourado, parecem ter preeminência nesse intervalo temporal com mais longevidade. O garotinho imagino como a figura da alma humana, aquela que está a viajar pelo microcosmo, tipificada pela nossa consciência e coração, e pelo macrocosmo o universo infinito e eterno. Nessa viagem ela procura o tempo todo pela sua própria origem que é Deus. Nunca desistindo desse propósito, pois para isso ela foi formada e infalivelmente chegará ao seu destino. Deus é aquele que nos aguarda de braços aberto, esperando pra beijar-nos e colocar-nos em sua morada, que é Ele mesmo. João 6:37 “O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. No conto não se passa a ideia que Deus está trancado num lugar, sentado num trono ou num gabinete luxuoso, cercado dum cerimonial e guardiães a escolta-lo. Pouco se fala Dele, admitindo-se que seu revelar está no oculto e no escondido, e pra penetrar nesse portal da presença divina, só com o esvaziamento do Ego e desapego das coisas mais preciosas que valorizamos. Como diz o Mestre Jesus em Mateus 29:19 “Também todos aqueles que tiverem deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou terra, por causa do meu nome, receberão cem vezes mais e herdarão a vida eterna”. Um texto de difícil interpretação, e geralmente as que lemos são equivocadas, pois fixam-se mais na literalidade do argumento, dando margem a absurdas explicações. Aqui enuncia a renúncia e abnegação extremas, apenas adquirida por místicos e indivíduos comprometidos com a fraternidade humana e interesse em ajudar na evolução espiritual de todos os seres. A figura de São Pedro como tendo a chave do céu é um arquétipo mitológico encontrado em tradições espiritual dos antigos egípcios, sumérios e babilônios. Evidentemente não nesse contexto específico, mas em condições que acessam ao postulante do paraíso sua entrada nesse reino de consolação e refrigério. Que possamos permitir que o Eterno trabalhe as estações do ano em nossa vida com equilíbrio, aparando os excesso, mudando a tonalidade de nossas folhas, depurando nossa personalidade e temperamento para termos condições de frequentarmos por um milénio ou mais esse tão maravilhoso e indescritível estado mental consciente chamado paraíso ou céu. Há momento em nossas vidas que, em êxtases ou insight espirituais temos uma amostra dessa realidade imprimida em nosso espírito. Afinal o garotinho entrou no céu ou não? Não tenhamos dúvida. Todo o ambiente em que ele se encontrava era o paraíso. Ele lá estava antes mesmo de chegar; essa ideia é desprendida na narrativa onde não conseguimos mensura o tempo que normalmente imaginamos como passado, presente ou futuro. O menino já vivia uma atemporalidade, transcendera o espaço-tempo. É incrível pensar que o céu ou paraíso, baseado no argumento do conto, é o aqui é agora. Podemos antecipadamente desfrutar parte dessa delícia espiritual desde que assumamos a responsabilidade de pureza, santidade e amor ao próximo, visualizado na frase: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus”. Abraço. Davi.
terça-feira, 1 de julho de 2025
OXÓSSI
Religião Afro-brasileira. Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). OXÓSSI. Oxóssi é o caçador por excelência, mas sua busca visa ao conhecimento. Logo, é o cientista e o doutrinador, que traz o alimento da fé e o saber aos espíritos fragilizados tanto nos polos da fé quanto do saber religioso. O Orixá é tão conhecido que quase dispensa um comentário. Mas não podemos deixar de fazê-lo, pois falta o conhecimento superior que explica o campo de atuação das hierarquias deste Orixá Regente do polo positivo da linha do Conhecimento. O fato é que o Trono do Conhecimento é uma divindade assentada na Coroa Divina. Uma individualização do Regente Planetário, e em sua irradiação cria os dois polos magnéticos da linha do Conhecimento. O Orixá Oxóssi rege o polo positivo e a Orixá Obá rege o polo negativo. Oxóssi estimula e Obá fixa. Oxóssi vibra conhecimento e Obá absorve as irradiações desordenadas dos seres regidos pelos mistérios do Conhecimento. Oxóssi é vegetal. Obá é telúrica. Oxóssi é de magnetismo irradiante. Obá é de magnetismo absorvente. Oxóssi está nos vegetais e Obá está na raiz deles como a terra fértil onde eles crescem e se multiplicam. Oxóssi é o raciocínio arguto e Obá é o racional concentrador. Bom, já chega de comparações. Acreditamos que já deu para perceber que estes dois Orixás se completam nas oposições magnéticas, energéticas, vibratórias etc. Portanto, vamos as sete hierarquias que surgem a partir do Trono Oxóssi. 1º Oxóssi: é o Oxóssi da Fé ou Oxóssi Cristalino, também denominado do Conhecimento Religioso. Ele surge a partir do 1º polo magnético, formado mo cruzamento com a corrente eletromagnética cristalina, regida pelo Orixá Oxalá - Orixá da Fé. 2º Oxóssi: é o Oxóssi do Amor ou Mineral, também denominado Oxóssi do Conhecimento Genético. Ele surge a partir do 2º polo magnético, formado no entrecruzamento com a corrente eletromagnética mineral. Regida pelo Orixá Oxum - Orixá da Concepção e do Amor. 3º Oxóssi: é o Oxóssi do Conhecimento Vegetal ou Conhecimento Puro, Também conhecido como da Mata Virgem. Ele surge a partir do 3º polo magnético. Formado no entrecruzamento com a corrente eletromagnética vegetal, regida pelo Orixá Oxóssi - Orixá do Conhecimento. 4º Oxóssi: é o Oxóssi do Conhecimento ígneo ou da Justiça. Surgindo a partir do 4º polo magnético, formado no entrecruzamento com a corrente eletromagnética ígnea, regida pelo Orixá Xangó - Orixá da Justiça. 5º Oxóssi: é o Oxóssi do Conhecimento da Lei, também conhecido como Oxóssi do Ar. Ele surge a partir do 5º polo magnético, formado no entrecruzamento com a corrente eletromagnética eólica, regida pelo Orixá Ogum - Orixá da Lei. 6º Oxóssi: é o Oxóssi do Conhecimento da Evolução, também conhecido como Oxóssi Caçador de Almas. Ele surge a partir do 6º polo magnético, formado no entrecruzamento com a corrente eletromagnética telúrica, regida pelo Orixá Obaluaiê - Orixá da Evolução. 7º Oxóssi: é o Oxóssi do Conhecimento da Geração ou Oxóssi da Criatividade. Ele surge a partir do 7º polo magnético, formado no entrecruzamento com a corrente eletromagnética aquática, regida pelo Orixá Iemanjá - Orixá da Geração. Estes sete Oxóssis pontificam as sete hierarquias que surgem a partir do polo magnético irradiante ou positivo da linha do Conhecimento. Saibam que estes Oxóssis são Tronos Intermediários e não incorporam estando assentados nos polos energo magnéticos da linha de forças do Conhecimento. Sendo regentes de faixas vibratórias do elemento vegetal e multiplicam-se em muitas sub hierarquias vegetais já a nível de Orixás Intermediadores. Aqui não vamos comentar os polos negativos do Orixá pois quem lida com eles são os exus e pombagiras das "matas". Os únicos habilitados a manipular seus axés e a ativar seus mistérios cósmicos ou negativos. A Umbanda não lida com os polos negativos dos Orixás e não seremos nós quem iremos abri-los ao conhecimento "material". Oferenda: Velas brancas, verdes e rosa. Cerveja, vinho doce e licor de caju. Flores do campo e frutas variadas, tudo depositado em bosques e matas. Água de Oxóssi para lavagem de cabeça - amaci. Água da fonte com guiné macerada e curtida por três dias. Abraços. Davi