terça-feira, 30 de julho de 2024

AVISO ÚTEIS PARA A VIDA PESSOAL. Parte IV

 

Cristianismo. Livro Imitação de Cristo. Por Tomás de Kempis (1380-1471). AVISOS ÚTEIS PARA A VIDA ESPIRITUAL. Parte IV. 12. A utilidade das adversidades. Bom é passarmos algumas vezes por aflições e contrariedades, porque frequentemente fazem o homem refletir. Lembrando-lhe que vive no desterro, e, portanto, não deve por sua esperança em coisa alguma do mundo. Bom é encontrarmos às vezes contradições, e que de nós façam conceito mau ou pouco favorável, ainda quando nossas obras e intenções sejam boas. Isso ordinariamente nos conduz â humildade e nos preserva da vanglória. Porque, então, mais depressa recorremos ao testemunho interior de Deus, quando de fora somos vilipendiados e desacreditados pelos homens. Por isso, devia o homem firmar-se de tal modo em Deus, que lhe não fosse mais necessário mendigar consolações às criaturas. Estando o homem de boa vontade ou tentado, ou molestado por maus pensamentos, sente logo melhor a necessidade que tem de Deus, sem o qual não pode fazer bem algum. Entristece-se então, geme e chora pelas misérias que padece. Pesa-lhe, também, o vier mais tempo, e deseja que venha a morte levá-lo do corpo e uni-lo a Cristo. Então compreende ainda que neste mundo não pode haver perfeita segurança nem paz completa. 13. A resistência às tentações. Enquanto vivemos neste mundo, não podemos estar sem trabalho e tentações. Por isso está escrito no livro de Jó “Não tem o homem uma tarefa sobre a terra, não são os seus dias como os de um mercenário? Jó 7,1”. Deve, pois, cada qual estar sempre alerta sobre as tentações que o assaltam e vigiar e orar para que o não surpreenda o demônio, que não dorme e “rodeia-vos como leão que ruge, a procura de quem devorar I Pedro 5,8”. Ninguém há tão perfeito e santo que, de quando em quando, não tenha tentação, e não podemos ser delas totalmente isentos. As tentações, porém, ainda que molestas e graves, são muitas vezes de grande utilidade para o homem, porque nelas se adquire humildade, pureza e experiência. Todos os santos passaram por muitas tentações e tribulações com elas aproveitaram. Os que não puderam resistir-lhes foram reprovados e perderam-se. Não há ordem religiosa tão santa nem lugar tão retirado onde não haja tentações e adversidades. Enquanto viver nenhum homem estará inteiramente ao abrigo das tentações. Porque, nascidos da concupiscência, em nós está a causa pela qual somos tentados. Mal acaba uma tentação ou tribulação, outra sobrevêm e sempre teremos de sofrer, porque perdemos o dom da primitiva felicidade. Muitos procuram fugir das tentações e nelas caem mais gravemente. Não basta a fuga para vencê-la. É pela paciência e verdadeira humildade que nos tornamos mais fortes que todos os nossos inimigos. Pouco adianta quem somente evita as ocasiões exteriores, sem arrancar as raízes. Antes lhe voltarão mais depressa as tentações e se achará pior. Vencê-las á melhor com o auxílio de Deus. Pouco a pouco com paciência e resignação, que com importuna violência e esforço próprio. Toma amiúde conselho na tentação e não sejas desabrido e áspero para o que é tentado. Trata antes de o consolar, como desejas ser consolado. A causa de todas as tentações perigosas é a inconstância e a falta de confiança em Deus. Assim como o navio sem leme é joguete das ondas. Assim o homem remisso e pouco firme nos seus propósitos é agitado por toda sorte de tentações. O ferro é provado pelo fogo, e o justo, pela tentação. Ignoramos muitas vezes o que valemos e a tentação faz-nos ver o que somos. Todavia, devemos vigiar, principalmente no princípio da tentação. Porque mais fácil nos será vencer o inimigo, quando não o deixamos entrar na alma, enfrentando o logo que bater no limiar. Por isso disse alguém: “Atalha no princípio, tarde chega o remédio se o mal, por longo tempo, fundas raízes lançou”, Ovídio – De Remediis 2,9. Porque primeiro ocorre a mente um simples pensamento, donde nasce a importuna imaginação, depois o deleite, o movimento. E assim, pouco a pouco, entra de todo na alma o malvado inimigo, porque se não resistiu a princípio. E quanto mais alguém for indolente em lhe resistir, tanto mais fraco se tornará a cada dia, e mais forte o seu adversário. Uns padecem tentações mais violentas no início de sua conversão, outros, no fim. Alguns, porém, são atormentados quase toda a vida. Alguns são tentados brandamente, segundo a sabedoria da divina Providência, que pondera as circunstâncias e o merecimento dos homens e tudo predispõe para a salvação de seus eleitos. Por isso, não devemos perder a confiança quando somos tentados, antes pedir a Deus com mais fervor que se digne a ajudar-nos na tribulação. Ele quer, segundo a palavra de São Paulo, “com a tentação vos há de também providenciar o meio de sair-vos bem dela, dando-vos o poder para suportá-la” I Coríntios 10,13. Humilhemos, portanto, nossas almas, debaixo da mão de Deus,  em qualquer tentação e tribulação, porque ele há de salvar e engrandecer os que são humildes de coração. Nas tentações e adversidades se vê o quanto cada um tem aproveitado. Nelas consiste no maior merecimento e se patenteia melhor a virtude. Não é lá grande coisa ser o homem devoto e fervoroso quando tudo lhe corre bem. Mas, se no tempo da adversidade conserva a paciência, pode-se esperar grande progresso. Algumas há que vence nas grandes tentações e, nas pequenas caem frequentemente, para que, humilhados, não presumam de si grandes coisas, visto que com tão pequenas sucumbem. 14. Deve-se evitar o juízo temerário. Volta os olhos para ti mesmo e guarda-te de julgar as ações alheias. Quem julga os outros trabalha em vão, erra o mais das vezes e facilmente peca. Mas, examinando-se e julgando-se a si mesmo, trabalha sempre com proveito. De ordinário, julgamos as coisas segundo a inclinação do nosso coração, pois o amor-próprio facilmente nos altera a retidão do juízo. Se Deus fosse sempre o único objeto de nossos desejos, não nos perturbaríamos tão depressa quando contrariam a nossa vontade. Muitas vezes existe, dentro ou fora de nós, alguma coisa que nos atrai e em nós influi. Muitos buscam secretamente a si mesmos em suas ações e não o percebem. Parecem até gozar de boa paz, enquanto as coisas correm a medida de seus desejos, mas, se de outra sorte sucede, logo se inquietam e entristecem. Da discrepância de pareceres e opiniões frequentemente nascem discórdias entre amigos e vizinhos, entre religiosos e pessoas piedosas. É custoso perder um costume inveterado, e ninguém renúncia, de boa mente, a seu modo de ver. Se mais confias em tua razão e talento que na graça de Jesus Cristo, só raras vezes e tarde serás iluminado. Pois Deus quer que nos sujeitemos perfeitamente a Ele e que nos elevemos acima de toda razão humana, inflamados do seu amor. Abraço. Davi

sábado, 27 de julho de 2024

RABI YEHUDA LOEW - O MAHARAL DE PRAGA. Parte II

 

Judaísmo. www.morasha.com.br. RABI YEHUDA LOEW – O MAHARAL DE PRAGA. Parte II. O Maharal, falecido em 1609, também influenciou a educação judaica. Enfatizava a necessidade de se entender a interpretação pura e literal das passagens da Torá. Insistia em que as crianças primeiro dominassem o Tanach – os 24 livros que compõem a Torá Escrita – e a Mishná – compilação fundamental da Torá Oral – antes de estudarem a Guemará – a análise rabínica, discussão e comentários sobre a Mishná – em conjunto com a própria Mishná, que constituem o Talmud. Ele priorizava o estudo dos textos-base sagrados no Judaísmo enquanto era, também, profundo místico e cabalista. Conseguia articular profundos conceitos da Cabalá em uma linguagem mais convencional, tornando esses ensinamentos acessíveis até a estudiosos não versados no misticismo judaico. Sua abordagem multifacetada e penetrante ao estudo da Torá teve grande influência em dois importantes movimentos religiosos no século XVIII. Como comentou o Rabi Avraham Yitzhak Kook (1865-1935), primeiro Rabino-Chefe do Estado de Israel, a influência do Maharal deu origem ao Movimento Chassídico e ao movimento que se contrapôs a este, os Mitnagdim (os oponentes do Chassidismo), que se originou com predominância nos círculos judaicos da Lituânia. Figuras importantes nesses dois grupos, como o Gaon de Vilna, líder dos Mitnagdim, e o Rabi Shneur Zalman de Liadi, (1745-1812) fundador da dinastia chassídica Chabad-Lubavitch, inspiravam-se nos ensinamentos do Maharal. Notadamente, o Rabi Shneur Zalman, descendente direto do Maharal, baseou muitos de seus trabalhos cabalísticos, especialmente o Likutei Amarim (conhecido como a obra Tanya), nos ensinamentos do Maharal. Uma das obras mais estudadas e influentes do Maharal de Praga é Gur Aryeh – um comentário acerca do clássico comentário de Rashi sobre o Chumash – os Cinco Livros da Torá. Gur Aryeh é singular entre as centenas de obras que elucidam o comentário de Rashi sobre o Chumash. Nessa obra, que mergulha profundamente nas interpretações de Rashi, o Maharal consegue mesclar ensinamentos cabalísticos, filosóficos e éticos em suas argumentações, conectando, com grande habilidade, explicações textuais objetivas com interpretações mais esotéricas.  O Golem de Praga. Além de ser um dos Sábios mais influentes na História Judaica, o Maharal de Praga foi um mestre da Cabalá prática. Ele é famoso pelo Golem, que ele criou do barro e trouxe à vida utilizando o conhecimento disponível apenas para aqueles que sabem como empregar os poderes do misticismo judaico. Golem de Praga era um humanoide – uma criatura sem alma com a aparência de um ser humano. Criado pelo Maharal que usava rituais cabalísticos e Nomes de D’us para dar-lhe vida, tinha por propósito proteger a comunidade judaica das ameaças e violência antissemitas fomentadas por falsas acusações de libelo de sangue. Ao criar o Golem, o Maharal conseguiu evitar inúmeras tragédias potenciais que tinham por alvo os judeus. Mesmo assim, ele acabou desativando o humanoide e o deixou no sótão da Sinagoga Altneuschul (Velha-Nova Sinagoga). A história do Golem tem sido recontada e reimaginada de inúmeras formas, ao longo dos séculos, através da literatura e peças, filmes e programas de televisão. Pode-se dizer que tenha sido precursora de modernas narrativas, tais como o Frankenstein, de Mary Shelley (1797-1851), que lida com as consequências de tentar criar vida.  Como a história do Golem deu origem a tantos relatos ficcionais, muitos acreditam que não tenha passado de uma lenda judaica. É importante enfatizar que ainda que a história do Golem seja responsável pela mística que envolve o Maharal de Praga, sua principal contribuição ao Judaísmo, e que prevalece, é a sabedoria e conhecimentos sobre a Torá que nos legou. Mais de quatro séculos desde seu falecimento, o Maharal continua sendo um dos mais citados e mais influentes Sábios em nossa história. As pessoas se fascinam com histórias sobrenaturais, como a do Golem, por razões óbvias. Mas o Judaísmo valoriza o conhecimento da Torá – que, como ensinava o Maharal, constitui a Vontade e a Sabedoria de D’us – infinitamente mais do que a capacidade de realizar feitos sobrenaturais. Na verdade, o Maharal apenas conseguiu criar o Golem por ser profundo conhecedor da Torá e especialmente da Cabalá prática. Antes de mergulharmos na autenticidade histórica do Golem de Praga, é essencial entendermos o que é um Golem. O Talmud nos dá um vislumbre, explicando que o primeiro ser humano, Adão, foi criado, inicialmente, como um Golem, palavra que pode ser traduzida como “uma forma”.  Segundo o Talmud, a formação de Adão se deu em quatro estágios. Primeiro, a coleta de sua poeira; posteriormente, a modelagem de sua poeira na forma de um Golem – uma figura indefinida; depois, a formação de seus membros; e, por fim, a fase de lhe incutir uma alma (Talmud BavliSanhedrin 38b). Sendo assim, o Golem é essencialmente uma entidade com uma forma humana, mas que não dispõe de uma alma humana. Nossos Sábios nos ensinam que a capacidade de falar após a concretização de um pensamento, e não apenas com o intuito de comunicar, é o que diferencia o ser humano das demais criaturas. Essa característica é arraigada na alma humana. E, como o Golem não possui uma alma humana, ele não tem o poder da fala. O Maharal de Praga não foi o primeiro Sábio judeu a criar um Golem. O Talmud nos ensina que Rava – um dos Sábios mencionados com mais frequência no Talmud – criou um homem desprovido de alma – um Golem – por meio das forças da santidade. Rava enviou o Golem a outro Sábio, o Rabi Zeira. Quando este falou com o humanoide e não recebeu resposta alguma, ele deduziu sua origem e declarou: “Foste criado pelos Sábios; retorna então à tua poeira” (Talmud BavliSanhedrin 65b). É importante constatar que esse relato faz parte do Talmud – a obra enciclopédica que serve de base à Lei e Teologia judaicas – e não de algum obscuro trabalho cabalístico, fato que nos indica que a ideia de um Golem é um conceito bem estabelecido no Judaísmo. O Rabi Menachem Mendel Schneerson, (1902-1994) o Lubavitcher Rebe, confirmou a veracidade da história do Golem de Praga, baseando-se num relato de seu sogro, o Rabi Yosef Yitzhak Schneerson, conhecido como o Rebe Anterior. Durante uma visita à Altneuschul, em Praga – a mais antiga sinagoga da Europa ainda em funcionamento – o Rabi Yosef Yitzhak viu os despojos do Golem no sótão. Uma de suas filhas, a Rebetzin Chana Gurary, recontou a conversa que teve com o pai sobre esse fato: “Pedi, então, a meu pai que me contasse o que vira. Ele, pausando por um momento, me disse: ‘Quando cheguei ao sótão, o lugar estava cheio de poeira e Sheimos (Nomes de D’us). No centro desse cômodo, vi a forma de um homem embrulhado e coberto. O corpo jazia, de lado, uma visão que muito me impressionou. Prestei atenção a alguns dos Sheimos que havia, lá, e saí, assustado com o que vi’ ”. Rogatchover Gaon, Rabi Joseph Rosen (1858-1936) – um dos mais importantes comentaristas do Talmud do século 20, conhecido por sua mente singular, de enorme brilho e agudez – esclareceu em um de seus principais trabalhos, Tzafnas Paneach, a sua opinião sobre a existência do Golem de Praga. Esse Gaon  escreveu que a ideia de que ele não aceitava a existência do Golem era incorreta: “Quem me ouvia não entendeu o que lhe dizia. Eu simplesmente falei da pergunta que ele fizera acerca da possibilidade ou não do Golem fazer parte de um Minyan1e coisas do tipo, dizendo que o Golem não era uma pessoa, pela Lei Judaica. Isto posto, certamente não estou negando a realidade histórica do Golem, mas apenas mostrando que ele não era, absolutamente, uma ‘pessoa’ para os propósitos de fazer parte de um Minyan…”. O Legado do Maharal de Praga. Rabi Yehuda Loew, o Maharal de Praga, deixou este mundo em 18 do mês judaico de Elul do ano de 5369 (1609). Digno de nota, sete gerações mais tarde, nessa mesma data, no ano de 5505 (1745), nasceu um de seus descendentes diretos – o Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador do movimento chassídico Chabad-Lubavitch. Essa data, 18 de Elul, marca, também, o nascimento do Rabi Israel ben Eliezer (1698-1760), o Baal Shem Tov, fundador do Movimento Chassídico, em 5458 (1698). Na página de abertura de seu trabalho cabalístico, Likutei Amarim (o Tanya), o Rabi Shneur Zalman de Liadi, primeiro Rebe da dinastia Chabad-Lubavitch, informa que seu trabalho se baseou em “livros e autores”. Ele aludia aos trabalhos de seu ancestral, o Maharal de Praga, e à obra Shnei Luchot Habrit, de autoria do Rabi Yeshaya Halevi Horowitz, o Shelá HaKadosh. À medida que o alcance do movimento chassídico Chabad-Lubavitch se expandiu globalmente e o Tanya se estabeleceu como uma pedra fundamental do estudo da Cabalá, os ensinamentos do Maharal de Praga, por extensão, impactaram inúmeros judeus. Quatrocentos anos após seu falecimento, o Maharal de Praga continua sendo uma figura maior que a vida, assim como o é sua estátua diante da Prefeitura de Praga - República Tcheca. Suas obras enfocam as dimensões mais profundas dos conceitos judaicos, revelando sua profundidade espiritual e filosófica. Seus escritos se tornaram textos básicos para quem estuda o pensamento judaico. Sua singular abordagem ao estudo e interpretação da Torá influenciaram incontáveis estudiosos e pensadores em todas as gerações que se seguiram. Muitos reverenciam e falam com grande admiração sobre o Maharal de Praga graças às suas habilidades sobrenaturais. Durante um dos mais difíceis períodos na História Judaica, ele foi o líder espiritual e porta-voz dos judeus. Fez tudo a seu poder – inclusive a utilização de seus conhecimentos da Cabalá prática – para protegê-los. Muito compreensivelmente, grande parte de sua fama advém da história do Golem e, mesmo aqueles que questionam a autenticidade histórica do Golem, sentem-se fascinados pelo homem a quem tal história é atribuída. Mas o legado do Maharal em muito supera o misticismo que o rodeia. Poucos Sábios lançaram uma sombra tão grande e influente quanto o Maharal de Praga. De igual maneira para eruditos e principiantes, Rabi Yehuda Loewé um guia iluminado em sua jornada pela Torá. Sua mistura única de profunda intelectualidade e misticismo desenharam um caminho para futuros pensadores e místicos judeus. Suas contribuições se tornaram pedras fundamentais para subsequentes movimentos judaicos, em especial para o Movimento Chassídico. De fato, várias dinastias chassídicas integraram suas obras aos seus ensinamentos como testemunho de sua vasta e profunda influência. Zohar, a obra fundamental da Cabalá escrita por Rabi Shimon Bar Yochai, ensina que a influência de um Tzadik persiste além de sua vida física. Ao longo de maisde 400 anos desde seu falecimento, a influência do Maharal de Praga não diminuiu. Na verdade, apenas aumentou. Aqueles que estudam o clássico comentário de Rashi sobre a Torá recorrem ao Gur Aryeh do Maharal para obter percepções mais profundas. Os estudiosos do Talmud e do Midrash costumam se apoiar nas explicações do Maharal para entender o significado de passagens esotéricas. Qualquer pessoa que se aprofunde no Tanya, do Rabi Shneur Zalman de Liadi, particularmente os inúmeros frequentadores das sinagogas Chabad-Lubavitch em todo o mundo, está, em essência, imergindo nos ensinamentos cabalísticos do Maharal. Assim sendo, Rabi Yehuda Loew, o Maharal de Praga, continua sendo um mestre para todos nós. Suas obras defendem, com ardor, o Povo de Israel e seu vínculo eterno com a Terra de Israel. Ao longo de sua vida, ele usou a Cabalá prática para proteger nosso povo daqueles que nos queriam mal. Que seu legado permanente e seus méritos abençoem e protejam os Filhos de Israel, em sua terra, a Terra de Israel, e em toda a parte. Abraço. Davi.

Bibliografia: 10 Facts About the Maharal Every Jew Should Know, artigo de Yehuda Shurpin publicado no site https://www.chabad.org

Rabbi Judah Loew - “The Maharal of Prague”, artigo de Nissan Mindel no publicado no site https://www.chabad.org/

The Maharal: Savior of the Jews, artigo do Rabbi Dr. Benji Levy publicado no site https://www.aish.com

Por: Tev Djmal

quarta-feira, 24 de julho de 2024

O ÚLTIMO SERMÃO DO BUDA

Budismo. www.misticismonatural.blogspot.com. O ÚLTIMO SERMÃO DO BUDA. Poucos meses antes de sua morte – Parinirvana – Gautama Buda habitava uma aldeia chamada Beluva. Tinha, nessa época, cerca de 80 anos e estava gravemente enfermo, porém, sentindo ainda necessidade de esclarecer seus discípulos mais próximos, com coragem e determinação superou seus sofrimentos temporariamente. Nessa ocasião, Ananda, discípulo devoto e sempre solícito que acompanhava de perto a evolução da doença, sentando-se ao lado do Mestre, perguntou: Senhor, fiquei preocupado com a saúde do Sublime e, acompanhando vossa enfermidade, o horizonte tomou-se sombrio para mim; o entanto, tive o pressentimento de que o Bem-Aventurado não partiria sem dar instruções sobre quem iria recair a responsabilidade da direção da ordem da Sangha (Comunidade dos discípulos). Buda, cheio de compaixão falou com bondade a seu discípulo bem-amado: Ananda, que espera de mim a Ordem do Sangha? Ensinei o Dhamma (Verdade) sem fazer nenhuma distinção entre o exotérico (externo) e o esotérico (interno). No que concerne à verdade, o Tathagata nada ocultou – acariya mutthi. Certamente, Ananda, se há alguém que pensa poder dirigir a Sangha, que a Sangha lhe fique subordinado, que ele dê suas instruções. Mas o Tathagata nunca pensou tal coisa, por que, então, haveria de deixar instruções a respeito da Sangha? Portanto, Ananda. Faz de ti mesmo a tua própria ilha, teu próprio suporte, faz de ti mesmo e de ninguém mais teu próprio refúgio. Não procures nenhum auxílio fora de ti mesmo, fazendo do Dhamma tua ilha (suporte). Do Dhamma teu único refúgio e de nada mais. E, para os monges, continuou: Ó monges, não vos entristeçais. Ainda que eu permanecesse no mundo durante milhares de anos, isso não me livraria da morte. Tudo o que se reúne, não escapa à separação. Já foram ensinados todos os Dhamma que trazem proveito a quem os pratica, e que trazem proveito a outrem. Ainda que eu permanecesse vivo, nada mais teria a fazer. Todas as pessoas a quem eu devia ensinar, já foram ensinadas. Quanto àquelas a quem eu ainda não ensinei, já criei condições para que sejam ensinadas. Se vós, meus discípulos, persistirdes na prática da Lei após minha morte, meu corpo de Lei continuará eternamente vivo. Esforçai-vos sem cessar na prática que leva à Libertação. Permanecei em silêncio. O tempo passa e é chegada a hora de eu me extinguir. E terminou: Tudo o que aparece, desaparece. Firmai-vos na Plena Atenção. Buda foi o primeiro ser humano que ultrapassou a morte, embora os maiores pensadores deste mundo tenham querido saber como isto pode ser feito. O Buda não ultrapassou a morte da maneira como todo mundo poderia imaginar que isto pudesse ser feito, isto é, vivendo para sempre. Ele o fez removendo aquilo sobre o qual a morte, da mesma forma que o nascimento e decadência, se aplica, isto é, todo subjetivismo: pessoa ou "ego, eu e meu". "A experiência do Iluminado vivo é: não-nascido, não-decadente e imortal (...), pois não sobra nada no Iluminado para dizer: “Eu nasci”; não tendo nascido, como, ó monges, pode ele envelhecer? Não envelhecendo, como pode ele morrer?" (Majjhima Nikaya, 140). Ele diz que todas estas perguntas não se aplicam, porque, em relação ao Buda, não há uma "pessoa", um "ser", ou "alguém" para dizer "eu" e "meu", a respeito dos quais estas perguntas se apliquem. Então, não há morte aplicável ao Buda. Por conseguinte, questões pertencentes ao "após morte" não se aplicam. Os Cinco Agregados da existência, que foram extintos pela raiz para nunca surgir novamente, são os Cinco Agregados da existência como objetos de apego, isto e, como "meu" e "eu". Nascimento, decadência e morte aplicam-se apenas aos Cinco Agregados da existência como objetos de apego, porque um eu ou "pessoa" para o qual apenas nascimento, decadência e morte são aplicáveis, está presente se houver apego, isto é, subjetivismo. Quando o apego for extinto, todo o subjetivismo será extinto. o que, então, permanece é o residual: Cinco Agregados da existência para os quais nascimento, decadência e morte não se aplicam. Com relação a todas as pessoas que não sejam iluminadas, questões e indagações a respeito o após morte são relevantes. O que acontece com o ser quando se dá a morte física? Mas, para o Iluminado, não existem questões a respeito da morte; por conseguinte, também não surgirá nele questões a respeito do após morte. Para o Iluminado há apenas o quebrar do corpo, que acontece quando a vida chega a seu fim. Isto é tudo, como já sabemos, com o Iluminado não existe uma "pessoa" ou "eu" existindo. Há apenas uma experiência em fluxo. O Buda disse de si próprio: O Tathagata é profundo, incomensurável, insondável como o grande oceano. Dizer: O Tathagata existe após a morte não se aplica. Dizer: "O Tathagata não existe após a morte" não se aplica. Dizer: "O Tathagata existe e não existe após a morte, não se aplica." Dizer: "O Tathagata nem existe, e nem não existe após a morte", também não se aplica. (Samyutta Nikaya). Portanto, a imortalidade era algo que já havia acontecido, que já havia sido atingida. Quando Ananda, famoso discípulo do Buda, atingiu a Iluminação, ele disse, para si próprio: "Foi posto um fim ao nascimento e morte; eu carrego a última carcaça." Isto é a imortalidade, quer dizer, a libertação de todo apego, pela mente. O presente se renova em cada momento de consciência; portanto, só tem intensidade, não extensão, por isso é que é eterno. Assim, o eterno presente, na realidade, é o momento limítrofe, ou linha limite irracional, entre duas direções do tempo, o passado e o futuro. Os ensinamentos do Buda são para ser compreendidos aqui e agora, todos eles, nesta própria vida. A não-decadência, o não-nascimento e a imortalidade são também para ser compreendidos aqui e agora. Assim, o Nirvana é para ser atingido aqui e agora, e não numa futura existência. Esta Realidade última, indescritível por palavras, exceto por símbolos como Nirvana, Samyak, Sambodhi ou Prajnaparamita, etc., e que o próprio Buda recusava definir, insistindo na experiência própria de cada um, é que o significado desta nossa vida e do Universo revelado está contido no fato da nossa própria consciência, e não fora de nós mesmos. De acordo com as próprias palavras do Buda, sua consciência penetrou inúmeros períodos de tempo no passado; do mesmo modo penetrou inúmeros períodos de tempo no futuro; em outras palavras, penetrou a eternidade, independentemente do que chamamos passado ou futuro, que tomou-se para ele o presente imediato. Dito na linguagem da nossa consciência mundana, a universalidade da Mente Búdica criou um efeito tão longínquo, que a sua presença pode ser sentida até nossos dias, e a luz da sabedoria libertadora que ele deixou há dois e meio milénios ainda irradia e continuará a irradiar, até quando existirem seres à procura da luz. A natureza da Iluminação não tem exclusividades; tanto no caminho para a sua realização, como depois de realizada, é uma luz que irradia sem limites e sem esgotar-se, que ilumina sem restrição. Buda morreu aos oitenta anos de idade, na cidade de Kushinagar, no atual estado de Uttar Pradesh, na Índia. Seu corpo foi cremado por seus amigos, sob a orientação de Ananda, seu assistente pessoal. As suas cinzas foram repartidas entre vários governantes, para serem veneradas como relíquias sagradas. Psicologia do Autoconhecimento. Doutor George da Silva e Rita Homenko. www.misticismonatural.blogspot.com. Abraço. Davi

segunda-feira, 22 de julho de 2024

PREFÁCIO - FELICITAÇÕES AO NOVO MUÇULMANO - INTRODUÇÃO

 

Islamismo. Livro Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo (1960 - ). PREFÁCIO. Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso. Todos os louvores são para Allah, a Ele louvamos, a Ele imploramos ajuda, n’Ele buscamos o perdão e a Ele pedimos a guia. Refugiamo-nos em Allah do mal de nossas almas e da maldade de nossas ações. Pois, todo aquele que é guiado por Allah, ninguém poderá desviá-lo. E aquele que Allah permite que se extravie, ninguém poderá guiá-lo. Testemunho que não existe nada digno de ser adorado, exceto Allah, que não tem sócios na divindade. E testemunho que Muhammad é Seu servo e Mensageiro. Queria aproveitar esta oportunidade para expressar meus louvores e agradecimentos a Allah por me dar a oportunidade de escrever uma obra tão importante como esta. Que Allah me perdoe por qualquer erro que pudesse ter cometido na apresentação de Sua religião. Igualmente, com “Que é o Islam” (um irmão deste livro), devo expressar meus agradecimentos ao Shaikh Muhammad Turki, do Ministério de Assuntos Islâmicos, por seu apoio. Também quero agradecer a Ahmad Ba Rashid por seu contínuo apoio. Ambos têm sido o motor por trás deste projeto. Há muitas pessoas a quem queria agradecer pela ajuda com esta obra, em particular. Primeiro, quero agradecer à minha amada esposa que é sempre uma fonte de apoio e ajuda. Também um agradecimento especial ao Dr. Abdulkarim al Said, Nahar al rashid, Dr. Muhammad al Omisi, Dr. Ahmad al Teraiqi e ao irmão Jalaal Abdullah. Não posso além de orar para que Allah os recompense e abençoe nesta e na próxima vidas. Devo assinalar que já foi tocado, anteriormente, muitos dos temas incluídos neste livro. Tomei a liberdade de adaptar ou recorrer a passagens de minhas obras anteriores He came to teach you your religion e Purification of the soul: Concept, Process and Means. Em menor medida, também adaptei o material de What is Islam Commentary on the forth hadith of al Nawawi. Rogo a Allah que aceite esta obra escrita somente por Sua causa. Como sempre, a responsabilidade de qualquer erro recairá sobre o autor. Peço a Allah que me perdoe por qualquer falha e me guie à Senda reta. FELICITAÇÕES AO NOVO MUÇULMANO. Especialmente nestes tempos em que se colocam no Islam tantas barreiras e dizem tantas mentiras sobre ele, é uma grande bênção de Allah dar a determinadas pessoas a capacidade de ver a verdade e a luz do Islam. Um novo muçulmano – e de fato, todo muçulmano – deve estar sempre agradecido com Allah pôr o haver abençoado com este conhecimento tão importante e com a compreensão de Sua religião. Ao converter-se ao Islam, um novo muçulmano entra em um novo âmbito, com uma visão, sobre sua vida, muito diferente da que tinha anteriormente. Talvez, ainda mais importante, é que através do Islam a pessoa encontra o meio pelo qual o Senhor ficará satisfeito com ele e, por sua vez, ele também fica agradecido com seu Senhor. À medida que a pessoa cresce no Islam e aumenta seu conhecimento e sua fé pode apreciar mais e mais a sua beleza. Por sua vez, o amor da pessoa por Allah, o Islam e o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) seguirá aumentando. O resultado é uma vida espiritual em um plano muito especial que só podem viver e desfrutar aqueles que experimentam esta fé. Há muito que anelar. Adotar o Islam é o primeiro passo e o resto, com a graça de Allah, chegará com o conhecimento, à fé e o apego ao Islam. INTRODUÇÃO. Objetivo e motivação para escrever este livro. O objetivo deste livro é oferecer ao novo muçulmano um guia básico que o ajudará a entender e implementar o Islam. Como disse anteriormente, o muçulmano recém-convertido empreende um novo caminho que, muito provavelmente, difere bastante do caminho que transitava antes. O convertido entende o suficiente sobre o Islam para reconhecer que é a verdade, mas normalmente não tem informação suficientemente detalhada sobre a religião de Allah que o possa guiar no dia a dia. Este é o desejo sincero do autor, ou seja, que a pessoa tenha uma experiência com o Islam, compreendendo corretamente desde o começo e aplicando-o apropriadamente em sua vida. São muitos os convertidos ao Islam que se confundem após a reversão. Lamentavelmente, nem todos os muçulmanos hoje em dia são bons embaixadores do Islam e nem todos compreendem os aspectos básicos da religião. Isso pode trazer muita confusão, pois alguns muçulmanos convertidos nem sequer podem reconhecer o Islam que vêem comparado com o Islam que leem. Este livro é um modesto intento de ajudar o novo muçulmano a marcar o caminho correto segundo o Qur’an e a Sunnah. O que distingue este livro.  Há muitos livros disponíveis de introdução ao Islam. Sem dúvidas, é meu desejo que esta obra se distinga das demais por várias razões. Em primeiro lugar, é um dos poucos livros, disponíveis atualmente, dirigido aos muçulmanos recém-convertidos. Em outras palavras, está dirigido a quem já se convenceu da verdade do Islam e, portanto, não se apresentam aqui argumentos para tentar convencer o leitor sobre esta verdade. Por outro lado, uma vez que a pessoa adota o Islam, é apresentada uma vasta riqueza de informações que necessitará conhecer. Então, há que se compreender corretamente os fundamentos da sua nova fé. Também é necessário que se guie no que diz respeito às práticas mais importantes de sua nova fé, incluindo uma boa consciência das ações que, como muçulmano, deve evitar. Em segundo lugar, o autor é um convertido ao Islam. Assim, o autor pode basear-se em sua própria experiência como convertido e, refletindo sobre o que foi vivido em tantos anos, poderá brindar sua visão a respeito do que o convertido necessita saber e quais as armadilhas que deve evitar. Deve-se considerar este livro como o que o autor gostaria de ter recebido quando se converteu ao Islam. Ademais, o autor estabeleceu conversas, ao longo dos anos, ficando a par de muitos temas conceituais e práticos que os outros convertidos têm que enfrentar. Em terceiro lugar, o autor deu tudo de si para assegurar de que toda a informação contida aqui fosse autêntica e passasse por uma verificação. Isto foi particularmente para qualquer das palavras atribuídas ao Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Desafortunadamente, nem todos os que escrevem sobre o Islam prestam a devida atenção a este tema e incluem informação falsa em seus livros introdutórios. Na realidade, uma das principais razoes pelas quais o autor adotou o Islam como modo de vida é porque os ensinamentos originais se mantiveram puros: pode-se dizer, com toda certeza, que o Qur’an é a palavra de Deus e que o hadith é a palavra do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Esta religião chegou até nossa geração conservada em sua forma e é imperativo que não se distorça nenhuma informação de qualquer maneira. Portanto, é responsabilidade de todo aquele que escreva ou fale do Islam continuar assegurando de que o que diz é a verdade de Allah e do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Fontes e enfoque deste livro. A fonte mais importante para qualquer livro sobre o islam deve ser o Qur’an, O Qur’an assenta as bases para a totalidade dos ensinamentos islâmicos e, portanto, dar-se-á a devida ênfase na evidência corânica para as opiniões expressas neste livro. Não obstante, o Qur’an não foi revelado simplesmente na subida de uma montanha para que qualquer um que o leia entenda por si mesmo. Allah revelou o Qur’an ao profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) e o mesmo Qur’an ordenou aos muçulmanos seguir seu exemplo e obedecer às suas ordens. Sua forma de vida é conhecida como a Sunnah e foi compilada no que hoje se conhece como literatura do Hadith. Portanto, a guia do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele), tal como se fala na autêntica literatura do Hadith, também será utilizada em profusão nesta obra. O Qur’an e a Sunnah, então, formam as fontes máximas da compreensão do Islam. Toda outra fonte deve ser secundária a elas e estar sujeita a sua aprovação em geral. Em outras palavras, se algo contradiz o Qur’an ou a Sunnah, não pode ser considerado como parte do Islam. Ademais, o profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) levou toda uma geração sob sua guia e direcionamento. Obviamente, seus companheiros eram simples seres humanos e, como tais, cometiam erros – seu entendimento geral e aplicação do Islam eram aprovados pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Assim, tratar-se-á neste livro sobre a maneira geral, correta e apropriada de se entender o Islam. Por último, o autor aproveitou as obras de muitos outros que escreveram sobre o Islam, entre ele os mais proeminentes estudiosos ao longo da história do Islam, como também outros tantos que fizeram obras de introdução à religião. No decorrer do livro, far-se-á uma referência a estes autores e suas obras. Abraço. Davi.

 

sábado, 20 de julho de 2024

DIVINDADES. Parte II

 

Religião Afro-brasileira. Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). Capítulo VII. DIVINDADES. Parte II. Esse temor só se justifica pela ignorância, pois, se eles acreditavam na divindade de Jesus Cristo, não precisavam temer o poder das divindades alheias. Porém, não só desconheciam as divindades alheias e suas atribuições divinas, mas também lhes interessava dominar a mente das pessoas. Assim, nada melhor do que negar qualquer divindade ou ícone de outras religiões e lançar lhes a pecha de “deuses pagãos”. Isso se repete periodicamente na história religiosa da humanidade, e toda doutrina nascente se escuda na negação da divindade da religião que está chegando ao seu ocaso. Esse obscurantismo religioso se instala porque só assim a nova doutrina alcança seu objetivo: dominar pela fé a mente das pessoas. Por conseguinte, a doutrina de Umbanda não proíbe os seus adeptos de estudar doutrinas alheias. Ele entende que as pessoas precisam comparar os conhecimentos colocados a disposição de tantos quantos se interessarem pelo assunto. Hoje, temos umbandistas que estudam Teosofia, Gnose, Maçonaria, Budismo, Hinduísmo, Lamaísmo, Cristianismo, Islamismo, Espiritismo, Xintoísmo, Confucionismo, Xamanismo etc. Com isso, enriquecem ainda mais o Ritual de Umbanda Sagrada, dessa maneira, estão dotando-o com o que de melhor possuem estas outras doutrinas religiosas. Uma Umbanda esclarecida e escudada em conceitos universais é a melhor garantia de que um líder obscurantista não empolgará esta religião nascente ou que um “papa” não criará seu trono particular. Do qual ditará dogmas que assegurarão o domínio da fé e da mente de muitas pessoas. Afinal, ou uma divindade conquista seus fiéis pelas afinidades, ou não os auxiliará de fato, porque o tempo se encarregará de lançá-la no esquecimento religioso. O Ritual de Umbanda Sagrada é pródigo em divindades naturais. No seu panteão estão assentadas todas as divindades existentes, ainda que não se manifestem com os nomes pelos quais ficaram conhecidas no passado. Já que seus mistérios se manifestam ocultados nos nomes simbólicos das linhas de trabalho de Umbanda. A linha de Fé, por exemplo, constituiu tantas sublinhas quantas lhes foram solicitadas pelas divindades. E se sob a regência de Oxalá todos os mistérios da Fé se manifestam, no entanto, eles assumem características próprias e realizam suas missões por meio das linhas de ação e dos trabalhos pontificadas por espíritos já ascensionados. Formando as há séculos ou milênios sob a irradiação das divindades regentes dos mistérios da Fé. Citemos só um exemplo de antiguidade das divindades que manifestam seus mistérios de Fé por intermédio de uma linha de ação e trabalhos de Umbanda Sagrada: a linha de caboclos Arco-Íris. O Arco-íris divino é um símbolo religioso cultuado pelos antigos magos caldeus, que o receberam como herança religiosa da antiga civilização veda. Que os receberam de outra civilização ainda mais antiga e que remonta à era da mitologia Atlântida. Civilização esta que deixou seus símbolos religiosos espalhados por toda a face da Terra. Até o famoso castiçal de sete braços foi-nos legado por ela, que colocava nele sete velas coloridas, cada uma de uma cor. Como o tempo a tudo renova, eis que entre os Orixás encontramos o símbolo arco-íris Sagrado guardado pelo mito do Orixá Oxumaré, e que é representado pela Serpente do Arco-íris. Mas uma ordem religiosa astral conservou todos os fundamentos e conhecimentos da religião que tinha como símbolo máximo o arco-íris e que cultuava uma divindade planetária que se renovou em solo africano como Oxumaré. Renovando-se no Ritual de Umbanda Sagrada, deslocando para o ritual nascente uma de suas hierarquias, assumindo o expressivo nome de “linha de caboclos Arco-íris”, presentes já nas primeiras manifestações umbandistas. O Orixá Oxumaré possui as mesmas qualidades, atributos e atribuições do divino “lá-ór-me-ri-iim-de-re-yê, cujo nome é um mantra invocador da divindade regente de Fé durante a era Atlântida, quando era simbolizada por um arco-íris que se projetava para o alto e para o infinito. A divindade da Atlântida é o mesmo Oxumaré africano, que se renovou na linha de caboclos Arco-íris, estando recolhendo seus afins remanescentes por meio do Ritual de Umbanda e reconduzindo-os as esferas luminosas. Integrando-se as hierarquias naturais regidas pela divindade da fé, regente de um mistério que até os velhos babalaôs africanos desconheciam. Por isso não os ensinavam aos seus herdeiros religiosos. O divino Oxumaré é uma divindade tripolar, pois atua no alto, no meio e no embaixo, ou seja, tem hierarquias que atuam na Luz, tem as que atuam junto aos encarnados e tem as que atuam nas Trevas. Suas hierarquias são tão numerosas, que se espalham por todas as religiões atualmente existentes. E não há sequer uma que não manifeste o mistério da Fé regido pelo divino “lá-ór-me-ri-iim-de-re-ye, ou nosso amado pai Oxumaré, renovado na Serpente do Arco-íris. Todo Caboclo Arco-íris é um semeador da fé e saúda o divino Oxalá, sendo por meio do mistério da Fé que ele se manifesta dentro do Ritual de Umbanda Sagrada. Oxumaré é um Oxalá? Não. Oxumaré é o quê? É um mistério divino que rege a renovação dos seres por intermédio do amor divino, simbolizado por um coração, que por sua vez simboliza uma das Oxuns intermediárias harmonizando-se com “Ísis”, a deusa egípcia ainda muito conhecida, igual a toda Oxum, é uma divindade maternal e amorosa. Viram como o conhecimento religioso abstrato desconhece completamente as hierarquias divinas, como Deus procede e quem são realmente as divindades naturais? O mentalismo abstrato acerca das  coisas divinas foi o único meio de o obscurantismo religioso impor-se e dominar, precisando aprisionar os espíritos rebelados contra a rigidez das hierarquias espirituais estabelecidas no astral desde eras remotas e desconhecidas da atual civilização. O Cristianismo apagou o conhecimento guardado pelos mystas e o Islamismo apagou o conhecimento que os magos guardavam com muito zelo. Por isso, as culturas religiosas cristã, judaica e islâmica negam as divindades naturais e canalizam a fé unicamente para Deus. Os espíritos rebelados contra a rigidez das divindades naturais só deixariam conduzir se fosse  por meio de doutrinas adaptadas as suas necessidades mais imediatas, que é o retorno ao rebando divino, do qual se haviam afastado e relutavam em retornar. Deus Pai, em sua infinita bondade e misericórdia, criou novas religiões e dotou-as com doutrinas obscurantistas que tem acolhido milhões de espíritos rebelados contra a rigidez das hierarquias espirituais pelas divindades naturais. Se duvidam do que aqui afirmamos, deem uma rápida olhada no que acontece atualmente dentro da recente Umbanda. Espíritos encarnados chamados para religarem-se com os Orixás, que são as divindades naturais, não aceitando submissamente a rigidez das hierarquias. Simplesmente viraram-lhe as costas e abrigaram-se no espaço religioso da mais obscurantista das seitas cristãs. Escudados em uma religiosidade que beira ao fanatismo, chafurdam a Umbanda e os Orixás com epítetos próprios de suas consciências maculadas pelo desrespeito aos mistérios de Deus. Mas Deus, generoso como sempre, está dando a eles uma doutrina obscurantista. Assim, não confundirão nem a si nem aos seus semelhantes, pois não aceitaram a rigidez das hierarquias espirituais regidas pelos sagrados Orixás. Muitos daqueles que hoje ocupam púlpitos e esbravejam contra a Umbanda, ontem frequentaram os terreiros, onde só sabiam pedir por bens materiais, tais como: carro novo, nova namorada, afastar do caminho um concorrente etc. Mas como viram neles meros mercadores da fé, as hierarquias os afastaram e só restou a eles a desinformação das seitas neo cristãs. Sendo que, nem o Catolicismo de antes não atendia aos seus anseios imediatistas e materialistas. Deus Pai, em sua infinita bondade e tolerância, os encaminhou e encaminhará sempre a outra doutrina, que, além de ser obscurantista, é muito mais rígida que a Umbanda. Por isso, o Ritual de Umbanda Sagrada respeita todas as doutrinas religiosas, e a doutrina de Umbanda respeita e aceita todas as divindades. Afinal, o aguerrido Orixá Ogum, divindade aplicadora da Lei Maior, concede muito mais liberdade de pensamento aos seus fiéis que o sereno Jesus Cristo, quando comparamos um fiel da Umbanda com um fiel evangélico, já que a este último muitas coisas são proibidas. A doutrina de Umbanda estimula os umbandistas a estudarem as religiões e as divindades, mas sob a ótica comparativa. Com certeza, encontrarão respostas a muitos problemas sociais da atualidade se estudarem as recomendações das divindades aos seus fiéis. A postura dos religiosos enquanto intermediadores dos fiéis junto à divindades e os procedimentos dos fiéis diante da divindade e da doutrina que fundamenta sua religião. 1º Descobrirão que as divindades exigem dos seus fiéis que sejam generosos, amorosos, humildes, obedientes, submissos, caridosos etc. 2º Descobrirão que os religiosos ensinam estas virtudes aos fiéis. 3º Descobrirão que, apesar de todo esse esforço, os fiéis têm muita dificuldade em proceder como exige a divindade e coo recomendam os religiosos. Nó nunca devemos julgar uma divindade pelo comportamento dos seus fiéis, pois estes não são um espelho vivo refletindo as qualidades excelsas de seu regente divino. Em Jesus Cristo, temos tudo o que um ser precisa para ascender aos céus, e, no entanto, o inferno está coalhado de cristãos. Em Oxum, temos amor suficiente para conquistar o coração divino, ainda assim, as trevas estão coalhadas de filhos e filhas da Mãe do Amor. Por que isso? Porque as divindades, que são mistérios de Deus, semeiam doutrinas virtuosas e os religiosos apregoam que só os virtuosos ascendem aos céus. Mas o espírito encarnado, avessos a hierarquias, sendo que, esta implica obediência e renúncia pessoal. Preferem a autossatisfação e uma liberdade religiosa que beira a libertinagem consciencial. A doutrina de Umbanda recomenda aos seus adeptos o respeito e a reverência a todas as divindades. Assim como aos seus hierarcas humanos, encarnados ou não, mas que externem as qualidades ordenadoras e excelsas de seu regente divino. Mesmo tendo tantas divindades e tantos instrutores encarnados, ainda assim as pessoas continuam desencarnando ... e indo estacionar nas faixas vibratórias negativas. Logo, a existência do inferno ou trevas não se deve a esta ou aquela divindade, porém à rebeldia natural dos espíritos e à pouca atenção que dão ao que deles esperam as divindades. Abraço. Davi

quinta-feira, 18 de julho de 2024

O MISTÉRIO DO EU - Parte II

 

Teosofia. Revista Teosófica. Ano 2016. Por J. R. Lassen-Willens. O MISTÉRIO DO EU – PARTE II. A exposição sistemática que Plotino (205-270 d.C.) faz deste mundo de existência incluía uma doutrina do mundo das aparências como uma série de emanações, na quais a pessoa encontra uma hierarquia de seres. Assim, se considerada estritamente quanto a descrição, sua exposição é também uma posição em camadas. Embora com ênfase e tratamento popular, considera-se que Plotino adotou a posição monádica. Na verdade, em sua expressão ontológica, a posição de Plotino é muito semelhante à posição Advaita Vedanta de Shankara. Com relação a isso, o sistema de Plotino deve ser compreendido como monádico. O problema do eu torna-se cada vez mais complicado e polêmico no pensamento Ocidental posterior. Gottfried Leibniz (1646-1716) e Baruch Spinoza (1632-1677) consideravam que somente a mônada mental tinha existência real. A alma, como uma essência específica de identidade pessoal, não continua a desempenhar papel na teologia escolástica posterior, ou seja, no trabalho de Tomás de Aquino (1225-1274) e seus seguidores. No mundo do pensamento esotérico, os modernos defensores primários de uma compreensão da consciência monádica fixa são Paul Brunton (1898-1981) e Anthony Damiani (1922-1984). Aqui, o pensamento seria, se estritamente considerado, uma posição em camadas, exceto que a existência real é negada a tudo menos à mônada menal. Damiani é mais sutil em sua formulação do que seu professor Paul Bruton (1898-1981). No Oriente, o Taoismo e o Advaita Vedanta são diferentes estratégias que discutem um sistema monárquico. Brunton foi influenciado pelo advaita. O Taoismo só usa a formulação do “homem verdadeiro” que percebe a realidade corretamente quando renuncia à dualidade da ilusão de um ego separado. O Taoismo conta com uma transcendência de linguagem paradoxal para o pleno entendimento da realidade. A esse respeito, é trans racional. O Advaita Vedanta é uma das mais sofisticadas exposições do eu monádico. A explanação que Shankaracharya (788-820 d.C.) faz do Advaita Vedanta é de alguma maneira superior à descrição que Plotino faz do Um. No Advaita Vedanta a transcendência é alcançada racionalmente, e não suprarracional mente como ocorre com o taoísmo. Em algumas polêmicas, o advento da modernidade e da pós-modernidade, primeiramente no Ocidente e depois no Oriente. Desconstruiu totalmente a questão do sujeito ou do eu. Não mais se considera o eu como tendo qualquer utilidade em muitas das discussões. É difícil recusar a importância de uma investigação de subjetividade e de se estar seriamente buscando a senda espiritual, por isso olhemos agora para a posição do eu em camadas. Esta posição não tem a simplicidade das outras duas. É mais complicada, e exige mais de nossa compreensão. Por enquanto, a posição do eu em camadas será o argumento, de que o “eu” se manifesta de muitas maneiras, dependendo da natureza do reino no qual se está manifestando. O eu, é a expressão de muitas funções, que somente estão plenamente integradas em um eu ou na compreensão da alma. A especificidade de cada função se torna clara e seu relacionamento com as outras funções é plenamente compreendido. Embora tenha havido muitas apresentações da posição do eu em camadas, haverá suficiente para indicar sua ênfase e escopo heurístico: a apresentação cristã tradicional, a cabalística e a de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891). Um pesquisador cuidadoso encontrará um esquema semelhante nas descrições tântricas hindus das vestes, nas descrições sufi da alma. No esquema Shingon dos japoneses, na descrição corporal de alaya no interior do Budismo Yogachara. E, mais recentemente, no campo da Psicologia transpessoal. A Posição cristã é a primeira encontrada no apóstolo Paulo (I Coríntios, Romanos e Gálatas). O uso que faz Paulo não é consciente. O leitor encontrará em Paulo discussões sobre mente, coração, alma, corpo e espírito. Esses são com frequência usados de modo intercambiável, porém mais habitualmente com uma tensão entre corpo e espírito. No entanto, cristãos posteriores lendo Paulo, começam a falar de três aspectos ou constituintes do ser humano: corpo – sarx, mente ou alma – psiquê e espírito – pneuma. O corpo é um veículo físico vital. A mente ou alma é o princípio intelectual vital no ser humano. O espírito é o eterno elemento divino na humanidade. Análises cristãs esotéricas posteriores subdividiram esses três em cinco e, posteriormente, sete princípios. A posição cabalista também fala exotéricamente de três princípios: nefesh – corpo, ruach – espírito vital e neshemah – mente eterna. Esses são sutilizados para se tornarem cinco princípios em discussões esotéricas. Sendo, nefesh – alma animal, ruach – princípio vital ou alento vital, neshemah – mente intelectual, chiah – espírito superior e yehiddah – espírito eterno. A cabala ensina que essas coisas são tanto camadas como centros de atividade ou de consciência no interior do ser humano total. Frequentemente, a leitura da Cabala pode ser confusa porque a expressão é propositalmente ambígua. Para que o buscador ou tenha de receber instrução real de um mestre esotérico, ou cavar profundamente bem abaixo da superfície para encontrar contradições ou inconsistências superficiais nos textos exotéricos. O esquema de Blavastky sofreu uma série de transformações à medida que seu estudo se tornou mais intenso e suas conclusões mais profundas. Em A Chave para a Teosofia, ela faz referência a sete princípios que são. Nama rupa, linga sharia, prana, kama rupa, manas, buddhy e atman. São traduzidos como: duplo etérico, elan vitual ou princípio alento, eu astral ou emocional, mente, eu superior e a mônada manifestada. Com sua outra obra, especialmente nas sessões esotéricas, Blavatsky, mudou este formato pra incluir várias ênfases diferentes. Talvez a mais útil seja encontrada em suas “Instruções esotéricas”. Os sete incluem, atman, invólucro áurico, buddhy, manas, prana, linga sharira, manas inferior. A principal diferença entre o esquema original dela e este último é que este se aplica a explicar o real processo de encarnação. E pressupõe que o corpo – nama rupa, o primeiro princípio original dela em A Chave, não é verdadeiramente um princípio per se, mas antes uma substância passiva na qual os outros princípios ativos se manifestam. Finalmente, qual é a importância geral dessas descrições do eu em camadas? Primeiro, todos tentam prover uma ponte metafísica entre unidade eterna e a hierarquia de emanações no interior dos reinos do universo manifestado. Segundo eles aborda a amplagama de vitalidade e inteligência humanos dentre desses reinos. Como tais, ambas tratam das forças dinâmicas, mutantes, forças impermanentes da posição do eu. Mas incluem também a parte de inteligência eterna da posição do eu monádico, uma inteligência que persiste, e na qual toda manifestação está baseada. O esquema de Blavatsky parece ser o mais lúcido porque nele nada que se manifesta é eterno – embora alguns aspectos existam durante eras. Assim, a explicação dela inclui tanto a inteligência profunda na base de toda aparência. E a evolução dessa inteligência quando se manifesta na matéria em evolução. A esse respeito, seu esquema em camadas é a melhor síntese das forças das outras duas posições. Assim, temos três diferentes descrições do eu ou alma. Que importância as tem, se não há também uma maneira de investigar sua importância para a vida da pessoa? Duas formas de disciplina interior – e rapidamente mencionadas aqui – podem verdadeiramente investigar a natureza do eu. De modo que a pessoa possa encontrar por si mesma o que deve ser acreditado a respeito do mistério do eu. Esses, dois métodos são Oração centrada e Meditação de insight – vipassana. Oração centrada é uma nova formulação de uma antiga forma de meditação cristã – atualizada para o momento presente por Thomas Keating (1923-2018), monge católico americano. Com a oração centrada, a pessoa entrega sua consciência a Deus, isto é, a uma quietude profunda. Pelo uso de uma simples palavra como forma icônica com a qual focar a atenção. Gradualmente, à medida que a mente é aquietada, é alcançado um estado que é chamado de a Oração da quietude. Nesse estado, a mente fica totalmente tranquila. E, nesse silêncio, Deus consegue infundir contemplação, e a pessoa experiencia a real natureza do verdadeiro eu. Não é preciso ser ateu para tentar esta meditação, se se está apenas querendo disciplinar a atenção para alcançar o estado de quietude profunda. No entanto, o não teísta pode ser surpreendido pelos resultados. Vipassana – Meditação com insight – é uma meditação budista theravada que usa a percepção para estar consciente da natureza transitória de todos os fenômenos emergentes. Gradualmente, o apego pessoal a fenômenos transitórios é liberado, e, eventualmente, a pessoa experiência aquilo que é liberado. E eventualmente, a pessoa experiencia aquilo que é incondicionado. A natureza do eu é também tratada nesta meditação porque, certamente, o eu, é um dos fenômenos emergentes que se experiencia na consciência diária. Os budistas consideram que esta meditação necessariamente desmonta qualquer forma ou compreensão do eu. Revista Teosofia. Ano 2016. Abraço. Davi

 

terça-feira, 16 de julho de 2024

O MISTÉRIO DO EU. Parte I

 

Teosofia. Revista Teosófica. Ano 2016. Por J. R. Lassen-Willens. O MISTÉRIO DO EU – PARTE I. O que queremos dizer por eu? Nas últimas décadas qualquer consenso sobre o significado implodiu no que agora chamamos de guerras culturais. Raramente aqueles que estão na busca espiritual querem dizer a mesma coisa quando usam a palavra “eu”. Nosso propósito aqui é uma discussão aberta de uma possível estrutura, ou paradigma que possa ajudar a localizar várias descrições do eu em um continuum de interpretações pessoais do problema do eu. Com tal referência, podemos, então, localizar nosso próprio lugar na discussão, e talvez também começar a entender por que temos problemas ao falar aos nossos companheiros na Senda. Com a compreensão surge a compaixão pelas diferenças e o respeito mútuo. O “eu” poderia ser visto como uma resposta ao problema da identidade pessoal. Como os seres humanos tradicionalmente vieram a compreender a estrutura ou processo que dá origem ao fenômeno de uma identidade pessoal específica? Nosso esforço aqui será prático, não acadêmico. Há três respostas básicas ao problema da identidade, ou seja, eu: não eu, eu monárquico e eu em camada. A posição do não eu, é mais encontrada no Budismo, na Moderna Psicologia comportamental, na Psicologia e nos estudos da consciência na obra de Oliver Sachs. Há variações no tema. A posição mais extremada é a de B. F. Skinner (1904-1990). Ele nega até mesmo uma utilidade funcional ao uso do “eu” como identidade pessoal. Sob a posição não eu, o ego, identidade pessoal, o eu, é considerado uma ilusão. Criado por fatores dinâmicos na operação da consciência ou, numa representação, a atividade do cérebro biológico. Muitos budistas theravadianos, usando seus textos epistemológicos, o Abhidharmma, também consideram o eu como nada mais que uma ilusão. Eles argumentam que várias condições causais, inclusive a operação da memória, provê fatores de continuidade que dão origem à ilusão de um eu ou ego específico que persiste e é considerado real. É uma incompreensão maior atribuir a esse eu ou ego qualquer papel dominante na operação dos cinco Khandhas ou agregados básicos que interagem para dar origem a uma coisa. Isto é, um ser humano, um cão, ou uma cadeira. Para os budistas theravadianos esses khandhas incluem rupa (corpo), sanna (sensação), vedana (resposta positiva, negativa ou neutra aos estímulos orgânicos). Sankhar (informação mental, isto é,  emoções e pensamentos e vinna (consciência). No Theravada, os khandhas são os componentes básicos do mundo da aparência. Rupa é material, sanna e vedana são responsivos, sankhara é o conteúdo da atividade mental. Vinna é o próprio processo de consciência. Esses são considerados os componentes minuciosos ou completos da realidade. Não existe coisa per se (em si mesmo, intrinsicamente) no budismo. Antes, o que existe são condicionamentos kármicos desses cinco agregados. Assim, a coleção de condições kármicas num local, agindo durante algum tempo, dá origem à continuidade aparentemente específica a que chamamos do eu, ou uma pessoa. O budismo vê a pessoa como uma construção dinâmica e impermanente, completamente dependente de uma interação relacional com todas as outras condições que surgem à sua volta. A pessoa não tem essência real – não tem existência separada das condições que lhe dão origem. No Budismo, é melhor pensar na pessoa numa identidade pessoal como uma matriz dinâmica. Uma matriz de condicionalidade relacional. Assim, com a condicionalidade relacional há aspectos tanto subjetivos quanto objetivos a tais surgimentos contingentes. Para os budistas, o apego a este eu impermanente dá origem à dor primordial, ou dukkha. Aliás, as três marcas da existência no Budismo, dukkha (sofrimento), anatta (não eu) e anichcja (impermanência) devem ser plenamente experienciadas, investigadas e compreendidas. Para que cesse todo apego, de modo que a percepção possa então experienciar o Nirvana ou Iluminação. Joseph Goldstein (1944 - ) certa vez definiu Nirvana como “agarrar-se a absolutamente nada. Em resumo, “João” ou “Jão” é uma construção do karma. Não um acidente do karma, porque com o karma não há acidentes. As explicações biológicas ocidentais de autoconsciência (essa terminologia é preferida a “eu” ou “ego”) podem ser resumidas da seguinte maneira. No desenvolvimento evolutivo do ser humano, aparece o estágio quando, dentro da sofisticada estrutura cerebral, surge a experiência de “autoconsciência”. Essa é a verdadeira e totalmente função do tecido orgânico. Ela aparece quando o tecido cerebral alcança uma certa complexidade e densidade. Assim é o próprio tecido orgânico que causa o aparecimento da autoconsciência. Essa posição é considerada como ponto pacífico porque, quando o tecido cerebral degenera ou ocorrem danos significativos ao cérebro, a autoidentidade é seriamente prejudicada. E às vezes desaparece com mudanças radicais na operação do cérebro ou na destruição de seu tecido. Assim, considera-se que a autoconsciência não tem existência real em si mesma e de si mesma. Para a psicologia comportamental, a identidade pessoal é simplesmente a quase imperceptível operação de condicionamentos múltiplos operando no organismo. Para nossa discussão, este organismo é considerado uma tábula rasa com relação à autoidentidade até que os condicionamentos deem origem a uma pseudo identidade construída. Porque é possível conceber programas de condicionamentos químico ou operantes que, então, destruirão o senso de pseudo eu. Isto é considerado uma prova para os comportamentalistas, de que esse tal “eu” não tem existência real, isto é, é uma ilusão. A posição do eu monádico é mais rara atualmente, mas já foi a fundação da filosofia Ocidental. A posição monádica afirma que existe um mundo eterno. Mais profundo do que o mundo de mudanças, isto é, o mundo de aparências ou fenômenos. Este reino imutável é chamado o reino das ideias, da mente pura. Aqui, nada muda. Para que exista uma cadeira específica no mundo da aparência, deve haver uma forma ou ideia imutável de cadeira no reino das ideias. Diz-se que esta ideia da cadeira é o terreno para o surgimento fenomenal transitório da cadeira. Aliás, esta ideia da cadeira provê a realidade para todas as cadeiras que podem ser encontradas no mundo da aparência. De modo semelhante, o fenômeno da autoconsciência em nossas vidas diárias tem sua fundação no interior da mente ou no mundo das ideias (formas). Autoconsciência é a expressão de uma alma imutável, imortal. Posteriormente, a filosofia deu a essa alma o nome de mônada – especialmente Leibniz (1646-1716) e Espinoza (1632-1677). Este uso da “monada” é diferente do uso feito pela Senhora Helena P. Blavatsky (1831-1891). Sob muitos aspectos, Platão (428 AC 347) é o responsável por essa compreensão de uma alma eterna. No entanto, ele verdadeiramente tinha um conhecimento da alma “eu” em camadas, que, de algum modo, se parece com o pensamento teosófico posterior. Mas porque Platão não era epistemologia. Isto é, interessado na questão do conhecimento da realidade per se, isto é, sua verdade. Seu discípulo Plotino (205-270) tentou esclarecer a ambiguidade do status ontológico das camadas de Platão no interior do mundo das aparências e declarar. Em vez disso, que a monada mental superior era o verdadeiro ser no centro de toda existência. Revista Teosófica. Ano 2016. Abraço. Davi.

domingo, 14 de julho de 2024

RABI YEHUDA LOES - O MAHARAL DE PRAGA. Parte i

 

Judaísmo. www.morasha.com.br. RABI YEHUDA LOEW – O MAHARAL DE PRAGA. Parte I. Um dos Sábios mais influentes e reverenciados na História Judaica, o Rabi Yehuda Loew, mais conhecido como o Maharal de Praga, foi um Talmudista, cabalista e filósofo que causou um impacto profundo e de grande alcance em todas as correntes do estudo e filosofia judaicos. É um dos pensadores judeus mais citados e consequentes, de todos os tempos, que se tornou lendário por ter criado o Golem – um humanoide que protegeu os judeus dos frequentes ataques antissemitas da época. Rabi Yehuda Loew nasceu em Poznan, parte da Polônia atual, em torno do ano de 1520. O ano exato de seu nascimento continua desconhecido, com estimativas que vão de 1512 a 1526. Ele é mais conhecido como o Maharal – um acrônimo de “Moreinu HaRav Loew”, ou “Nosso Mestre, o Rabino Loew”. O sobrenome Loew se origina da palavra “Löwe”, em alemão, que significa “leão” e funciona como kinui, um substituto para o nome hebraico Yehuda, em virtude de sua associação com o leão, na Torá. Quando nosso Patriarca Yaacov abençoou seus filhos – que se tornariam os ancestrais das 12 Tribos de Israel – ele se referiu a seu quarto filho, Yehuda, como Gur Aryeh ou “Jovem Leão”. Assim sendo, muito adequadamente, o Rabi Yehuda Loew intitulou seu renomado comentário sobre o clássico de Rashi acerca dos Cinco Livros da Torá, Gur Aryeh al HaTorá – “O Jovem Leão (comentando) acerca da Torá”. A combinação entre o nome do Maharal, Yehuda, e seu sobrenome, Loew, é ainda mais acentuada pelo seu epitáfio, em seu túmulo, em Praga, que vem adornado com um brasão heráldico que exibe um leão com duas caudas entrelaçadas. Esse emblema encapsula o sobrenome do Maharal e rende um tributo à Boêmia – hoje em dia, parte da República Checa – simbolicamente representada pelo leão de caudas entrelaçadas em seu brasão de armas.  Esse leão de dupla cauda continua a ser um poderoso símbolo da Boêmia e, posteriormente, da identidade checa, tendo um lugar de destaque no brasão nacional e sendo, com frequência, invocado como um emblema de herança e orgulho nacionais. A família Loew remonta sua ancestralidade aos Exilarcas da Babilônia – os líderes da comunidade judaica na região. A linhagem desses líderes remontava à Dinastia Davídica – a linhagem real que teve início com o Rei David, fato que reforçava sua legitimidade e autoridade na comunidade judaica durante e até após o Exílio Babilônico. A linhagem do Maharal aumentava seu prestígio e autoridade, especialmente pelo fato de o Mashiach necessariamente ser um descendente do Rei David. O Rabi Yehuda Loew descendia de uma família proeminente. Seu tio, o Rabi Jakob ben Chaim, fora indicado pelo imperador Fernando I como o Reichsrabbiner (o “Rabino do Império”) do Sacro Império Romano-Germânico, em 1559. O pai do Maharal, Rabi Betzalel Loew, era um comerciante bem-sucedido, o que possibilitava ao filho ter independência financeira. Rabi Yosef Yitzhak Schneerson, conhecido como o Rebe Anterior da dinastia chassídica Chabad-Lubavitch, escreveu em seu livro Memórias do Lubavitcher Rebe que o Maharal iniciara seus estudos de Torá em ieshivot da Polônia, aos 12 anos de idade. Esse grande Mestre se dedicou ao estudo da Torá por 20 anos antes de se casar. Entre seus mestres destacava-se o Rabi Yaakov Pollak, eminente estudioso da Torá renomado por criar o método polonês de estudar o Talmud, conhecido como pilpul. Além disso, enquanto estava na ieshivá, o Maharal tivera a oportunidade de estudar junto com o Rabi Solomon Luria, o Maharshal, um dos maiores poskim (legisladores na Lei Judaica) de todos os tempos e renomado comentarista talmúdico. O Maharalteve o privilégio de ser aluno do Rabi Moshe Isserles, conhecido como o Rema. As significativas contribuições do Rema ao Shulchan Aruch – o Código da Lei Judaica, de autoria do Rabi Yosef Caro – o levaram a ser o árbitro final sobre questões da Lei Judaica para os judeus ashkenazim. Rabi Yehuda Loew se casou, aos 32 anos, com Perl, ela também uma brilhante estudiosa da Torá. O casal teve seis filhas e um filho. Como consta no livro Memórias do Lubavitcher Rebe:  “Perl sentia-se livre para se dedicar aos estudos. Diariamente, ela tinha aulas com seu marido e juntos não estudavam apenas o Talmud e a Halachá (a Lei Judaica), mas também Ética e Metafísica. Ela costumava dizer que, desde seus oito anos de idade, não se passara um dia sem que ela estudasse Torá por cinco horas, no mínimo. Após seu casamento com o Maharal, era ela quem lia as inúmeras perguntas haláchicas para ele e, depois, anotava suas respostas. E organizava e editava todos os trabalhos literários do marido. Conta-se que ela encontrou pequenos erros em oito frases, no mínimo, quando ele citava um de nossos Sábios ou algum comentário do Rashi...”. O Rabi Yehuda Loew recebeu uma educação rabínica tradicional, profundamente arraigada no estudo do Talmud, como era hábito, à época. Além disso, mergulhou com grande interesse nos mistérios da Cabalá, com especial atenção ao Zohar, a obra fundamental do misticismo judaico. Explorou, também, os textos clássicos da Filosofia Judaica, incluindo os escritos por Maimônides e pelo filósofo espanhol do século 14, o Rabi Hassdai Crescas. Além de seus estudos de Torá, o Rabi Yehuda Loew expandiu seus conhecimentos estudando Física, Matemática e Astronomia. Ainda jovem, o Rabi ganhou renome como um excepcional estudioso do Talmud. Em 1553, antes de completar 30 anos, foi convidado para a posição de Rabino de Nikolsburg, na Morávia – região histórica na parte oriental da República Checa. Durante duas décadas, mais ou menos, ocupou essa posição, após o que, ele se mudou para Praga – centro do Judaísmo centro-europeu na época. Nessa cidade, ganhou seu mais notável reconhecimento como líder espiritual da comunidade judaica. O Maharal fundou e dirigiu uma renomada Academia Talmúdica em Praga, conhecida como Klaus. Durante o tempo em que ocupou esse cargo, o Klaus se tornou um importante centro de estudos de Torá. Dada a proeminência da erudição e capacidade de liderança do Maharal, essa Academia atraiu muitos alunos e eruditos de grande talento, o que contribuiu de forma significativa para a vida judaica espiritual e intelectual na época. Além de ser um dos mestres mais influentes em Torá, de todos os tempos, o Rabi Yehuda Loew era cientista e matemático. Como não há registros de que tenha tido uma educação formal secular, fica evidente que ele era autodidata. Interessante mencionar que ele mantinha vínculos de amizade com os renomados astrônomos Tycho Brahe e Johannes Kepler. A reputação do Maharal ultrapassava a esfera judaica, atraindo a atenção do imperador Rodolfo II, da Casa de Habsburgo. Tendo servido como imperador do Sacro Império Romano-Germânico de 1576 a 1612 e possuindo vários outros títulos notáveis, como rei da Hungria e Croácia, rei da Boêmia e arquiduque da Áustria – o imperador Rodolfo II encontrou-se com o Maharal em 23 de fevereiro de 1592. Nas conversas que mantiveram, o assunto em que se aprofundaram foi a Cabalá – tema que fascinava o Imperador. Em 1584, o Maharal foi preterido na escolha para a posição de Rabino-Chefe de Praga, cargo esse que foi entregue a seu cunhado, o Rabi Isaac Hayoth. No entanto, pouco depois, o Maharal aceitou um convite de Posen, sua cidade natal, para lá servir como Rabino.  Retornou por pouco tempo para Praga, em 1588, onde sucedeu o Rabi Hayoth que se aposentava. Posteriormente, nesse mesmo ano, voltou a Posen para assumir o cargo de Rabino-Chefe da Polônia, período em que escreveu vários de seus trabalhos mais notáveis. Anos mais tarde, voltou a Praga, onde faleceu em 1609. O Maharal está enterrado no Velho Cemitério de Praga, na República Checa, que é um dos mais antigos cemitérios judaicos na Europa e constitui um importante local histórico no Bairro Judeu de Praga. O túmulo do Maharal é muito visitado, seja por peregrinos judeus seja por outros turistas, em virtude de sua renomada estatura na História Judaica e as histórias extraordinárias a ele associadas, como a do Golem de Praga. A Essência de D’us e a Divindade da Torá, segundo o Maharal de Praga. Como muitos outros filósofos e teólogos judeus, o Maharal de Praga discutia a essência de D’us dentro dos limites do pensamento tradicional judaico, que mantém que D’us é inefável e infinito. Ele ensinou que a verdadeira essência de D’us está além da compreensão humana. Assim como um ser finito não consegue, verdadeiramente, entender o conceito de infinitude, nós, humanos, não podemos compreender plenamente a essência Divina. O princípio fundamental do Judaísmo é a existência e absoluta unicidade de D’us. Para o Maharal, essa unicidade não significava, apenas, uma falta de pluralidade, mas sim, uma simplicidade absoluta, no sentido de que D’us não é composto por partes ou atributos. Quaisquer atributos usados para se referir a D’us na Torá apenas visam facilitar a compreensão humana e não denotam qualquer divisão ou multiplicidade no próprio Ser Divino. O Maharal via D’us como a razão suprema para tudo, no sentido de que tudo deriva d’Ele. Assim, pois, D’us é a “Razão Primordial” ou o “Motor Principal”. Contudo, o Maharal enfatizava que o envolvimento de D’us com o mundo não muda nem afeta Sua Essência. O Todo Poderoso permanece transcendente mesmo sendo imanente e envolvido nas questões humanas. O Maharal ensinou que o estudo da Torá oferece uma percepção sobre D’us – não no sentido de compreender Sua essência, que é inconcebível –, mas de entender Seu propósito para o mundo, o Povo de Israel e a humanidade. Para o Maharal, a Torá é muito mais do que um conjunto de mandamentos Divinos – é um reflexo da Sabedoria e da Vontade de D’us. Contribuições do Maharal ao estudo da Torá O Maharal de Praga deu uma profundidade filosófica e cabalística singular ao estudo do Talmud e do Midrash. O Talmud é a fonte primária da lei religiosa e da teologia judaica. Já o Midrash é uma porção não jurídica da Torá, constituída por narrativas, conceitos teológicos e ensinamentos morais, geralmente mediante histórias, parábolas e alegorias. Ele via a Agadá – as narrativasdo Talmud e do Midrash – não apenas como histórias e lições morais, mas como profundos ensinamentos místicos e filosóficos. Ele mergulhou nessas narrativas e parábolas, delas extraindo camadas de significado e revelações que conectaram o pensamento judaico com ideias filosóficas e princípios cabalísticos mais abrangentes. Além disso, o Maharal enfatizava a unidade e harmonia inerentes à Torá, que influenciaram sua compreensão sobre várias discussões talmúdicas. Em suas obras, conseguiu demonstrar a profundidade intrínseca e a interconexão existente na Torá. Os escritos do Maharal, particularmente seu comentário acerca do Pirkei Avot – um dos tratados da Mishná que consiste em ensinamentos éticos, máximas e aforismos de alguns de nossos maiores Sábios – refletem a santidade que ele, Rabi Yehuda Loew, personificava. Abraço. Davi.

 

sexta-feira, 12 de julho de 2024

OS ANALECTOS - LIVRO II

 

Confucionismo. www.https//rt.br. OS ANALECTOS – LIVRO II. 1. O Mestre disse: “O governo pela virtude pode ser comparado à estrela Polar, que comanda a homenagem da multidão de estrelas sem sair do lugar”. 2. O Mestre disse: “As Odes são trezentas, em número. Podem ser resumidas a uma frase: Não se desvie do caminho.” [29] 3. O Mestre disse: “Guie-o por meio de editos, mantenha-o na linha com punições, e o povo se manterá longe de problemas, mas não será capaz de sentir vergonha. Guie-o pela virtude, mantenha-o na linha com os ritos, e o povo, além de ser capaz de sentir vergonha, reformará a si mesmo”. 4. O Mestre disse: “Aos quinze anos, dediquei-me de coração a aprender; aos trinta, tomei uma posição; aos quarenta, livrei-me das dúvidas; aos cinquenta, entendi o Decreto do Céu; aos sessenta meus ouvidos foram sintonizados [30]; aos setenta, segui o meu coração, sem passar dos limites”. 5. Meng Yi Tzu perguntou sobre piedade filial. O Mestre respondeu: “Nunca deixe de obedecer”. Fan Ch’ih estava conduzindo. O Mestre contou-lhe sobre a audiência: “Meng sun me perguntou sobre piedade filial. Eu respondi: ‘Nunca deixe de obedecer’. Fan Ch’ih perguntou: “O que isso significa?”. O Mestre disse: “Quando seus pais estão vivos, obedeça aos ritos ao servi-los; quando eles morrerem, obedeça aos ritos ao enterrá-los; obedeça aos ritos ao sacrificar-se por eles”. 6. Meng Wu Po perguntou sobre piedade filial. O Mestre disse: “Não dê ao seu pai e à sua mãe nenhuma outra causa de preocupação além da doença”. 7. Tzu-yu perguntou sobre piedade filial. O Mestre disse: “Hoje em dia, ser filial não quer dizer mais do que ser capaz de prover seus pais com comida. Até mesmo cães e cavalos são, de algum modo, alimentados. Se um homem não mostra reverência, qual é a diferença?”. 8. Tzu-hsia perguntou sobre piedade filial. O Mestre disse: “O que é difícil é a atitude das pessoas. Quanto aos jovens tomarem para si o fardo quando há trabalho a ser feito ou deixarem os velhos aproveitarem o vinho e a comida quando há, isso dificilmente merece ser chamado de filial”. 9. O Mestre perguntou: “Posso falar com Hui o dia inteiro sem que ele discorde de mim sobre qualquer coisa. Poderia parecer que ele é estúpido. Entretanto, quando examino melhor o que ele faz privadamente, depois que saiu da minha presença, descubro que, de fato, joga alguma luz sobre o que eu disse. Hui não é estúpido, afinal das contas”. 10. O Mestre disse: “Veja os meios que um homem emprega, observe o caminho que ele toma e examine a circunstância em que ele se sente confortável. [31] Como poderia o verdadeiro caráter de um homem esconder-se? Como poderia o verdadeiro caráter de um homem esconder-se?” 11. O Mestre disse: “Merece ser um professor o homem que descobre o novo ao refrescar na sua mente aquilo que ele já conhece”. 12. O Mestre disse: “O cavalheiro não é um pote”. [32] 13. Tzu-kung perguntou sobre como é o verdadeiro cavalheiro. O Mestre disse: “Ele coloca suas palavras em ação e só então permite que as palavras sigam-lhe a ação”. 14. O Mestre disse: “O cavalheiro associa-se com pessoas, mas não entra em clubes; o pequeno homem entra em clubes, mas não se associa com ninguém”. 15. O Mestre disse: “Se um homem aprende com os outros mas não pensa, ele ficará confuso. Se, por outro lado, um homem pensa mas não aprende com os outros, ele estará em perigo”. 16. O Mestre disse: “Atacar uma questão pelo lado errado nada mais pode senão causar danos”. 17. O Mestre disse: Yu, vou lhe contar o que há para saber. Dizer que você sabe quando você sabe, e dizer que você não sabe quando não sabe: isso é conhecimento”. 18. Tzu-chang estudava com o objetivo de seguir uma carreira oficial. O Mestre disse: “Use seus ouvidos amplamente, mas deixe de fora o que é duvidoso; repita o resto com cuidado e você cometerá poucos erros. Use seus olhos amplamente e deixe de fora o que é perigoso; coloque o resto em prática com cautela e você terá poucos arrependimentos. Quando ao falar você cometer poucos enganos e ao agir tiver poucos arrependimentos, uma carreira oficial decorrerá com certeza. 19. O duque Ai perguntou: “O que devo fazer para que o povo me admire?”. Confúcio respondeu: “Promova os homens corretos e coloque-os acima dos desonestos [33] , e o povo o admirará. Promova os homens desonestos e coloque os acima dos homens corretos, e o povo não o admirará”. 20. Chi K’ang perguntou: “Como se pode inculcar no povo a virtude da reverência, de dar o melhor de si e com entusiasmo?”. O Mestre disse: “Governe-o com dignidade e o povo será reverente; trate-o com bondade e o povo dará o melhor de si; promova os homens bons e eduque os mais atrasados, e o povo ficará tomado de entusiasmo”. 21. Alguém disse para Confúcio: “Por que o senhor não faz parte do governo?”. O Mestre disse: “O Livro da História diz: ‘Oh, um homem pode exercer influência no governo simplesmente sendo um bom filho e amistoso com seus irmãos’. [34] Ao agir dessa forma um homem estará, de fato, fazendo parte do governo. Como ousam perguntar sobre ele fazer ativamente ‘parte do governo’?”. 22. O Mestre disse: “Não entendo como pode ser aceitável um homem que é desleal com suas palavras. Se falta um prego na canga de uma grande carruagem ou nos arreios de uma pequena carruagem, como pode se esperar que o carro vá em frente?”. 23. Tzu-chang perguntou: “Pode-se prever como será o futuro, daqui a dez gerações?”. O Mestre disse: “Os Yin basearam-se nos ritos de Hsia. Pode-se saber o que foi acrescentado e o que foi omitido. Os Chou basearam-se nos os ritos de Yin. Podese saber o que foi acrescentado e o que foi omitido. Se houver sucessores aos Chou, pode-se saber como serão, até mesmo daqui a cem gerações”. 24. O Mestre disse: “Oferecer sacrifício ao espírito de um ancestral que não é nosso é bajulação. Não fazer o que é certo demonstra falta de coragem”. www.https//rt.br. Abraço. Davi