quarta-feira, 4 de setembro de 2024

JESUS. PARTE III

 

Judaísmo. Livro Judaísmo e Cristianismo – As Diferenças. Por Trude Weiss (1908-1989). Capítulo 8. JESUS. Parte III. Que essas passagens dos quatro Evangelho representam o ipissimus spiritus – o próprio espírito – de Jesus é amplamente atestada pelos registros de algumas curas miraculosas nos outros Evangelhos. Portanto, por exemplo, quando o leproso pediu a ele: “Se você escolhe, senhor, podes me curar”. Jesus respondeu; “Eu sim escolho, Esteja curado”. Mateus 8,1-3. Marcos 1,40. Lucas 5,12 e seguintes. Neste caso, como em outros casos de milagres, Jesus representa quem promove a cura, ressuscita os mortos ou opera milagres. A Bíblia Hebraica também registra milagres operados pelos profetas, mas nenhum deles alguma vez operou um milagre por conta própria ou fez crer que fosse produto de sua própria força ou poder. Os profetas hebreus invariavelmente deixavam claro que eram meros instrumentos de Deus na realização do milagre e que o crédito disso devia ser atribuído a Deus, e não a eles. Assim, quando o Faraó elogiou José por sua habilidade de interpretar sonhos, ele respondeu: “Não está em mim, Deus dará ao Faraó uma resposta de paz” Gênesis 41,16. Todos os milagres operados por Moisés foram executados por ordem divina e quando certa vez se desviou das instruções divinas e golpeou a rocha, em vez de simplesmente falar com ela, ele foi considerado culpado e severamente punido. De acordo com a crença  judaica, o ser humano é simplesmente um instrumento de Deus no desempenho de milagres e portanto não é livre para se afastar sequer um “pingo no i” dos comandos e instruções divinas. Quando Elias fez a vasilha de farinha e a jarra de óleo da viúva durar por todo o período da seca. Ele deixou bem claro que não havia sido ele quem fizera o milagre. “Pois assim fala o Senhor, Deus de Israel: a vasilha de farinha não se esvaziará e a jarra de azeite não acabará, até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra” I Reis 17,14. E quando Elias ressuscitou o filho da viúva, ele não transmitiu a impressão que havia operado aquele milagre, como Jesus procedeu numa circunstância similar, ver Mateus 9,23-26. Contudo “Estendeu-se três vezes sobre o menino e invocou o Senhor: “Senhor meu Deus, eu te peço, faze voltar a ele a alma deste menino. O Senhor atendeu a súplica de Elias e a alma do menino voltou a ele e ele reviveu” I Reis 17,21 e seguinte. De modo semelhante, lemos na história de Eliseu que, quando ele ressuscitou o filho de Sunamita, “ele orou a Deus” e a criança foi reavivada em resposta à sua prece, II Reis 4,33. Deus é então entronizado como o ressuscitador dos mortos. O profeta é meramente seu instrumento. Os Evangelhos registram que Jesus certa vez transformou cinco filões de pão e dois peixes em alimento suficiente para cinco mil pessoas. Com o restante, encheu doze cestas Lucas 9,13-17. Comparar com João 6,10-13. Ao operar este milagre, Jesus não fez referência a Deus, apresentando-o como prova de seus próprios poderes. É instrutivo comparar a história de Jesus alimentando as multidões com um relato semelhante da Bíblia Hebraica. Certa vez, Elizeu se confrontou com a necessidade de alimentar uma centena de pessoas com vinte pães de cevada e trigo novo em espigas. Quando seu servo se desesperou em suas tentativas, Eliseu disse: “Ofereça ao povo para que coma, pois assim falou o Senhor: Comerão e ainda sobrará. Serviu-lhes, eles comeram e ainda sobrou, segundo a palavra do Senhor” II Reis 4,42-44. Eliseu creditou a Deus este milagre, enquanto Jesus, numa situação idêntica, operou este milagre de sua própria autoria sem qualquer apelo a Deus e sem aludir a ele o crédito pelo feito. Jesus operou milagres para fazer o povo acreditar nele. Os profetas hebreus operaram milagres para fortalecer a fé em Deus. Quando Moises desejou curar Miriam de lepra, ele “orou a Deus, dizendo: “Cure-a agora. Ó Deus, eu lhe imploro” Números 12,13. E quando Eliseu curou o general arameu Naama de lepra, ele deixou tão inequivocamente claro que Deus o havia curado que Naama fez um voto: “não oferecerá holocausto nem sacrifício a outros deuses, mas só a Deus” II Reis 5,17. O operar milagres, os profetas de Israel invariavelmente deixavam claro que não eram eles que produziam os resultados desejados. Mas Deus, que os empregava como instrumentos de sua vontade. Por isso, os judeus contemporâneos de Jesus, impregnados pela tradição de sua fé, ficaram repugnados, em vez de atraídos ou convencidos, pelos milagres que ele, Jesus, operava por sua conta. A antiga crença cristã em Jesus foi quase integralmente justificada pelos milagres que ele operava. Nos últimos séculos Também, o cristianismo baseou suas reivindicações de possuir a verdade nas maravilhas e sinais realizados por Jesus e pelos apóstolos. E mesmo hoje em dia, a Igreja ainda reconhece os milagres como a prova da verdade. De acordo com a crença judaica, por outro lado, os milagres não provam qualquer coisa. Mestres judeus, através dos tempos, enfatizaram que a verdade não pode ser estabelecida por mágica ou feitiçaria. Para o judeu, os milagres são no máximo uma afirmação adicional da verdade. Porém ele se recusa a aceitá-los como único critério da retidão de um ensinamento ou crença. Na carreira dos profetas hebreus, os milagres desempenharam um papel insignificante. Os profetas se voltavam aos milagres somente em situações extremas. Mesmo então, não para provar a verdade, contudo para imprimir sua validade sobre certos tipos de pessoas. É característico da avaliação que o povo judeu faz a respeito do valor dos milagres que o Pentateuco relaciona. Que algumas das pragas que Moisés fez cair sobre o Egito também foram produzidas pelos mágicos do Faraó: “Os magos do Egito, porém, com suas ciências ocultas, fizeram o mesmo” Êxodo 7,27. Então os mágicos transformaram água em sangue e fizeram os sapos virem à terra do Egito. O judaísmo, por esse motivo, rejeita o milagre como prova conclusiva para estabelecer a verdade. Entretanto sempre haverá perigo latente de magia e bruxaria darem a sua contribuição. Assim, também os ensinamentos de Jesus não se enquadram nos padrões proféticos. Apesar de ter repetido várias das máximas e lições éticas dos profetas. Sua rejeição arbitrária de pontos importantes da lei judaica o colocara na classe daqueles que “acrescentam ou diminuem algo da torá”. Um importante lapso do ponto de vista judaico tradicional. Abraço. Davi.

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