sábado, 18 de maio de 2024

JESUS NO ALCORÃO. Parte I

 

Islamismo. Livro Jesus um Profeta do Islam. Por Muhammad Ata Ur Rahim. Capítulo IX . JESUS NO ALCORÃO. Parte I. O Alcorão, o último dos Livros Divinos, revelado pelo Criador ao último dos mensageiros, é uma fonte de conhecimento acerca de Jesus que os estudiosos do Cristianismo geralmente desconhecem. Ora o Alcorão, não só nos leva a compreender melhor quem foi Jesus, mas também, através dessa compreensão, faz com que aumente o nosso respeito e amor com ele. Assim, a última Revelação, aquela que nos chegou cerca de seis séculos após o nascimento de Jesus, refere o que é importante que saibamos acerca de sua vida e de seus ensinamentos, atribui-lhe o papel de Profeta na perspectiva alargada que vai além da própria profecia, tal como foi entendida pelos Unitaristas. Com efeito, o Alcorão fornece uma visão como nenhuma outra fonte pode fornecer. O Alcorão não descreve a vida de Jesus com grande pormenor, nem da mesma maneira como fala de acontecimentos mais específicos. Os milagres e os poderes que foram dados a Jesus são referidos, mas na sua maioria em termos gerais. Da mesma forma, o Livro que lhe foi dado por Deus, o "Ingil", (Evangelhos), é mencionado diversas vezes, mas o seu conteúdo exato não é indicado. No entanto, o Alcorão é muito específico no que diz respeito às intenções de Jesus, à maneira como apareceu na terra, quem foi e quem não foi, e como acabou a sua missão. Aliás, antes de olharmos a vida de Jesus, seria proveitoso examinar qual era a sua missão na terra e como se encaixa na matriz do que veio antes dele e no que viria depois: é dito uma e outra vez que Jesus pertencia à longa linhagem de Profetas que tinham sido enviados aos povos dessa terra; que ele era um Mensageiro cuja doutrina e ensinamentos constituíam uma reafirmação, um aprofundamento dos mandamentos que os Profetas anteriores tinham trazido e uma preparação para a mensagem que o Profeta a seguir traria. A primeira referência a Jesus aparece logo no princípio do Alcorão: “Concedemos o Livro a Moisés, depois dele enviamos muitos mensageiros e concedemos a Jesus, filho de Maria, as evidências e o fortalecemos com o Espírito da Santidade”. (2:87) A passagem que se segue nos remete à linha de mensageiros da qual Jesus fazia parte. Depois de mencionar Abraão, continua: “Agraciamo-lo com Isaac e Jacó, que iluminamos, como havíamos iluminado anteriormente Noé e sua descendência, Davi e Salomão, Jó e José, Moisés e Aarão. Assim, recompensamos os benfeitores. E Zacarias, Yáhia (João), Jesus e Elias, pois todos eles se contavam entre os virtuosos. E Ismael, Eliseu, Jonas e Lot, cada um dos quais preferimos sobre os seus contemporâneos.” (6:84-86) “E enviamos alguns mensageiros, que te mencionamos e outros, que não te mencionamos”. (4:164) De fato, Mohammad, a paz de Deus esteja com ele, disse que Jesus era um de cento e vinte e quatro mil Profetas, entre os quais não existem razões para conflitos ou discórdias. Deus diz ao Seu Mensageiro, numa passagem do Alcorão: "Dize: Cremos em Deus, no que nos foi revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacó e às tribos, e no que, do Senhor, foi concedido a Moisés, a Jesus e aos profetas; não fazemos distinção alguma entre eles, porque somos, para Ele, muçulmanos”. (3:84) Os Profetas estão todos bem cientes de que foram enviados por Deus, obedecendo ao mesmo objetivo e à mesma mensagem: “Recorda-te de quando instituímos o pacto com os profetas: contigo, com Noé, com Abraão, com Moisés, com Jesus, filho de Maria e obtivemos deles um solene compromisso”. (33:7) “Ó mensageiros, desfrutai de todas as dádivas e praticai o bem, porque sou Sabedor de tudo quanto fazeis! E sabei que esta vossa comunidade é única e que Eu sou o vosso Senhor. Temei-Me, pois!” (23:51-52) “Prescreveu-vos a mesma religião que havia instituído para Noé, a qual te revelamos, a qual havíamos recomendado a Abraão, a Moisés e a Jesus, (dizendo-lhes): Observai a religião e não discrepeis acerca disso”. (42:13) Assim, a imagem que se dá não é a de algum homem notável que apareceu na Terra como acontecimento isolado, num mundo que seria caótico sem esse aparecimento, mas a de um Mensageiro que, como todos os outros mensageiros, foi enviado para aquele tempo e para aquela época, como elo de uma cadeia de revelação no universo: “E depois deles (profetas), enviamos Jesus, filho de Maria, corroborando a Tora que o precedeu; e lhe concedemos o Evangelho, que encerra orientação e luz, corroborante do que foi revelado na Tora e exortação para os tementes”. (5:46) E mais ainda, tal como Jesus estava bem ciente, um tempo que possuía limites; um tempo que era limitado pelo tempo anterior e posterior ao seu: “E de quando Jesus, filho de Maria, disse: Ó israelitas, em verdade, sou o mensageiro de Deus, enviado a vós, corroborante de tudo quanto a Tora antecipou no tocante às predições, e alvissareiro de um Mensageiro que virá depois de mim, cujo nome será Ahmad!”. (61:6) A concepção e o nascimento de Jesus estão registrados com grande pormenor no Alcorão. Será esclarecedor começar com o nascimento e a educação da sua mãe, pois, ajuda-nos a ver como ela foi preparada por Deus para ser a mãe de Jesus e como foi escolhida por Ele: “Recorda-te de quando a mulher de Imran, disse: Ó Senhor meu, é certo que consagrei a ti, integralmente, o fruto do meu ventre; aceita-o, porque és o Oniouvinte, o Sapientíssimo. E quando concebeu, disse: Ó Senhor meu, concebi uma menina – mas Deus bem sabia o que ela tinha concebido – e um macho não é o mesmo que uma fêmea. Eis que a chamo Maria; ponho-a, bem como à sua descendência, sob a Tua proteção, contra o maldito Satanás. Seu Senhor a aceitou benevolentemente e a educou esmeradamente, confiando-a a Zacarias. Cada vez que Zacarias a visitava, no oratório, encontrava-a provida de alimentos, e lhe perguntava: Ó Maria, de onde te vem isso? Ela respondia: De Deus!, porque Deus agracia imensuravelmente a quem Lhe apraz. Então, Zacarias rogou ao seu Senhor, dizendo: Ó Senhor meu, concede-me uma ditosa descendência, porque és Aquele Que atende os rogos! Os anjos o chamaram, enquanto rezava no oratório, dizendo-lhe: Deus te anuncia o nascimento de João, que corroborará o Verbo de Deus, será nobre, casto e um dos profetas virtuosos. Disse: Ó Senhor meu, como poderei ter um filho, se a velhice me alcançou e minha mulher é estéril? Disse-lhe (o anjo): Assim será. Deus faz o que Lhe apraz. Disse: Ó Senhor meu, dá-me um sinal. Asseverou-lhe (o anjo): Teu sinal consistirá em que não fales com ninguém durante três dias, a não ser por sinais. Recorda-te muito do teu Senhor e glorifica-O à noite e durante as horas da manhã”. (3:35-41) João foi o Profeta imediatamente anterior a Jesus; o seu nascimento miraculoso é novamente mencionado na Surata Mariam: “Eis o relato da misericórdia de teu Senhor para com o Seu servo, Zacarias. Ao invocar, intimamente, seu Senhor, dizendo: Ó Senhor meu, os meus ossos estão debilitados, o meu cabelo embranqueceu, mas nunca fui desventurado em minhas súplicas a Ti, ó Senhor meu! Em verdade, temo pelo que farão os meus parentes, depois da minha morte, visto que minha mulher é estéril. Agracia-me, de Tua parte, com um sucessor! Que represente a mim e à família de Jacó; e faze dele, ó meu Senhor, uma pessoa que Te satisfaça! Ó Zacarias, anunciamos-te o nascimento de uma criança, cujo nome será Yahia (João). Nunca denominamos, assim, ninguém, antes dele. Disse (Zacarias): Ó Senhor meu, como poderei ter um filho, uma vez que minha mulher é estéril e eu cheguei à senilidade? Respondeu-lhe: Assim será! Disse teu Senhor: Isso Me é fácil, visto que te criei antes mesmo de nada seres. Suplicou: Ó Senhor meu, aponta-me um sinal! Disse-lhe: Teu sinal consistirá em que não poderás falar com ninguém durante três noites. Saiu do templo e, dirigindo-se ao seu povo, indicou-lhes, por sinais, que glorificassem Deus, de manhã e à tarde. (Foi dito): Ó Yahia, observa fervorosamente o Livro! E o agraciamos, na infância, com a sabedoria, assim como o agraciamos com a piedade (por todas as criaturas) e com a pureza, e foi devoto, e gentil para com seus pais, e jamais foi arrogante ou rebelde. A paz esteve com ele desde o dia em que nasceu, no dia em que morreu, e estará com ele no dia em que for ressuscitado”. (19:2-15) A história do nascimento de Jesus é contada em duas partes diferentes do Alcorão: “Recorda-te de quando os anjos disseram: Ó Maria, Allah te elegeu e te purificou, e te preferiu a todas as mulheres da humanidade! Ó Maria, consagra-te ao Senhor. Prostra-te e ajoelha-te com os que se ajoelham! Estes são alguns relatos do desconhecido, que te revelamos (ó Mensageiro). Tu não estavas presente com eles (os judeus) quando, com setas, tiravam a sorte para decidir quem se encarregaria de Maria; tampouco estavas presente quando estavam a discutir entre si. E quando os anjos disseram: Ó Maria, Deus te anuncia o Seu Verbo, cujo nome será o Messias, Jesus, filho de Maria, nobre neste mundo e no outro, e que se contará entre os próximos de Deus. Falará aos homens, ainda no berço, bem como na maturidade, e se contará entre os virtuosos. Perguntou: Ó Senhor meu, como poderei ter um filho, se mortal algum jamais me tocou? Disse-lhe o anjo: Assim será. Deus cria o que deseja, posto que quando decreta algo, basta dizer: Seja! e é. Ele lhe ensinará o Livro, a sabedoria, a Tora e o Evangelho. E será um mensageiro para os israelitas, (e lhes dirá): Apresento-vos um sinal do vosso Senhor: eis que plasmarei de barro a figura de um pássaro, ao qual alentarei, e a figura se transformará em pássaro, com o beneplácito de Deus; curarei o cego de nascença e o leproso; ressuscitarei os mortos, pela vontade de Deus, e vos revelarei o que consumis e o que entesourais em vossas casas. Nisso há um sinal para vós, se sois crentes. (Eu vim) para confirmar-vos a Tora, que vos chegou antes de mim, e para liberar-vos algo que vos estava vedado. Eu vim com um sinal do vosso Senhor. Temei a Deus, pois e obedecei-me. Sabei que Deus é meu Senhor e o vosso. Adorai-O, pois. Essa é a senda reta. E quando Jesus lhes sentiu a incredulidade, disse: Quem serão os meus colaboradores na causa de Deus? Os discípulos disseram: Nós seremos os colaboradores, porque cremos em Deus; e testemunhamos que somos muçulmanos.153 Ó Senhor nosso, cremos no que tens revelado e seguimos o Mensageiro; inscreve-nos, pois, entre os testemunhadores. (3:42-53). A história é ainda contada na Surata "Mariam" (Maria): “E menciona a Maria, no Livro, a qual se separou de sua família, indo a um local ao leste. E colocou uma cortina para ocultar-se dela (da família), e lhe enviamos o Nosso Espírito, que lhe apareceu personificado, como um homem perfeito. Disse-lhe ela: Guardo-me de ti no Clemente, se é que temes a Deus. Explicou-lhe: Sou tão-somente o mensageiro do teu Senhor, para agraciar-te com um filho imaculado. Disse-lhe: Como poderei ter um filho, se nenhum homem me tocou e jamais deixei de ser casta? Disse-lhe: Assim será, porque teu Senhor disse: Isso Me é fácil! E faremos disso um sinal para os homens, e será uma prova de Nossa misericórdia. E foi uma ordem decretada. E quando concebeu, retirou-se, com o seu rebento, para um lugar afastado. As dores do parto a constrangeram a refugiar-se junto a uma tamareira. Disse: Oxalá eu tivesse morrido antes disto, ficando completamente esquecida! Porém, chamou a uma voz, junto a ela: Não te atormentes, porque teu Senhor fez correr um riacho a teus pés! E sacode o tronco da tamareira, de onde cairão sobre ti tâmaras maduras e frescas. Come, pois, bebe e consola-te; e se vires algum humano, faze-o saber que fizeste um voto de jejum ao Clemente, e que hoje não poderás falar com pessoa alguma. Regressou ao seu povo levando-o (o filho) nos braços. E lhe disseram: Ó Maria, eis que trouxeste algo extraordinário! Ó irmã de Aarão, teu pai jamais foi um homem do mal, nem tua mãe uma (mulher) sem castidade! Então ela lhes indicou que interrogassem o menino. Disseram: Como falaremos a uma criança que ainda está no berço? Ele lhes disse: Sou o servo de Deus, o Qual me concedeu o Livro e me designou como profeta. Fez-me abençoado, onde quer que eu esteja, e me recomendou a oração e (a paga do) zakat enquanto eu viver. E me fez gentil para com a minha mãe, não permitindo que eu seja arrogante ou rebelde. A paz está comigo, desde o dia em que nasci; estará comigo no dia em que eu morrer, bem como no dia em que eu for ressuscitado. Este é Jesus, filho de Maria; é a pura verdade, da qual duvidam. É inadmissível que Deus tenha tido um filho. Glorificado seja! Quando decide uma coisa, basta-lhe dizer: Seja!, e é. E Deus é o meu Senhor e o vosso. Adorai-o, pois! Esta é a senda reta”. (19:16-36) O local onde Jesus nasceu é mencionado noutra passagem do Alcorão: “E fizemos do filho de Maria e de sua mãe sinais, e os refugiamos em uma segura colina, provida de mananciais”. (23:50). Abraço. Davi.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

ENCONTRANDO O CAMINHO DO MEIO. Parte II

 

Budismo. O Livro das Religiões. ENCONTRANDO O CAMINHO DO MEIO. Parte II. As três marcas da existência. Buda dizia que todas as coisas na vida acontecem como resultado de determinadas causas e condições. Quando essas causas ou condições deixam de existir, os elementos que dependem delas também desaparecem. Nada, portanto, é permanente ou independente. O termo em sânscrito para essa interdependência é pratitya samutpada, que num sentido literal significa “coisas que avançam juntas”. A expressão costuma ser traduzida como “originação dependente”, para transmitir a ideia de que nada se origina do acaso – tudo está atrelado a causas anteriores. Em outras palavras, vivemos num mundo onde tudo está interconectado e nada é a fonte de sua própria existência. Essa observação simples e profunda conduz ao que ficou conhecido como as três marcas universais da existência. A primeira marca chama-se anicca: tudo é impermanente e está sujeito à mudança. Poderíamos desejar que não fosse assim, mas é. Buda comentou que a busca pela permanência e o desejo de que as coisas tenham uma essência fixa levam as pessoas a um estado geral de insatisfação na vida (dukkha), o que constitui a segunda marca. A palavra dukkha normalmente é traduzida como “sofrimento”, porém significa mais do que sofrimento físico ou inevitabilidade da morte. Refere-se a frustração existencial. A vida nem sempre nos dar o que queremos e, ao mesmo tempo, apresenta situações e pessoas que não queremos. Nada na vida nos dá satisfação completa. Tudo tem suas limitações. A terceira marca da existência é anata: como tudo está em constante transformação, nada possui uma essência fixa. De um modo geral, vemos as coisas (as árvores, por exemplo) como elementos isolados e as definimos assim. No entanto, como tudo depende de algo para existir (as árvores precisam de terra, água e o sol, por exemplo), nada pode ser definido permanentemente em termos de percepção ou linguagem. A ideia de interconexão, assim como o conceito das três marcas da existência, não constitui uma suposição sobre o mundo. Ao contrário, refere-se a como as coisas são. Demonstrando que as tentativas de negar essa realidade representam a causa de nossa frustração diária. O ensinamento subsequente de Buda baseou-se no conceito de interconexão. Relacionando dukkha – insatisfação – com o processo de mudança. Os monges budistas devem comer com moderação e dependem de doações para se alimentar – um exemplo prático de interdependência. Buda mostrou que existem contextos nos quais essa insatisfação pode ser minimizada. Essa observação deu origem às “Quatro Nobres Verdades” ou o “Caminho Óctuplo”. O caminho do meio na vida diária. A ideia do caminho do meio está presente no budismo de maneira bastante prática. Por exemplo, algumas ramificações do budismo preconizam a vida monástica. Todavia os votos feitos não são vitalícios, e muitos monges ou monjas voltam para casa – família após meses ou anos de retiro. Da mesma forma, para não causar um sofrimento desnecessário, os budistas procuram ser vegetarianos, sendo que, se por algum motivo for difícil seguir uma dieta vegetariana ou houver alguma questão de saúde que requeira o consumo de carne, eles tem essa permissão. Os monges, cuja alimentação depende de doações, devem comer o que recebem. Nada disso está relacionado à acomodação, mas ao reconhecimento de que tudo depende de condições prévias. O conceito do caminho do meio também possui profundas implicações em nossa compreensão geral da religião, da ética e da filosofia. Buda disse: “A existência disto depende daquilo. Quando isto surge, aquilo toma forma. Quando isto não existe, aquilo não vem a existir. Com o fim disto, aquilo acaba”. Em termos práticos, a ideia é que a realidade da vida, com suas constantes transformações, envelhecimento e morte. Não pode ser evitada para sempre, mesmo com segurança material ou abnegação. Uma vez compreendido isso, nossa visão de valores e de ética muda, modificando também nossa forma de encarar a vida. Assim como uma flor vive e morre, as três marcas universais da existência de Buda sustentam que tudo é impermanente e está sujeito à mudança – anicca. A consequência dessa ideia é o conceito de anata, como tudo está em constante transformação, nada possui uma essência fixa. Uma filosofia flexível. Em termos de religião, a negação budista da essência imutável e eterna dos Upanishads hindus foi revolucionária. Sugere que a vida não pode ser compreendida – e o sofrimento não pode ser evitado – por crenças religiosas convencionais. O budismo – visto como religião em vez de como uma filosofia ética – não nega a existência de deuses ou alguma forma de alma eterna. Entretanto os considera uma distração desnecessária. Quando lhe perguntavam se o mundo é eterno ou se uma pessoa iluminada vive após a morte – questões centrais para a religião – Buda se recusava a responder. Em termos de filosofia, o budismo sustenta que o conhecimento parte da análise da experiência, não de uma especulação abstrata. Por conta disso, o budismo sempre foi um sistema não dogmático, flexível e aberto a novas ideias culturais, sem deixar de preservar seu princípio básico. A interconexão de todas as coisas, manifestada no equilíbrio entre continuidade e mudança, é a base da filosofia budista. Os conceitos do budismo também tiveram importância psicológica. Como o ser não é simples e eterno, entretanto um elemento complexo e sujeito a mudanças, ele pode ser explorado como uma entidade instável. Além disso, o convite de Buda para as pessoas seguirem o caminho do meio estende-se a toda a humanidade. Fazendo do budismo – apesar da indiferença em relação a ideia de um deus ou de deuses – uma proposta atraente numa sociedade presa a convenções e rituais. Abraço. Davi.

 

 

terça-feira, 14 de maio de 2024

A GRANDE INVASÃO DOS ALIENÍGENAS

 

Cristianismo. Livro O Terceiro Milênio – e as Profecias do Apocalipse. Por Alejandro Bullón (1947 - ). Capítulo 19. A GRANDE INVASÃO DOS ALIENÍGENAS. É meia-noite e grande parte da humanidade dorme tranquila. Nas boates, alguns procuram satisfazer o vazio do coração. Há gente na rua, nas esquinas e nos bares. Na calada da noite, outros planejam seus delitos. As prisões estão abarrotadas não somente de marginais – delinquentes, mas também de gente inocente que está ali pelo simples delito de querer adorar o Deus da Bíblia e obedecer aos seus mandamentos. Eles são acusados de ter “mente estreita” e não querer fazer concessões a fim de unir-se ao grande movimento religioso no qual cada um adora a Deus do jeito que achar melhor. De repente, a terra é sacudida de um lado para outro. Ouve-se o som de trombetas e o Sol começa a brilhar. Todo mundo levanta os olhos para os céus e “eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da Terra se lamentarão sobre ele “ Apocalipse 1,7”. É a grande invasão dos alienígenas! Mas não são os Ets que a imaginação humana criou. É Jesus Cristo, o Rei dos reis e Senhor dos senhores que volta para cumprir sua promessa. Quando esteve pela primeira vez na Terra, Cristo andou pelas ruas de Jerusalém calçando um par de sandálias surradas e vestindo uma velha túnica. Foi humilhado, preso, caçoado e finalmente morto na cruz do Calvário, pregado como um marginal. Agora, retorna vitorioso e triunfante. E na hora de sua aparição, junto com os justos de todos os tempos, também ressuscitam os maiores inimigos que ele teve em toda a história. Aí estão presentes “os que o traspassaram”. Aquele soldado que cravou uma coroa de espinhos em sua fronte e o fez sangrar. Aquele que furou seu lado com uma lança. Aqueles que dele escarneceram – zombaram e os maiores perseguidores de sua Igreja. Todos eles ressuscitam somente para ver o triunfo final de Jesus sobre o rebelde Lúcifer e seus seguidores. São Paulo, escrevendo sua carta aos Filipenses, declarou em certa ocasião: “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho. Nos céus, na terra e debaixo de terra, e todo língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai” Filipenses 2,9-11”. Reconhecendo a justiça divina. Por que você acha que é necessário que até os inimigos de Jesus se ajoelhem e reconheçam o nome de Jesus? Não é suficiente que os justos o façam? É preciso humilhar dessa maneira os inimigos? A resposta talvez possa ser dada com outra pergunta: Por que Deus permitiu que o mal trouxesse dor e miséria à humanidade durante todos estes séculos? Por que Deus não destruiu Satanás e seus anjos logo que eles foram derrotados no Céu? Lembra-se das acusações de Lúcifer contra Deus? Lembra-se das dúvidas que infelizmente Lúcifer tinha semeado no coração dos anjos e das outras criaturas do Universo! Se Deus tivesse destruído Satanás no início, os outros seres teriam obedecido talvez por medo, carregando sempre a dúvida no coração. Portanto, era necessário tempo. E isso iria significar sofrimento, dor, tristeza e morte de seres humanos inocentes. Mas o tempo terminou. A dor não continuará atingindo os filhos de Deus. É preciso acabar com a história do pecado. O Universo inteiro já teve séculos para observar as consequências terríveis do pecado. Agora o veredito está dado. Não resta dúvida com relação à misericórdia e paciência divinas. É hora de todo joelho, nos Céus e na Terra, confessar que Jesus Cristo é o Senhor. Ele tinha razão. Lúcifer não passava de um impostor. Numa corte não existe melhor evidência a seu favor do que seu inimigo reconhecer que você estava certo. Por isso, até os que “O traspassaram” ressuscitarão para ver o retorno glorioso de Jesus. O grande evento final. A volta de Cristo a este planeta será um evento de implicações físicas tão grandes para a Terra, que João a descreve assim: “O céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar. Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes, e disseram aos montes e rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro” Apocalipse 6,14-16. Esse não é um filme de ficção científica. É um quadro real descrito no livro do Apocalipse. Hoje você pode achar que não é possível que esse evento aconteça. Parece tão irreal, que muitas pessoas céticas duvidam e caçoam da bendita esperança dos cristãos. No entanto, até essa atitude de incredulidade estava profetizada na Bíblia: Veja: “Tendo em conta, antes de tudo, que nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: “Onde está a promessa de sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada. Pelo contrário, ele é longânimo, para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. Virá, entretanto, como ladrão, o dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados” II Pedro 3,3-10. A volta de Cristo é uma realidade. Queira você ou não. Aceite ou não. Esteja preparado ou não. Ele virá. E virá como o ladrão em meio da noite, quando ninguém suspeita de nada. Quando todo mundo acha que as coisas estão normais. De repente, o mundo todo acordará para o grande evento da história. Quando! Podemos hoje saber quanto falta para a volta de Cristo? Poderia hoje alguém se atrever a fixar uma data? Quando Jesus esteve na Terra, foi claro ao afirmar: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o filho, senão o Pai (...) Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” Mateus 24,36-42. Se ninguém sabe o dia e a hora da vinda de Cristo, como pode a humanidade estar preparada! Jesus mesmo nos dá a resposta: “Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão. Assim também vós: quando virdes todas essas coisas, sabei que está próximo, às portas” Mateus 24,32-33. “Todas estas coisas”. Que coisas? Jesus apresenta muitos sinais que acontecerão antes de sua vinda, no capítulo 24 de Mateus. 1.”Virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos”. 2.”Ouvireis falar de guerras e rumores de guerras, vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim”. 3.”Se levantará nação contra nação, reino contra reino e haverá fomes e terremotos em vários lugares”. 4.”Sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados por todas as nações, por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros”. 5.”Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos” 6.”Por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos”. 7.”O Sol se escurecerá, a Lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento”. “E logo depois destas coisas” – disse Jesus – “Sabei que está próximo, as portas”. A pergunta é: precisa você se esforçar muito para ver todos estes sinais acontecendo em nossos dias! O apóstolo Paulo complementa dizendo> “Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder” II Timóteo 3,1-5. A descrição que Paulo faz de nossos dias mais parece um retrato do que uma profecia. Deus revelou tudo isso aos seres humanos para que você e eu hoje, não fossemos surpreendidos pelo glorioso dia da volta de Cristo. Ao abrir-se o sexto selo do Apocalipse, menciona-se o mesmo sinal apresentado no item sete, acima. João o apresenta deste modo: “Vi quando o cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O Sol se tornou negro como saco de crina, a Lua toda, como sangue, as estrelas caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos” Apocalipse 6,12-13. Aqui são citados quatro sinais físicos que antecedem a volta de Jesus: 1.Acontece um grande terremoto. 2.S Sol se escurece. 3.Alua se torna como sangue. 4.As estrelas caem. Cumprindo-se isso algumas vezes na história de nosso planeta? Vejamos. 1.O terremoto em Lisboa – Portugal. A história registra muitos terremotos, mas as enciclopédias são unânimes em reconhecer o terremoto de Lisboa como um dos maiores de todos os tempos. Aconteceu no dia 1º de novembro de 1755 e teve implicações sociais, teológicas e filosóficas sem precedentes. Até pessoas famosas como Kant (1724-1804), Rousseau (1712-1778) e Voltaire (1694-1778), foram influenciadas em sua maneira de pensar pelo terremoto de Lisboa, naquilo que se chamou “o final do otimismo”. As pessoas passaram a dizer assustadas: “Se Deus não se interessa por nós, é bom que comecemos a preocupar-nos por nós mesmos”. O dia escuro de 19 de maio de 1780. Estava apenas findando o inverno n Nova Inglaterra, norte dos Estados Unidos, quando o fenômeno aconteceu. Havia quatro anos que tinha sido declarado a independência americana e não se haviam completado ainda 25 anos desde a tragédia do terremoto de Lisboa. Quando, na manhã do dia 19 de maio, o Sol se ocultou as dez horas. As sombras da noite envolveram a região da Nova Inglaterra. O dia tornou-se uma noite escura, de modo que até as galinhas correram de volta a seus poleiros e as aves seus ninhos. Naquela mesma noite, a Lua apareceu vermelha como sangue, cumprindo-se, assim, a descrição anunciada pela profecia. Mas por que naquele tempo? Por que não antes, nem depois? Lembre-se do que Jesus disse: “Logo em seguida a tribulação daqueles dias, o Sol se escurecerá, e a Lua não dará a sua claridade” Mateus 24,29. A perseguição de pessoas que estudavam a Bíblia, contra a vontade da Igreja, cessou na Europa na metade do século XVIII (1701-1800). O último “herege” martirizado na França, morreu em 1762. Era um pastor da Igreja Reformada. A profecia dizia: “Logo em seguida a tribulação daqueles dias ...”. Você percebe o cumprimento profético? A chuva de estrelas de 13 de novembro de 1833. Esse foi um evento extraordinário que a história registrou. Milhares de estrelas cadentes riscaram o céu, numa impressionante chuva,  como estava anunciado nas Escrituras. Muitos sentiram-se aterrorizados e prostraram-se, rogando pela misericórdia divina. Outros. Conhecedores da Bíblia, regozijaram-se. Esse acontecimento teve lugar na costa oriental dos Estados Unidos, e foi importante para a Astronomia porque foi a partir dali que se deu início ao estudo das chuvas de estrelas. Denison Omstead (1791-1859), professor de ciências e matemática da Universidade de Yale, preparou um relatório acurado para o número de janeiro de 1834 do The American Journal of Science and the Arts. A hora undécima. Como você pode constatar, os sinais da volta de Cristo estão todos cumpridos, e o conselho bíblico é: “Quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, as portas”. A volta de Jesus é um acontecimento iminente. Está chegando o momento final do acerto de contas. O convite foi feito. Jesus esperou por séculos o retorno de seus filhos ao Lar, e está chegando o grande momento de levá-lo para casa. O Apocalipse esse acontecimento da seguinte maneira: “Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada” Apocalipse 14,14. Esse será um acontecimento visível. “Todo olho o verá”, dia a Bíblia. Será “como o relâmpago que sai do Oriente e desaparece no Ocidente”. Ninguém deixará de vê-lo. Não aparecerá na Europa, nem nos Estados Unidos, nem na América do Sul. Não se mostrará para uns pouco, num quarto, em forma de espírito. Nem começará fazendo curas milagrosas em algum canto do planeta. A segunda vinda de Cristo não será nenhum acontecimento secreto, nem silencioso. Ele virá. E enquanto muitos gritarão desesperados porque sentem medo de sua presença, outros levantarão as mãos aos céus e dirão: “Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e ele nos salvará, este é o Senhor, a quem aguardávamos, na sua salvação exultaremos e nos alegraremos”. Entre estes últimos poderá estar você, se hoje entregar o coração a Jesus, abrir a Bíblia e pedir que Ele mostre o plano que tem para sua vida. Amigo querido, já é muito tarde na noite deste mundo. Há muita maldade e desamor lá fora. Faz frio. O gelo da indiferença humana torna nosso planeta mais sombrio ainda. Está na hora de voltar para a casa do Pai. Ele curará suas feridas. Nunca mais você estará só. Não haverá mais traição, nem rejeição. A exploração do ser humano terminará. Nunca mais você terá que correr como louco durante trinta dias para receber, no fim do mês, um salário que dura uma semana. Seus sonhos não serão mais destruídos pelo mal. Você e eu viveremos eternamente com Jesus. Esse dia está chegando. As profecias o indicam claramente. Não há tempo a perder! Abraço. Davi

domingo, 12 de maio de 2024

ENCONTRANDO O CAMINHO DO MEIO. Parte I

 

Budismo. O Livro das Religiões. ENCONTRANDO O CAMINHO DO MEIO. Parte I. Em contexto. Principal figura Sidhartha Gautama. Quando e onde. Século VI a.C. no norte da Índia. Antes. A partir de 1700 a.C. muitos deuses são cultuados na religião védica do norte da Índia. Século VI a.C. Na China, o taoísmo e o confucionismo apresentam filosofias em que se cultivam o desenvolvimento espiritual pessoal. Século VI a.C. Mahavira rejeita o destino de príncipe indiano e torna-se um ascético extremo. Seus ensinamentos formam os textos sagrados do jainismo. Depois. Século I d.C. Surgem os primeiros textos com os ensinamentos de Sidhartha Gautama. Logo depois, o budismo se espalha pela China. Sidhartha Gautama. Nascido em 563 a.C. na família real do clã Shakya, no norte da Índia, Sidhartha Gautama estava destinado a ocupar um lugar importante na sociedade. Criado com regalias e bem-educado, casou-se aos dezesseis anos e teve um filho. Aos 29 anos, porém, insatisfeito com a vida que levava, saiu de casa e passou anos como ascético religioso. Após uma experiência de “iluminação”, conforme descreveu, tornou-se um mestre errante e logo atraiu muitos seguidores, sobretudo nas cidades da planície indo-gangética. Sidhartha estabeleceu comunidades de monges e monjas, conquistando um número cada vez maior de seguidores. Envolveu-se também em discussões com governantes e mestres de outras religiões. Quando morreu, aos oitenta anos, o budismo já havia se tornado um movimento religioso importante. Obra-chave. 29 a.C. O Dhammapada, um resumo dos primeiros ensinamentos de Buda, faz parte do Cânone Pali. Sidhartha atingiu a iluminação após meditar sob a árvore Bodhi. Uma muda da árvore original foi plantada em Bodhy Gaya, Índia, em 228 d.C. Hoje um local de peregrinação para os budistas. A iluminação do Buda. O século VI a.C., foi uma época de muitas mudanças sociais e políticas no norte da Índia. Tribos locais foram destruídas pelos novos impérios, cidades expandiram-se, afastando a população da simplicidade da vida agrícola, e o comércio ganhou força. Ao mesmo tempo, os indivíduos começaram a fazer perguntas essenciais sobre a vida e os fundamentos da religião. Por um lado, havia a religião védica estabelecida, com base no sacrifício e autoridade dos textos védicos. Aos quais pouca gente além dos brâmanes – classe sacerdotal da sociedade indiana – tinha acesso. Era uma religião formal e conformista, que exigia obediência à tradição e mantinha as diferenças de classes. Por outro lado, muitos mestres errantes desafiavam a religião formal. Alguns se retiraram da sociedade em busca do ascetismo – renúncia aos confortos materiais – optando pela simplicidade e privação com formas do desenvolvimento espiritual. Esses mestres rejeitavam tanto o conforto físico quanto as normas sociais, e passaram a viver fora do sistema de classes. Outros mestres errantes seguiram a filosofia materialista lokayata e rejeitaram os ensinamentos espirituais convencionais em prol de uma vida de prazeres, afirmando que não há nada além do mundo físico. Sidharta busca respostas. Nascido numa família rica, Sidhartha Gautama concluiu, ao chegar à idade adulta, que sua vida de conforto era incompatível com a crescente conscientização das dificuldades da existência e a certeza da morte. Além disso, o conforto material não oferecia nenhuma proteção contra essa dura realidade. Desse modo, Sidhartha embarcou numa busca religiosa para encontrar a origem do sofrimento e uma forma de superá-lo. Por sete ano, praticou o ascetismo, privando-se de tudo, ficando apenas com o mínimo necessário para o sustento. Contudo chegou à conclusão de que isso não o ajudou a encontrar o conhecimento que procurava. Decidiu, portanto, abandonar a vida ascética, embora continuasse determinado a descobrir a causa do sofrimento. Conta-se que Sidhartha chegou a um estado de “iluminação” – consciência da verdadeira natureza da realidade – após uma noite inteira de meditação, e isso lhe trouxe a resposta para as questões de sofrimento, envelhecimento e morte. A partir desse momento, seus seguidores passaram a chamá-lo de Buda, um título honorário que significa “aquele que está totalmente desperto” ou “o iluminado”. O caminho do meio. O ensinamento de Buda é conhecido como “o caminho do meio”. Num nível mais óbvio, o conceito sugere um meio-termo entre os dois tipos de existência que ele rejeitou: uma vida de luxo, procurando obter proteção do sofrimento material. E uma vida de extrema austeridade, privando-se de quase tudo na busca pelo crescimento espiritual. A abordagem ou “caminho” encontrado envolvia uma dose moderada de disciplina em busca de uma vida ética, sem cair na tentação dos prazeres físicos ou auto mortificação. O caminho do meio proposto por Buda, também se refere a dois outros extremos: o eternalismo – crença de que a alma tem um propósito e vive para sempre – e o niilismo, extremo ceticismo, em que se nega o valor e o sentido de tudo. Precisamos encontrar o caminho do meio. Por mais conforto material que tenhamos na vida, não estamos imunes à dor e ao sofrimento. A total negação do conforto material e uma vida de ascetismo também não nos protegem do sofrimento. Cada pessoa precisa encontrar equilíbrio e disciplina, de acordo com as circunstâncias individuais. Eternalismo e niilismo. A religião védica, principalmente conforme apresentada nos textos conhecidos como Upanishads, afirmava que a verdadeira essência de todo ser humano é o atman, a alma eterna que reencarna diversas vezes. O atman liga-se ao corpo físico apenas temporariamente, sendo independente dele. Um ponto crucial da religião védica é a identificação desse atman com o brahman, a realidade divina fundamental por trás de tudo. As coisas comuns do mundo como árvores, animais e pedras são uma ilusão, conhecida como maya. A verdadeira realidade está além do mundo físico. Quando Buda rejeitou a perenidade do ser, ele estava rejeitando um elemento central do pensamento e da religião hindu. Buda também rejeitou o outro extremo – o niilismo, segundo o qual nada tem importância ou valor. O niilismo pode se manifestar de duas maneiras (ambas existentes na época de Buda). Uma é o caminho do ascetismo: purificar o corpo por meio da mais extrema austeridade e rejeitar qualquer tipo de valor mundano. Esse foi o caminho que Buda escolheu, julgando-o insatisfatório. A outra forma de manifestação do niilismo foi o caminho adotado na Índia pelos seguidores da escola heterodoxa de filosofia lokayata – a entrega total ao materialismo. Se tudo é apenas uma disposição temporária de elementos físicos, não existe uma alma eterna que se influencie por boas ou más ações durante a vida. Além disso, se não existe vida além da morte, a melhor conduta a se tomar é buscar o máximo de prazer possível nesta vida. Porém ao rejeitar esses dois extremos, Buda não optou simplesmente por um “caminho do meio” no sentido de termo comum. Sua visão baseava-se no conceito de interconexão, fundamental para conhecer a essência do ensinamento budista. Abraço. Davi.

 

sexta-feira, 10 de maio de 2024

UMBANDA E A SOCIEDADE

 

Religião Afro-brasileira. Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). Capítulo IV. UMBANDA E A SOCIEDADE. A tímida Umbanda, nascida às escondidas, hoje se mostra como uma religião de fato, e a cada dia sua existência vem se destacando no cenário religioso brasileiro e adquirindo uma respeitabilidade ímpar. Pois ela é, de fato, a religião brasileira por excelência. Não fica nada a dever às outras religiões que aqui se fixaram. A Umbanda ainda está na sua primeira idade e já mostra um vigor, uma exuberância, digna do povo brasileiro, também jovem, exuberante e cordial. A Umbanda é, talvez, a única religião que pode ser chamada de social, sendo que tem se dedicado desde seu nascimento às pessoas e suas necessidades básicas e imediatas. Os sacerdotes de Umbanda são oriundos de todas as classes sociais e trazem como formação pessoal suas lides diárias com os vários problemas que assolam a sociedade brasileira e espezinham a vida dos seus cidadãos. A tímida Umbanda do começo do século XX (1901-2000) dedicava-se a consolar, esclarecer e confortar o coração e a mente das pessoas que procuravam nos médiuns um primeiro socorro espiritual. Esta sua faceta social e socorrista impõe-se como uma de sus características fundamentais. O tempo provou como foram sábios os espíritos semeadores da religião de Umbanda, assim até hoje a Umbanda é sinônimo de socorro imediato e pronto socorro espiritual. Não são as pessoas que acorrem aos centros de Umbanda quando se sentem desenganadas com a medicina, desiludidas com outras religiões e desencantadas com o amparo que a própria sociedade lhes deveria proporcionar. É nos centros, acolhidos por sacerdotes despidos de toda pompa e de todos os tiques religiosos, sendo simples, mas portadoras de dons espirituais, que os aflitos consulentes recebem palavras de conforto espiritual. Também consolo fraternal e esclarecimentos que lhes devolverão a fé em Deus e a confiança em si mesmos, auxiliando-os em suas caminhadas terrenas. Grande tem sido o trabalho realizado pelos sacerdotes de Umbanda, porque sendo eles partícipes desse povo que luta, sofre e evolui a duras penas, são conhecedores das mazelas da vida daqueles que os procuram. Divino tem sido o trabalho dos dirigentes umbandistas que, discretamente, têm sustentado em torno de suas federações os muitos centros que nascem naturalmente por todo o Brasil. E desprovidos de recursos materiais, mas movidos pela fé e pela boa vontade. Tem imposto uma ordem às manifestações espirituais que acontecem em todos os cantos e a todo instante. Mantendo uma convivência pacífica com outras religiões desde o nascimento da Umbanda, quando ela se realizava nos fundos dos barracões. A Umbanda nasceu humilde, entre os humildes, e tem falado a todos os brasileiros por intermédio da humildade. A Umbanda não constrói templos gigantescos ou luxuosos, uma vez que, pompa e luxo não fazem parte de seus fundamentos. A umbanda não se preocupa senão com a espiritualização das pessoas e em cuidar daqueles que são portadores de dons naturais, mas que nas outras religiões são agregados ou excluídos. Grande tem sido o trabalho da Umbanda no campo social, dado que acolhe pessoas desesperadas, confundidas e desacreditadas de suas próprias potencialidades e. Pouco a pouco, vai desenvolvendo a esperança, esclarecendo-as da transitoriedade de suas situações e devolvendo-lhes a fé em Deus. E a esperança de um futuro de paz, harmonia e fraternidade. Se em alguns aspectos a sociedade brasileira ainda não reconheceu o imenso e ordenador trabalho realizado pela Umbanda, isso de deve aos próprios sacerdotes de Umbanda. Eles creditam suas realizações neste campo à espiritualidade, aos Orixás e a Deus. Tal vez por estarem conscientes da transitoriedade da vida na carne, os sacerdotes de Umbanda não procuram o reconhecimento da sociedade para o imenso trabalho que realizam em favor desta mesma sociedade, da qual também são membros. Todavia, com certeza, dispensam as luzes dos holofotes porque preferem ser iluminados pela luz do amor divino, amor este que os move diuturnamente e os leva aos encontros das vontades divinas. Esses são o amor fraterno, a concórdia entre todos os seres e a espiritualização da sociedade brasileira, berço natal da Umbanda. A única religião que reuniu em si três outras religiões: a europeia, a indígena e a africana, mostrando a todos que divisões religiosas só existem na mente dos racistas ou dos preconceituosos. Sendo que aos olhos de Deus todos somos seus Filhos diletos e amados. A Umbanda, enquanto religião nascente, ainda não está livre da presença dos aproveitadores da boa-fé das pessoas, porém até desses o tempo se encarregará de afastá-los e devolvê-los às suas origens pré Umbanda. A nós, os responsáveis no plano material pela guarda da simplicidade da Umbanda e pela sua mensagem fraterna, social e espiritual, compete contê-la em seu curso natural. É só uma questão de tempo para que a sociedade reconheça o imenso trabalho que ela realiza em benefício do povo brasileiro. Sem exigir nada em troca, todavia não foi para pedir, exigir ou dominar que ela foi criada. Deus a criou para doar, doar e doar! A Umbanda doa consolo, conforto, esclarecimento, fé e amor. E nós, os umbandistas, só queremos doar nossos dons naturais em favor de nossos semelhantes. Que Deus os abençoe em nome da Umbanda, em razão de que é só uma questão de tempo para todos reconhecerem nela uma benção de Deus e uma dádiva dos sagrados Orixás. Saravá, meus irmãos em Oxalá ! Abraços. Davi.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

OS MILAGRES. Parte II

 

Judaísmo. Livro Judaísmo e Cristianismo. As Diferenças. Por Trude Weiss Rosmarin (1908-1989). Capítulo II. MILAGRES. Parte II. Em outras palavras, o milagre não possui significado religioso especial para um judeu porque, como Moses Mendelssohn (1729-1786), baseado em bons precedentes e autoridade, escreveu para um estudioso cristão. Os milagres podem ser usados para comprovar a verdade de qualquer religião e, consequentemente, não podem ser aceitos como prova de nenhuma delas. Em contraposição à atitude reservada do judaísmo com relação aos milagres e sua rejeição como afirmação de verdades religiosas, encontra-se a avaliação que o cristianismo faz dos mesmos. Os milagres desempenham papel excessivamente importante no cristianismo. Os evangelhos são um longo registro dos milagres realizados por Jesus. É significativo que, enquanto o judaísmo se recusa a reconhecer milagres como prova da autoridade Divina, os Evangelhos citam os feitos milagrosos de Jesus, como o renascimento de mortos, cura de incuráveis, transformação da água em vinho e milagres similares, como provas convincentes não somente da Divina autorização, mas de sua divindade. Ainda mais significativo, entretanto, é o fato que o judaísmo não possui dogmas que envolvem a crença em eventos milagrosos na esfera terrestre. O cristianismo, por outro lado, é baseado em inúmeras doutrinas do gênero, tal como a encarnação, a personalidade Divina, a perfeição de Jesus e o nascimento a partir de uma Virgem. Enquanto o judaísmo enfatiza a importância do conhecimento racional para o estabelecimento de uma verdade religiosa e se recusa a conferir ao fato milagroso qualquer valor que certifique ou confirme a verdade. O cristianismo postula a superioridade da crença em milagres – crença inquestionável e cega em oposição ao reconhecimento razoável. Tertuliano (160-240), um dos primeiros Padre da Igreja expressou sua atitude cristã com o ditado clássico: “credo quia absurdum est” – acredito, pois, é absurdo”. Forma de argumentar totalmente rejeitada pela mente judaica e incompatível com os princípios que enfatizam que conhecimento e razão são sustentáculos indispensáveis da fé. Como resultado dessa supervalorização do sobrenatural, o cristianismo, na sua versão católica e especialmente os evangélicos, tem se tornado virtualmente escravo dos milagres. O catolicismo escolhe seus santos de acordo com o poder dos milagres que realizaram ou de vido às maravilhas que se tornaram manifestas através deles. Assim, enquanto o judaísmo sustenta que os milagres não são importantes e, sim, demonstrações secundárias das quais o líder pode fazer uso para apressar alguma coisa. O catolicismo assevera que a experiência ou realização de milagres é a prova decisiva da veracidade da missão religiosa de tal santo e o “sine qua non” – sem o qual não, da canonização. Além disso, a aprovação da Igreja de cultos milagrosos tais como o da Virgem de Lourdes, por exemplo, mesmo hoje em dia, mostra que o catolicismo ainda se prende ao princípio de Tertuliano de credo “quia absurdum est” – acredito, pois, é absurdo. Como resultado do papel desempenhado pelos milagres nos primórdios da História do cristianismo, os cultos cristãos, católicos e protestantes ponderam sobre os mistérios dos sacramentos, totalizando sete na Igreja Católica e dois entre os protestantes. O batismo e a Santa Ceia, os dois sacramentos reconhecidos por todos os cristãos, são totalmente imbuídos de elementos místicos e milagrosos. Portanto, acredita-se que o batismo faça no recém-nascido uma “limpeza” do “Pecado Original” e o salve da eterna perdição. A Santa Ceia, o compartilhar da Eucaristia e o vinho sacramental são considerados como o estabelecimento de um vínculo físico direto entre aqueles que creem em Jesus, de cujo sangue e corpo simbolicamente compartilham, comendo a hóstia e bebendo do vinho da Comunhão. O judaísmo que se libertou dos últimos vestígios dos conceitos mitológicos da idolatria com a extinção dos sacrifícios, aproximadamente dois mil anos atrás, não possui sacramentos. Seu verdadeiro teor é incompatível com o conceito mitológico da Transubstanciação – a crença na transformação da hóstia no corpo de Cristo e do vinho em seu sangue – sagrada para todos os católicos confessos. O judaísmo torna a salvação dependente unicamente dos esforços éticos feitos pelo devoto por meio de seu livre-arbítrio. O ritual da sinagoga, entretanto, não contém qualquer oração, sacramento ou simbolismo pelos quais a salvação possa ser magicamente atingida. Seria fútil argumentar que os cristãos “modernos” não endossam essas crenças e que essa diferença entre judaísmo e cristianismo, portanto,, não é mais perceptível. De fato, o catolicismo não alterou de forma alguma sua posição quanto aos milagres e sacramentos. Que a Reforma Protestante foi uma revolta social dos leigos contra a tutela e domínio do clero. E não uma revolta contra os milagres, fica evidenciado pelo fato de que o próprio Lutero (1486-1546) acreditava piamente em aparições do diabo a e visões milagrosas similares. Além disso, o protestantismo, ao manter os sacramentos do batismo e a Ceia de Jesus também manteve sua interpretação mística, apesar de ter democratizado sua desobrigação. Com exceção de alguns poucos reformistas radicais, cuja influência na Igreja pode ser comparada com a de alguns reformistas drásticos na Sinagoga, os protestantes aceitam os milagres registrados no Novo Testamento de forma literal e se submetem aos básicos ensinamentos do cristianismo com os quais os milagres são inseparavelmente entrelaçados. A crença cristã nas suas várias interpretações protestantes é, portanto, ainda “justificada pela fé” em oposição ao judaísmo, que torna o “conhecimento de Deus” o primeiro pré-requisito da crença. Devido ao empenho de gerações e gerações de rabinos e pensadores, que aplicaram a luz da razão a cada princípio e ensinamento do judaísmo. Não há virtualmente nada na crença autorizada judaica – é claro que existem superstições populares – que seja contrário à razão e às leis da natureza. Para dar só um exemplo: a crença na ascensão de Elias aos Céus numa carruagem de fogo é pouco importante do ponto de vista judaico e pode, portanto, ser explicada alegoricamente. A ascensão de Jesus, entretanto, é muito importante ao cristianismo, e interpretar esse fato alegoricamente acarretaria privar as religiões cristãs de sua própria base e justificativa. Paulo, portanto, estava certo em advertir os coríntios contra qualquer dúvida sobre a ressurreição de Jesus, pois “se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a nossa fé. “Acontece mesmo que somos falsas testemunhas de Deus, sendo que atestamos contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, I Coríntios 15,14 e seguintes, até 22. Graças a essa total desobrigação de acreditar em milagres, o judaísmo se conserva em melhor posição que o cristianismo em face da emergência da ciência moderna. A teoria da evolução não é necessariamente contrária ao espírito do judaísmo e de sua interpretação da criação. Visto que, há uma antiga afirmação rabínica que equivale a dizer que a Criação do Mundo, tal como o conhecimento, foi precedida pela criação e destruição de outros mundos. A crença judaica em Deus como o incomparável e único Poder Criativo Unificado não é afetada se assumirmos que a Criação se deu através de um único ato ou por um processo contínuo. Dado que o judeu não agradece diariamente a Deus “que renova todos os dias a obra da Criação”? Como resultado, o empenho que a Igreja exibe em reprimir as “heresias” de homens com Nicolau Copérnico (1473-1543), Giordano Bruno (1548-1600) e vários outros cientistas. Esses pagaram alto preço por sua integridade e ousadia como estudiosos, seria impossível no judaísmo, que sempre se empenhou em compreender o Criador e a Criação em vez de aceitá-los e suas obras extraordinárias baseado somente na fé propriamente dita, especialmente se tal fé envolve irrestrita crença em milagres. Abraço. Davi.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

OS MILAGRES. PARTE I

 

Judaísmo. Livro Judaísmo e Cristianismo. As diferenças. Por Trude Weiss (1908-1989). Capítulo II. OS MILAGRAES. Parte I. No judaísmo, os milagres desempenham papel irrelevante. De fato, como foi enfatizado especialmente por Saádia Gaón (1882-1942), Maiomônide (1138-1204) e outros eminentes pensadores e mestres, a crença judaica na verdade da Revelação Divina no Sinai e a crença em Moisés como o mais perfeito profeta e mestre, não está baseada nem depende dos milagrosos eventos ligados à Torá e às maravilhas realizadas por Moisés. Já nas escrituras rabínicas dos primórdios encontramos a opinião de que os milagres bíblicos não foram ocorrências sobrenaturais, ou seja, contrárias às leis da natureza, mas incidentes que estavam perfeitamente dentro do seu âmbito divinamente determinado. De acordo com os mestres do Talmud e, aproximadamente quinze séculos mais tarde, de acordo com Baruc de Spinoza (1632-1677) e os filósofos deístas, a interferência divina nas leis da natureza parecia ilógica e incompatível com o esplendor e a grandeza de Deus. Eles, portanto, declaram ousadamente que Deus fez os preparativos para os milagres por ocasião da Criação. Assim respondendo a objeção impensáveis de que Deus interferiria nas leis da natureza depois de havê-las determinado. De acordo com esta tendência de remover o que há de miraculoso dos milagres, o Rabi Iochanan (30 a.C. – 90 d.C.) ensinou: “Deus fez um contrato com o Mar Vermelho segundo o qual ele deveria se dividir para os israelitas”. Seu colega Rabi Jeremias, filho de Elazar,  deu um passo adiante e observou que Deus fez um contrato similar, entre outros, com o sol e a lua para que parassem em suas trajetórias quando Josué ordenasse; os corvos, para alimentar Elias, com o fogo, para que não ferisse Ananias, Misael e Azarias. Com os leões para não ferir Daniel, com os céus para que se abrissem a Ezequiel e com o peixe para vomitar Jonas. Em consonância com esta tendência racionalista dentre os mais eminentes sábios, encontramos no Talmud uma enumeração de coisas milagrosas que foram criadas na véspera do Shabat da primeira semana do mundo e depois preservadas por Deus para serem reveladas em data designada do futuro. Dentre as coisas sobrenaturais que foram criadas, e consequentemente não realizadas devido a interferência com as leis da natureza, estava “a boca da terra” que se abriu para engolir Corá e seus seguidores. . “A boca do poço” que forneceu água aos israelitas no deserto, a boca do notável asno falante de Balam, o arco-íris, o maná, o bastão de Moisés e algumas outras coisas que os sábios consideraram milagrosas”.  Outro método de explicar os milagres bíblicos aperfeiçoado pelos pensadores, era encará-los como alegorias. Saádia Gaón, que conduziu esse sistema à vitória, não foi, entretanto, o primeiro a usá-lo. O Midrash já registra interpretações alegóricas dos milagres bíblicos que atestam a tendência racional dos sábios de épocas anteriores. Assim, por exemplo, o Rabi Neemias desejava explicar o milagre do Mar Vermelho como uma recompensa de Deus a fé do povo de Israel. Assim deduziu da passagem: “E o povo acreditou ... Êxodo 4,31”. Seu colega o Rabi Isaac, no entanto, insatisfeito com essa racionalização, discordou: “Eles viram todos os milagres que foram realizados para eles. Como, então, poderiam não acreditar?” Mas o Rabi Simão, filha de Aba, não se satisfez com esta explicação e apoiou a tentativa de alegorização do Rabi Nechemia, com a afirmação: “Foi realmente devido a fé de Abraão no Santíssimo (Deus) – bendito seja Ele – que eles tiveram, o privilégio de entoar um cântico no Mar Vermelho”. Mais surpreendente é a exposição da passagem bíblica em Êxodo 17,11 “E enquanto Moisés ficava com as mãos levantadas, Israel prevalecia, e quando, porém, abaixava as mãos, prevalecia Amalec”. Os rabinos observaram com ceticismo: “Poderiam, então, as mãos de Moises provocar a batalha ou interrompê-la?”, e decidiram que este gesto de Moisés tinha somente um significado simbólico; “pois enquanto os israelitas olhavam para cima e mantinham o coração submetido ao seu Pai do Céu, eles prevaleciam, quando não faziam, eram derrotados”. Essa notável interpretação é seguida pela não menos notável explicação sobre a “serpente abrasadora” como símbolo de alguém dirigindo os seus pensamentos para cima, já citado anteriormente. Esse tipo de interpretação bíblica, por meio de alegoria, foi aperfeiçoado por Saádia Gaón (882-942) e conduzido ao seu limite extremo por Maimônides e seus discípulos. Saádia chegou a ponto de declarar que a interpretação alegórica de passagens bíblicas conflitantes com a razão ou experiência se constituía num dever religioso, por se tratar de um ato de devoção: harmonizar as fontes religiosas com a verdade aceita. Segundo a mesma tendência racionalista, o Maimônides continuou afirmando que todos os eventos milagrosos associados à vida dos profetas eram parte de suas “visões proféticas”, contudo não ocorreram na realidade”. Ao caracterizar como “visões proféticas” virtualmente todos os eventos milagrosos registrados na Bíblia, ele arquitetou a manutenção da integridade racional do judaísmo. Foi dessa maneira que interpretou os encontros de Abraão e Jacó com anjos, a visão de Josué de um anjo e narrativas similares – não como eventos verdadeiros, mas como “visões proféticas”. O resultado desse tipo de exegese foi que o valor da Bíblia não era mais procurado naquelas narrativas envolvendo a crença em milagres, porém em seus ensinamentos éticos e “opiniões corretas”. Seria um erro, é claro, supor que não houve oposição aos racionalistas que reinterpretaram os milagres como alegorias e visões proféticas. Sempre existiram aqueles que sustentavam que a aceitação literal da Bíblia seria preferível e satisfaria mais a alma do que sua racionalização. Contudo, há provas abundantes que as melhores cabeças judias e os sábios mais destacados sempre se uniram em apoio a interpretação racionalista do judaísmo e de suas fontes. Ainda assim, os dissidentes que colocavam o coração acima da cabeça e a intuição acima do conhecimento razoável, também tiveram oportunidade de justificar e explicar suas posições. Como resultado, a literatura talmúdica e rabínica coloca lado a lado as ideias dos crentes ingênuos e as dos intelectuais racionalistas. Apesar disso, no Talmud – o registro fiel e virtualmente completo da vida judaica na sua totalidade durante aproximadamente mil anos – registrar as superstições, práticas e crenças correntes entre as pessoas comuns e entre os rabinos. O Talmud mostra que as melhores mentes entre os sábios se empenharam de modo consistente em minimizar o papel dos milagres como pilares da crença. Essa diferença de opinião com relação ao mérito religioso dos milagres é amplamente esclarecida por uma discussão entre o pouco conhecido Rabi José e o eminente Abaiê sobre o seguinte: “milagre”. Certa vez, uma mulher faleceu e deixou seu empobrecido marido com uma criança para cuidar. Ele não tinha dinheiro para contratar uma ama de leite para tomar conta do filho. Então, um milagre ocorreu: seus seios se abriram como os seios de uma mulher e ele pode amamentar a criança. A respeito dessa história, o Rabi José comentou: “Veja quão elevado era esse homem a ponto de um milagre como esse ter sido realizado para ele”. Mas Abaiê objetou: “Pelo contrário,  como era ruim esse homem a ponto de a ordem do mundo ter sido alterada por sua causa”. Podemos depreender disso que Abaiê, que viveu aproximadamente 16 séculos atrás, era profundamente moderno, no mínimo tão moderno quanto Espinoza e o filósofo Leibnitz (1646-1716). Pois depreciava a interferência sobrenatural nas leis da natureza e a via com algo perverso, em vez de exaltá-la como algo perverso, em vez de exaltá-la como milagre. Como resultado dessa atitude, o “realizador do milagre” foi visto com descrença e mesmo com certa suspeita por parte dos rabinos. Que essa foi a atitude, pelo menos dos sábios mais eminentes, é comprovado pelo fato de o Rabi Simão bem Shetach (120 a.C. – 40 a. C.) ter condenado Honi, o místico “desenhador de círculos”. Como merecedor de excomunhão, quando este produziu a chuva tão necessária por meio de orações mágicas. Os sábios mais eminentes afirmaram que os milagres não podem ser invocados para apoiar a verdade ou para provar a precisão de uma interpretação ou opinião. Há uma notável história talmúdica que relata como o Rabi Eliezer, que certa vez não conseguia convencer seus colegas da precisão de sua opinião, realizou vários milagres sem obter qualquer sucesso em convencê-los. Assim, quando uma alfarrobeira foi deslocada de seu lugar por cem metros como um testemunho miraculoso em apoio à opinião do Rabi Eliezer. Os outros rabinos contestaram: “Não se dá provas através de uma alfarrobeira”. O Rabi Eliezer então fez um curso de água fluir em sentido contrário, e as paredes da casa de estudos se inclinarem, e até uma voz celeste proclamou que ele estava certo. Mas os sábios não acreditaram em nenhum deles. E então o Rabi Jeremias ousadamente declarou, com um jogo de palavras de uma passagem do Pentateuco: “Ela, a Torá, não está no Céus ... Deuteronômio 30,12. A Torá nos foi outorgada no Sinai e, portanto, não levamos em consideração uma voz celestial”. Em outras palavras, os milagres são rejeitados como prova de veracidade e, mais especialmente, como confirmação de autenticidade de urna determinada interpretação da Torá. A bem da verdade, o desmerecimento do valor do milagre já foi claramente expresso no Pentateuco. O Deuteronômio adverte contra “um profeta, ou um intérprete de sonhos, que realiza milagres e te apresenta um sinal ou um prodígio, se este sinal ou prodígio que ele anunciou se realiza e ele te diz: “Vamos seguir outros deuses, que não conheceste, e servi-los, Deuteronômio 13,2. “Não ouças as palavras deste profeta é a exortação bíblica. Porque os milagres que ele realiza são, de acordo com o Pentateuco, apenas um instrumento por meio do qual “vosso Deus vos experimenta, para saber se de fato amais ao Eterno, nosso Deus. Com todo vosso coração e com todo vosso ser”. Pois eles não podem servir como provas da veracidade de algo que não é uma verdade. Dentro desse mesmo espírito Maimônides declarou que um milagre não pode provar o impossível, ou seja, algo que é inerentemente uma inverdade, pois ele “só serve para confirmar aquilo que é possível”. Uma vez que aos milagres se nega poder da prova e são considerados meramente uma confirmação secundária da verdade estabelecida, eles perdem virtualmente toda a sua importância. E isso é precisamente o que ocorreu no judaísmo. Desde a primeira e tímida desaprovação bíblica do valor dos milagres, como provam as ousadas afirmações dos sábios e, finalmente, a rejeição do sobrenatural pelos filósofos medievais, o judaísmo tem progressivamente desacreditado os milagres como sustentáculos da fé. Desta maneira, tanto Saádia Gaón quanto Maimônides puderam declarar que a crença judaica não é baseada em milagres. Mantendo essa convicção, Maimônides descreveu a Era Messiânica, advertindo os adeptos: “Não permita fazer parte de suas iideias que o Messias deve necessariamente realizar sinais e milagres, fazer algo sem precedentes ou reviver os mortos, ou algo similar”. A realização de milagres não é a credencial do Messias, mas sim, a realização das promessas proféticas de um mundo melhor, de justiça e retidão. Abraço. Davi.

sábado, 4 de maio de 2024

UM MUNDO RACIONAL. Parte III

 

Hinduísmo. Por Meio do Sacrifício Nós Mantemos a Ordem do Universo. UM MUNDO RACIONAL. PARTE III. O Livro das Religiões. Bhavishya Puruna. Indivíduos de castas mais elevadas começaram a temer o contato com indivíduos de castas inferiores. O sistema de castas promovia a fragmentação social, com regras que proibiam o relacionamento e o casamento de pessoa de diferentes castas. Essa divisão foi reconhecida pela Constituição da Índia, criada em 1948, que proibiu a discriminação contra castas mais baixas. Embora o preconceito popular tenha demorado muito tempo para ser banido. Pessoal X Social. No século VI a.C. mestres errantes da Índia, como Buda e Mahavira, passaram a criticar a natureza divisível, formal e estratificada da cultura védica, aceitando seguidores de qualquer classe e tratando a todos da mesma maneira. O que importava era a contribuição pessoal, não um privilégio herdado. Esses mestres errantes também rejeitaram a autoridade dos Vedas, e por isso foram taxados de “heterodoxos”. Mas, por volta de 500 a.C., ocorreu uma mudança definitiva na forma como a religião era vista em toda a sociedade hindu. Em vez de ser considerada um meio para manter a ordem universal, a religião agora prometia ser uma maneira de escapar das limitações da vida material, mediante uma existência puramente espiritual. Em vez de buscar o alinhamento com a ordem estabelecida, o caminho agora era busca a libertação dessa ordem. Nos séculos que se seguiram, a tradição hinduísta adotou a ideia de devoção pessoa, como forma de libertação, e a adoração tornou-se mais uma questão de envolvimento pessoal do que simplesmente a realização correta de sacrifícios. Com o tempo, surgiram formas pessoais de devoção e ritos, a ponto de muita gente ter um local sagrado em casa, sem a necessidade de um brâmane para realizar o ritual. Religião e Sociedade. no período védico, a religião concentrava-se na busca pessoal do indivíduo para encontrar seu lugar no mundo e na sociedade, procurando viver da forma que lhe fora determinada, segundo as varnas. A religião tinha, portanto, um aspecto pessoal e um aspecto social, além de um sistema aparentemente lógico de como o indivíduo e a sociedade deviam interagir. Essa primeira fase do hinduísmo aponta para uma questão presente em todas as religiões: se ela deve basear-se somente no indivíduo ou na sociedade como um todo. Buda disse sobre as Varnas: “Ninguém nasce brâmane ou excluído. Essa classificação depende de suas ações”. As religiões estão integradas na sociedade, e às vezes é difícil distinguir ideias verdadeiramente “religiosas” de crenças e atitudes resultantes do meio político ou cultural no qual a religião se desenvolve. Outra questão a ser discutida e que as doutrinas e as tradições religiosas também podem ser utilizadas por uma elite dominante para manter sua posição. A própria questão referente ao foco da religião – se deve recair sobre o indivíduo ou a sociedade – é delicada, pois sugere que a experiência pessoal da religião vale mais do que a social. O Conceito de Varna. Precisa ser redefinido na Índia do século XXI (2001-2100), onde novas funções e carreiras não tradicionais desafiam as hierarquias existentes. A Literatura Sagrada do Hinduísmo. As escrituras hindus dividem-se em duas categorias: shruti e smriti. O termo shruti, do sânscrito, “aquilo que é ouvido” é usado para descrever a literatura védica, que era “ouvida” por sacerdotes e estudiosos no processo da revelação ou de compreensão da verdade indubitável. Esse conhecimento canônico, então, foi transmitido pela tradição oral de uma geração bramânica para a outra. Existem quatro conjuntos de hinos védicos, compostos ao longo de um período de mil anos. O primeiro, de1200 a.C. aproximadamente, chama-se Rig Veda. Fazem parte desse primeiro conjunto –   do shruti – os Brahmanas, com instruções sobre os rituais védicos, os Aranyakas, com discussões sobre meditação, e os Upanishads, com interpretações filosóficas. A literatura védica shruti é a obra mais importante do hinduísmo. O termo smriti, do sânscrito, “aquilo que é lembrado”, é usado para descrever o resto da literatura hindu, sobretudo os grandes poemas épicos: o Mahabharata e o Ramayana. Apesar de não gozarem do mesmo status da literatura shruti, por não terem tipo inspiração divina, esses textos também são relevantes, pois estão abertos a interpretação. Essa importante vertente da literatura indiana ainda é muito influente, incluindo o Bhagavad-Gita, provavelmente a mais conhecida de todas as obras hindus. Abraço. Davi

quinta-feira, 2 de maio de 2024

UM MUNDO RACIONAL. Parte II

 

Hinduísmo. O Livro das Religiões. Por Meio do Sacrifício Nós Mantemos a Ordem do Universo. UM MUNDO RACIONAL. Parte II. Deuses como aspectos de ordem. Com a evolução do Hinduísmo, os deuses arianos dos Vedas foram ganhando a companhia de outros deuses, sendo, em muitos casos substituídos por eles. Deuses védicos menores também foram elevados a posições muito mais destacadas. Escritos hindus mais recentes apresentam uma enorme lista de deuses e deusas, refletindo a mistura de diferentes tradições e período da história da religião primordial da Índia. A dança de Shiva. Representa os ciclos cósmicos de criação e destruição, o equilíbrio entre vida e morte. Shiva é o destruidor, mas também o transformador. De todos esses deuses, surgiu um triunvirato dominante, responsável pela existência, ordem e destruição do universo. Esses três deuses, trimurti ou trindade – representam diferentes aspectos da realidade. Brahma, o criador – não confundir com Brahman. Vishnu, o protetor e guardião da humanidade e Shiva, o destruidor, ou aquele que equilibra as forças da criação e da destruição. O deus Shiva costuma ser representado em imagens e esculturas como “Shiva Nataraja”, o senhor da dança. A dança cósmica de Shiva acontece dentro de um círculo de fogo, que representa o processo contínuo de nascimento e morte. Shiva possui quatro braços, com um tambor na mão direita superior, cujo toque promove a criação, e uma chama destrutiva na mão esquerda superior. Seus braços inferiores expressam o equilíbrio rítmico entre a criação e a destruição. Tu habitas em todos os seres, és perfeito, onipresente, onipotente e onisciente. És a Vida em todas as vidas, embora sejas invisível ao olho humano – trecho de um hino a Vishnu. O pé direito de Shiva está levantado pela dança, e o esquerdo pisa num demônio, que representa a ignorância. Essa figura selvagem e exuberante simboliza o perfeito equilíbrio num mundo em constante mutação. Como o tempo é cíclico, a destruição do universo por Shiva é vista como algo construtivo, pois prepara o caminho para uma mudança benéfica. O ordenamento da sociedade. A classificação da sociedade indiana em quatro grupos principais baseia-se, desde os tempos védicos, no conceito de dharma. Estendendo a teoria da ordem e estrutura do universo ao correto ordenamento da vida humana e da sociedade. Historicamente, é provável que, com a invasão dos arianos de pele clara, tenha se instaurado um contraste entre eles e os habitantes naturais da Índia, de pele mais escura. Sendo estes tratados como inferiores – o que levou a um sistema social de quatro classes principais, ou varnas, que significa “cores”. No hinduísmo, contudo, um relato mitológico da origem do sistema de classes sobrepõe-se a essa explicação histórica. No Rig Veda, há um cântico dedicado a Purusha o ser divino – o qual relata que o corpo de um ser humano primitivo é sacrificado e dividido. Criando as quatro varnas ou classes brâmanes, xátrias, vaixás e sudras. Os brâmanes são membros da classe sacerdotal, criados da boca de Purusha. Os xátrias formam a classe militar ou administrativa, criados dos braços de Purusha, enquanto os vaixás são membros da classe mercantil. Os sudras constituem a classe dos trabalhadores comuns, criados dos pés de Purusha. Como todos vêm da única realidade humana, Purusha, eles são interdependentes e todos têm um papel essencial a desempenhar no ordenamento da sociedade. Suas funções refletem seu dharma – seu dever divino. De acordo com a tradição hindu, as quadro varnas ou classes, originam-se das diversas partes de Purusha, o homem primordial. Xátrias – guerreiros. Sudras – trabalhadores. Vaixás – comerciantes. Brâmanes – sacerdotes. Dizem que os membros das três primeiras varnas “nascem novamente” num ritual conhecido como “fio sagrado”, o upanayana, que marca a aceitação do hinduísmo por parte do indivíduo. O ritual geralmente é realizado quando a criança faz oito anos, estabelecendo sua posição social. Abaixo das quatro varnas encontram-se aqueles que estão totalmente fora do sistema de classes. Antes chamados de desclassificados, hoje eles são conhecidos como dalits “os oprimidos”. Distinção de classes. As quatro varnas às vezes são chamadas de “castas”, mas esse termo não é preciso. O sistema de castas indiano baseia-se numa antiga forma de classificar a população, geralmente referente à ocupação. Existe muitas classes, ou jaitis, cada uma com um status social correspondente. As duas abordagens diferentes parecem ter se misturado a partir do desenvolvimento da sociedade hindu no último período védico 1000 a.C. e as diferenças cruciais entre elas tornaram-se indistintas. No sistema de varnas, todas as diferentes classes sociais são essenciais para o correto ordenamento do mundo. Como todo mundo vem de um único humano primordial, ”. Bhavishya Puruna. Indivíduos de castas mais elevadas começaram a temer o contato com indivíduos de castas inferiores. O sistema de castas promovia a fragmentação social, com regras que proibiam o relacionamento e o casamento de pessoa de diferentes castas. Essa divisão foi reconhecida pela Constituição da Índia, criada em 1948, que proibiu a discriminação contra castas mais baixas. Embora o preconceito popular tenha demorado muito tempo para ser banido. Abraço. Davi

terça-feira, 30 de abril de 2024

JESUS NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICA. Parte III

 

Islamismo. Livro Jesus um Profeta do Islam. Por Muhammad At Ur Rahim. Capítulo II. Parte III. JESUS NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICA. O toque de clarim de João começou a atrair uma grande multidão, na medida em que deixara de observar um importante regra do código de conduta dos essênios: «Não revelar a outrem nenhum dos segredos da comunidade, mesmo sendo torturado até a morte»14 A quebra no cumprimento dessa regra tornou possível aos romanos infiltrarem-se no movimento como espiões. No entanto, João com a sua visão profética, reconheceu-os, além da aparência e chamou-lhes “víboras” . (Mateus 3:7) Também Jesus, o seu primo mais novo, juntou-se ao movimento, sendo, provavelmente, um dos primeiros a receber o batismo; é provável, ainda, que Barnabé, que foi seu companheiro constante, tivesse sido batizado juntamente com Jesus e, também, com um outro companheiro chamado Matias. João sabia que as "víboras" iam ser bem-sucedidas, antes de poder começar a luta e, como tal, o batismo de Jesus lhe deu tão grande satisfação que teve a certeza de que o movimento não acabaria com a sua vida. Como fora previsto por João, o Rei Herodes o degolou e a sua manta foi cair sobre os ombros de Jesus. Jesus tinha trinta anos quando percebeu que o tempo de preparação terminara e começara a parte significativa de sua vida, uma missão que não durou mais do que três anos. Desse modo, para podermos apreciar o pleno significado desse período, teremos que integrar a vida de Jesus no seu enquadramento histórico e, em particular, na história dos judeus. Isso clarificará, ainda mais, a imagem que já começou a emergir, de que a existência da comunidade essênia, as atividades de João e, finalmente, o conflito entre Jesus e os romanos, fazem parte de um padrão que se repete, vezes sem conta, através da história dos judeus. Em todos os casos, o que, finalmente, moveu os judeus a se revoltarem contra os invasores estrangeiros foi a tentativa desses últimos, de associarem-no aos seus soberanos, pois a fé dos judeus na Unidade Divina e na crença de que não existe outro objeto de adoração, além d'Ele, era categórica. Como governantes, os judeus mostraram uma absoluta falta de conhecimento acerca dos assuntos do Estado, embora tenham florescido sob a escravidão política. Nos primórdios da história, encontramos os judeus fazendo intriga contra o próprio Rei, porque fazia tudo o que "era mau aos olhos do Senhor." (II Reis 13:11) Entretanto, Nabucodonosor da Babilônia conquistou Jerusalém. O templo foi deixado intacto, mas os tesouros, quer do templo, quer do palácio real, ficaram sob o poder do novo governador. Ora, os judeus não perderam tempo e se rebelaram contra o senhor absoluto da Babilônia, o que provocou um novo ataque, originando a destruição do templo e da cidade. A roda da fortuna deu outra volta: os persas, sob o comando de Ciro, conquistaram Babilônia e os judeus, uma vez mais, intrigaram contra os invasores. Assim, Ciro apercebendo-se, imediatamente, de que uma tão grande população de aliados da Babilônia constituía um perigo, pediu-lhes para partirem e regressarem a Jerusalém, onde, além disso, eram autorizados a reconstruir o templo. A tropa que se dirigia a Jerusalém era composta por 42.360 judeus, levando com eles 7.337 criados e mulheres, incluindo 200 cantores, homens e raparigas. Essa caravana foi conduzida por 736 cavalos, 245 mulas, 435 camelos e 6.720 burros (Ezra 2:64-69), para além dos animais que carregavam o tesouro que, entretanto, tinha sido acumulado. Ao chegar em Jerusalém, começaram a planejar a reconstrução do templo e, com esse fim, recolheram 61.000 dracmas de ouro e 5.000 libras de prata, que juntaram ao que tinham trazido da Babilônia, que consistia em trinta cavalos carregados de ouro e numa centena transportando prata. Mais ainda, havia 5.400 recipientes de ouro e de prata para serem colocados no templo (Ezra, 1:9-11). Portanto, os cativos que regressaram a Jerusalém tinham crescido em número e em fortuna. Como governadores de Jerusalém, os judeus não gostavam de longos períodos de paz. Em 323 a.C., a conquista de Alexandre, o Grande, tinha alcançado a Índia, mas logo após sua morte, nesse mesmo ano, os generais do exército dividiram o império entre eles. Ptolomeu começou a governar o Egito, tendo Alexandria por capital; o reino dos Seleceus foi dividido em duas partes — Antioquia tornou-se capital do reino do norte e Babilônia passou a ser o centro do que restava do império de Alexandre. Mas os governantes do reino de Ptolomeu e dos Seleceus viviam em contendas constantes e, num dos primeiros reencontros, Jerusalém caiu nas mãos dos gregos egípcios. Os novos governantes não ficaram satisfeitos com a abundante concentração de judeus em Israel; por isso, grande parte foi deportada para o Egito, dando origem ao que viria a se tornar a maior colônia de judeus fora de Israel. Aqui, entraram em contato com a civilização da Grécia e traduziram as Escrituras hebraicas para o grego. Para os chefes ptolomaicos, Israel era uma colônia distante e os judeus, após o pagamento dum tributo anual, ficavam praticamente entregues a si mesmos. Em 198 A.C. os Seleceus, para quem Jerusalém estava muito mais próxima e à mão, tomaram a cidade dos governantes de Ptolomeu, passando a se interessar muito mais pelos assuntos dos habitantes de Jerusalém do que os governantes anteriores. O processo de helenização, que tinha decorrido gradualmente e num andamento natural sob a lei ptolomaica, foi acelerado pelos novos chefes numa tentativa deliberada de fazer com que os judeus assimilassem o novo modo de vida. Essa concordância cultural forçada alcançou a expressão extrema durante o reinado de Antiochus Epeplianus, que cometeu o erro de instalar uma estátua de Zeus no Templo de Salomão, ultrajando os judeus e levando-os a se revoltar contra Judas Macabeus! O martelo foi o emblema da revolta que originou a expulsão dos gregos da cidade de Jerusalém. Os judeus vitoriosos, ao encontrarem o templo em ruínas, com o santuário assolado, o altar profanado e a porta queimada, reconstruíram-no de acordo com a Torá. Os novos governadores foram tão populares que chegaram a ser sumos sacerdotes do templo e reis de Israel. Entretanto, com a concentração do poder nas mesmas mãos, os governantes se tornaram muito rígidos na observação da lei, o que levou o povo a começar a ansiar pela administração benevolente dos governantes estrangeiros. Verificando que o povo estava insatisfeito com o seu governo, os macabeus tornaram-se mais altivos e arrogantes. Os judeus começaram, então, uma vez mais, a intrigar contra os governantes, o que não teve um papel menor na penetração do governo romano em Jerusalém. "Na. época, em que Jesus nasceu, os romanos repetiam os erros dos governantes anteriores. Ergueram uma grande águia dourada sobre o portão principal do templo, enfurecendo os judeus e originando uma série de revoltas contra os ocupantes. Os primeiros a desfraldar a bandeira da revolta, com o objetivo de destruir a águia, foram dois descendentes dos macabeus. Para os romanos, não era apenas um ato de rebelião, era também um insulto à sua religião. Assim, depois de muito sangue derramado, a revolta foi esmagada e os dois dirigentes foram capturados e queimados vivos. Pouco depois os romanos tiveram que enfrentar outra rebelião e dois mil rebeldes judeus foram crucificados. Embora derrotados, os ânimos ainda estavam exaltados quando, em 6 D.C., o Imperador Augusto ordenou um censo dos judeus a fim de facilitar a cobrança dos impostos. Ora, pagar impostos ao imperador Divinizado era contra o ensino da Torá, pois os judeus reconheciam apenas um rei: Jeová. Seguiu-se, por isso, um distúrbio. Os elementos mais moderados, que compreenderam que o conflito iria resultar num completo massacre dos judeus, aconselharam o meio termo e concordaram em pagar os impostos a fim de salvarem o povo de cometer um suicídio sem sentido. Porém os chefes que procuravam a paz por este preço não eram populares e foram considerados traidores da nação judia. A situação concreta e social existente na época do nascimento de Jesus, juntamente com os acontecimentos que levaram à morte de João, já foram mencionados e, chegamos, agora, a um ponto em que todo o movimento de resistência estava concentrado à volta da dominante inspirada figura de Jesus. Antes de fazer qualquer outra coisa, Jesus passou quarenta dias vivendo e rezando no deserto. Tinha, então, trinta anos de idade, tempo que, de acordo com a lei judaica, um homem ficava liberto da dominação de seu pai. Ao contrário de João, Jesus, não ensinou abertamente às multidões, nas suas pregações, que deviam tomar posição contra os governadores romanos. Havia necessidade de manter uma atuação discreta, pois os atentados anteriores tinham terminado em desastre e a morte, recente, de João estava ainda fresca na mente de Jesus. Por isso, com previdência e prudência, começou a preparar e a organizar os judeus. Não batizou ninguém, pois teria atraído desnecessariamente demasiadas atenções por parte dos romanos e teria constituído uma prática perigosa, dado não poder evitar a infiltração de "víboras" no movimento de resistência. Nessas circunstâncias, elegeu doze discípulos, o número tradicional que representava as doze tribos de Israel, que alistaram setenta patriotas para servirem sob o seu comando. Os fariseus sempre tinham evitado familiaridades com o Am Al Arez, judeus robustos que viviam nas aldeias, porém Jesus os colocou sob sua proteção. Esses camponeses, muitos dos quais, provindos da comunidade essênia, tornaram-se seguidores zelosos e estavam dispostos a entregar suas vidas pela causa de Jesus. Eram conhecidos por Zelotes. De acordo com a Bíblia, pelo menos seis, dos doze discípulos, são considerados zelotes. Jesus, que tinha vindo para reafirmar e não para rejeitar o ensino de Moisés, emitiu o apelo do Antigo Testamento: «Aquele que sentir zelo pela Lei e permanecer fiel à aliança, venha e siga-me». (Macabeus 2:27-31) Uma grande parte começou, então, a se alistar, mas era mantida escondida e os seus treinos efetuados no deserto. Eram igualmente chamados Bar Yonim, o que significa "filhos do deserto". Dentre esses, os que tinham aprendido a usar o punhal eram conhecidos como Siccari (homens do punhal). Um grupo suplementar de homens, cuidadosamente selecionados, formaram uma espécie de guarda-costas, sendo conhecidos por Bar Jesus, ou "filhos de Jesus". Uma quantidade desse último grupo é mencionada nos registros históricos, mas uma cortina de mistério rodeia os homens desse grupo e muito pouco se conhece acerca deles, o que é compreensível, visto que suas identidades tinham que ser escondidas dos olhos dos espiões romanos, por pertencerem ao círculo mais próximo dos seguidores de Jesus. Jesus ordenou aos seus seguidores: «Mas agora quem tem uma bolsa que a tome, assim como o alforje, quem não tem espada, venda a capa e compre uma.» (Lucas 22:36) E assim, o número dos que o acompanhava, inspirado também pelos seus ensinamentos e milagres, cresceu. O resultado de toda essa preparação foi Sossianus Hiérocles, sucessor de Pilatos (citado por Lactanius, Pai da Igreja), que disse, sem constrangimento, que Jesus era o chefe de um bando de salteadores estimados em novecentos homens. Uma cópia medieval, em hebreu, de uma versão perdida de um trabalho de Josephus, relata, também, que Jesus tinha entre 2.000 e 4.000 seguidores armados. Jesus tinha um grande cuidado para não se desviar do ensinamento dos essênios, conhecidos pelo fato de "os ritos e os preceitos dos Evangelhos e das Epístolas se encontrarem em todas as páginas das suas produções literárias."16 Durante a sua missão, contudo, não divulgou a totalidade dos ensinamentos à maior parte de seus seguidores e, assim, muito poucos conheciam toda a verdade: «Ainda tenho muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Espírito da Verdade, Ele guiar-vos-á à verdade total, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e anunciar-vos-á o que há de vir.» (João 16:12-14). Jesus não pretendia poder material, nem como governante da região, nem dentro da fechada hierarquia dos Escribas e dos Fariseus. No entanto, a popularidade de que gozava junto às pessoas comuns e o grande número de seguidores levaram os romanos e os sacerdotes que o apoiavam, a recear que fosse essa a sua intenção. Foi essa aparente ameaça à posição de poder que desfrutavam, que os impeliu a tentarem se livrar de Jesus. A missão de Jesus era, unicamente, a de estabelecer o culto do Criador, da maneira como o próprio Criador tinha ordenado. Logo, tanto Jesus como os seus seguidores estavam preparados para lutar contra quem quer que tentasse impedilos de viver como o seu Senhor desejava. A primeira luta teve lugar contra os judeus leais aos romanos e foi dirigida por Bar Jesus Barabbas, que conseguiu desmoralizá-los completamente, matando o chefe num reencontro; Bar Jesus Barabbas, no entanto, foi preso. O objetivo seguinte era o próprio templo. Os romanos tinham uma poderosa força localizada por perto, uma vez que era a ocasião do festival anual e que se aproximava a festa da Páscoa. Nessa época do ano, os romanos, que estavam sempre atentos aos pequenos distúrbios, ficavam ainda mais alertas do que de costume. Além disso, a polícia do templo guardava o local sagrado. No entanto, a entrada de Jesus foi tão bem planejada que os soldados romanos foram totalmente apanhados de surpresa e Jesus conseguiu o controle do templo. Esse acontecimento é conhecido como a "limpeza do templo" e o Evangelho de João o descreve com as seguintes palavras: «Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas de pombas e os cambistas abancados. Com umas cordas, fez um chicote e os expulsou do templo, com as ovelhas e bois. Deitou por terra o dinheiro dos banqueiros, derrogou-lhes as mesas...» (João 2:14-15) Comentando as palavras "as cordas do chicote", Carmichâel diz: «Eles empregam abertamente a violência e apresentam-na como um acontecimento atenuado ao mínimo, em relação ao que , na realidade, deve ter sido um forte combate. Se imaginarmos simplesmente o tamanho do templo e as dezenas de milhares de peregrinos amontoados duma ponta à outra, os numerosos servidores, a força policial, os soldados romanos, assim como a reação dos boleiros, para não falar dos próprios cambistas, apercebemo-nos de que deve ter sido necessário algo mais do que mera surpresa para tudo aquilo ter acontecido. O cenário por trás desta fragmentada lembrança do quarto Evangelho tem que ter sido muito diferente. O cronista suavizou os acontecimentos "espiritualizando-os" para além de toda a realidade.» Uma das lições de todo o defensor da liberdade foi a de que a polícia tem simpatia pelos patriotas e não pelo exército de ocupação. Esse pode ter sido um fator que contribuiu para o colapso completo da defesa do Templo. Os romanos sofreram um recuo local, mas o seu poder não tinha sido esmagado; chamaram reforços e novas tropas começaram a se dirigir à Jerusalém. A defesa da porta de Jerusalém durou alguns dias, mas por fim a armada romana provou ser forte demais para os patriotas. Os seguidores de Jesus tiveram que se dispersar e desapareceram; até os discípulos fugiram, deixando Jesus com muitos poucos homens à sua volta, refugiando-se nos subterrâneos e se escondendo dos romanos, que começaram uma busca intensiva para encontrá-lo. A "prisão", o "julgamento" e a "crucificação" estão rodeados de tantas contradições e mal-entendidos, que é extremamente difícil destrinçá-los e conseguir penetrar no sucedido, de modo a apreender o que realmente aconteceu. Pensamos que o governo romano foi bem-sucedido na utilização dos serviços da pequena minoria de judeus que esperava beneficiar com a continuação do governo romano em Jerusalém. Judas Iscariotes, um discípulo de Jesus, deixou-se persuadir pela promessa de receber trinta peças de prata, se, através de sua ajuda, Jesus fosse preso. De modo a evitar qualquer outro problema, foi decidido esperar pela noite. Ao chegar ao local aonde Jesus tinha ido com alguns seguidores, Judas tinha ordens para beijar Jesus, para que os soldados romanos, estrangeiros, pudessem identificá-lo. Porém, o plano foi malsucedido, pois quando as soldadas surgiram na noite, seguiu-se um tumulto, os dois judeus confundiam-se no escuro e os soldados, erradamente, prenderam Judas, em vez de Jesus. Deste modo foi possível a sua fuga. O Alcorão diz: “... não sendo, na realidade, certo de que o mataram, nem o crucificaram, mas o confundiram com outro...” (Alcorão 4:157). Quando o prisioneiro foi levado à presença de Pilatos — o Magistrado Romano — a dramática reviravolta dos acontecimentos satisfez toda a gente. A maior parte dos judeus estava feliz por, devido a um milagre, o traidor estar sentado no banco dos acusados, em vez de Jesus. Os judeus pros romanos estavam contentes, porque, com a morte de Judas, a prova da sua culpa iria ser destruída. Mais ainda, uma vez que Jesus estaria legalmente morto, não poderia sair a céu aberto para lhes causar problemas. O papel desempenhado por Pôncio Pilatos, o Magistrado Romano, é difícil de determinar. A sua indecisão, tal como é descrita na Bíblia, a sua parcialidade em relação aos chefes judeus, juntamente com a sua boa vontade com Jesus, torna difícil acreditar na história. Esse pode ter sido o resultado da tentativa, por parte dos autores dos Evangelhos, de distorcer os fatos, de forma a atirar a responsabilidade da "crucificação" a toda nação judaica e dessa forma ilibar completamente os romanos do seu papel na suposta morte de Jesus.18 A única maneira de um registro oficial da vida de Jesus existir, seria descrevê-la de forma que não fosse ofensiva aos governantes estrangeiros, omitindo, disfarçando ou mesmo mudando os pormenores que pudessem ser desagradáveis a quem estava no poder. Outra explicação provém duma forte tradição de que Pilatos foi "conquistado" por um considerável suborno, o equivalente a 30.000 libras. Se é verdade o que se descreve nos Evangelhos, então é óbvio que Pilatos teve um interesse real no drama ocorrido nesse dia em Jerusalém. Finalmente, há outro fato significativo. Nos calendários dos Santos da Igreja Copta, tanto no Egito como na Etiópia, Pilatos e a sua mulher aparecem como "santos". Ora, isso só pode ser possível se aceitarmos que Pilatos, sabendo perfeitamente que os seus soldados tinham efetuado uma prisão errada, condenou intencionalmente Judas em vez de Jesus e lhe permitiu fugir. Na descrição feita por Barnabé, diz-se que, na ocasião da captura, Judas foi transformado pelo Criador, de maneira que, até sua mãe e seus seguidores mais próximos acreditassem que ele era Jesus. Só foram informados do que tinha sucedido, realmente, quando Jesus lhes apareceu, depois de sua suposta morte. Isso iria explicar por que razão existe tanta confusão à volta dos acontecimentos que tiveram lugar naquela época e, porque alguns registros, escritos por pessoas que não estiveram presentes nesses acontecimentos, apoiam a falsa crença de que foi Jesus o crucificado. Nem todos estão inteiramente de acordo em relação ao fato do traidor de Jesus ter sido crucificado. Os Cirenaicos e, mais tarde, os Basilidianos, que estavam entre os primeiros cristãos, negaram que Jesus tivesse sido crucificado e acreditavam que, em vez dele, tinha sido Simão de Cirene. Cerinthus, um contemporâneo de Pedro, Paulo e João, também negou a ressurreição de Jesus. Os Carpocratianos, outros das primeiras minorias Cristãs, acreditavam que não tinha sido Jesus o crucificado, mas sim um dos seus seguidores, que se parecia muito com ele. Plotino, que viveu no século IV, diz-nos que tinha lido um livro intitulado The Journies of the Apostles (As Jornadas dos Apóstolos), que relatava os atos de Pedro, João, André, Tomás e Paulo. Entre outras coisas, afirmava-se que não foi Jesus, mas outro em seu lugar e, portanto, ria-se daqueles que acreditavam que o crucificaram. Assim, embora se soubesse que Jesus não tinha sido crucificado, as fontes, ou diferem, ou não são específicas em relação a quem o substituiu. Algumas pessoas acham difícil acreditar no que quer que seja: «Quando nos apercebemos de que o rol de atrocidades imputado à tropa romana, repete, quase literalmente, certas passagens do Antigo Testamento ... começamos a desconfiar de que todo o episódio seja pura invenção” 20 Não existe nenhum outro registro histórico do que aconteceu a Jesus depois da "crucificação", além do Evangelho de Barnabé e do Alcorão, que descrevem o acontecimento relativo à forma como Jesus foi levado deste mundo, geralmente conhecido como "ascensão" nos quatro Evangelhos aceitos. Abraços. Davi

domingo, 28 de abril de 2024

POR QUE OS INOCENTES SOFREM?

 

Cristianismo. Livro O Terceiro Milênio – e as Profecias do Apocalipse. Por Alejandro Bullón (1947 - ). POR QUE OS INOCENTES SOFREM? Era véspera de Natal e as famílias se preparavam para celebrar a data festiva de maneira especial. Fazia anos que os irmãos não se viam, mas desta vez todos viajaram para a casa paterna, e a família estava feliz. Eram muitos. Filhos, noras, genros e netos. Todos vivendo a alegria do espírito natalino. De repente, aconteceu algo trágico. Ouviu-se o barulho de um tiro de revólver e os gritos desesperados de um garoto. Quando os familiares entraram no quarto, viram um quadro horroroso. Felipe estava no chão, com o rosto ensanguentado. Faria nove anos no mês seguinte. Seu primo e melhor amigo, Luís, gritava tomado pelo pânico em frente ao guarda-roupa onde o pai guardava o revólver calibre 38, carregado. Nenhum adulto viu o momento em que a arma disparou. As duas crianças brincavam de índio, polícia, bandido e super-herói, quando a tragédia aconteceu. Esse foi o início de um Natal que ninguém da família poderá esquecer. A mão de Felipe gritava aos prantos: “Por que, Senhor? Por que teve que ser meu filho?”. O ser humano de nossos dias não consegue tirar do inconsciente essa pergunta terrível. Todos carregamos os nossos porquês. O sofrimento não tem explicação aparente, mas dói, perturba e não nos deixa ser feliz. Como posso comer em paz, quando há no mundo milhões de crianças que perecem de fome? Como desfrutar do calor de um cobertor, no inverno, quando tem gente morrendo de frio nas ruas das grandes cidades? Não existe um Deus de amor? Por que, então, existe sofrimento? A injusta que revolta. No capítulo seis do Apocalipse, ao abrir-se o quinto selo, João vê pessoas cansadas de sofrer. Elas perguntam: “Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”. Essas pessoas são símbolo de todos os que sofrem na Terra, sem motivo aparente. Se você olhar para o mundo, perceberá que existe muita injustiça. O mal parece triunfar sobre o bem. A pessoa honesta é considerada boba, enquanto o desonesto é tido como esperto. Até o profeta Habacuque indagou um dia: “Por que, pois, toleras os que procedem perfidamente, e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?” A injustiça e o sofrimento dos inocentes revolta, mas é preciso entender esse assunto no contexto de Apocalipse. Em primeiro lugar, Deus não é o autor do sofrimento. Nenhuma tragédia nasce na mente divina. A morte, a doença, a traição, a desgraça, a injustiça, as enchentes, secas, terremotos, furações e guerras. Enfim, tudo aquilo que traz dor ao ser humano tem origem na mente e no coração do inimigo de Deus. “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor, pensamentos de paz e não de mal”, Jeremias 29,11. A Bíblia é clara ao declarar que este mundo saiu das mãos de Deus como um mundo perfeito, Gênesis 1,31. Não existia orgulho, nem ciúmes, nem traição. A dor, a morte, a tragédia e o sofrimento não faziam parte do mundo perfeito idealizado pelo Criador. Mas a Bíblia também diz que Deus confiou este mundo aos cuidados do ser humano. “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no Jardim do Éden para o cultivar e o guardar. E p Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque, no dia em que dela comeres, certamente morreras”. Infelizmente, Adão e Eva venderam este planeta ao inimigo de Deus. E o venderam barato. Por um minuto de curiosidade, prazer ou descontrole. Tanto faz. O fato é que o venderam barato demais. Andando sobre as mesmas pegadas. Às vezes pensamos: Como é que Adão e Eva foram tão incautos a ponto de trocar um mundo tão belo e perfeito por um minuto de aventura? A realidade é que não foram só eles. Fomos nós também. Você, eu e todos os seres humanos. Porque ainda hoje continuamos fazendo a mesma troca. O homem arruína a família por um minuto de curiosidade. Estraga seu futuro por causa de uma aventura. Vende seus valores, seus princípios e até o próprio respeito. Ah, ser humano incoerente, que não valoriza o que tem, que só percebe o quanto perde, depois que o perdeu, que busca desesperadamente a morte, quando Deus lhe confiou a vida! Depois do pecado, o diabo introduziu no mundo o ciúme, a inveja, o egoísmo, a exploração, a morte, a dor, as enfermidades, furacões, terremotos, enchentes, secas e tudo aquilo que traz sofrimento e desgraça ao ser humano. A única motivação dele é fazer sofrer a criatura, porque sabe que por trás da criatura está o Criador. O diabo é o arqui-inimigo de Deus. Todavia sabe que na luta corpo a corpo está perdido. Já foi expulso uma vez dos Céus. Portanto, a melhor maneira de fazer o Pai sofrer é provocando dor nos seus filhos. Por outro lado, Satanás quer desvirtuar o caráter de Deus. Esse é o seu grande objetivo, e sabe que, finalmente, a criatura atribuirá todos os sofrimentos ao Criador. Porventura, não se perguntou você alguma vez por que Deus permite que crianças indefesas morram de fome enquanto os adultos brigam? Por que Deus permite que crianças inocentes nasçam defeituosas? Deus não é o autor dessas tragédias. Mas o ser humano as atribui a Ele inconscientemente. O inimigo conseguiu o que queria: apresentar a imagem de um Deus mau e arbitrário. O dono do mundo. Surge, então, outra pergunta: “Não é Deus mais poderosos que o diabo? Não pode Ele impedir que o sofrimento toque nossas vidas?” Pode sim. Mas já dissemos que Adão e Eva passaram o título de propriedade deste mundo ao inimigo. E Satanás sente-se tão dono que, quando Jesus esteve aqui, teve a ousadia de mostrar-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, e dizer: “Tudo isto Te darei se, prostrado, me adorares”, Mateus 4,9. O diabo não é dono de nada. Ele é um ser criado como qualquer outra criatura, porém acha-se no direito de sentir-se dono do mundo e colocar dor e tristeza naquilo que ele considera sua propriedade. Foi por isso que Deus nunca prometeu que seus filhos não sofreriam neste mundo. Analisemos os seguintes casos. Sofrendo amparados. 1. Um dia, Lázaro, amigo de Jesus estava enfermo e as irmãs dele enviaram mensageiros com o seguinte recado: “Senhor, está enfermo aquele a quem amas. João 11,3”. Quer dizer que aqueles a quem Jesus ama também podem ficar enfermos? O que você acha? Mas a história bíblica diz mais. Ela afirma que Lázaro morreu e Maria reclamou dizendo: “Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido? João 11,32”. Maria era o típico ser humano que acha que ter a Jesus constitui-se num seguro de vida. 2. O salmista Davi escreveu, entre outros, o salmo 23, que é considerado o “salmo de ouro”. Nele, Davi expressa sua confiança no Senhor como seu grande Pastor. Mas apesar disso, ele declarou: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo. Salmos 23,4”. Davi não afirma que os que confiam no Senhor não morrerão. Ele diz que aqueles cujo Pastor é o Senhor, nunca estarão a sós no meio da escuridão e das trevas. O Pastor sempre os acompanhará. 3. Em outra ocasião, Jesus estava com os discípulos em alto mar, quando sobreveio uma tempestade. A noite ficou escura. Os ventos sopravam contrários. Os trovões e relâmpagos ameaçavam e “o barco era varrido pelas ondas. Mateus 8,24”. Onde estava Jesus naquele momento? Ali, no barco. Mas apesar disso, tinha-se a impressão de que o barco ia afundar. Quer dizer, mesmo quando Jesus está presente na sua vida, pode haver momentos tormentosos? Claro que pode. Só que a embarcação não afunda, porque “até os ventos e o mar lhes obedecem. 4. Existe outro salmo extraordinário na Bíblia. É o Salmo 46. Nele, o autor afirma: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” Salmos 46,1. Perceba a promessa. Aqui não diz que os filhos de Deus não terão tribulações. A promessa é clara: Deus será o nosso refúgio e fortaleza. Socorro presente em meio à dor. E se você alguma vez já foi surpreendido por uma tormenta no meio da rua ou do campo, sabe o que significa ter um refúgio. 5. Falando da atitude dos cristãos diante da morte, o apóstolo Paulo aconselha: “Não queremos, todavia, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não tem esperança. I Tessalonicenses 4,13”. Aqui, Paulo fala de duas maneiras de entristecer-se: com esperança e sem esperança. Como se entristecem os que não tem esperança? Amaldiçoam a Deus, clamam por vingança, ficam envenenados e, as vezes, até enlouquecem e morrem. E como reagem diante da morte de um ente querido aqueles que tem esperança? Choram, naturalmente, porque tem sentimentos. Sentem saudades, sofrem, mas sabem que, em meio ao sofrimento, não estão sozinhos. Jesus está com eles. Porventura está você vivendo um momento difícil em sua vida? A morte arrancou de você um ente querido e está doendo muito? Não rejeite a dor. Aceite-a e tente administrá-la com o conforto divino. Criados para não sofrer. Outro dia recebi a carta de um amigo que estava passando pelo vale da sombra da morte. Tudo estava escuro ao seu redor e ele não enxergava saída alguma para seu problema. Na carta ele relatava todo o drama que estava vivendo e, no final, dizia: “O que mais me dói não são as tribulações que estou enfrentando, sobretudo a minha maneira de reagir diante delas. Eu acho que, como cristãos, deveria alegrar-me com as provações e sofrimentos. No entanto eu não consigo alegrar-me, e sinto que nunca fui um bom cristão”. Alguma vez você experimentou esse mesmo sentimento? Então permita-me dizer-lhe algo. Sabe quem é que se alegra e até desfruta do sofrimento? O masoquista – aquele que procura prazer na dor ou sofrimento, uma patologia – doença. Um desvio de personalidade. Cristão não age desse modo. Nenhum ser humano normal buscará, nem se alegrará ou desfrutará da dor. Sabe por quê? Porque a dor e o sofrimento são experiências intrusas na existência humana. Deus não nos criou para sofrer, mas para ser eternamente felizes. Cardos e espinhos, dor, enfermidades e morte são consequências da entrada do pecado. Portanto, nunca se encaixarão confortavelmente na experiência humana. Sempre molestarão. Podemos conviver com tudo isso, no entanto, será sempre desconfortável. O conselho bíblico é que devemos regozijar-nos “em meio à dor” e não “por causa da dor”. Ou seja, é possível para o cristão conviver vitoriosamente com o sofrimento, por causa da presença de Jesus em sua vida. Os seres humanos, simbolizados no capítulo seis de Apocalipse, perguntam: “Até quando, ó Soberano Senhor, Santo e Verdadeiro, não julgas nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a Terra”. Aquelas pessoas tinham sido mortas, por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Apocalipse 6,9”. Você pode perceber que, embora eles tivessem sido cristãos vitoriosos ao ponto de morrer por Cristo, nunca aceitaram o sofrimento como algo normal e. Mais ainda, eles achavam que havia chegado o momento de pôr fim à história do pecado. Lembra-se da acusação de Lúcifer no Céu? Ele colocou em tela de juízo o caráter divino. Ele acusou o Criador de não querer a felicidade da criatura. Deus podia ter destruído o inimigo ali mesmo, mas teria ficado para sempre a interrogação: “Será que ele tinha razão ou não?”. Portanto, era preciso que o tempo transcorresse. Que a história do mal e do sofrimento seguisse seu curso. E hoje podemos observar a insustentabilidade das acusações do diabo. Olhe a dor a sua volta. Observe até os seus entes mais próximos sofrendo. Vá ao outro lado do mundo e veja crianças morrendo de fome, exploradas e abusadas, e responda: deve a história do mal continuar? Deve Deus permitir que o inimigo continue com sua obra perniciosa e egoísta? Ouro purificado no fogo. Egoísmo! Essa é a palavra certa para tentar compreender as motivações do diabo ao provocar sofrimento no ser humano. Ele nos faz sofrer pelo puro prazer de ver o sofrimento. Ele causa dor só para destruir. Mas Deus, em seu infinito amor, toma esse sofrimento que sai da mente do inimigo para destruir, e o transforma num instrumento de edificação. Assim, o ouro entra no fogo, sendo que não se queima com a madeira. Pelo contrário, ele sai mais purificado. O diamante bruto é colocado sob o esmeril e não desaparece como pedra comum. Ao contrário, sai transformado num diamante valioso de facetas luminosas. Todo aquele que confia no Senhor Jesus é ouro e pedra preciosa. O sofrimento pode vir, todavia não será capaz de destruí-lo. Ele sairá vitorioso, puro como o ouro e brilhante como o diamante. Abraço. Davi.