Cristianismo. Livro Catecismo
da Igreja Católica. Constituição Apostólica ”Fidei Depositum”. Para a
publicação do Catecismo da Igreja Católica redigido depois do Concilio Vaticano
II (1962-1965). João Paulo II (1920-2005), Bispo Servo dos Servos de Deus Para Perpétua
Memória. Aos veneráveis irmãos, cardeais, arcebispos, bispos, presbíteros,
diáconos e restantes membros do povo de Deus. INTRODUÇÃO. 1. Guardar o depósito da fé. É a missão que o Senhor confiou à sua Igreja e que ela cumpre em todos
os tempos. O Concílio Ecumênico Vaticano II, aberto há trinta anos por meu
predecessor João XXIII (1881-1963), de feliz memória, tinha como intenção e
como finalidade pôr em evidência a missão apostólica e pastoral da Igreja e,
fazendo resplandecer a verdade do Evangelho, levar todos os homens a procurar e
acolher o amor de Cristo, que excede toda a ciência (cf. Efésios 3,19). Ao
Concílio, o Papa João XXIII tinha confiado como tarefa principal guardar e
apresentar melhor o precioso depósito da doutrina cristã, para o tomar mais
acessível aos fiéis de Cristo e a todos os homens de boa vontade. Portanto, o
Concílio não devia, em primeiro lugar, condenar os erros da época, mas
sobretudo empenhar-se por mostrar serenamente a força e a beleza da doutrina da
fé. "Iluminada pela luz deste Concílio dizia o Papa a Igreja ... crescerá
em riquezas espirituais...e, recebendo a força de novas energias, olhar
intrépida para o futuro... E nosso dever ... dedicar-nos, com vontade pronta e
sem temor, àquele trabalho que o nosso tempo exige, prosseguindo assim o
caminho que a Igreja percorre há vinte séculos."' Com a ajuda de Deus, os
Padres conciliares puderam elaborar, em quatro anos de trabalho, um conjunto
considerável de exposições doutrinais e de diretrizes pastorais oferecidas a
toda a Igreja. Pastores e fiéis encontram ali orientações para aquela
"renovação de pensamentos, de atividades, de costumes e de força moral, de
alegria e de esperança, que foi o objetivo do Concílio" Depois de sua
conclusão, o Concílio não deixou de inspirar a vida da Igreja. Em 1985 pude
afirmar: "Para mim que tive a graça especial de nele participar e colaborar
ativamente em seu desenvolvimento o Vaticano II foi sempre, e é de modo
particular nestes anos de meu Pontificado, o constante ponto de referência de
toda a minha ação pastoral, no consciente empenho de traduzir suas diretrizes
em aplicação concreta e fiel, no âmbito de cada Igreja e da Igreja inteira. E
preciso incessantemente recomeçar daquela fonte". Neste espírito, em 25 de
janeiro de 1985, convoquei uma Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos,
por ocasião do vigésimo aniversário do encerramento do Concílio. A finalidade
dessa Assembleia era celebrar as graças e os frutos espirituais do Concílio
Vaticano II (1962-1965), aprofundar seu ensinamento para aderir melhor a ele e
promover seu conhecimento e sua aplicação. Nessa ocasião, os Padres sinodais
manifestaram o desejo "de que seja composto um Catecismo ou compêndio de
toda a doutrina católica, tanto em matéria de fé como de moral, para que seja
como um texto de referência para os catecismos ou compêndios que venham a ser
preparados nas diversas regiões. A apresentação da doutrina deve ser bíblica e
litúrgica, oferecendo ao mesmo tempo uma doutrina sã e adaptada à vida atual
dos cristãos". Depois do encerramento do Sínodo, fiz meu este desejo,
considerando que ele "corresponde à verdadeira necessidade da Igreja
universal e das Igrejas particulares". Como não havemos de agradecer de
todo o coração ao Senhor, neste dia em que podemos oferecer a toda a Igreja,
com o título de Catecismo da Igreja Católica, este "texto de referência"
para uma catequese renovada nas fontes vivas da fé? Depois da renovação da
Liturgia e da nova codificação do Direito Canônico da Igreja Latina e dos
cânones das Igrejas Orientais Católicas, este Catecismo trará um contributo
muito importante àquela obra de renovação da vida eclesial inteira, querida e
iniciada pelo Concílio Vaticano II. 2. Itinerário e Espírito da redação do
texto. O Catecismo da Igreja Católica é fruto de uma vastíssima colaboração:
foi elaborado em seis anos de intenso trabalho, conduzido num espírito de
atenta abertura e com apaixonado ardor. Em 1986, confiei a uma Comissão de doze
Cardeais e Bispos, presidida pelo senhor Cardeal Joseph Ratzinger (1927-2022), o encargo de
preparar um projeto para o Catecismo requerido pelos Padres do Sínodo. Uma
Comissão de redação, composta por sete Bispos diocesanos, peritos em teologia e
em catequese, coadjuvou a Comissão em seu trabalho. A Comissão, encarregada de
dar as diretrizes e de vigiar o desenvolvimento dos trabalhos, seguiu
atentamente todas as etapas da redação das nove sucessivas composições. A
Comissão de redação, por seu lado, assumiu a responsabilidade de escrever o
texto e inserir nele as modificações pedidas pela Comissão e de examinar as
observações de numerosos teólogos, exegetas e catequistas, e sobretudo dos
Bispos do mundo inteiro, a fim de melhorar o texto. A Comissão foi sede de
intercâmbios frutuosos e enriquecedores para assegurar a unidade e a
homogeneidade do texto. O projeto tornou-se objeto de vasta consulta de todos
os Bispos católicos, de suas Conferências Episcopais ou de seus Sínodos, dos
Institutos de teologia e de catequética. Em seu conjunto, ele teve um
acolhimento amplamente favorável da parte do Episcopado. E justo afirmar que
este Catecismo é fruto de uma colaboração de todo o Episcopado da Igreja
Católica, o qual acolheu com generosidade meu convite a assumir a própria parte
de responsabilidade numa iniciativa que diz respeito, intimamente, à vida
eclesial. Tal resposta suscita em mim um profundo sentimento de alegria, porque
o concurso de tantas vozes exprime verdadeiramente aquela a que se pode chamar
a "sinfonia" da fé. A realização deste Catecismo reflete, deste modo,
a natureza colegial do Episcopado: testemunha a catolicidade da Igreja. 3.
Distribuição da matéria. Um catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo
orgânico, o ensinamento da Sagrada Escritura, da Tradição viva na Igreja e do
Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos Padres, dos Santos e
das Santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistério cristão e
reavivar a fé do povo de Deus. Deve ter em conta as explicitações da doutrina
que, no decurso dos tempos, o Espírito Santo sugeriu à Igreja. E necessário que
ajude a iluminar, com a luz da fé, as novas situações e os problemas que ainda
não tinham surgido no passado. O Catecismo incluirá, portanto, coisas novas e
velhas (cf. Mateus 13,52), porque a fé é sempre a mesma e simultaneamente é
fonte de luzes sempre novas. Para responder a esta dupla exigência, o Catecismo
da Igreja Católica por um lado retoma a "antiga" ordem, a
tradicional, já seguida pelo Catecismo de São Pio V (1504-1572), articulando o
conteúdo em quatro partes: o Credo; a sagrada Liturgia, com os sacramentos em
primeiro plano; o agir cristão, exposto a partir dos mandamentos; e, por fim, a
oração cristã. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo é com frequência expresso de
modo "novo", para responder às interrogações de nossa época. As
quatro partes estão ligadas entre si: o mistério cristão é o objeto da fé
(primeira parte); é celebrado e comunicado nos atos litúrgicos (segunda parte);
está presente para iluminar e amparar os filhos de Deus em seu agir (terceira
parte); fundamenta nossa oração, cuja expressão privilegiada é o
"Pai-Nosso", e constitui o objeto de nossa súplica, de nosso louvor e
de nossa intercessão (quarta parte). A Liturgia é ela própria oração; a
confissão da fé encontra seu justo lugar na celebração do culto. A graça, fruto
dos sacramentos, é a condição insubstituível do agir cristão, tal como a
participação na liturgia da Igreja requer a fé. Se a fé não se desenvolve nas
obras, está morta (cf. Tiago 2,14-16) e não pode dar frutos de vida eterna.
Lendo o Catecismo da Igreja Católica, pode-se captar a maravilhosa unidade do
mistério de Deus, de seu desígnio de salvação, bem como a centralidade de Jesus
Cristo, o Filho Unigénito de Deus, enviado pelo Pai, feito homem no seio da
Santíssima Virgem Maria por obra do Espírito Santo, para ser nosso Salvador.
Morto e ressuscitado, ele está sempre presente em sua Igreja, particularmente
nos sacramentos; ele é a fonte da fé, o modelo do agir cristão e o Mestre de
nossa oração. 4. Valor doutrinal do texto. O Catecismo da Igreja Católica, que
aprovei no passado dia 25 de o Junho e cuja publicação hoje ordeno em virtude
da autoridade apostólica, é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina
católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição
apostólica e pelo Magistério da Igreja. Vejo-o como um instrumento válido e
legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino
da fé. Sirva ele para a renovação, à qual o Espírito Santo chama
incessantemente a Igreja de Deus, Corpo de Cristo, peregrina rumo à luz sem
sombras do Reino! A aprovação e a publicação do Catecismo da Igreja Católica
constituem um serviço que o Sucessor de Pedro quer prestar à Santa Igreja
Católica, a todas as Igrejas particulares em paz e em comunhão com a Sé a
Apostólica de Roma: o serviço de sustentar e confirmar a fé de todos os,
discípulos do Senhor Jesus (cf. Lucas 22,32), como também de reforçar os laços
da unidade na mesma fé apostólica. Peço, portanto, aos Pastores da Igreja e aos
fiéis que acolham este Catecismo em espírito de comunhão e que o usem
assiduamente ao cumprir sua missão de anunciar a fé e de convocar para a vida
evangélica. Este Catecismo lhes é dado a fim de que sirva de texto de
referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica e, de modo
muito particular, para a elaboração dos catecismos locais. É oferecido a todos
os fiéis que desejam aprofundar o conhecimento das riquezas inexauríveis da
salvação (cf. João 8,32). Pretende dar um apoio aos esforços ecuménicos
animados pelo santo desejo da unidade de todos os cristãos, mostrando com
exatidão o conteúdo e a harmoniosa coerência da fé católica. O Catecismo da
Igreja Católica, por fim, é oferecido a todo o homem que nos pergunte a razão
de nossa esperança (cf. l Pedro 3,15) e queira conhecer aquilo em que a Igreja
Católica crê. Este Catecismo não se destina a substituir os Catecismos locais
devidamente aprovados pelas autoridades eclesiásticas, os Bispos diocesanos e
as Conferências Episcopais, sobretudo se receberam a aprovação da Sé
Apostólica. Destina-se a encorajar e ajudar a redacção de novos catecismos
locais, que tenham em conta as diversas situações e culturas, as que conservem cuidadosamente a unidade da
fé e a fidelidade à doutrina católica. 5. Conclusão. No final deste documento
que apresenta o Catecismo da Igreja Católica, peço à Santíssima Virgem Maria,
Mãe do Verbo Encarnado e Mãe da Igreja, que ampare com sua poderosa intercessão
o empenho catequético da Igreja inteira em todos os níveis, nestes tempos em
que ela é chamada a um novo esforço de evangelização. Possa a luz da verdadeira
fé libertar a humanidade da ignorância e da escravidão do pecado, para
conduzi-la à única liberdade digna deste nome (cf. João 8,32): a da vida em
Jesus Cristo sob a guia do Espírito Santo, na terra e no Reino dos Céus, na
plenitude da bem-aventurança da visão de Deus face a face (cf. 1 Coríntios
13,12; 2 Coríntios 5,6-8)! Dado no dia 11 de Outubro de 1992, trigésimo
aniversário da abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, décimo quarto ano de
meu pontificado. Joannes Paulus II (1920-2005). Abraço. Davi
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