quinta-feira, 1 de agosto de 2024

XINTOÍSMO MITOLOGIA E INFLUÊNCIA. Parte I

 

Xintoísmo. bushidobr.com. XINTOÍSMO MITOLOGIA E INFLUÊNCIA na formação da cultura e do carácter do povo japonês. Parte I. Introdução. A concepção do xintoísmo para o japonês era de si tão natural, genérica e vasta, que até a chegada do budismo no século VI (501-600), não tinha nome especificado. Quando se acharam diante de uma religião estrangeira, denominaram a nativa de Kannagara no michi ou Xintô, que significa caminho dos deuses. É difícil saber exatamente o que era o xintoísmo antes da chegada do budismo. Não era apenas a única religião; era o único modo como os antigos japoneses se relacionavam com o mundo, pois acreditavam profundamente que os deuses, os homens e a Natureza são nascidos dos mesmos ancestrais: não havia separação conceitual entre a Natureza e o homem. "Não havia denominação para a Natureza, como algo apartado e distinto do homem, algo que pudesse ser contemplado pelo homem" (Sakamaki Shunzo in MOORE, 1975, p. 24). Ou seja, não havia distinção entre sujeito e objeto, observador e observado. O homem era apenas parte de um todo, "intimamente associado e identificado com os elementos e as forças do mundo em seu redor" (idem). Fato que se nota pela importância das principais divindades, entre milhares, associadas aos principais fenômenos da natureza: o nascimento, o crescimento, as transformações e a morte (ibidem p. 25). Essa estreita proximidade com a Natureza e elementos de seu entorno constitui-se na principal característica do Xintô (HERBERT, 1964, p. 17). Supõe-se que o modo como viam o mundo “era uma forte concepção intuitiva de uma profunda unidade subjacente, biológica e física ao mesmo tempo, entre todos os homens (mortos, vivos e não-nascidos), a Natureza e todas as entidades invisíveis ao homem, porém dignas de veneração” (HERBERT, 1977, p. 10). É, no dizer do professor Ono, "para os que veneram o kami, xintô é o nome coletivo de todas as crenças que compreendem a ideia do kami" (ONO, 1990, p. 3). Relacionando as três mais antigas correntes de pensamento que estão na gênese do pensamento japonês, teria dito o príncipe Shotoku , que difundiu o budismo no Japão: “O Xintoísmo é a raiz e o tronco de uma grande árvore robusta e transbordante em inesgotável energia; o Confucionismo são os galhos e as folhas e o Budismo são as flores e frutos” (HERBERT, 1977, p. 11). Por dois ou mais milênios, junto com o budismo e o confucionismo, essa religião autóctone moldou o caráter desse povo. Origem. Perde-se nas brumas do tempo a origem do xintoísmo. Supõe-se que o local onde os aldeões se reuniam, no centro ou na entrada da aldeia, foi considerado sagrado e marcou-se por um ponto característico, como um rochedo, uma caverna, uma montanha ou uma grande árvore (ROCHEDIEU, 1982, p. 67). Aí se debatiam os assuntos da aldeia e era também o local das festas. O marco passou então a ser venerado como sagrado, como um kami da aldeia (idem). Às vezes o local escolhido se dava em torno de alguma antiga família, talvez a pioneira da comunidade (ONO, op. cit., p. 27). Os santuários primitivos eram simples "altares ao ar livre, frequentemente esculpidos na rocha, sobre os quais se depositavam oferendas" (LITTLETON, 2002, p. 68). Não raro, em comunidades rurais, os santuários eram erigidos no interior de densas florestas, localização acessível apenas por gente da comunidade (ONO, op. cit., idem). É seguro então, afirmar-se que a adoração à Natureza se constituiu na fé primitiva do povo japonês, evidenciado pelos deuses de estreita relação a ela: deusa do sol, deus da lua, deus da montanha, deus do mar, deus do vento entre outros (HARADA, 1914, p. 30). Em tempos primevos, quando ainda não se construíam santuários, acreditava-se que as divindades moravam longe e faziam visitas em ocasiões especiais. Era então preparado um pequeno abrigo de nome himorogi, cercado por corda de palha e ao centro, um ramo de árvore. Cercava-se o espaço também com rochas (iwasaka) (Ueda Kenji in TAMARU et alii, 1996, p. 31). Por acreditar que as divindades aí passaram a habitar, os abrigos tomaram a forma de casas. Não apenas a morada, mas também o espaço no entorno foi então considerado sagrado. Por serem construídos em meio à Natureza, nas montanhas, perto de cachoeiras ou em ilhas isoladas, a própria Natureza era vista como símbolo da divindade. Como local sagrado na construção de santuários, são seguidos os princípios da simplicidade, pureza e harmonia com a Natureza (idem). Fontes do Xintoísmo. São os principais textos do xintoísmo: a) o Kojiki – escrito em 712, traz um relato das tradições conservadas oralmente até o ano 628; b) o Nihongi – escrito em 720, é cerca de duas vezes mais longo do que o Kojiki; é a continuação dos seus relatos até o ano 700; c) o Kogoshui, escrito em 807, fornece alguns detalhes ausentes nos dois escritos anteriores; d) o Sendai Kuji Hongi – escrito em dez volumes no final do IX século, relata a história do Japão da era dos deuses até o VII século; e) o Engi-shiki – promulgado em 967, embora um texto de administração governamental, contém os três textos do Norito, liturgia que se oferece aos Kami. Teogonia – surgimento dos principais deuses do panteão xintoísta Lê-se na primeira seção do Kojiki: “os nomes dos Kami que se tornaram no Alto Plano dos Céus (Takama-no-hara) no início do Céu e da Terra são Ame-nominaka-nushi-no-kami (Augusto mestre do Centro do Céu), em seguida Takamimusubi-no-kami (Augusto elevado Kami que produz), e depois Kami-musubi-no-kami (Divino Kami maravilhoso que produz)” (ibidem p. 18). Na última geração nascem Izanagi (Varão que convida) e Izanami (Varoa que convida) (ibidem p. 28). A estes, os deuses ordenam consolidar e fazer nascer a Terra, entregando-lhes uma lança celeste ornada de joias (ibidem p. 37-38). De sobre a Ponte Flutuante Celestial (Ame-no-uki-hashi), agitam com sua lança flamejante as águas do oceano e de seus pingos se forma a ilha Onogoro, a primeira terra do Japão, que muitos autores relacionam à Ilha de Awaji (ibidem p. 38). Seu nome significa autocondenado e é a única entidade que não provém da união sexual dos deuses (ibidem p. 40). Após construírem nesta ilha o Augusto Mastro Celestial e uma sala (ou palácio) de oito braças, ambos contornando o mastro, o homem pelo lado esquerdo e a mulher pelo direito, unem-se como homem e mulher. Porém, tendo Izanami tomado a iniciativa, a união não resultou em boas crias e refizeram a união, cabendo desta vez a iniciativa ao homem (HERBERT, 1965, p. 50-51). No Nihongi consta versão na qual a mulher toma a iniciativa e faz o contorno pelo lado esquerdo, atendendo ao que lhe diz o homem, e este contorna o pilar pelo lado direito (ibidem p. 51). A união fracassou pelo resultado e a refizeram, invertendo os lados e cabendo a iniciativa da palavra desta vez ao homem. Abraço. Davi

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