Judaísmo. Livro Judaísmo e
Cristianismo – As Diferenças. Por Trude Weiss Rosmarin (1908-1989). Capítulo 8.
JESUS. Parte I. Nos últimos anos temos tomado conhecimento de inúmeros apelos diretos e
indiretos de judeus letrados, desde Sholem Asch (1808-1957), o novelista
iídiche do passado, atualmente o mais dedicado propagador das ideias cristãs,
até John Cournos. O crítico literário recentemente convertido ao cristianismo,
que reivindicam Jesus como filho fiel do povo e religião judaica. O argumento
apresentado é que, embora o judaísmo possa não ser capaz de reconhecer as
alegações cristãs do poder messiânico e da divina perfeição de Jesus. Ainda
assim pode e deve aceitá-lo como profeta, mestre ou pelo menos como um grande
rabino. Antes de prosseguir com a refutação detalhada dessa sugestão, devemos
parar por um momento para considerar a posição de Jesus frente ao cristianismo.
Claro que as várias correntes religiosas cristãs diferem em sua interpretação a
respeito do fundador da sua fé. Mesmo assim, até os protestantes mais liberais
que não tenham se afastado da Igreja, dificilmente estariam prontos a admitir
que Jesus foi nada mais que um mestre, um profeta ou um rabino. Portanto, é
errôneo, da parte de certos judeus, assumir que seu endosso a Jesus como
mestre, profeta ou rabino será primordial para estabelecer um melhor
relacionamento entre cristãos e judeus. Pelo contrário, vários cristãos se
ressentem profundamente de ter seu filho de Deus e Messias aclamado como um
simples e mortal mestre, profeta ou rabino. A posição da grande maioria dos
cristãos em relação as tentativas de reaver Jesus para a Sinagoga é resumida
vigorosamente pelo doutor Otto Piper (1892-1982): “Os judeus podem estar
desejosos de reconhecer a grandeza de Cristo, mas somente pretendem através
disso, enfatizar a grandeza do judaísmo. Pois alegam que Jesus é seu maior
filho. Se o reconhecessem como Messias e Salvador, não mais poderiam ser
judeus”. Para os cristãos, Jesus é infinitamente mais do que um grande profeta
ou rabino, pois conforme o doutor Toy, observa adequadamente: “Ambas
ramificações do cristianismo, a católica e a protestante, tem segundo as
correntes de pensamento moderno, não existe um ponto de vista científico,
filosófico ou literário que não tenha deixado marcas nas crenças que controlam
a cristandade. Mas, apesar de toda essa liberdade de movimento, a pessoa de
Cristo teve seu lugar mantido como centro da vida religiosa. Qualquer que seja
a interpretação teológica, quer seja ele encarado como substancialmente divino
ou somente com um homem profundamente inspirado. Quer seja a sua morte ou a sua
vida mais ressaltada, ou ainda quer a Igreja ou a Bíblia sejam aceitas como um
guia infalível. Ele sempre será o modelo e líder de uma experiência religiosa”.
Para os cristãos, com exceção de uma insignificante parcela, Jesus é
primeiramente, o Filho de Deus e Messias. Para a cristandade, ele é a revelação
da perfeição de Deus. Citando o doutor A. Lukyn William (1853-1943): “Para nós,
cristãos, repito, Jesus de Nazaré parece ser absolutamente sem defeitos, sem
manchas ou defeitos, e como tal, a perfeita revelação do caráter de Deus. O que
Deus não poderia fazer em qualquer livro, qualquer que seja a bondade, ele
conseguiu concretizar em uma pessoa via (...). Quando um cristão é perguntado
sobre as características de Deus invisível, ele assimila como resposta “Jesus
de Nazaré”. Querendo dizer que Jesus mostra como Deus realmente é, e o que ele
gosta que façamos. O pensamento relembra o dito do próprio Jesus, registrado
nos quatro evangelhos; “Aquele que me viu, viu o Pai”. O cristianismo é baseado
na doutrina da encarnação, o que significa que, na crença de que “Deus estava
em Cristo – não em escrituras, doutrinas, milagres, experiências subjetivas ou
formas sacramentais. Mas numa pessoa histórica, no espírito de Cristo, na sua
palavra, na sua vida e na sua morte”. Como resultado a virtude a perfeição
cristã consiste na “imitação de Cristo. Enquanto para o judeu, a bondade está
atrelada a tentativa de imitar, por aproximação, a perfeição de Deus. Pois o
judaísmo não reconhece a encarnação do Ser Divino. Por isso o judaísmo rejeitou
e rejeita Jesus como Filho de Deus e como uma encarnação do ser Divino. A ideia
de Deus para o judeu, conforme estabelecida em detalhes no capítulo um desta
obra “O conceito de Deus para judeus e cristãos, é a própria negação da
Trindade e a doutrina da encarnação subjacente a ela. Mas para os cristãos,
Jesus não somente é a encarnação de Deus, mas também o Messias e Redentor cujos
adventos futuros estão anunciados nos livros da Bíblia Hebraica. O Novo
Testamento é, portanto, de forma
bastante ampla, o empenho orquestrado para provar que Jesus foi o Messias
prometido e que nele todas asf promessas proféticas foram concentradas. O
judaísmo, por outro lado, afirma que Jesus não foi o Messias, pois não realizou
as esperanças messiânicas. Os defensores do judaísmo, nas suas “Controvérsias
Religiosas” organizadas pela Igreja Medieval e impostas aos judeus com a
esperança de derrotar seu porta voz. Invariavelmente enfatizavam que nenhuma
das promessas messiânicas foi realizada por meio de Jesus. Ele não estabeleceu
a paz universal e justiça social para toda humanidade. Nem redimiu o povo de
Israel, nem tampouco elevou as montanhas do Senhor acima do todo das alturas.
No tocante aos judeus, seu próprio exílio e falta de um lar e a continuação da
guerra, pobreza e injustiça são provas conclusivas de que o Messias ainda não
chegou. Pois sua vinda, de acordo com as promessas proféticas, apressará a
redenção do povo de Israel do exílio e a redenção de todo o mundo dos males da
guerra, pobreza e injustiça. Foi defendida a tese de que Jesus não foi
considerava o Messias e que esse papel foi atribuído a ele posteriormente pelos
autores do Evangelho. Não estamos aqui preocupados em criticar o Novo
Testamento. Foge ao objetivo do nosso tema tentar concluir quais pronunciamentos
atribuídos a Jesus são autênticos e quais não são. O que realmente importa não
são as exatas palavras que Jesus pronunciou, mas o espírito delas. Não resta
dúvida, entretanto, que nos Evangelhos temos o ipssimus spiritus - o próprio Espírito de Jesus.
Aparentemente a tradição ligada a Jesus deve ter fornecido aos escritores dos
Evangelhos base suficiente para enfatizar seu caráter messiânico. De outra
forma, seria inexplicável que todos os relatos evangélicos ressaltem a ênfase dada pelo próprio Jesus a seu papel
e missão messiânicas. A resposta de Jesus a pergunta de João Batista se ele era
o prometido pelos profetas, mostra claramente que Jesus se considerava mesmo o
Messias (Mateus 11,2-6) e, ainda mais, a admissão em seu julgamento diante do
sumo sacerdote de ser “Cristo, o Filho de Deus” (Mateus 26,63-66) (Marcos
14,61-64) e (Lucas 22,67-71). Também provam conclusivamente que Jesus se
considerava o Messias e, mais que isso, como o Filho de Deus. Essas duas
pretensões o colocaram inevitavelmente em oposição eterna ao judaísmo, o qual
não pode reconhecer Jesus como o Messias por ele não ter conseguido apressar a
chegada da era messiânica. E por considerar a própria ideia de “Filho de Deus”
como uma transgressão do monoteísmo puro. Pode então Jesus ser classificado
pelo menos de “Profeta”, do ponto de vista judaico? A resposta é não, pois ele
não atendia aos padrões da profecia hebraica exemplificada pelos profetas dos
primórdios ou por aqueles mais recentes. O profeta hebreu foi, no seu todo o
porta voz de Deus. Abraço. Davi
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