domingo, 11 de agosto de 2024

JESUS. Parte I

 

Judaísmo. Livro Judaísmo e Cristianismo – As Diferenças. Por Trude Weiss Rosmarin (1908-1989). Capítulo 8. JESUS. Parte I. Nos últimos anos temos tomado conhecimento de inúmeros apelos diretos e indiretos de judeus letrados, desde Sholem Asch (1808-1957), o novelista iídiche do passado, atualmente o mais dedicado propagador das ideias cristãs, até John Cournos. O crítico literário recentemente convertido ao cristianismo, que reivindicam Jesus como filho fiel do povo e religião judaica. O argumento apresentado é que, embora o judaísmo possa não ser capaz de reconhecer as alegações cristãs do poder messiânico e da divina perfeição de Jesus. Ainda assim pode e deve aceitá-lo como profeta, mestre ou pelo menos como um grande rabino. Antes de prosseguir com a refutação detalhada dessa sugestão, devemos parar por um momento para considerar a posição de Jesus frente ao cristianismo. Claro que as várias correntes religiosas cristãs diferem em sua interpretação a respeito do fundador da sua fé. Mesmo assim, até os protestantes mais liberais que não tenham se afastado da Igreja, dificilmente estariam prontos a admitir que Jesus foi nada mais que um mestre, um profeta ou um rabino. Portanto, é errôneo, da parte de certos judeus, assumir que seu endosso a Jesus como mestre, profeta ou rabino será primordial para estabelecer um melhor relacionamento entre cristãos e judeus. Pelo contrário, vários cristãos se ressentem profundamente de ter seu filho de Deus e Messias aclamado como um simples e mortal mestre, profeta ou rabino. A posição da grande maioria dos cristãos em relação as tentativas de reaver Jesus para a Sinagoga é resumida vigorosamente pelo doutor Otto Piper (1892-1982): “Os judeus podem estar desejosos de reconhecer a grandeza de Cristo, mas somente pretendem através disso, enfatizar a grandeza do judaísmo. Pois alegam que Jesus é seu maior filho. Se o reconhecessem como Messias e Salvador, não mais poderiam ser judeus”. Para os cristãos, Jesus é infinitamente mais do que um grande profeta ou rabino, pois conforme o doutor Toy, observa adequadamente: “Ambas ramificações do cristianismo, a católica e a protestante, tem segundo as correntes de pensamento moderno, não existe um ponto de vista científico, filosófico ou literário que não tenha deixado marcas nas crenças que controlam a cristandade. Mas, apesar de toda essa liberdade de movimento, a pessoa de Cristo teve seu lugar mantido como centro da vida religiosa. Qualquer que seja a interpretação teológica, quer seja ele encarado como substancialmente divino ou somente com um homem profundamente inspirado. Quer seja a sua morte ou a sua vida mais ressaltada, ou ainda quer a Igreja ou a Bíblia sejam aceitas como um guia infalível. Ele sempre será o modelo e líder de uma experiência religiosa”. Para os cristãos, com exceção de uma insignificante parcela, Jesus é primeiramente, o Filho de Deus e Messias. Para a cristandade, ele é a revelação da perfeição de Deus. Citando o doutor A. Lukyn William (1853-1943): “Para nós, cristãos, repito, Jesus de Nazaré parece ser absolutamente sem defeitos, sem manchas ou defeitos, e como tal, a perfeita revelação do caráter de Deus. O que Deus não poderia fazer em qualquer livro, qualquer que seja a bondade, ele conseguiu concretizar em uma pessoa via (...). Quando um cristão é perguntado sobre as características de Deus invisível, ele assimila como resposta “Jesus de Nazaré”. Querendo dizer que Jesus mostra como Deus realmente é, e o que ele gosta que façamos. O pensamento relembra o dito do próprio Jesus, registrado nos quatro evangelhos; “Aquele que me viu, viu o Pai”. O cristianismo é baseado na doutrina da encarnação, o que significa que, na crença de que “Deus estava em Cristo – não em escrituras, doutrinas, milagres, experiências subjetivas ou formas sacramentais. Mas numa pessoa histórica, no espírito de Cristo, na sua palavra, na sua vida e na sua morte”. Como resultado a virtude a perfeição cristã consiste na “imitação de Cristo. Enquanto para o judeu, a bondade está atrelada a tentativa de imitar, por aproximação, a perfeição de Deus. Pois o judaísmo não reconhece a encarnação do Ser Divino. Por isso o judaísmo rejeitou e rejeita Jesus como Filho de Deus e como uma encarnação do ser Divino. A ideia de Deus para o judeu, conforme estabelecida em detalhes no capítulo um desta obra “O conceito de Deus para judeus e cristãos, é a própria negação da Trindade e a doutrina da encarnação subjacente a ela. Mas para os cristãos, Jesus não somente é a encarnação de Deus, mas também o Messias e Redentor cujos adventos futuros estão anunciados nos livros da Bíblia Hebraica. O Novo Testamento é, portanto,  de forma bastante ampla, o empenho orquestrado para provar que Jesus foi o Messias prometido e que nele todas asf promessas proféticas foram concentradas. O judaísmo, por outro lado, afirma que Jesus não foi o Messias, pois não realizou as esperanças messiânicas. Os defensores do judaísmo, nas suas “Controvérsias Religiosas” organizadas pela Igreja Medieval e impostas aos judeus com a esperança de derrotar seu porta voz. Invariavelmente enfatizavam que nenhuma das promessas messiânicas foi realizada por meio de Jesus. Ele não estabeleceu a paz universal e justiça social para toda humanidade. Nem redimiu o povo de Israel, nem tampouco elevou as montanhas do Senhor acima do todo das alturas. No tocante aos judeus, seu próprio exílio e falta de um lar e a continuação da guerra, pobreza e injustiça são provas conclusivas de que o Messias ainda não chegou. Pois sua vinda, de acordo com as promessas proféticas, apressará a redenção do povo de Israel do exílio e a redenção de todo o mundo dos males da guerra, pobreza e injustiça. Foi defendida a tese de que Jesus não foi considerava o Messias e que esse papel foi atribuído a ele posteriormente pelos autores do Evangelho. Não estamos aqui preocupados em criticar o Novo Testamento. Foge ao objetivo do nosso tema tentar concluir quais pronunciamentos atribuídos a Jesus são autênticos e quais não são. O que realmente importa não são as exatas palavras que Jesus pronunciou, mas o espírito delas. Não resta dúvida, entretanto, que nos Evangelhos temos o ipssimus spiritus - o próprio Espírito de Jesus. Aparentemente a tradição ligada a Jesus deve ter fornecido aos escritores dos Evangelhos base suficiente para enfatizar seu caráter messiânico. De outra forma, seria inexplicável que todos os relatos evangélicos ressaltem  a ênfase dada pelo próprio Jesus a seu papel e missão messiânicas. A resposta de Jesus a pergunta de João Batista se ele era o prometido pelos profetas, mostra claramente que Jesus se considerava mesmo o Messias (Mateus 11,2-6) e, ainda mais, a admissão em seu julgamento diante do sumo sacerdote de ser “Cristo, o Filho de Deus” (Mateus 26,63-66) (Marcos 14,61-64) e (Lucas 22,67-71). Também provam conclusivamente que Jesus se considerava o Messias e, mais que isso, como o Filho de Deus. Essas duas pretensões o colocaram inevitavelmente em oposição eterna ao judaísmo, o qual não pode reconhecer Jesus como o Messias por ele não ter conseguido apressar a chegada da era messiânica. E por considerar a própria ideia de “Filho de Deus” como uma transgressão do monoteísmo puro. Pode então Jesus ser classificado pelo menos de “Profeta”, do ponto de vista judaico? A resposta é não, pois ele não atendia aos padrões da profecia hebraica exemplificada pelos profetas dos primórdios ou por aqueles mais recentes. O profeta hebreu foi, no seu todo o porta voz de Deus. Abraço. Davi

 

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