sexta-feira, 23 de agosto de 2024

OS MISTÉRIOS. Parte II

 

Religião Afro-brasileira. Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). OS MISTÉRIOS. Parte II. Somos capazes de irradiar fé, amor, justiça, ordem, conhecimento e até podemos gerar. A partir de nós mesmos, novos serres semelhantes a nós, inventos, ideias etc. Então a doutrina de Umbanda vê o homem como o ser feito a imagem e semelhança de Deus e portador dos mistérios divinos concernentes à espécie humana. Por isso, a exemplo dos antigos mystas e magos, ela recomenda o estudo dos mistérios. De modo que, sempre que se estuda um, descobrimos que somos capazes de ativá-lo externa e internamente. No externo, a ativação acontece quando vibramos um sentimento afim com uma divindade. E internamente acontece quando, após nos colocarmos em sintonia com o mistério irradiado pela divindade, conscientemente passamos a irradiar o mistério dela para nossos semelhantes. As divindades irradiam seus mistérios no sentido vertical e nós os irradiamos no sentido horizontal, ainda que as irradiações aconteçam em um círculo de 360 graus, igual à circunferência. Assim, um médium dotado de várias faculdades mediúnicas precisa passar por um aprendizado durante o qual irá aperfeiçoar-se e colocar-se em sintonia vibratória com as divindades portadoras dos mistérios que ele está apto a manifestar. As divindades são mistérios em si mesmas, porque estão de tal forma sintonizadas com Deus que manifestam os mistérios dele, a origem de todos os mistérios. Logo, o médium tem de fortalecer cada vez mais sua fé em Deus, pois só assim ele, o micro, será uma individualização do macro e irradiará horizontalmente o que lhe chega na vertical, ou do alto. A diversidade de dons mediúnicos é a prova da existência dos mistérios. Uns irradiam mistérios da Fé, outros irradiam mistérios do Amor, do conhecimento, da justiça, da evolução, da ordenação, da geração. O estudo das divindades nos dá o conhecimento necessário pra identificarmos com qual delas um médium está ligado. E, descobrindo isso, só precisamos estimulá-lo a se aperfeiçoar e direcioná-lo conscientemente no sentido do seu dom ou mistério. O resto ele fará por si, pois traz em si mesmo a centelha divina que crescerá a partir de seu íntimo e sustentará suas irradiações de amor, fé etc. Muitos acham cansativo ou enfadonho esse estudo dos mistérios. Mas o descaso que os teólogos de plantão têm dedicado aos mistérios é a causa de tentas decepções com os corpos mediúnicos das tendas de Umbanda. E mesmo nos centros espiritas os mistérios também não são estudados, ou se o são, fazem-no de forma incorreta, estudando-os de baixo para cima, quando o correto é estudá-los de cima para baixo. Jamais chegaremos aos mistérios se nos limitarmos somente ao estudo do homem, o qual não pode ser dissociado de Deus e das divindades. Deus está no topo de todas as hierarquias divinas. As divindades formam seus degraus e graus. O homem forma a base de todas as hierarquias, por meio das quais vai evoluindo e galgando graus conscienciais cada vez mais elevados. E tanto galga esses graus que muitas das hierarquias do Ritual de Umbanda Sagrada são pontificadas por espíritos humanos já ascensionados. Por ascensos entendam espíritos que evoluíram tanto, mas tanto, que se transformaram em mistérios de Deus ... em si mesmos. Consagrando-se à humanidade, auxiliando os espíritos que ainda estão trilhando o caminho que conduz as esferas celestiais. O homem não é um, ser perfeito em si mesmo, mas, por ser uma centelha divina portadora dos mistérios de Deus. Passa então por aperfeiçoamentos conscienciais que o tornam manifestador dos mistérios divinos herdados do seu Divino Criador. Assim como o homem-carne herda as características genéticas de seu pai. Também homem-carne, o homem-espírito herdou de Deus os mistérios divinos. Todos eles armazenados na centelha divina que o anima e o sustento vivo, vibrante, irradiante e pensante. Nesta herança divina guardada na centelha original está o sêmen original que, depositado no ventre da mãe divina, que é o Universo, gera um ser análogo a Deus. Contudo limitado à sua condição de ser espiritual, ainda sujeito a tornar-se um ser divino. A doutrina de Umbanda fundamenta nos mistérios os nomes simbólicos das linhas espirituais que baixam nos centros. Um espírito, aos apresentar-se com um nome simbólico, certamente é manifestador de um mistério regido por alguma divindade. Por isso, a identificação dos guias espirituais é importante. É por meio dela que ficamos sabendo se um guia é manifestador de um mistério do Orixá Oxóssi, de Ogum, de Xangô etc. Um Caboclo Sete Flechas manifesta um mistério de Oxóssi. Um Caboclo Sete Espadas manifesta um mistério de Ogum. Um Caboclo Sete Montanhas manifesta um mistério de Xangô. Os três são espíritos que entraram em sintonia vibratória com os respectivos Orixás e evoluíram sob a irradiação direta ou vertical deles. E chegaram a tal grau de afinidade que se tornaram irradiadores de um mistério dos seus respectivos regentes divinos. A flecha simboliza Oxóssi. A espada simboliza Ogu. A montanha simboliza Xangô. Oxóssi irradia em sete níveis vibratórios, e um Caboclo Sete Flechas atua nas sete irradiações do Orixá do Conhecimento. Ogum irradia em sete níveis vibratórios, e em Caboclo Sete Espalha atua nas sete irradiações do Orixá da Lei. Xangô irradia em sete níveis vibratórios, e um Caboclo Sete Montanhas atua nas sete irradiações do Orixá da Justiça. Com isso explicado, então podemos aquilatar o alcance dos mistérios desses três espíritos. Já que se tornaram irradiadores de várias qualidades de seus regentes, desenvolveram atributos em seus íntimos. Antes pertencentes só aos seus regentes e assumiram atribuições que antes seus regentes possuíam. Por isso são tidos na conta de espíritos de “elite”, que anularam a si mesmo e passaram a ser irradiadores que antes só os Orixás irradiavam. Por eles se tornaram irradiadores de mistérios? Porque desenvolveram “conscientemente” seus dons divinos e consagraram suas vidas aos mistérios divinos que mais os atraiu e com os quais se identificaram totalmente. Dentro de suas centelhas originais, estes mistérios também já existiam e eram suas heranças divinas. São micro mistérios dos macros mistérios que são os Orixás. A tendência natural será ascenderem cada vez mais, até que chegará um tempo em que não serão vistos à humanidade. Pois é isso que acontece com todos os seres que se consagram aos mistérios de Deus. Abraço. Davi. Continuar página. Na doutrina de Umbanda, estudam-se os mistérios e dedica-se uma atenção especial à forma como eles se mostram,  atuam e influem na vida dos espíritos, porque eles não existem apenas por existir. Eles atendem a desígnios de Deus e são manifestadores de qualidades, atributos e atribuições pertencentes somente a Ele, o Divino Criador. Em Deus está a origem, meio e fim de todos os mistérios. Uma divindade tanto manifesta quanto guarda em si mesma um ou vários mistérios. Logo, mistério e divindade são sinônimos de algo que pertence a Deus e indissociável dele. Pois só nele encontra sua origem, sustentação e finalidade. Sim, a finalidade de todo mistério e divindade é facilitar, de alguma forma, nosso crescimento interior, nossa evolução individual ou coletiva e nossa ascensão vibratória. Por isso citamos, o caso da oferenda ritual e dissemos que não são mistérios, mas sim, chaves que ativam os mistérios de Deus. E citamos o homem feito à imagem e semelhança de Deus, como um portador natural de dons análogos aos mistérios divinos. Existe um Orixá Oxóssi que é o irradiador natural de muitos ou todos os mistérios “vegetais” de Deus. Assim como existem espíritos que respondem pelo nome simbólico “Sete Flechas”, irradiadores de um ou vários mistérios do Orixá Oxóssi. Dão continuidade às hierarquias divinas, ocupando seus graus vibratórios humanos, pois são espíritos e são humanos. E, sendo um mistério imensurável e irradiador por uma divindade natural. Então o Orixá Oxóssi nos chega do alto do Altíssimo e é tão vasto que, só no Ritual de Umbanda Sagrada, já formou centenas de hierarquias. Cada uma manifestando um de seus mistérios vegetais que, embora sejam em “essência” vegetais, no entanto, distribuem-se horizontalmente a todos os seres e a todos os outros elementos essenciais. Abraço. Davi

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