quinta-feira, 15 de agosto de 2024

BUDISMO BÁSICO. Parte I

 

Budismo. Livro A Vida de Compaixão. Por Tenzin Gyatso (1935 - ) O Dalai-Lama. BUDISMO BÁSICO. Parte I. Apesar de acreditar que a compaixão e a afeição humanas sejam valores universais que transcendem as fronteiras da diferença religiosa. O significado da compaixão dentro do budismo está baseado em uma visão de mundo específica, com objetivos e métodos. Essa visão de mundo não expõe apenas o que expliquei anteriormente a respeito dos benefícios da compaixão e dos métodos para desenvolvê-la. Mas também mostra como o desenvolvimento da compaixão é parte integrante do entendimento budista da realidade e do caminho para a iluminação. Assim, pode ser útil fornecer algumas explicações sobre a filosofia budista. As quatro nobres verdades e a causalidade. Os ensinamentos fundamentais de Buda se baseiam nas quatro nobres verdades. Elas são a base do ensinamento budista. As quatro nobres verdades são a verdade do sofrimento, sua origem, a possibilidade da cessação do sofrimento e o caminho que leva a essa cessação. Os ensinamentos das quatro nobres verdades baseiam-se na experiência humana, no centro da qual está a aspiração natural para buscar a felicidade e evitar o sofrimento. A felicidade que desejamos e o sofrimento que afastamos, não são aleatórios, mas correm devido a determinadas causas e condições. Entender esse mecanismo causal do sofrimento e da felicidade é o objetivo das quatro nobres verdades. De modo a entender o mecanismo causal por trás de nosso sofrimento e de nossa felicidade, devemos analisar a causalidade com cuidado. Por exemplo, você pode pensar que suas experiências de dor e sofrimento e felicidade ocorrem sem razão. Em outras palavras, que não tem causa. Os ensinamentos budistas dizem que isso não é possível. Talvez você pense que o sofrimento e a felicidade sejam, de alguma maneira, causados por um ser transcendente. Essa possibilidade também é rejeitada no budismo. Talvez você pense que uma substância primeva possa estar na origem de todas as coisas. Os ensinamentos budistas rejeitam essa possibilidade também. Usando razões para eliminar essas possibilidades, o budismo conclui que nossas experiências de sofrimento e felicidade não ocorrem por moto próprio. Nem devido a alguma causa de existência independente, nem tampouco são o produto de alguma combinação dessas coisas. Pelo contrário, o ensinamento budista compreende a causalidade em termos do que chama de originação interdependente. Todas as coisas e acontecimentos, incluindo nossas experiências de sofrimento e felicidade, vem da reunião de uma multiplicidade e causas e condições. Entendendo o papel primário da mente. Se examinarmos com cuidado o ensinamento das quatro nobres verdades, descobriremos a importância primordial da consciência. Ou da mente, na determinação de nossas experiências de sofrimento e felicidade. O ponto de vista budista é que existem diferentes níveis de sofrimento. Por exemplo, há o sofrimento que é óbvio para todos nós, como as experiências dolorosas. Todos podemos reconhecer isso como sofrimento. Um segundo nível de sofrimento inclui o que definimos normalmente como sensações prazerosas. Na realidade, as sensações prazerosas são sofrimento porque carregam dentro de si a semente da insatisfação. Há também um terceiro nível de sofrimento, que na terminologia budista chama-se sofrimento penetrante do condicionamento. Poder-se ia dizer que esse terceiro nível de sofrimento é o simples fato de nossa existência como seres não iluminados sujeitos a emoções, pensamentos e ações cármicas negativas. Como significa, e é o que nos mantém presos a um ciclo negativo. Estar preso ao carma dessa maneira é o terceiro tipo de sofrimento. Se você olhar para esses três tipos diferentes de sofrimento, verá que em última instância estão baseados em estados de espírito. Na verdade, estados de espírito indisciplinados são por si só sofrimento. Se olharmos para a origem do sofrimento nos textos budistas, veremos que, embora leiamos sobre carma e sobre ilusão que motiva ação cármica. Estamos lidando com ações cometidas por um agente. Já que sempre há um motivo por trás de cada ação, o carma também pode ser compreendido em termos de estado de espírito, um estado de espírito indisciplinado. Da mesma forma, quando falamos sobre ilusão que fazem com que uma pessoa aja de modo negativo, elas também são estados de espírito indisciplinados. Portanto, quando os budistas se referem à verdade da origem do sofrimento. Estamos falando sobre um estado de espírito que é indisciplinado e indomado, um estado de espírito, um estado de espírito que obscurece nossa iluminação e que nos faz sofrer. A origem do sofrimento, a causa do sofrimento e o sofrimento em si, no final das contas, só podem ser entendidos em termos de estado de espírito. Quando falamos sobre a cessão do sofrimento, estamos falando apenas em relação a um ser vivo, um agente com consciência. Os ensinamentos budistas descrevem a cessação do sofrimento como o estado mais elevado de felicidade. Essa felicidade não deve ser entendida em termos de sensações prazerosas. Não estamos falando de felicidade no nível do sentimento ou da sensação. Estamos, isso sim,  nos referindo ao nível mais elevado de felicidade: total liberação do sofrimento e da ilusão. Mais uma vez, isso é um estado de espírito, um nível de realização. Por fim de modo a compreender nossa experiência de sofrimento e dor, e o caminho que leva à cessação – as quatro nobres verdades – temos que entender a natureza da mente. Mente e Nirvana. O processo pelo qual a mente cria o sofrimento no qual vivemos é descrito pelo mestre indiano Chandrakirti em seu Guia para o Caminho do Meio. Quando afirma: “Um estado de espírito indisciplinado dá origem a ilusões que levam um indivíduo a ações negativas. Que em seguida criam o ambiente negativo no qual a pessoa vive”. Para tentar entender a natureza da ausência de sofrimento que os budistas chamam de nirvana, podemos examinar um trecho do célebre Fundamento do Caminho do Meio, de Nagarjuna. Onde ele, de algum modo, equilibra a existência não iluminada (samsara) e a existência iluminada (nirvana). O que Nagarjuna explica é que não devemos pensar que existe uma natureza intrínseca, essencial de nossa existência, seja iluminada ou não. Do ponto de vista do vazio, ambas são igualmente desprovidas de qualquer tipo de realidade intrínseca. O que diferencia um estado não iluminado de um estado iluminado é o conhecimento e a experiência do vazio. O conhecimento e a experiencia do vazio do samsara por si só é o nirvana. A diferença entre samsara e nirvana é um estado de espírito. Assim, levando isso em conta, é legítimo perguntar: o budismo está sugerindo que tudo nada mais é do que a projeção da nossa mente? Essa é uma questão crítica que suscitou diferentes respostas de professores budistas ao longo da história do budismo. Por um lado, grandes mestres argumentaram que, em última análise tudo, até nossa experiência do sofrimento e felicidade, nada mais é do que uma projeção de nossa mente. Mas existe outra vertente que argumentou com veemência contra essa forma extrema de subjetivismo. Essa segunda vertente afirma que,  embora possa, em certo sentido, entender tudo, até mesmo as próprias experiências como criações da própria mente. Isso não significa que tudo esteja apenas na mente. Eles argumentam que é preciso manter um grau de objetividade e acreditar que as coisas de fato existem. Embora essa vertente também afirme que a consciência desempenha um papel na criação de nossa experiência e do mundo, ao mesmo tempo existe um mundo objetivo. Abraço. Davi

 

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