sábado, 17 de agosto de 2024

JESUS. Parte II

 

Judaísmo. Livro Judaísmo e Cristianismo – As Diferenças. Por Trude Weiss Rosmarin (1908-1989). Capítulo 8. JESUS. Parte II. Nenhum dos profetas de Israel alguma vez pregou em seu próprio nome ou por sua própria responsabilidade. O “Eu” dos profetas é Deus. O “Eu” de Jesus, entretanto, é ele próprio. Jesus ensinava por sua própria conta, frequentemente se opondo aos ensinamentos dos rabinos da época e enfatizando suas opiniões pessoais acima de qualquer coisa que já tivesse sido ouvida em Israel. Nenhum profeta ou mestre alguma vez profetizou ou ensinou por sua própria conta. Pelo contrário, empenhavam-se para encontrar justificativa para novos ensinamentos na Torá. De acordo com a convicção judaica, com o apoio dos sábios talmúdicos e devidamente resumido pelo Maimônides, “um profeta não deve aumentar ou diminuir”. Isto é, acrescentar ou revogar qualquer um dos mandamentos da Torá”. Jesus, por outro lado, fez exatamente isso. Sua ênfase exagerada na ética e sua deliberada violação da lei ritual o desqualificaram como profeta. Pois se os profetas exigiam justiça de preferência e sacrifícios para agradar a Deus, não afirmaram que os sacrifícios eram supérfluos. Mas somente enfatizaram que Deus não aceitaria as oferendas dos praticantes do mal. Jesus, entretanto, como ainda veremos, se reservava o direito de anular ou alterar certas leis e práticas rituais. A ênfase de Jesus em seus próprios ensinamentos, a maioria dos quais contrários ao verdadeiro espírito da profecia hebraica, culminou em sua reivindicação de possuir proximidade especial com Deus. Proximidade não compartilhada e nem mesmo semelhante à de qualquer outro ser humano. Assim, ele declarou: “Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e Eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo leve”. Nenhuma palavra desta natureza foi jamais pronunciada por um profeta ou mestre judeu. Pois as alegações contidas nela são contrárias à fé democrática judaica de que todos os seres humanos são iguais perante Deus e que não existe um “Filho de Deus” específico, que esteja mais próximo do Pai nos Céus do que os outros. A ideia de que uma pessoa em particular teria o poder de revelar ou não revelar, conforme sua “escolha”, a compreensão de Deus deve ter sido chocante para os contemporâneos judeus de Jesus, que eram ensinados a considerar apenas a Deus como a única fonte de toda a verdade. Os Evangelhos estão repletos de alegações feitas por Jesus de que mantém uma relação especial com Deus e com promessas àqueles que acreditarem nele de que serão recompensados por Deus. Assim, podemos ler: “Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos Céus”. Mateus 10,32. “Se alguém tem sede venha a mim e beba, aquele que crê em mim! Conforme a palavra da Escritura: de seu seio jorrarão rios de água viva”. João 7,37. “Para um discernimento é que vim a este mundo, para que os que não veem, vejam, e os que veem, tornem-se cegos”. João,39. “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. João 8,11. “Enquanto estou no mundo sou a luz do mundo”. João 9,5. “Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra viverá. E quem vive e crê em mim, jamais morrer`”. João 11,25. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim. Se me conheceis, também conhecereis a meu Pai. Desde agora o conheceis e o vistes”. “Quem me odeia, odeia também meu Pai”. João 15,23. “Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim, realiza suas obras”. João 14,10. Existem vários outros pronunciamentos de Jesus com o mesmo teor. Representam uma ostensiva, eterna e intransponível negação das convicções e ensinamentos judaicos, que não aceitam uma posição privilegiada de pessoa alguma. Deus, do modo como o judeu o conhece, está igualmente próximo de todos os seres humanos, e a sua proximidade depende de quão próximo eles querem que Ele esteja e quão próximo eles desejam chegar dele. Nenhum profeta judeu, nem mesmo Moisés, “o mestre dos profetas”, alguma vez afirmou estar mais próximo de Deis do que qualquer outro ser humano. Os profetas se consideravam servos de Deus e se empenhavam em cumprir sua tarefa fielmente, mas mantinham suas personalidades, seus amores, ódios e ambições. O máximo possível para um ser humano, separados de sua missão. Eram os porta vozes de Deus que precisavam proclamar sua mensagem, quer eles quisessem, quer não. Pois o fogo da divina inspiração consumia seu interior. O chamado era tão poderoso que, sob o seu impacto, a personalidade do profeta era quase esmagada e ele se tornava apenas um instrumento escolhido por Deus. Um instrumento a ser tocado de acordo com a vontade do seu criador, mas não para tocar uma melodia da sua própria vida. A diferença entre os profetas hebreus e Jesus não é menos evidente em suas respectivas atitudes quanto ao pecado e aos pecadores. A tradicional e perene tarefa dos profetas era censurar seus contemporâneos por seus pecados, mas não os perdoar. Jesus, entretanto, atribuiu a si próprio o poder de perdoar os pecados, o que o judaísmo reserva somente a Deus. Então Jesus declarou ao curar um paralítico: “O que é mais fácil dizer, seus pecados estão perdoados, ou dizer, levanta-te e anda. Mas saiba que o Filho do Homem possui autoridade para perdoar pecados na terra”. Mateus 9,2-6. Quando Jesus disse a uma mulher de má reputação que “seus pecados estão perdoados”, seus companheiros se chocaram exclamando: “Quem é esse homem, que até perdoa pecados”. Lucas 7,48. Pois tal intromissão nas prerrogativas divinas nunca foi ouvida em Israel. A exacerbação da própria personalidade de Jesus, a ênfase no “Mas eu digo ...” em vez de naquele por quem foi enviado, levou a que certas vezes agisse como se fosse Deus, o senhor da doença e da saúde, da vida e da morte. De modo bastante lógico e inevitável, a valorização excessiva de seus próprios poderes levou Jesus a traçar uma analogia entre ele e Deus. Uma analogia por meio da qual alegava ter o controle de poderes divino: “Como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, também o Filho dá a vida a quem quer. Porque o Pai a Ninguém julga, mas confiou ao Filho todo julgamento. A fim de que todos honrem o Filho com honram o Pai. Quem não honra o Filho , não honra o Pai que o envio”. João 5,18-23. Abraço - Davi

Nenhum comentário:

Postar um comentário