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XINTOÍSMO MITOLOGIA E INFLUÊNCIA na formação da cultura e do carácter do povo
japonês. Parte II. O Nihongi descreve que após o nascimento de Awaji e de
Hiruko, Izanagi e Izanami produzem o mar, os rios, as montanhas, as árvores e
as ervas. O Kojiki lista o nascimento de outros elementos da natureza, nascendo
por último o deus do fogo Kagu Tsuchi (ibidem p. 64-65). Do parto, Izanami tem
sua genitália queimada, adoece, morre e desce ao reino dos mortos. Izanagi mata
então o filho Kagu-tsuchi, lhe cortando o pescoço e de seu cadáver, nascem os
deuses da montanha (HERBERT 1977, p. 48-50). Izanagi não se conformando vai
buscar Izanami e lhe é pedido que espere enquanto ela pediria autorização para
o Kami de Yomi (divindade das Trevas). Mas Izanami se demora e impaciente,
Izanagi busca pela amada; ao encontrá-la,
Izanami já tendo se alimentado da comida dos mortos, encontra-se com o
corpo já putrefato. Da cabeça, do peito, do ventre, da genitália, das mãos e
dos pés de uma Izanami enfurecida saem então oito divindades, as deusas do
Trovão (ibidem p. 50-51). Izanagi brande sua espada mas em vão. Estas, juntas
com Izanami encolerizada perseguem Izanagi que lhes atira um ornato de cabeça
preto que transformando-se em uva, é recolhido pelas divindades. Na fuga,
desesperado, Izanagi atira três pêssegos às “horríveis mulheres de Yomi” e
enquanto estas os comem, ele consegue escapar e fechar o reino dos mortos atrás
de si, mas ouve a maldição de Izanami: "irei ao seu mundo todos os dias e
trarei mil almas para o meu reino", ao que responde Izanagi: "e eu
farei com que nasçam 1500 descendentes meus por dia" (ibidem p. 52,54). Esta maldição parece habitar ainda no
inconsciente coletivo, representada quase sempre pela mulher como os seres
terrificantes do mundo dos mortos. O homem é sempre a vítima aterrorizada. De
fato, constitui tabu corrente para o japonês a invasão do mundo dos mortos,
assim como a profanação do mundo dos kami, que pode resultar em algum mal,
advertência que encontramos no provérbio "Sawaranu Kami ni
tatarinashi" (não provém mal de kami que não é incomodado) (HARADA, op.
cit., p. 46). Izanagi ao chegar ao reino
dos vivos com as vestes esfarrapadas e putrefatas vai banhar-se no rio.
Atribui-se a este fato o grande apreço do hábito do banho e a utilização da
água em rituais de purificação xintoístas. Neste ato, de seu olho esquerdo
nasce Amaterasu, a deusa do sol, de seu olho direito, Tsukiyomi, o deus da lua,
e de seu nariz, nasce Susanowo, o deus dos mares (HERBERT, 1977, p. 56). É
designado o reino dos Céus - Takama-no-hara - como habitação de Amaterasu, mas
não se conformando com o reino dos mares que lhe foi designado habitar,
Susanowo vai de vez em quando ao reino da irmã e lhe faz algumas maldades como
destruir os diques da plantação de arroz (ibidem p. 62). No texto do Kogoshui
lê-se que enquanto a deusa Amaterasu trabalhava nos seus arrozais, Susano-wo fincava estacas na plantação anunciando
seu direito de propriedade, semeava campos já semeados ou abria-lhe os diques
danificando a plantação de arroz (ibidem p. 72-73). Quando Susano-wo atira um
cavalo escanhoado na oficina de tear da irmã, que inspecionava o trabalho das
tecedeiras, estas se assustam, se ferem gravemente nos teares e morrem (ibidem
p.75). Amaterasu, decepcionada, se
retira para uma caverna e o universo mergulha na mais completa escuridão. Os
deuses encarregam a divindade Omoikane-no-kami (Aquele que Integra o
Pensamento) para trazer Amaterasu de volta. Este manda fazer um espelho místico
de oito lados e junto com um colar de pedras preciosas os põe numa árvore
sakaki - trazida do Monte Kagu -, na entrada da caverna, dispondo na base,
oferendas. O deus então “reúne aves que cantam longamente ao País da Eternidade,
e lhes faz lançar um ao outro seu canto prolongado” (ibidem p. 77). A tradição
representa este ato – o canto preparatório para a cerimônia de resgate da deusa
Amaterasu – nos portais chamados torii, à entrada dos santuários, indicando o
limite entre o sagrado e o profano. O torii, que significa poleiro de aves, é
também construído em locais considerados sagrados. A deusa
Ame-no-Uzume-no-mikoto sobe em cima de uma prancha que ressoa a seus pés e
dança como se estivesse possuída por uma divindade pronunciando palavras
divinamente inspiradas e descobre seus seios durante a dança (ibidem p. 84). A
dança fez rir os oitocentos kami, o que atraiu a atenção de Amaterasu. Espiando
levemente, surpreende-se com o riso das divindades e a alegria de Ame-no-uzume
que lhe diz estarem todos contentes por haver ali um kami mais ilustre que
Amaterasu (ibidem p. 86). Os deuses encarregados aproximam então o espelho da
deusa Amaterasu que, surpresa, deixa pouco a pouco a entrada da caverna para
contemplá-la. Os deuses rapidamente fecham a caverna e ali põem um shimenawa,
uma corda de palha de arroz trançada, e o mundo volta a ter o brilho do sol. 5
.Os deuses decidem proibir então a entrada de Susanowo no reino enviando-o
definitivamente para o reino de Izumo, expulsando-o do reino dos Céus. Em Izumo
Susanowo encontra um casal de velhinhos chorando porque o monstro de oito
cabeças e oito caudas, cujo corpo sanguinolento e flamejante de comprimento que
se estende por oito vales e oito colinas, em cujas costas crescem musgos e árvores
- uma grande serpente (ou dragão) chamada Yamata-no-Orochi - que já havia
devorado sete de suas oito filhas, viria buscar a última (ibidem p. 93).
Susanowo diz que matará o monstro e pede que providenciem então oito barris de
saquê destilados oito vezes, postos em cada uma das oito plataformas atrás das
oito portas (ibidem p. 94). Após algum tempo de espera, surge o gigante monstro
aterrador que, atraído pelo cheiro da bebida feita de arroz fermentado,
mergulha as oito cabeças nos oito barris, após passar pelas oito portas e
bebendo o saquê, logo adormece e Susanowo decepa as oito cabeças com sua espada
de oito palmos. Ao decepar também a cauda do monstro, danifica o corte da
lâmina mas aí encontra uma grande espada cortante, conhecida como Kusanagi-no-tachi
que posteriormente envia à deusa Amaterasu (idem). Ambas as espadas são
veneradas em santuários. A primeira, chamada de Orochi-no-aramasa, que matou a
serpente gigante é venerada no santuário Iso-no-kami-jingu na província de Nara
e a outra, após breve passagem pelas mãos da deusa Amaterasu, (HERBERT, 1964,
p. 243) é venerada no santuário Atsuta Jingu (HERBERT, 1977, p. 95). Os outros
dois objetos sagrados, o espelho e o
colar de pedras preciosas são venerados no santuário de Ise na província de
Mie, o mais importante do xintoísmo (HERBERT, 1965, p. 109). A moça, de nome
Kushinada, casa-se então com Susanowo e na sexta geração, nasce o deus
Okuni-nushino-kami (Grande organizador e consolidador da Terra) (HERBERT, 1977,
p. 95-96). O príncipe Ninigi, neto de Amaterasu, recebe dos ancestrais celestes
os três tesouros sagrados: o espelho, a espada e as joias, antes de partir para
a Terra com a missão de consolidá-la (ibidem p. 124). Segundo o Kojiki,
Amaterasu ao entregar o espelho diz ao príncipe Ninigi: "considera este
Espelho exatamente como se fosse Nosso augusto Espírito e venera-o como se tu
venerasses a Nós" (HERBERT, 1964, p. 234). Segundo Kitabatake, a deusa
teria dito também ao neto: " ilumine o mundo inteiro com o brilho desse
Espelho. Reine sobre o mundo pelo maravilhoso [poder de] dominação dessas
Joias. Triunfe sobre aqueles que não se submetem brandindo essa Divina
Espada" (ibidem p. 245). Na Terra, Ninigi casa-se com a filha de
O-yama-tsu-mi, Kono-hana-saku-yahime que dá à luz quatro ou cinco filhos
(HERBERT, 1977, p. 126-127), um dos quais, 6 .de nome Hiko-ho-ho-demi casa-se
com Toyo-tama-hime, que se torna mãe de Ugayafukiya-aezu. Este, casando-se com
Tama-yori-hime torna-se pai de Kamu Yamato no Iware-hiko, mais tarde conhecido
como Jinmu Tennô, o primeiro imperador (HERBERT, 1964, p. 52) que funda o país
em 11 de fevereiro de 660 a. C. (SIEFFERT, 1968, p. 13). Como não havia
caminhos no país, a deusa Amaterasu envia ao imperador Jinmu um corvo de três
patas de nome Yatagarasu como guia para penetração no interior do país
(HERBERT, 1965, p. 217). Simbolismos. O erudito Chikafusa Kitabatake (1292-1354)
fala sobre o simbolismo dos três tesouros do xintoísmo: O espelho não possui
nada que realmente lhe pertença, mas,
sem desejos egoístas, reflete todas as coisas revelando as suas
verdadeiras qualidades. Sua virtude
reside na sua reação a essas qualidades, e como tal, ele representa a fonte de toda honestidade. A virtude das
jóias reside na sua doçura e
docilidade: são a fonte da compaixão. A virtude do sabre reside na
sua força e determinação: é a fonte da
sabedoria. A menos que o soberano
reúna em si mesmo estas três virtudes, terá
grande dificuldade em governar
o país (apud in
HERBERT,1964,p.248)(m.t.)3. O Espelho. A tradição de não se materializar em
formas visíveis as divindades, é revelada pela ausência de imagens ou ídolos
como objetos de adoração nos santuários xintoístas (HARADA, op. cit., p. 45). O
espelho não é propriamente objeto de adoração, mas "tipifica o coração
humano que na sua pureza reflete a imagem da divindade"(idem). "O
espelho limpo reflete as coisas tais quais são; simboliza a límpida mente do
kami e ao mesmo tempo é considerado como a simbólica corporificação sagrada
entre o fiel e o kami" (ONO, op. cit., p.23). No Jinno Shotoki, de 1339,
explica Kitabatake: "O espelho é a fonte da honestidade porque ele tem a
virtude de responder de acordo com a forma dos objetos. Ele aponta os desejos
divinos da justiça e da imparcialidade." (idem) Em alguns santuários
xintoístas, os fiéis quando querem reverenciar mais formalmente algo além da
tradicional reverência na entrada dos santuários, são conduzidos pelo monge ao
local sagrado onde está postado um espelho: sutil mensagem que convida o
visitante à autorreflexão (HARADA, op. cit., p. 45). Fazendo uma análise a partir do nome, Hayao Kawai, moderno estudioso do Xintô,
diz que kagami (espelho) deriva de kage (sombra ou reflexo) e mi (ver).
Amaterasu ao aceitar sua imagem refletida no espelho, aceitou também o
"lado escuro do seu espírito virgem", isto é, ao se recolher, os
oitocentos deuses do Alto Plano dos Céus (Takama-no-hara) ficaram no escuro,
mas a Deusa do Sol acabou também experienciando a escuridão do seu espírito.
Assim como os humanos têm o lado obscuro e desconhecido da mente, para ser
perfeita ela precisava ter a sombra. (KAWAI, 1964, p. 183). O torii. Os
santuários xintô são precedidos pelos característicos portais torii, numa
referência às aves que contribuíram para a saída da deusa Amaterasu da caverna,
intrigada com seu canto (ROCHEDIEU, op. cit., p. 131). Constitui-se de duas
traves verticais encimadas por duas horizontais. Postadas antes dos acessos aos
santuários, separa "o mundo secular, o exterior impuro do terreno sagrado
que envolve o santuário. Traz geralmente os "gohei" - tiras de papel
branco cortadas em ziguezague dependuradas, indicando a presença de deuses. Ao
passar por ele, o visitante do santuário simbolicamente se submete a um ritual
de purificação das impurezas acumuladas no mundo exterior" (LITTLETON, op.
cit., p.70). O Shimenawa Hoje, comumente vista na entrada dos santuários e nos
torii, a corda trançada representa a sombra do sol (ibidem p. 87). É posta
também em locais de particulares após ritos de purificação, o que preserva o
local de más influências e mantém afastados os maus espíritos (HERBERT, 1967b,
p. 115). Simbolicamente indica locais onde estão as oferendas aos kami ou locais
sagrados onde habitam (ONO, op. cit., p. 26). Página 9. Abraço. Davi.
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