quinta-feira, 30 de maio de 2024

AVISOS ÚTEIS PARA A VIDA ESPIRITUAL. Parte I

 

Cristianismo. Livro Imitação de Cristo. Por Tomás de Kempis (1380-1471). INTRODUÇÃO. Por Paulo Matos Peixoto. Imitação de Cristo, depois da Bíblia, de imediata inspiração divina, é a maior, mais difundido, mais benéfico, mais admirável, mais amado, mais popular, mais balsâmico de todos os livros que, em todos os tempos, vieram a luz neste mundo. É também – ainda excluindo-se a Bíblia – o mais velho dos livros de leitura permanente. Tem cinco séculos de vida e de ação nas consciências, nos corações e nas almas. Durante estes mais de quinhentos anos, seus textos simples, mas profundos, consolam, aconselham, nutrem o espírito e lapidam os sentimentos da humanidade. O tempo não lhe amorteceu a pertinência, nem saturou a expectativa dos homens pelo próprio aperfeiçoamento espiritual. Nenhum outro livro, místico ou profano, pode reunir textos que, a par da singeleza, fossem animados por linguagem tão direta e tão penetrante, tão capaz de arrebatar, de conter e de salvar. Nenhum outro escrito humano foi, nestes séculos, tão fértil em persuadir pela branda doçura, pela suave compulsão do bem e do amor, nem alcançou tantas almas e comoveu tanta gente. Mais admirável ainda neste livrinho simples é que lhe procuram consolo, o estímulo e o rumo, ao mesmo tempo os espíritos iluminados da fé e aqueles que ainda estão submersos na escuridão da descrença e do pecado. Abrem suas páginas, na ânsia da mesma procura, os mansos e os violentos, os que já encontraram Deus, os que o aguardam e os que ainda não creem. Todos sentem, sob a luz de seu espírito de amor e de força, estímulos para a vida e aquela ressonância que encaminha para Deus. O autor de Imitação de Cristo foi de espírito de intensa força interior e de um profundo e privilegiado compreendedor de almas. Sua psicologia é universal e transcende espaços, tempos, culturas e peculiaridades étnicas. Capaz de penetrar nos corações de todos os homens. O inigualável psicólogo ofertou ao mundo normas de vida nobre que se destinavam aos seus coevos e aos seus pósteros. O livro foi escrito por um monge, e para monges e monjas, na densa atmosfera de um convento, em plena civilização medieval, envolta em seus obscurantismos e animada pelo primado da força e do poder, como essência dos sistemas. E nisso há outro mistério. Como se o autor se libertasse das paredes de pedra e das barreiras de uma civilização precária e discriminadora, projetou-se para os tempos futuros. Considerou a alma humana em sua perenidade, sujeita, sempre às mesmas angústias, tristezas, alegrias, paixões e incertezas. Atingiu todas as gerações, com sua palavra permanente atual, que prega o Evangelho eterno, a união com Deus, a convivência com o próximo. A Imitação de Cristo, não tem pátria, nem ambiente, nem época. Tornou-se, universal que é, um patrimônio da humanidade. E isso bem se vê no fato de estar a obra difundida em todas as línguas, para todas as gerações de todos os povos, em contínuas edições. O autor, segundo é hoje crença geral, foi o frei Tomas de Kempis, nascido no ano de 1380, na Alemanha, no pequenino povoado de Kempen, nas proximidades de Colônia. Tomas foi monge agostiniano e viveu no mosteiro de Santa Ana. Tendo recebidos as ordens eclesiásticas em 1412 e permanecido a vida inteira, até os 91 anos, quando morreu, na importante função de mestre de noviços. Dessa vivência de condutor de almas nasceu-lhe a insigne obra que iria ser a peregrina do amor, do consolo e da piedade para a humanidade de todas as épocas. Tomas morreu em 1471, em Zwolle, distrito de Utrecht, deixando ainda outras obras catequéticas. Não importa que algumas das assertivas escritas no livro possam ser reformuladas, tendo-se em vista a época, o ambiente e o estágio de civilização em que foi escrito. A verdade é que conseguiu traduzir para o entendimento e para a sensibilidade humana as coisas divinas, êxito que nenhuma outra obra atingiu. Fala em linguagem humana as coisas divinas, e há séculos que alimenta o espírito dos homens e revela o caminha da vida ideal que é a suprema aspiração de todos. E essa tarefa sem dúvida não prevista pelo insigne autor, vai ser levada avante pelo perpassar de vários séculos. Ao oferecer a nossos amigos este livro inestimável, formulamos o mais firme desejo de que ele seja a luz que espante as sombras do caminho. Levando a alma de cada um a centelha de amor que explode em suas páginas.

Cristianismo. Livro Imitação de Cristo. Por Tomas de Kempis. AVISOS ÚTEIS PARA A VIDA ESPIRITUAL. 1. A imitação de Cristo, e o desprezo de todas as vaidades do mundo. “Quem me segue não anda em trevas”, diz o Senhor em João 8,12. São palavras de Cristo que nos exortam a imitar sua vida e costumes, se verdadeiramente quisermos ser iluminados e livres de toda a cegueira de coração. Seja, pois, nosso principal empenho meditar sobre a vida de Jesus Cristo. A doutrina e Cristo excede todas as doutrinas dos santos e quem tiver o seu espírito há de encontrar o maná escondido. Acontece, porém, que muitos, apesar de ouvirem amiúde o Evangelho, pouco fervor experimenta, porque não possuem o espírito de Cristo. Quem quiser, pois, compreender e saborear toda a plenitude das palavras de Cristo deve esforçar-se em conformar com Ele toda a própria vida. Que te aproveita discorrer profundamente sobre a Trindade, se não es humilde e assim desagradas a mesma Trindade? Na verdade, não são palavras sublimes que fazem o homem santo e justo. É a vida virtuosa que o torna agradável a Deus. Prefiro sentir compunção a saber-lhe a definição. Se soubesse de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem o amor e a graça de Deus? “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” Eclesiastes 1,2. Exceto a amar a Deus e só a Ele servir. A suprema sabedoria consiste em entender o reino dos céus pelo desprezo do mundo. A vaidade é, pois, amontoar riquezas perecíveis e nelas pôr a sua confiança. Vaidade, é também ambicionar honras e desejar posições de destaque. Vaidade, seguir os apetites da carne e desejar aquilo pelo que, depois, serás severamente castigado. Vaidade, desejar longa vida e não cuidar que seja boa. Vaidade, preocupar-se só com a vida presente e não prever o que há de vir depois. Vaidade é amar o que tão depressa passa e não demandar pressuposto a felicidade que sempre dura. Lembra-te com frequência do provérbio: “Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir” Eclesiastes 1.8. Procura , pois, desviar teu coração das coisas visíveis e transportá-lo às invisíveis. Porque os que seguem a própria sensualidade mancham a consciência e perdem a graça de Deus.

2. O humilde juízo de si mesmo. Todo Homem. Todo homem tem o desejo natural de saber. Mas que vale a ciência sem o temor de Deus? Por certo, melhor é o camponês humilde que serve a Deus, que o filósofo soberbo que, descuidando a sua alma, observa o curso dos astros. Quem os conhece bem, despreza-se e não se compraz nos louvores humanos. Se eu soubesse quanto há no mundo e não tivesse caridade, de que me serviria isso perante Deus, que me há de julgar segundo minha obra? Modera-te no demasiado desejo de saber, porque nele encontrarás muita dissipação e desengano. Gostam os doutos de se mostrar e ser proclamados sábios. Muita coisa há, cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma. E muito louco é quem se ocupa de coisas que não interessam à salvação. Muitas palavras não satisfazem à alma, mas uma palavra santa conforta o coração e uma consciência para inspirar grande confiança em Deus. Quanto mais e melhor souberes, tanto mais rigorosamente serás julgado, se com isso não viveres mais santamente. Não te envaideças, pois, de qualquer arte ou ciência, antes, teme pelos conhecimentos que adquiristes. Se te parece que sabes e entendes bem muitas coisas, lembra-te que é muito mais o que ignoras. “Não te ensoberbeças” Romanos 11,20. Antes, confessa a tua ignorância. Por que queres antepor aos demais, quando há tantos mais doutos do que tu e mais versados na lei? Se queres proveitosamente saber e aprender alguma coisa, estima ser ignorado e tido em nenhuma conta. Não há melhor e mais útil estudo que conhecer-se perfeitamente e desprezar-se a si mesmo. Ter-se por nada e pensar sempre bem e favoravelmente dos outros é prova de grande sabedoria e perfeição. Ainda quando vires alguém pecar publicamente ou cometer faltas graves, nem por isso te deves julgar melhor, pois não sabes quanto tempo poderás perseverar no bem. Todos somos fracos, mas não tenhas a ninguém por mais fraco do que tu. Abraço. Davi.

 

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