Religião Afro-brasileira.
Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). Capítulo IV.
UMBANDA E A SOCIEDADE. A tímida Umbanda, nascida às escondidas, hoje se mostra
como uma religião de fato, e a cada dia sua existência vem se destacando no
cenário religioso brasileiro e adquirindo uma respeitabilidade ímpar. Pois ela
é, de fato, a religião brasileira por excelência. Não fica nada a dever às
outras religiões que aqui se fixaram. A Umbanda ainda está na sua primeira
idade e já mostra um vigor, uma exuberância, digna do povo brasileiro, também
jovem, exuberante e cordial. A Umbanda é, talvez, a única religião que pode ser
chamada de social, sendo que tem se dedicado desde seu nascimento às pessoas e
suas necessidades básicas e imediatas. Os sacerdotes de Umbanda são oriundos de
todas as classes sociais e trazem como formação pessoal suas lides diárias com
os vários problemas que assolam a sociedade brasileira e espezinham a vida dos
seus cidadãos. A tímida Umbanda do começo do século XX (1901-2000) dedicava-se
a consolar, esclarecer e confortar o coração e a mente das pessoas que
procuravam nos médiuns um primeiro socorro espiritual. Esta sua faceta social e
socorrista impõe-se como uma de sus características fundamentais. O tempo
provou como foram sábios os espíritos semeadores da religião de Umbanda, assim
até hoje a Umbanda é sinônimo de socorro imediato e pronto socorro espiritual.
Não são as pessoas que acorrem aos centros de Umbanda quando se sentem
desenganadas com a medicina, desiludidas com outras religiões e desencantadas
com o amparo que a própria sociedade lhes deveria proporcionar. É nos centros,
acolhidos por sacerdotes despidos de toda pompa e de todos os tiques
religiosos, sendo simples, mas portadoras de dons espirituais, que os aflitos
consulentes recebem palavras de conforto espiritual. Também consolo fraternal e
esclarecimentos que lhes devolverão a fé em Deus e a confiança em si mesmos,
auxiliando-os em suas caminhadas terrenas. Grande tem sido o trabalho realizado
pelos sacerdotes de Umbanda, porque sendo eles partícipes desse povo que luta,
sofre e evolui a duras penas, são conhecedores das mazelas da vida daqueles que
os procuram. Divino tem sido o trabalho dos dirigentes umbandistas que,
discretamente, têm sustentado em torno de suas federações os muitos centros que
nascem naturalmente por todo o Brasil. E desprovidos de recursos materiais, mas
movidos pela fé e pela boa vontade. Tem imposto uma ordem às manifestações
espirituais que acontecem em todos os cantos e a todo instante. Mantendo uma
convivência pacífica com outras religiões desde o nascimento da Umbanda, quando
ela se realizava nos fundos dos barracões. A Umbanda nasceu humilde, entre os
humildes, e tem falado a todos os brasileiros por intermédio da humildade. A
Umbanda não constrói templos gigantescos ou luxuosos, uma vez que, pompa e luxo
não fazem parte de seus fundamentos. A umbanda não se preocupa senão com a
espiritualização das pessoas e em cuidar daqueles que são portadores de dons
naturais, mas que nas outras religiões são agregados ou excluídos. Grande tem
sido o trabalho da Umbanda no campo social, dado que acolhe pessoas
desesperadas, confundidas e desacreditadas de suas próprias potencialidades e.
Pouco a pouco, vai desenvolvendo a esperança, esclarecendo-as da
transitoriedade de suas situações e devolvendo-lhes a fé em Deus. E a esperança
de um futuro de paz, harmonia e fraternidade. Se em alguns aspectos a sociedade
brasileira ainda não reconheceu o imenso e ordenador trabalho realizado pela
Umbanda, isso de deve aos próprios sacerdotes de Umbanda. Eles creditam suas
realizações neste campo à espiritualidade, aos Orixás e a Deus. Tal vez por
estarem conscientes da transitoriedade da vida na carne, os sacerdotes de
Umbanda não procuram o reconhecimento da sociedade para o imenso trabalho que
realizam em favor desta mesma sociedade, da qual também são membros. Todavia,
com certeza, dispensam as luzes dos holofotes porque preferem ser iluminados
pela luz do amor divino, amor este que os move diuturnamente e os leva aos
encontros das vontades divinas. Esses são o amor fraterno, a concórdia entre
todos os seres e a espiritualização da sociedade brasileira, berço natal da
Umbanda. A única religião que reuniu em si três outras religiões: a europeia, a
indígena e a africana, mostrando a todos que divisões religiosas só existem na
mente dos racistas ou dos preconceituosos. Sendo que aos olhos de Deus todos
somos seus Filhos diletos e amados. A Umbanda, enquanto religião nascente,
ainda não está livre da presença dos aproveitadores da boa-fé das pessoas,
porém até desses o tempo se encarregará de afastá-los e devolvê-los às suas
origens pré Umbanda. A nós, os responsáveis no plano material pela guarda da
simplicidade da Umbanda e pela sua mensagem fraterna, social e espiritual,
compete contê-la em seu curso natural. É só uma questão de tempo para que a
sociedade reconheça o imenso trabalho que ela realiza em benefício do povo
brasileiro. Sem exigir nada em troca, todavia não foi para pedir, exigir ou
dominar que ela foi criada. Deus a criou para doar, doar e doar! A Umbanda doa
consolo, conforto, esclarecimento, fé e amor. E nós, os umbandistas, só
queremos doar nossos dons naturais em favor de nossos semelhantes. Que Deus os
abençoe em nome da Umbanda, em razão de que é só uma questão de tempo para
todos reconhecerem nela uma benção de Deus e uma dádiva dos sagrados Orixás.
Saravá, meus irmãos em Oxalá ! Abraços. Davi.
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