sexta-feira, 10 de maio de 2024

UMBANDA E A SOCIEDADE

 

Religião Afro-brasileira. Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). Capítulo IV. UMBANDA E A SOCIEDADE. A tímida Umbanda, nascida às escondidas, hoje se mostra como uma religião de fato, e a cada dia sua existência vem se destacando no cenário religioso brasileiro e adquirindo uma respeitabilidade ímpar. Pois ela é, de fato, a religião brasileira por excelência. Não fica nada a dever às outras religiões que aqui se fixaram. A Umbanda ainda está na sua primeira idade e já mostra um vigor, uma exuberância, digna do povo brasileiro, também jovem, exuberante e cordial. A Umbanda é, talvez, a única religião que pode ser chamada de social, sendo que tem se dedicado desde seu nascimento às pessoas e suas necessidades básicas e imediatas. Os sacerdotes de Umbanda são oriundos de todas as classes sociais e trazem como formação pessoal suas lides diárias com os vários problemas que assolam a sociedade brasileira e espezinham a vida dos seus cidadãos. A tímida Umbanda do começo do século XX (1901-2000) dedicava-se a consolar, esclarecer e confortar o coração e a mente das pessoas que procuravam nos médiuns um primeiro socorro espiritual. Esta sua faceta social e socorrista impõe-se como uma de sus características fundamentais. O tempo provou como foram sábios os espíritos semeadores da religião de Umbanda, assim até hoje a Umbanda é sinônimo de socorro imediato e pronto socorro espiritual. Não são as pessoas que acorrem aos centros de Umbanda quando se sentem desenganadas com a medicina, desiludidas com outras religiões e desencantadas com o amparo que a própria sociedade lhes deveria proporcionar. É nos centros, acolhidos por sacerdotes despidos de toda pompa e de todos os tiques religiosos, sendo simples, mas portadoras de dons espirituais, que os aflitos consulentes recebem palavras de conforto espiritual. Também consolo fraternal e esclarecimentos que lhes devolverão a fé em Deus e a confiança em si mesmos, auxiliando-os em suas caminhadas terrenas. Grande tem sido o trabalho realizado pelos sacerdotes de Umbanda, porque sendo eles partícipes desse povo que luta, sofre e evolui a duras penas, são conhecedores das mazelas da vida daqueles que os procuram. Divino tem sido o trabalho dos dirigentes umbandistas que, discretamente, têm sustentado em torno de suas federações os muitos centros que nascem naturalmente por todo o Brasil. E desprovidos de recursos materiais, mas movidos pela fé e pela boa vontade. Tem imposto uma ordem às manifestações espirituais que acontecem em todos os cantos e a todo instante. Mantendo uma convivência pacífica com outras religiões desde o nascimento da Umbanda, quando ela se realizava nos fundos dos barracões. A Umbanda nasceu humilde, entre os humildes, e tem falado a todos os brasileiros por intermédio da humildade. A Umbanda não constrói templos gigantescos ou luxuosos, uma vez que, pompa e luxo não fazem parte de seus fundamentos. A umbanda não se preocupa senão com a espiritualização das pessoas e em cuidar daqueles que são portadores de dons naturais, mas que nas outras religiões são agregados ou excluídos. Grande tem sido o trabalho da Umbanda no campo social, dado que acolhe pessoas desesperadas, confundidas e desacreditadas de suas próprias potencialidades e. Pouco a pouco, vai desenvolvendo a esperança, esclarecendo-as da transitoriedade de suas situações e devolvendo-lhes a fé em Deus. E a esperança de um futuro de paz, harmonia e fraternidade. Se em alguns aspectos a sociedade brasileira ainda não reconheceu o imenso e ordenador trabalho realizado pela Umbanda, isso de deve aos próprios sacerdotes de Umbanda. Eles creditam suas realizações neste campo à espiritualidade, aos Orixás e a Deus. Tal vez por estarem conscientes da transitoriedade da vida na carne, os sacerdotes de Umbanda não procuram o reconhecimento da sociedade para o imenso trabalho que realizam em favor desta mesma sociedade, da qual também são membros. Todavia, com certeza, dispensam as luzes dos holofotes porque preferem ser iluminados pela luz do amor divino, amor este que os move diuturnamente e os leva aos encontros das vontades divinas. Esses são o amor fraterno, a concórdia entre todos os seres e a espiritualização da sociedade brasileira, berço natal da Umbanda. A única religião que reuniu em si três outras religiões: a europeia, a indígena e a africana, mostrando a todos que divisões religiosas só existem na mente dos racistas ou dos preconceituosos. Sendo que aos olhos de Deus todos somos seus Filhos diletos e amados. A Umbanda, enquanto religião nascente, ainda não está livre da presença dos aproveitadores da boa-fé das pessoas, porém até desses o tempo se encarregará de afastá-los e devolvê-los às suas origens pré Umbanda. A nós, os responsáveis no plano material pela guarda da simplicidade da Umbanda e pela sua mensagem fraterna, social e espiritual, compete contê-la em seu curso natural. É só uma questão de tempo para que a sociedade reconheça o imenso trabalho que ela realiza em benefício do povo brasileiro. Sem exigir nada em troca, todavia não foi para pedir, exigir ou dominar que ela foi criada. Deus a criou para doar, doar e doar! A Umbanda doa consolo, conforto, esclarecimento, fé e amor. E nós, os umbandistas, só queremos doar nossos dons naturais em favor de nossos semelhantes. Que Deus os abençoe em nome da Umbanda, em razão de que é só uma questão de tempo para todos reconhecerem nela uma benção de Deus e uma dádiva dos sagrados Orixás. Saravá, meus irmãos em Oxalá ! Abraços. Davi.

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