Jainismo. O Livro das
Religiões. OS CINCO GRANDES VOTOS – O Ascetismo Conduz á Libertação Espiritual.
Em contexto. Principal figura: Mahavira. Quando e onde: A partir do século VI
a.C. na Índia. Antes: A partir de 1000 a.C. O conceito de samsara, o ciclo de
morte e renascimento, é desenvolvido por ascetas errantes da tradição indiana
shramana. Depois: Século VI a.C. A iluminação de Buda mostra-lhe forma de
escapar do samsara. A partir do século II a.C. No Budismo mahayana, os
bodhisattva – humanos iluminados que permanecem na Terra para ajudar os outros
– são reverenciados. Século XX. O Jainismo é reconhecido como uma religião
própria na Índia, separada do Hinduísmo. O Jainismo é a mais ascética e todas
as religiões indianas, propondo a abnegação para se alcançar a libertação –
moksha – e não precisa voltar para este mundo de sofrimento. O Jainismo
conforme o conhecemos foi fundado por Mahavira, contemporâneo de Buda, no
século VI a.C., mas diz-se que ele sempre existiu e sempre existirá. Dentro da
fé, Mahavira é visto simplesmente como o mais recente dos 24 professores
iluminados da era atual. Os jainas acreditam que cada era dura milhões de anos,
repetindo-se num ciclo infinito de eras. Os professores são chamados de jinas
ou tirthankaras, “fazedores de vau do oceano do renascimento”. A vida consiste
em um ciclo infinito de reencarnações. Para atingir a iluminação e escapar
desse ciclo, precisamos nos livrar do peso do carma. Para isso, devemos seguir
o exemplo dos grandes mestres que atingiram a libertação, como Mahavira. O
caminho é definido nos cinco votos: não violência, honestidade, castidade,
retidão e desapego. Se seguirmos esse caminho, também conseguiremos atingir a
iluminação. Responsabilidade pessoal. O Jainismo não reconhece nenhuma
divindade, colocando total responsabilidade nas ações e na conduta do
indivíduo. Para seguir uma vida de
abnegação, monges e monjas jainistas fazem os chamados Cinco Grandes Votos –
não violência, ahimsa, falar a verdade, satya, celibato, brahmacharya, não
pegar o que não é claramente oferecido, asteya e desapego de pessoas, lugares e
coisas, aparigraha. O mais importante desses votos é o ahimsa, a prática da não
violência, que se estende a todos os animais. Incluindo os menores organismos
encontrados na água ou no ar. Os outros quatro grandes votos preparam o monge
ou a monja para seguir a vida de um mendicante errante, dedicado a pregação,
jejum, devoção e estudo. O ascetismo é um fator essencial no jainismo. Conta-se
na religião que o próprio Mahavira andava nu, por ter estado tão compenetrado o
início de suas perambulações que não percebeu quando seu roupão ficou preso num
espinheiro. Mas no século IV d.C., muito tempo depois da morte de Mahavira,
houve uma dissidência entre os shvetambaras – vestes brancas – e os digambaras
– vestes celestiais – quanto à extensão da prática ascética. Os monges
shvetambaras acreditavam que o desapego e a pureza são qualidades mentais, não
influenciadas pelo uso de roupas. Os monges diganbaras, por sua vez, andam nus,
acreditando que o ato de usar roupas indica ainda um certo apego a sentimentos
sexuais e falsas ideias de modéstia. Alguns monges digambaras não carregam nem
a cumbuca de caridades, recebendo comida nas mãos em conchas. Os digambaras
também acreditam que a libertação do ciclo de renascimento não é possível para
as mulheres enquanto elas não reencarnarem como homens. Imagem dos Jinas ou
tirthankaras, os seres iluminados reverenciados no jainismo, são usadas como
objetos devocionais, e são o foco nas meditações enquanto preces e mantras são
recitados. Akaranga Sutra: “Graças à sabedoria, Mahavira não pecou, não induziu
os outros ao pecado nem consentiu com os pecados dos outros”. O símbolo adotado
pelo jainismo é uma disposição complexa de elementos dentro de um contorno que
representa o universo. Preocupações
mundanas na parte de baixo levam a morada dos seres celestiais. As três joias:
fé correta, conhecimento justo e boa conduta. A palma da mão, um lembrete para
parar e pensar antes de agir. A roda, o símbolo do ciclo de morte e
renascimento. A alma livre em sua morada superior. Os quatro estágios pelo qual
a alma precisa passar: celestial, humano, animal e infernal. A palavra ahimsa –
não violência – o princípio fundamental do Jainismo. Vivendo no mundo. Os
jainas laicos não fazem os Cinco Grandes Votos, mas fazem votos similares, em
menor quantidade: abdicar da violência, não mentir, não roubar, assumir a castidade
e evitar o apego a coisas materiais. Todos os jainas são vegetarianos, e devem
abrir mão de trabalhos que envolvam a destruição da vida. Alguns deles utilizam
apenas flores que já caíram da planta nos cultos, argumentando que arrancar uma
flor viva é um ato de violência. Os jainas laicos podem casar, mas devem manter
os mais elevados padrões de comportamento. Nesse caso, como em todas as áreas,
os jainas seguem o caminho das Três Joias: fé correta, conhecimento justo e boa
conduta. Alguns dizem que existe uma quarta joia: a penitência certa. A
expiação dos pecados é importante no jainismo. No festival anual Samvatsati,
depois de oito dias de jejum e abstinência durante a temporada das monções. Os
jainas confessam os pecados do ano que passou a familiares e amigos, e fazem
votos de não carregar rancores no próximo ano. A meditação também é importante,
e os rituais diários jainistas incluem sessões de 48 minutos, cujo objetivo é
ser um com o universo, perdoar e ser perdoado por todas as transgressões. 48 minutos
a trigésima parte de um dia, corresponde a
um mahurta, uma unidade de tempo padrão na Índia, geralmente utilizada
em rituais. Outras virtudes jainistas são servir os outros, dedicar-se ao
estudo religioso, desligar-se da paixão, demonstrar afabilidade e ser humilde.
O indivíduo passa a ter um mérito especial se doar comida para monges e monjas.
Todas essas práticas combinam-se com o ascetismo, exigido até de pessoas não
religiosas para reduzir o carma. Consequente de ações passadas que, segundo os
jainas, se acumulam na alma como uma espécie de substância física. Todo carma,
tanto bom quando ruim, deve ser removido para se alcançar a libertação. A ideia
é progredir gradualmente pelo caminho da iluminação espiritual, adquirindo
mérito aos poucos, uma vida após a outra. Um dos escritos sagrados do jainismo,
o Tattvartha Sutra, apresenta uma sequência de catorze estágios pelos quais a
alma deve passar para atingir a libertação. O primeiro estágio chama-se
mithyadrishti, no qual a alma se encontra em estado de letargia espiritual. O
último, chamado ayoga-kevali, é povoado por almas conhecidas como siddhas, que
já alcançaram a libertação espiritual. Esse estágio final está além do alcance
dos jainas laicos. Formas de devoção. Os jainas realizam seus cultos num templo
ou num local sagrado em casa. Os templos jainistas são vistos como réplicas dos
auditórios celestiais, onde os tirthankaras livres dão continuidade aos
ensinos. Diz-se que a adoração e a contemplação das imagens desses tirthankaras
produzem transformação espiritual interior. A forma mais simples de adoração,
também presente no hinduísmo, é chamada de darshan. Envolvendo contato visual
com a imagem de um tirthankara enquanto se recita um mantra sagrado. A
principal reza do jainismo é o navkar ou namaskar. Ao dizer este mantra, namo
namahar, o indivíduo honra as almas que se libertaram e recebe inspiração delas
em sua busca pessoal de iluminação. Apenas jainas monásticos que tenham
abraçado por completo uma vida de austeridade e desapego podem esperar subir os
catorze degraus rumo à iluminação espiritual. Oração jainista: “Peço perdão a
todos os seres vivos. Que eles me perdoem. Que eu possa ter um bom
relacionamento com todos os seres”. Mahavira. O reformista religioso Mahavira
nasceu em 599 a.C. no nordeste da Índia como o príncipe Vardhamana. Filho do
rei Siddhartha e da rainha Trishala, que, segundo a lenda, teve muitos sonhos
auspiciosos durante a gravidez. De acordo com a tradição jainista, Mahavira foi
colocado no útero da rainha por Indra, o rei dos deuses védicos. Conta-se que
Mahavira era tão dedicado a não violência que não chutou o útero da mãe, para
não lhe causar dor. Aos trinta anos, o príncipe Vardhamana deixou o palácio
para viver como asceta, renunciando ao conforto material e devotando-se
inteiramente a meditação. Doze anos depois, ele atingiu a iluminação e
tornou-se um grande mestre, sendo chamado de Mahavira. Após fundar uma
expressiva comunidade de monges e monjas jainistas, segundo a tradição, mais de
50 mil no total, deu forma ao jainismo atual. Mahavira morreu aos 72 anos, na
cidade de Pava, em Bihar, Índia, atingindo a libertação, moksa, do ciclo de
morte e renascimento. Abraço. Davi.
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