sábado, 27 de julho de 2024

RABI YEHUDA LOEW - O MAHARAL DE PRAGA. Parte II

 

Judaísmo. www.morasha.com.br. RABI YEHUDA LOEW – O MAHARAL DE PRAGA. Parte II. O Maharal, falecido em 1609, também influenciou a educação judaica. Enfatizava a necessidade de se entender a interpretação pura e literal das passagens da Torá. Insistia em que as crianças primeiro dominassem o Tanach – os 24 livros que compõem a Torá Escrita – e a Mishná – compilação fundamental da Torá Oral – antes de estudarem a Guemará – a análise rabínica, discussão e comentários sobre a Mishná – em conjunto com a própria Mishná, que constituem o Talmud. Ele priorizava o estudo dos textos-base sagrados no Judaísmo enquanto era, também, profundo místico e cabalista. Conseguia articular profundos conceitos da Cabalá em uma linguagem mais convencional, tornando esses ensinamentos acessíveis até a estudiosos não versados no misticismo judaico. Sua abordagem multifacetada e penetrante ao estudo da Torá teve grande influência em dois importantes movimentos religiosos no século XVIII. Como comentou o Rabi Avraham Yitzhak Kook (1865-1935), primeiro Rabino-Chefe do Estado de Israel, a influência do Maharal deu origem ao Movimento Chassídico e ao movimento que se contrapôs a este, os Mitnagdim (os oponentes do Chassidismo), que se originou com predominância nos círculos judaicos da Lituânia. Figuras importantes nesses dois grupos, como o Gaon de Vilna, líder dos Mitnagdim, e o Rabi Shneur Zalman de Liadi, (1745-1812) fundador da dinastia chassídica Chabad-Lubavitch, inspiravam-se nos ensinamentos do Maharal. Notadamente, o Rabi Shneur Zalman, descendente direto do Maharal, baseou muitos de seus trabalhos cabalísticos, especialmente o Likutei Amarim (conhecido como a obra Tanya), nos ensinamentos do Maharal. Uma das obras mais estudadas e influentes do Maharal de Praga é Gur Aryeh – um comentário acerca do clássico comentário de Rashi sobre o Chumash – os Cinco Livros da Torá. Gur Aryeh é singular entre as centenas de obras que elucidam o comentário de Rashi sobre o Chumash. Nessa obra, que mergulha profundamente nas interpretações de Rashi, o Maharal consegue mesclar ensinamentos cabalísticos, filosóficos e éticos em suas argumentações, conectando, com grande habilidade, explicações textuais objetivas com interpretações mais esotéricas.  O Golem de Praga. Além de ser um dos Sábios mais influentes na História Judaica, o Maharal de Praga foi um mestre da Cabalá prática. Ele é famoso pelo Golem, que ele criou do barro e trouxe à vida utilizando o conhecimento disponível apenas para aqueles que sabem como empregar os poderes do misticismo judaico. Golem de Praga era um humanoide – uma criatura sem alma com a aparência de um ser humano. Criado pelo Maharal que usava rituais cabalísticos e Nomes de D’us para dar-lhe vida, tinha por propósito proteger a comunidade judaica das ameaças e violência antissemitas fomentadas por falsas acusações de libelo de sangue. Ao criar o Golem, o Maharal conseguiu evitar inúmeras tragédias potenciais que tinham por alvo os judeus. Mesmo assim, ele acabou desativando o humanoide e o deixou no sótão da Sinagoga Altneuschul (Velha-Nova Sinagoga). A história do Golem tem sido recontada e reimaginada de inúmeras formas, ao longo dos séculos, através da literatura e peças, filmes e programas de televisão. Pode-se dizer que tenha sido precursora de modernas narrativas, tais como o Frankenstein, de Mary Shelley (1797-1851), que lida com as consequências de tentar criar vida.  Como a história do Golem deu origem a tantos relatos ficcionais, muitos acreditam que não tenha passado de uma lenda judaica. É importante enfatizar que ainda que a história do Golem seja responsável pela mística que envolve o Maharal de Praga, sua principal contribuição ao Judaísmo, e que prevalece, é a sabedoria e conhecimentos sobre a Torá que nos legou. Mais de quatro séculos desde seu falecimento, o Maharal continua sendo um dos mais citados e mais influentes Sábios em nossa história. As pessoas se fascinam com histórias sobrenaturais, como a do Golem, por razões óbvias. Mas o Judaísmo valoriza o conhecimento da Torá – que, como ensinava o Maharal, constitui a Vontade e a Sabedoria de D’us – infinitamente mais do que a capacidade de realizar feitos sobrenaturais. Na verdade, o Maharal apenas conseguiu criar o Golem por ser profundo conhecedor da Torá e especialmente da Cabalá prática. Antes de mergulharmos na autenticidade histórica do Golem de Praga, é essencial entendermos o que é um Golem. O Talmud nos dá um vislumbre, explicando que o primeiro ser humano, Adão, foi criado, inicialmente, como um Golem, palavra que pode ser traduzida como “uma forma”.  Segundo o Talmud, a formação de Adão se deu em quatro estágios. Primeiro, a coleta de sua poeira; posteriormente, a modelagem de sua poeira na forma de um Golem – uma figura indefinida; depois, a formação de seus membros; e, por fim, a fase de lhe incutir uma alma (Talmud BavliSanhedrin 38b). Sendo assim, o Golem é essencialmente uma entidade com uma forma humana, mas que não dispõe de uma alma humana. Nossos Sábios nos ensinam que a capacidade de falar após a concretização de um pensamento, e não apenas com o intuito de comunicar, é o que diferencia o ser humano das demais criaturas. Essa característica é arraigada na alma humana. E, como o Golem não possui uma alma humana, ele não tem o poder da fala. O Maharal de Praga não foi o primeiro Sábio judeu a criar um Golem. O Talmud nos ensina que Rava – um dos Sábios mencionados com mais frequência no Talmud – criou um homem desprovido de alma – um Golem – por meio das forças da santidade. Rava enviou o Golem a outro Sábio, o Rabi Zeira. Quando este falou com o humanoide e não recebeu resposta alguma, ele deduziu sua origem e declarou: “Foste criado pelos Sábios; retorna então à tua poeira” (Talmud BavliSanhedrin 65b). É importante constatar que esse relato faz parte do Talmud – a obra enciclopédica que serve de base à Lei e Teologia judaicas – e não de algum obscuro trabalho cabalístico, fato que nos indica que a ideia de um Golem é um conceito bem estabelecido no Judaísmo. O Rabi Menachem Mendel Schneerson, (1902-1994) o Lubavitcher Rebe, confirmou a veracidade da história do Golem de Praga, baseando-se num relato de seu sogro, o Rabi Yosef Yitzhak Schneerson, conhecido como o Rebe Anterior. Durante uma visita à Altneuschul, em Praga – a mais antiga sinagoga da Europa ainda em funcionamento – o Rabi Yosef Yitzhak viu os despojos do Golem no sótão. Uma de suas filhas, a Rebetzin Chana Gurary, recontou a conversa que teve com o pai sobre esse fato: “Pedi, então, a meu pai que me contasse o que vira. Ele, pausando por um momento, me disse: ‘Quando cheguei ao sótão, o lugar estava cheio de poeira e Sheimos (Nomes de D’us). No centro desse cômodo, vi a forma de um homem embrulhado e coberto. O corpo jazia, de lado, uma visão que muito me impressionou. Prestei atenção a alguns dos Sheimos que havia, lá, e saí, assustado com o que vi’ ”. Rogatchover Gaon, Rabi Joseph Rosen (1858-1936) – um dos mais importantes comentaristas do Talmud do século 20, conhecido por sua mente singular, de enorme brilho e agudez – esclareceu em um de seus principais trabalhos, Tzafnas Paneach, a sua opinião sobre a existência do Golem de Praga. Esse Gaon  escreveu que a ideia de que ele não aceitava a existência do Golem era incorreta: “Quem me ouvia não entendeu o que lhe dizia. Eu simplesmente falei da pergunta que ele fizera acerca da possibilidade ou não do Golem fazer parte de um Minyan1e coisas do tipo, dizendo que o Golem não era uma pessoa, pela Lei Judaica. Isto posto, certamente não estou negando a realidade histórica do Golem, mas apenas mostrando que ele não era, absolutamente, uma ‘pessoa’ para os propósitos de fazer parte de um Minyan…”. O Legado do Maharal de Praga. Rabi Yehuda Loew, o Maharal de Praga, deixou este mundo em 18 do mês judaico de Elul do ano de 5369 (1609). Digno de nota, sete gerações mais tarde, nessa mesma data, no ano de 5505 (1745), nasceu um de seus descendentes diretos – o Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador do movimento chassídico Chabad-Lubavitch. Essa data, 18 de Elul, marca, também, o nascimento do Rabi Israel ben Eliezer (1698-1760), o Baal Shem Tov, fundador do Movimento Chassídico, em 5458 (1698). Na página de abertura de seu trabalho cabalístico, Likutei Amarim (o Tanya), o Rabi Shneur Zalman de Liadi, primeiro Rebe da dinastia Chabad-Lubavitch, informa que seu trabalho se baseou em “livros e autores”. Ele aludia aos trabalhos de seu ancestral, o Maharal de Praga, e à obra Shnei Luchot Habrit, de autoria do Rabi Yeshaya Halevi Horowitz, o Shelá HaKadosh. À medida que o alcance do movimento chassídico Chabad-Lubavitch se expandiu globalmente e o Tanya se estabeleceu como uma pedra fundamental do estudo da Cabalá, os ensinamentos do Maharal de Praga, por extensão, impactaram inúmeros judeus. Quatrocentos anos após seu falecimento, o Maharal de Praga continua sendo uma figura maior que a vida, assim como o é sua estátua diante da Prefeitura de Praga - República Tcheca. Suas obras enfocam as dimensões mais profundas dos conceitos judaicos, revelando sua profundidade espiritual e filosófica. Seus escritos se tornaram textos básicos para quem estuda o pensamento judaico. Sua singular abordagem ao estudo e interpretação da Torá influenciaram incontáveis estudiosos e pensadores em todas as gerações que se seguiram. Muitos reverenciam e falam com grande admiração sobre o Maharal de Praga graças às suas habilidades sobrenaturais. Durante um dos mais difíceis períodos na História Judaica, ele foi o líder espiritual e porta-voz dos judeus. Fez tudo a seu poder – inclusive a utilização de seus conhecimentos da Cabalá prática – para protegê-los. Muito compreensivelmente, grande parte de sua fama advém da história do Golem e, mesmo aqueles que questionam a autenticidade histórica do Golem, sentem-se fascinados pelo homem a quem tal história é atribuída. Mas o legado do Maharal em muito supera o misticismo que o rodeia. Poucos Sábios lançaram uma sombra tão grande e influente quanto o Maharal de Praga. De igual maneira para eruditos e principiantes, Rabi Yehuda Loewé um guia iluminado em sua jornada pela Torá. Sua mistura única de profunda intelectualidade e misticismo desenharam um caminho para futuros pensadores e místicos judeus. Suas contribuições se tornaram pedras fundamentais para subsequentes movimentos judaicos, em especial para o Movimento Chassídico. De fato, várias dinastias chassídicas integraram suas obras aos seus ensinamentos como testemunho de sua vasta e profunda influência. Zohar, a obra fundamental da Cabalá escrita por Rabi Shimon Bar Yochai, ensina que a influência de um Tzadik persiste além de sua vida física. Ao longo de maisde 400 anos desde seu falecimento, a influência do Maharal de Praga não diminuiu. Na verdade, apenas aumentou. Aqueles que estudam o clássico comentário de Rashi sobre a Torá recorrem ao Gur Aryeh do Maharal para obter percepções mais profundas. Os estudiosos do Talmud e do Midrash costumam se apoiar nas explicações do Maharal para entender o significado de passagens esotéricas. Qualquer pessoa que se aprofunde no Tanya, do Rabi Shneur Zalman de Liadi, particularmente os inúmeros frequentadores das sinagogas Chabad-Lubavitch em todo o mundo, está, em essência, imergindo nos ensinamentos cabalísticos do Maharal. Assim sendo, Rabi Yehuda Loew, o Maharal de Praga, continua sendo um mestre para todos nós. Suas obras defendem, com ardor, o Povo de Israel e seu vínculo eterno com a Terra de Israel. Ao longo de sua vida, ele usou a Cabalá prática para proteger nosso povo daqueles que nos queriam mal. Que seu legado permanente e seus méritos abençoem e protejam os Filhos de Israel, em sua terra, a Terra de Israel, e em toda a parte. Abraço. Davi.

Bibliografia: 10 Facts About the Maharal Every Jew Should Know, artigo de Yehuda Shurpin publicado no site https://www.chabad.org

Rabbi Judah Loew - “The Maharal of Prague”, artigo de Nissan Mindel no publicado no site https://www.chabad.org/

The Maharal: Savior of the Jews, artigo do Rabbi Dr. Benji Levy publicado no site https://www.aish.com

Por: Tev Djmal

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