Teosofia.
Revista Teosófica. Ano 2016. Por J. R. Lassen-Willens. O MISTÉRIO DO EU – PARTE
II. A exposição sistemática que Plotino (205-270 d.C.) faz deste mundo de
existência incluía uma doutrina do mundo das aparências como uma série de
emanações, na quais a pessoa encontra uma hierarquia de seres. Assim, se
considerada estritamente quanto a descrição, sua exposição é também uma posição
em camadas. Embora com ênfase e tratamento popular, considera-se que Plotino
adotou a posição monádica. Na verdade, em sua expressão ontológica, a posição
de Plotino é muito semelhante à posição Advaita Vedanta de Shankara. Com
relação a isso, o sistema de Plotino deve ser compreendido como monádico. O
problema do eu torna-se cada vez mais complicado e polêmico no pensamento
Ocidental posterior. Gottfried Leibniz (1646-1716) e Baruch Spinoza (1632-1677) consideravam que somente a mônada mental
tinha existência real. A alma, como uma essência específica de identidade
pessoal, não continua a desempenhar papel na teologia escolástica posterior, ou
seja, no trabalho de Tomás de Aquino (1225-1274) e seus seguidores. No mundo do
pensamento esotérico, os modernos defensores primários de uma compreensão da
consciência monádica fixa são Paul Brunton (1898-1981) e Anthony Damiani
(1922-1984). Aqui, o pensamento seria, se estritamente considerado, uma posição
em camadas, exceto que a existência real é negada a tudo menos à mônada menal.
Damiani é mais sutil em sua formulação do que seu professor Paul Bruton (1898-1981). No
Oriente, o Taoismo e o Advaita Vedanta são diferentes estratégias que discutem
um sistema monárquico. Brunton foi influenciado pelo advaita. O Taoismo só usa
a formulação do “homem verdadeiro” que percebe a realidade corretamente quando
renuncia à dualidade da ilusão de um ego separado. O Taoismo conta com uma
transcendência de linguagem paradoxal para o pleno entendimento da realidade. A
esse respeito, é trans racional. O Advaita Vedanta é uma das mais sofisticadas
exposições do eu monádico. A explanação que Shankaracharya (788-820 d.C.) faz do Advaita
Vedanta é de alguma maneira superior à descrição que Plotino faz do Um. No
Advaita Vedanta a transcendência é alcançada racionalmente, e não
suprarracional mente como ocorre com o taoísmo. Em algumas polêmicas, o advento
da modernidade e da pós-modernidade, primeiramente no Ocidente e depois no
Oriente. Desconstruiu totalmente a questão do sujeito ou do eu. Não mais se considera
o eu como tendo qualquer utilidade em muitas das discussões. É difícil recusar
a importância de uma investigação de subjetividade e de se estar seriamente
buscando a senda espiritual, por isso olhemos agora para a posição do eu em
camadas. Esta posição não tem a simplicidade das outras duas. É mais
complicada, e exige mais de nossa compreensão. Por enquanto, a posição do eu em
camadas será o argumento, de que o “eu” se manifesta de muitas maneiras,
dependendo da natureza do reino no qual se está manifestando. O eu, é a
expressão de muitas funções, que somente estão plenamente integradas em um eu
ou na compreensão da alma. A especificidade de cada função se torna clara e seu
relacionamento com as outras funções é plenamente compreendido. Embora tenha havido
muitas apresentações da posição do eu em camadas, haverá suficiente para
indicar sua ênfase e escopo heurístico: a apresentação cristã tradicional, a
cabalística e a de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891). Um pesquisador
cuidadoso encontrará um esquema semelhante nas descrições tântricas hindus das
vestes, nas descrições sufi da alma. No esquema Shingon dos japoneses, na
descrição corporal de alaya no interior do Budismo Yogachara. E, mais
recentemente, no campo da Psicologia transpessoal. A Posição cristã é a
primeira encontrada no apóstolo Paulo (I Coríntios, Romanos e Gálatas). O uso
que faz Paulo não é consciente. O leitor encontrará em Paulo discussões sobre
mente, coração, alma, corpo e espírito. Esses são com frequência usados de modo
intercambiável, porém mais habitualmente com uma tensão entre corpo e espírito.
No entanto, cristãos posteriores lendo Paulo, começam a falar de três aspectos
ou constituintes do ser humano: corpo – sarx, mente ou alma – psiquê e espírito
– pneuma. O corpo é um veículo físico vital. A mente ou alma é o princípio
intelectual vital no ser humano. O espírito é o eterno elemento divino na
humanidade. Análises cristãs esotéricas posteriores subdividiram esses três em
cinco e, posteriormente, sete princípios. A posição cabalista também fala
exotéricamente de três princípios: nefesh – corpo, ruach – espírito vital e
neshemah – mente eterna. Esses são sutilizados para se tornarem cinco
princípios em discussões esotéricas. Sendo, nefesh – alma animal, ruach –
princípio vital ou alento vital, neshemah – mente intelectual, chiah – espírito
superior e yehiddah – espírito eterno. A cabala ensina que essas coisas são
tanto camadas como centros de atividade ou de consciência no interior do ser
humano total. Frequentemente, a leitura da Cabala pode ser confusa porque a
expressão é propositalmente ambígua. Para que o buscador ou tenha de receber
instrução real de um mestre esotérico, ou cavar profundamente bem abaixo da
superfície para encontrar contradições ou inconsistências superficiais nos
textos exotéricos. O esquema de Blavastky sofreu uma série de transformações à
medida que seu estudo se tornou mais intenso e suas conclusões mais profundas.
Em A Chave para a Teosofia, ela faz referência a sete princípios que são. Nama
rupa, linga sharia, prana, kama rupa, manas, buddhy e atman. São traduzidos
como: duplo etérico, elan vitual ou princípio alento, eu astral ou emocional,
mente, eu superior e a mônada manifestada. Com sua outra obra, especialmente
nas sessões esotéricas, Blavatsky, mudou este formato pra incluir várias
ênfases diferentes. Talvez a mais útil seja encontrada em suas “Instruções
esotéricas”. Os sete incluem, atman, invólucro áurico, buddhy, manas, prana,
linga sharira, manas inferior. A principal diferença entre o esquema original
dela e este último é que este se aplica a explicar o real processo de
encarnação. E pressupõe que o corpo – nama rupa, o primeiro princípio original
dela em A Chave, não é verdadeiramente um princípio per se, mas antes uma
substância passiva na qual os outros princípios ativos se manifestam.
Finalmente, qual é a importância geral dessas descrições do eu em camadas?
Primeiro, todos tentam prover uma ponte metafísica entre unidade eterna e a
hierarquia de emanações no interior dos reinos do universo manifestado. Segundo
eles aborda a amplagama de vitalidade e inteligência humanos dentre desses
reinos. Como tais, ambas tratam das forças dinâmicas, mutantes, forças
impermanentes da posição do eu. Mas incluem também a parte de inteligência
eterna da posição do eu monádico, uma inteligência que persiste, e na qual toda
manifestação está baseada. O esquema de Blavatsky parece ser o mais lúcido
porque nele nada que se manifesta é eterno – embora alguns aspectos existam
durante eras. Assim, a explicação dela inclui tanto a inteligência profunda na
base de toda aparência. E a evolução dessa inteligência quando se manifesta na
matéria em evolução. A esse respeito, seu esquema em camadas é a melhor síntese
das forças das outras duas posições. Assim, temos três diferentes descrições do
eu ou alma. Que importância as tem, se não há também uma maneira de investigar
sua importância para a vida da pessoa? Duas formas de disciplina interior – e
rapidamente mencionadas aqui – podem verdadeiramente investigar a natureza do
eu. De modo que a pessoa possa encontrar por si mesma o que deve ser acreditado
a respeito do mistério do eu. Esses, dois métodos são Oração centrada e
Meditação de insight – vipassana. Oração centrada é uma nova formulação de uma
antiga forma de meditação cristã – atualizada para o momento presente por
Thomas Keating (1923-2018), monge católico americano. Com a oração centrada, a
pessoa entrega sua consciência a Deus, isto é, a uma quietude profunda. Pelo
uso de uma simples palavra como forma icônica com a qual focar a atenção.
Gradualmente, à medida que a mente é aquietada, é alcançado um estado que é
chamado de a Oração da quietude. Nesse estado, a mente fica totalmente
tranquila. E, nesse silêncio, Deus consegue infundir contemplação, e a pessoa
experiencia a real natureza do verdadeiro eu. Não é preciso ser ateu para
tentar esta meditação, se se está apenas querendo disciplinar a atenção para
alcançar o estado de quietude profunda. No entanto, o não teísta pode ser
surpreendido pelos resultados. Vipassana – Meditação com insight – é uma
meditação budista theravada que usa a percepção para estar consciente da
natureza transitória de todos os fenômenos emergentes. Gradualmente, o apego
pessoal a fenômenos transitórios é liberado, e, eventualmente, a pessoa
experiência aquilo que é liberado. E eventualmente, a pessoa experiencia aquilo
que é incondicionado. A natureza do eu é também tratada nesta meditação porque,
certamente, o eu, é um dos fenômenos emergentes que se experiencia na
consciência diária. Os budistas consideram que esta meditação necessariamente
desmonta qualquer forma ou compreensão do eu. Revista Teosofia. Ano 2016.
Abraço. Davi
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