quinta-feira, 18 de julho de 2024

O MISTÉRIO DO EU - Parte II

 

Teosofia. Revista Teosófica. Ano 2016. Por J. R. Lassen-Willens. O MISTÉRIO DO EU – PARTE II. A exposição sistemática que Plotino (205-270 d.C.) faz deste mundo de existência incluía uma doutrina do mundo das aparências como uma série de emanações, na quais a pessoa encontra uma hierarquia de seres. Assim, se considerada estritamente quanto a descrição, sua exposição é também uma posição em camadas. Embora com ênfase e tratamento popular, considera-se que Plotino adotou a posição monádica. Na verdade, em sua expressão ontológica, a posição de Plotino é muito semelhante à posição Advaita Vedanta de Shankara. Com relação a isso, o sistema de Plotino deve ser compreendido como monádico. O problema do eu torna-se cada vez mais complicado e polêmico no pensamento Ocidental posterior. Gottfried Leibniz (1646-1716) e Baruch Spinoza (1632-1677) consideravam que somente a mônada mental tinha existência real. A alma, como uma essência específica de identidade pessoal, não continua a desempenhar papel na teologia escolástica posterior, ou seja, no trabalho de Tomás de Aquino (1225-1274) e seus seguidores. No mundo do pensamento esotérico, os modernos defensores primários de uma compreensão da consciência monádica fixa são Paul Brunton (1898-1981) e Anthony Damiani (1922-1984). Aqui, o pensamento seria, se estritamente considerado, uma posição em camadas, exceto que a existência real é negada a tudo menos à mônada menal. Damiani é mais sutil em sua formulação do que seu professor Paul Bruton (1898-1981). No Oriente, o Taoismo e o Advaita Vedanta são diferentes estratégias que discutem um sistema monárquico. Brunton foi influenciado pelo advaita. O Taoismo só usa a formulação do “homem verdadeiro” que percebe a realidade corretamente quando renuncia à dualidade da ilusão de um ego separado. O Taoismo conta com uma transcendência de linguagem paradoxal para o pleno entendimento da realidade. A esse respeito, é trans racional. O Advaita Vedanta é uma das mais sofisticadas exposições do eu monádico. A explanação que Shankaracharya (788-820 d.C.) faz do Advaita Vedanta é de alguma maneira superior à descrição que Plotino faz do Um. No Advaita Vedanta a transcendência é alcançada racionalmente, e não suprarracional mente como ocorre com o taoísmo. Em algumas polêmicas, o advento da modernidade e da pós-modernidade, primeiramente no Ocidente e depois no Oriente. Desconstruiu totalmente a questão do sujeito ou do eu. Não mais se considera o eu como tendo qualquer utilidade em muitas das discussões. É difícil recusar a importância de uma investigação de subjetividade e de se estar seriamente buscando a senda espiritual, por isso olhemos agora para a posição do eu em camadas. Esta posição não tem a simplicidade das outras duas. É mais complicada, e exige mais de nossa compreensão. Por enquanto, a posição do eu em camadas será o argumento, de que o “eu” se manifesta de muitas maneiras, dependendo da natureza do reino no qual se está manifestando. O eu, é a expressão de muitas funções, que somente estão plenamente integradas em um eu ou na compreensão da alma. A especificidade de cada função se torna clara e seu relacionamento com as outras funções é plenamente compreendido. Embora tenha havido muitas apresentações da posição do eu em camadas, haverá suficiente para indicar sua ênfase e escopo heurístico: a apresentação cristã tradicional, a cabalística e a de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891). Um pesquisador cuidadoso encontrará um esquema semelhante nas descrições tântricas hindus das vestes, nas descrições sufi da alma. No esquema Shingon dos japoneses, na descrição corporal de alaya no interior do Budismo Yogachara. E, mais recentemente, no campo da Psicologia transpessoal. A Posição cristã é a primeira encontrada no apóstolo Paulo (I Coríntios, Romanos e Gálatas). O uso que faz Paulo não é consciente. O leitor encontrará em Paulo discussões sobre mente, coração, alma, corpo e espírito. Esses são com frequência usados de modo intercambiável, porém mais habitualmente com uma tensão entre corpo e espírito. No entanto, cristãos posteriores lendo Paulo, começam a falar de três aspectos ou constituintes do ser humano: corpo – sarx, mente ou alma – psiquê e espírito – pneuma. O corpo é um veículo físico vital. A mente ou alma é o princípio intelectual vital no ser humano. O espírito é o eterno elemento divino na humanidade. Análises cristãs esotéricas posteriores subdividiram esses três em cinco e, posteriormente, sete princípios. A posição cabalista também fala exotéricamente de três princípios: nefesh – corpo, ruach – espírito vital e neshemah – mente eterna. Esses são sutilizados para se tornarem cinco princípios em discussões esotéricas. Sendo, nefesh – alma animal, ruach – princípio vital ou alento vital, neshemah – mente intelectual, chiah – espírito superior e yehiddah – espírito eterno. A cabala ensina que essas coisas são tanto camadas como centros de atividade ou de consciência no interior do ser humano total. Frequentemente, a leitura da Cabala pode ser confusa porque a expressão é propositalmente ambígua. Para que o buscador ou tenha de receber instrução real de um mestre esotérico, ou cavar profundamente bem abaixo da superfície para encontrar contradições ou inconsistências superficiais nos textos exotéricos. O esquema de Blavastky sofreu uma série de transformações à medida que seu estudo se tornou mais intenso e suas conclusões mais profundas. Em A Chave para a Teosofia, ela faz referência a sete princípios que são. Nama rupa, linga sharia, prana, kama rupa, manas, buddhy e atman. São traduzidos como: duplo etérico, elan vitual ou princípio alento, eu astral ou emocional, mente, eu superior e a mônada manifestada. Com sua outra obra, especialmente nas sessões esotéricas, Blavatsky, mudou este formato pra incluir várias ênfases diferentes. Talvez a mais útil seja encontrada em suas “Instruções esotéricas”. Os sete incluem, atman, invólucro áurico, buddhy, manas, prana, linga sharira, manas inferior. A principal diferença entre o esquema original dela e este último é que este se aplica a explicar o real processo de encarnação. E pressupõe que o corpo – nama rupa, o primeiro princípio original dela em A Chave, não é verdadeiramente um princípio per se, mas antes uma substância passiva na qual os outros princípios ativos se manifestam. Finalmente, qual é a importância geral dessas descrições do eu em camadas? Primeiro, todos tentam prover uma ponte metafísica entre unidade eterna e a hierarquia de emanações no interior dos reinos do universo manifestado. Segundo eles aborda a amplagama de vitalidade e inteligência humanos dentre desses reinos. Como tais, ambas tratam das forças dinâmicas, mutantes, forças impermanentes da posição do eu. Mas incluem também a parte de inteligência eterna da posição do eu monádico, uma inteligência que persiste, e na qual toda manifestação está baseada. O esquema de Blavatsky parece ser o mais lúcido porque nele nada que se manifesta é eterno – embora alguns aspectos existam durante eras. Assim, a explicação dela inclui tanto a inteligência profunda na base de toda aparência. E a evolução dessa inteligência quando se manifesta na matéria em evolução. A esse respeito, seu esquema em camadas é a melhor síntese das forças das outras duas posições. Assim, temos três diferentes descrições do eu ou alma. Que importância as tem, se não há também uma maneira de investigar sua importância para a vida da pessoa? Duas formas de disciplina interior – e rapidamente mencionadas aqui – podem verdadeiramente investigar a natureza do eu. De modo que a pessoa possa encontrar por si mesma o que deve ser acreditado a respeito do mistério do eu. Esses, dois métodos são Oração centrada e Meditação de insight – vipassana. Oração centrada é uma nova formulação de uma antiga forma de meditação cristã – atualizada para o momento presente por Thomas Keating (1923-2018), monge católico americano. Com a oração centrada, a pessoa entrega sua consciência a Deus, isto é, a uma quietude profunda. Pelo uso de uma simples palavra como forma icônica com a qual focar a atenção. Gradualmente, à medida que a mente é aquietada, é alcançado um estado que é chamado de a Oração da quietude. Nesse estado, a mente fica totalmente tranquila. E, nesse silêncio, Deus consegue infundir contemplação, e a pessoa experiencia a real natureza do verdadeiro eu. Não é preciso ser ateu para tentar esta meditação, se se está apenas querendo disciplinar a atenção para alcançar o estado de quietude profunda. No entanto, o não teísta pode ser surpreendido pelos resultados. Vipassana – Meditação com insight – é uma meditação budista theravada que usa a percepção para estar consciente da natureza transitória de todos os fenômenos emergentes. Gradualmente, o apego pessoal a fenômenos transitórios é liberado, e, eventualmente, a pessoa experiência aquilo que é liberado. E eventualmente, a pessoa experiencia aquilo que é incondicionado. A natureza do eu é também tratada nesta meditação porque, certamente, o eu, é um dos fenômenos emergentes que se experiencia na consciência diária. Os budistas consideram que esta meditação necessariamente desmonta qualquer forma ou compreensão do eu. Revista Teosofia. Ano 2016. Abraço. Davi

 

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