segunda-feira, 8 de julho de 2024

DIVINDADES. Parte I

 

Religião Afro-brasileira. Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). Capítulo VII. DIVINDADES. Parte I. A doutrina de Umbanda, por ser universalista, não veta ou despreza nenhuma divindade cultuada em outras religiões. O conhecimento mais profundo das hierarquias divinas revela que uma divindade ou um espírito ascenso. Ou que se divinizou, tem caráter universal e atende, dentro dos limites da Lei Maior, a todos os que o invocarem solicitando auxílio ou sua interseção junto a Deus. A própria transposição dos Orixás da natureza para o interior das nascentes tendas de Umbanda processou-se por meio dos santos católicos, a até do divino Jesus Cristo, que ocultava com sua singela imagem humana o divino mestre Oxalá. Por isso, a doutrina de Umbanda não refuta o uso de imagens nos templos. Por trás da imagem de um espírito santificado oculta-se a presença de um Orixá “humanizado” por intermédio, justamente, do santo já conhecido de todos. O conhecimento superior das hierarquias divinas nos mostra que um espírito, quando se universaliza, abre um campo de atuação tão amplo que ultrapassa a religião. Possibilitando sua elevação e ascensão dentro das hierarquias divinas sustentadoras da evolução de toda a humanidade. Por isso, a doutrina de Umbanda recorre aos ícones sagrados de outras religiões e os acolhe com sinais exteriores de divindades pouco conhecidas, mas muito atuantes nos dois planos da vida. E, onde um espírito afim com ela se manifesta como guia de Umbanda, ali se encontra uma imagem, um ícone religioso ou um símbolo gráfico que assinala a regência da tenda e dos trabalhos espirituais pela divindade que o tem amparado no lado espiritual da vida. E, mesmo, que a muitos isso tenha passado despercebido, o fato é que se muitas tendas de Umbanda ostentam em seus altares imagens de hindus. Elas estão sinalizando que um espírito que ali se manifesta não foi índio ou negro, mas um hindu, em sua última encarnação. E que sua formação religiosa se processou em solo hindu, onde ele cultuava uma divindade conhecida por seu nome em sânscrito, que não era um nome africano ou americano e muito menos cristão. Mas, o conhecimento das divindades, já em níveis superiores, diz-nos que não existe mais do que um Deus e nem que dois mistérios sejam absolutamente iguais. No entanto, esse mesmo conhecimento nos diz que um mistério divino tem alcance planetário, multidimensional e possui suas hierarquias espalhadas por todas as religiões. Quando uma nova religião é fundada, as divindades planetárias deslocam algumas de suas hierarquias espirituais para que se unam às hierarquias das outras divindades planetárias. Dando sustentação à nascente religiosa até que ela própria consiga estabelecer suas hierarquias humanas constituídas só por espíritos formados já dentro de sua doutrina religiosa. Por isso é que na Umbanda se manifestam tantos espíritos “estrangeiros”, quando o lógico e natural seria só se manifestarem espíritos de africanos, índios brasileiros e cristãos convertidos às duas religiões naturais que deram origem a Umbanda. O fato é que as hierarquias inteiras foram deslocadas de seus campos de atuação, dentro das religiões que as formaram, e foram colocadas à disposição das divindades regentes do nascente Ritual de Umbanda Sagrada. Trouxeram para a Umbanda suas formações religiosas, suas apresentações humanas e suas formas particulares de cultuar o Divino Criador. Porém, já se adaptando às linhas mestras traçadas pelos espíritos superiores que idealizaram a nascente Umbanda. O sábio hindu se manifestaria sob o amparo de um dos Orixás, assumiria um nome simbólico de fácil assimilação pelos médiuns e pelos consulentes das tendas de Umbanda. Assim, um espírito já ascensionado, e cuja última formação religiosa se havia processado em solo estrangeiro, manifestar-se-ia em solo brasileiro por novo ritual com um nome simbólico de fácil assimilação, todavia que indicasse as irradiações sob as quais se manifestava. E surgiu uma linha de caboclos “Sultão das Matas” que se manifestaram logo nas primeiras tendas de Umbanda e fixaram este nome dentro da nova religião. “Sultão” é sinônimo de imperador e “matas” é sinônimo do elemento vegetal. Logo, o nome simbólico “Caboclo Sultão das Matas” significa caboclo do Orixá Oxóssi, regente planetário que atua por intermédio da essência, do elemento e da energia vegetal. Só que o espírito já ascensionado que fundou a linha de caboclos Sultão das Matas é um “mestre de Luz” hindu cuja última encarnação ocorreu a 1800 anos atrás e já atua em várias religiões, até mesmo na cristã. Na qual possui uma ordem religiosa a qual não podemos revelar porque a lei do silêncio dos mistérios nos impede. O fato é que ele, o mestre da Luz Caboclo Sultão das Matas, já atua em oito religiões diferentes, nas quais encarnaram e encarnam espíritos há muito já amparados pela hierarquia espiritual fundada por ele no astral, sustentada por uma divindade conhecida na Índia pelo seu nome hindu. No entanto, essa mesma divindade é uma intermediária da divindade planetária que atua por meio da essência, do elemento e da energia vegetal, que na Umbanda todos conhecem e cultuam com o nome de Oxóssi. Viral como o Ritual de Umbanda Sagrada é universalista? Ele congrega espíritos de todas as esferas espirituais e, dotando-os com nomes simbólicos identificadores das qualidades dos Orixás planetários e multidimensionais. Possibilita a eles ampararem seus afins encarnados em solo brasileiro, já atuando dentro dos limites de uma religião nacional. Pois, se as práticas espirituais são comuns a toda a humanidade, no entanto, hierarquizadas com as do Ritual de Umbanda Sagrada, só em solo brasileiro elas acontecem. Em nenhum lugar do mundo e em nenhuma época ocorreram manifestações espirituais tão espontâneas como acontece na Umbanda. Mas isso escapa aos mais desatentos ou poucos conhecedores da vontade divina, que se mostra como “religiões”. Então a Umbanda aceita todas as divindades como exteriorizações dos mistérios divinos, acolhe a todas e reserva a cada uma um meio de melhor amparar os espíritos que Deus Pai lhes confiou. E as divindades manifestam seus mistérios por linhas de ação e trabalhos, mas os ocultam atrás de nomes simbólicos ou de ícones religiosos, sendo que, sem ferirem a suscetibilidade de ninguém, continuam a falar de frente com os seus amados filhos adormecidos na carne, onde estão se aperfeiçoando em algum dos sete sentidos capitais. A doutrina de Umbanda não se antagoniza com nenhuma religião. O Ritual de Umbanda Sagrada congrega espíritos de outras formações religiosos e aceita que todas as divindades manifestem seus mistérios, desde que ocultados por nomes simbólicos identificadores dos Orixás planetários, aos quais estão ligadas e que são seus regentes ancestrais. Sim, porque se uma divindade se humanizou, ela o fez sob uma das sete irradiações divinas, ou sete mistérios religiosos de Deus, que no Ritual de Umbanda Sagrada nominamos de “os sete Orixás essenciais” que são: Orixá Essencial da Fé. Orixá Essencial do Amor. Orixá Essencial do Conhecimento. Orixá Essencial da Justiça. Orixá Essencial da Evolução. Orixá Essencial da Geração. A essência da Fé é cristalina, a essência do Amor é mineral, a essência do Conhecimento é vegetal, a essência do Justiça é ígnea – fogo, a essência da Lei é eólica, a essência da Evolução é telúrica – terra, a essência da Geração é aquática. Esse sete Orixás essenciais. Esses sete Orixás essenciais não têm nomes humanos, mas manifestam-se como vontades divinas por intermédio dos Orixás ancestrais. Eles se manifestam como irradiações divinas por meio dos Orixás naturais, que se manifestam por intermédio das divindades intermediárias, sendo os regentes dos níveis vibratórios das sete irradiações divinas. Essas divindades intermediárias humanizaram-se e amparam milhões de espíritos em evolução, todos afins com as qualidades essenciais dos Orixás ancestrais que as regem pelo alto. Por isso, a doutrina que fundamenta o Ritual de Umbanda Sagrada aceita todas as divindades e as nomina por meio do simbolismo de Umbanda. A doutrina de Umbanda sempre recorre à analogia ou à comparação para identificar uma divindade e descobrir a qual das sete irradiações divinas é ligada. Quando completa a identificação, sempre encontra na divindade a essência divina que se manifesta por meio dela e o mistério que ela é em si mesma, pois manifesta qualidades essencialmente divinas. Por isso, a doutrina não aceita certas colocações que tacham de “pagãs” as divindades das religiões que já cumpriram suas missões junto aos espíritos ou no plano material. Por que pagãs? Só porque eram divindades cultuadas por meio de rituais religiosos antiquíssimos e anteriores até as doutrinas judaica, cristã e islâmica? O conhecimento nos revela que as divindades não são Deus, mas sim manifestadoras de mistérios divinos. Atendendo a desígnios divinos e, se não as aceitamos, devemos respeitá-las e entender que só se humanizaram para auxiliar a evolução da humanidade e amparar espíritos afins com suas qualidades divinas e humanas. A analogia da Umbanda Sagrada nos mostra que as divindades das religiões mais antigas são regidas pelo setenário sagrado, e estudos mais acurados nos mostram que elementos as regem. E ele nos revela o estudo dos Orixás, os quais são cultuados por meio da natureza terrestre e possuem locais específicos para serem oferendados. Estudando os Orixás, descobrimos a qual hierarquia divina cada um deles está ligado. Se nos aprofundarmos um pouco mais, descobriremos que eles sustentam evoluções paralelas às humanas. Acontecendo nas dimensões naturais, habitadas por seres que nunca encarnam e que evoluem sem o recurso do corpo carnal. Estudando o meio onde vivem esses nossos irmãos naturais, descobrimos que eles nos conhecem muito bem e até nos auxiliam em nossa evolução. Enviando continuamos suas irradiações de fé, amor e estímulo. E, indo um pouco mais fundo no estudo dos nossos irmãos naturais, descobrimos que se preocupam conosco porque, dizem eles, nó já vivemos ao lado deles em nosso estágio da evolução. Tanto isso é verdade que muitos deles se integram as hierarquias naturais regidas pelos senhores Orixás intermediários, que são divindades. Assim, podem vir até a dimensão espiritual nos auxiliando melhor em nossa evolução. Todos nós temos irmãos naturais que se preocupam com nossa evolução e sofrem com nossas dificuldades, as vezes aparentemente superadas. Por isso, nunca estamos sozinhos em nossa jornada humana. E, se nos identificamos com um Orixá ou divindade natural, com certeza receberemos dela um amparo direto. Também algum irmão natural regido por ela nos acompanha bem de perto e desdobra-se para superar rapidamente as nossas dificuldades em evoluir para nos reunirmos a eles nas esferas celestiais. Por isso, a doutrina de Umbanda aceita como natural e correto o culto às divindades identificadas com a natureza e as estuda profundamente. Sempre na certeza de encontrar nelas as qualidades superiores dos mistérios divinos. E, se não torna obrigatório que o culto aso Orixás se realize unicamente nos seus campos vibratórios na natureza, no entanto, recomenda que de vez em quando os médiuns devam ir até um desses campos vibratórios altamente magnéticos e energizados pra neles reverenciarem os sagrados Orixás – divindades naturais ou “natureza”. Assim, o termo “pagão” é refutado porque possui caráter pejorativo, oculta a ignorância das pessoas quanto às qualidades terapêuticas das energias condensadas nos campos vibratórios onde se realizam os rituais religiosos de culto aos Orixás. Divindade significa um ser superior irradiador de qualidades divinas e que, se compreendidas, muito nos auxiliam. Logo, a religião de Umbanda, na qual muitas divindades antiquíssimas manifestam seus mistérios por intermédio das linhas de ação e dos trabalhos espirituais. Recomenda o respeito a todas as divindades ou seres manifestadores de mistérios divinos. A doutrina de Umbanda fundamenta-se no conhecimento profundo do universo ainda invisível aos espíritos encarnados, e mesmo de muitos dos que desencarnaram e mantiveram-se ligados à matéria. Desse modo, toda tenda de umbanda dedica uma parte dos seus trabalhos mediúnicos à doutrinação e esclarecimento dos espíritos recém-desencarnados ou ainda adormecidos no materialismo paralisador da evolução. Sempre que possível, integra-os ao nível terra das hierarquias espirituais do Ritual de Umbanda Sagrada, onde começam a despertar para o universo natural regido pelos sagrados Orixás. Divindades naturais assentadas nos níveis vibratórios das sete irradiações do nosso Divino Criador. Quando estes espíritos começam a despertar para a grandiosidade do universo regido pelas divindades, um grosso manto escuro é desvelado e eles encantam-se com os Orixás, que os inundam de irradiações de fé, amor e compreensão. Dessa forma as divindades sabem que estes seus filhos haviam tido suas memórias adormecidas, e só assim não retornariam antes do tempo às dimensões onde já haviam vivido e evoluído “naturalmente”. Sim, quando um espírito tem sua memória imortal e ancestral despertada, descobre que já havia vivido e evoluído nas dimensões naturais amparado pelos senhores Orixás. Aos quais muitas vezes havia refutado quando viveu no plano material sob uma cultura religiosa mesquinha, que negava a existência das divindades e o afastava das hierarquias divinas. Mas os Orixás acompanham a evolução humana desde sempre, e sabem que o obscurantismo religioso faz parte da humanidade, e muitas vezes atendem à própria necessidade dos espíritos ainda incapazes de conviver em harmonia com seus irmãos não encarnantes, chamados por nós de elementais, encantados ou seres naturais. O desconhecimento religioso serve à Lei Maior para manter afastados do universo natural os espíritos ainda incapazes de conviver em harmonia com seus irmãos ancestrais. Assim procede a Lei Maior sendo porque, enquanto não alcançar uma evolução “consciencial”, um espírito levará para as dimensões naturais todos os seus vícios humanos e seus desequilíbrios emocionais. Com eles desequilibrarão tanto os seus irmãos naturais como o meio onde vivem, pois o universo natural é essencialmente energético e passível de influências mentais negativas. Deus é perfeito em tudo e até a incompreensão religiosa serve aos seus desígnios divinos. Dessa maneira, as doutrinas desinformadas são essencialmente mentais e abstratas. Servem para aprisionar os seres em si mesmos e com isso negam-lhes um universo onde não estão aptos a habitar em espírito. Pelo menos, por enquanto! Deste modo, as doutrinas obscurantistas negam as divindades, que chamam de “deuses pagãos”, ou a divindade dos Orixás, aos quais chamam de ... Bom, o fato é que a incompreensão religiosa é a prisão da Lei e as doutrinas obscurantistas têm servido muito bem aos desígnios divinos, que em momento nenhum pune a quem quer que seja. Apenas retém em si mesmo quem ainda não está preparado na consciência emocional para viver no universo sem fronteiras. Essas são as dimensões naturais habitadas pelos nossos irmãos elementais, encantados e naturais. Mas que todos saibam que, se o obscurantismo religioso é uma necessidade dos espíritos menos evoluídos. No entanto, não é uma condição insuperável, porque o aspecto “evolução espiritual” é discutível e depende muito da aceitação, pelo ser, da doutrina que lhe está sendo ensinada. E se, em dado momento, o ser tomar consciência de que vinha dando mau uso ao seu livre-arbítrio. Reconhecerá que mesmo dentro de uma doutrina obscurantista está Deus, que nela o retém para seu próprio bem. Que nela o reterá até que recupere sua capacidade de lidar com os mistérios divinos sem prejudicar a si ou aos seus semelhantes. Sim, porque é muito comum as pessoas serem colocadas diante do mistério “Orixás” e não saberem interpretá-los ou lidar com eles por lhes faltar um conhecimento profundo e correto de como eles atuam em nossas vidas. Então recorrem erroneamente aos mistérios, desconhecendo até mesmo o que significa a palavra “mistério”. Muitos confundem mistérios com ocultismo, com Esoterismo, com Cabala etc. sendo que, a palavra já perdeu seu significado original e hoje se presta mais a encobrir a ignorância religiosa do que a esclarecer os procedimentos religiosos. Houve um tempo, três milênios, para sermos exatos,  em       que a palavra “mistério” significava o supra-humano, o incognoscível acerca das divindades. Os sábios que interpretavam os mistérios eram tidos em alto conceito junto aos fiéis, que os distinguiam e os tinham como as pessoas aptas a lidar com o mundo sobrenatural. Os “mystas” eram os babalaôs de então e formavam uma casta religiosa na Grécia antiga, assim como os “magos” formavam outra na Pérsia. Eram pessoas preparadas para emitir as interpretações humanas dos mistérios de Deus e que, quando abriam as comemorações ou datas religiosas festivas, praticavam rituais invocatórios e específicos às divindades. Como o Cristianismo frutificou rapidamente em uma Grécia exaurida e escravizada pelos romanos, a palavra “mistérios” à religião cristã pelos primeiros padres da Igreja. Que assumiram o lugar dos “mystas” e adaptaram os mistérios a nascente doutrina cristã, mas faltou a esses primeiros cristãos o conhecimento profundo dos mistérios. Que se todos conheciam por meio dos rituais públicos, só uns poucos os conheciam em profundidade. A partir de então, divagações acerca dos mistérios pulularam, e o conhecimento verdadeiro se perdeu. Mas, para reparar a lacuna surgida com o desaparecimento dos mystas, nasceram os doutores em Teologia, ou teólogos, que extraíram dos filósofos as interpretações abstratas a respeito de Deus e as incorporaram â doutrina cristã. Enriquecendo-se em conceitos abstratos acerca de Deus, mas, por outro lado, ficou carente quanto às hierarquias divinas. O único meio de reparar essa falta de conhecimento, que só os mystas e os magos possuíam, foi “santificar” expoentes religiosos cristãos, que passaram a ser adorados no lugar das divindades naturais, tão conhecidas pelos antigos sacerdotes “pagãos” e tão temidas pelos padres. Abraços Davi

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