domingo, 14 de julho de 2024

RABI YEHUDA LOES - O MAHARAL DE PRAGA. Parte i

 

Judaísmo. www.morasha.com.br. RABI YEHUDA LOEW – O MAHARAL DE PRAGA. Parte I. Um dos Sábios mais influentes e reverenciados na História Judaica, o Rabi Yehuda Loew, mais conhecido como o Maharal de Praga, foi um Talmudista, cabalista e filósofo que causou um impacto profundo e de grande alcance em todas as correntes do estudo e filosofia judaicos. É um dos pensadores judeus mais citados e consequentes, de todos os tempos, que se tornou lendário por ter criado o Golem – um humanoide que protegeu os judeus dos frequentes ataques antissemitas da época. Rabi Yehuda Loew nasceu em Poznan, parte da Polônia atual, em torno do ano de 1520. O ano exato de seu nascimento continua desconhecido, com estimativas que vão de 1512 a 1526. Ele é mais conhecido como o Maharal – um acrônimo de “Moreinu HaRav Loew”, ou “Nosso Mestre, o Rabino Loew”. O sobrenome Loew se origina da palavra “Löwe”, em alemão, que significa “leão” e funciona como kinui, um substituto para o nome hebraico Yehuda, em virtude de sua associação com o leão, na Torá. Quando nosso Patriarca Yaacov abençoou seus filhos – que se tornariam os ancestrais das 12 Tribos de Israel – ele se referiu a seu quarto filho, Yehuda, como Gur Aryeh ou “Jovem Leão”. Assim sendo, muito adequadamente, o Rabi Yehuda Loew intitulou seu renomado comentário sobre o clássico de Rashi acerca dos Cinco Livros da Torá, Gur Aryeh al HaTorá – “O Jovem Leão (comentando) acerca da Torá”. A combinação entre o nome do Maharal, Yehuda, e seu sobrenome, Loew, é ainda mais acentuada pelo seu epitáfio, em seu túmulo, em Praga, que vem adornado com um brasão heráldico que exibe um leão com duas caudas entrelaçadas. Esse emblema encapsula o sobrenome do Maharal e rende um tributo à Boêmia – hoje em dia, parte da República Checa – simbolicamente representada pelo leão de caudas entrelaçadas em seu brasão de armas.  Esse leão de dupla cauda continua a ser um poderoso símbolo da Boêmia e, posteriormente, da identidade checa, tendo um lugar de destaque no brasão nacional e sendo, com frequência, invocado como um emblema de herança e orgulho nacionais. A família Loew remonta sua ancestralidade aos Exilarcas da Babilônia – os líderes da comunidade judaica na região. A linhagem desses líderes remontava à Dinastia Davídica – a linhagem real que teve início com o Rei David, fato que reforçava sua legitimidade e autoridade na comunidade judaica durante e até após o Exílio Babilônico. A linhagem do Maharal aumentava seu prestígio e autoridade, especialmente pelo fato de o Mashiach necessariamente ser um descendente do Rei David. O Rabi Yehuda Loew descendia de uma família proeminente. Seu tio, o Rabi Jakob ben Chaim, fora indicado pelo imperador Fernando I como o Reichsrabbiner (o “Rabino do Império”) do Sacro Império Romano-Germânico, em 1559. O pai do Maharal, Rabi Betzalel Loew, era um comerciante bem-sucedido, o que possibilitava ao filho ter independência financeira. Rabi Yosef Yitzhak Schneerson, conhecido como o Rebe Anterior da dinastia chassídica Chabad-Lubavitch, escreveu em seu livro Memórias do Lubavitcher Rebe que o Maharal iniciara seus estudos de Torá em ieshivot da Polônia, aos 12 anos de idade. Esse grande Mestre se dedicou ao estudo da Torá por 20 anos antes de se casar. Entre seus mestres destacava-se o Rabi Yaakov Pollak, eminente estudioso da Torá renomado por criar o método polonês de estudar o Talmud, conhecido como pilpul. Além disso, enquanto estava na ieshivá, o Maharal tivera a oportunidade de estudar junto com o Rabi Solomon Luria, o Maharshal, um dos maiores poskim (legisladores na Lei Judaica) de todos os tempos e renomado comentarista talmúdico. O Maharalteve o privilégio de ser aluno do Rabi Moshe Isserles, conhecido como o Rema. As significativas contribuições do Rema ao Shulchan Aruch – o Código da Lei Judaica, de autoria do Rabi Yosef Caro – o levaram a ser o árbitro final sobre questões da Lei Judaica para os judeus ashkenazim. Rabi Yehuda Loew se casou, aos 32 anos, com Perl, ela também uma brilhante estudiosa da Torá. O casal teve seis filhas e um filho. Como consta no livro Memórias do Lubavitcher Rebe:  “Perl sentia-se livre para se dedicar aos estudos. Diariamente, ela tinha aulas com seu marido e juntos não estudavam apenas o Talmud e a Halachá (a Lei Judaica), mas também Ética e Metafísica. Ela costumava dizer que, desde seus oito anos de idade, não se passara um dia sem que ela estudasse Torá por cinco horas, no mínimo. Após seu casamento com o Maharal, era ela quem lia as inúmeras perguntas haláchicas para ele e, depois, anotava suas respostas. E organizava e editava todos os trabalhos literários do marido. Conta-se que ela encontrou pequenos erros em oito frases, no mínimo, quando ele citava um de nossos Sábios ou algum comentário do Rashi...”. O Rabi Yehuda Loew recebeu uma educação rabínica tradicional, profundamente arraigada no estudo do Talmud, como era hábito, à época. Além disso, mergulhou com grande interesse nos mistérios da Cabalá, com especial atenção ao Zohar, a obra fundamental do misticismo judaico. Explorou, também, os textos clássicos da Filosofia Judaica, incluindo os escritos por Maimônides e pelo filósofo espanhol do século 14, o Rabi Hassdai Crescas. Além de seus estudos de Torá, o Rabi Yehuda Loew expandiu seus conhecimentos estudando Física, Matemática e Astronomia. Ainda jovem, o Rabi ganhou renome como um excepcional estudioso do Talmud. Em 1553, antes de completar 30 anos, foi convidado para a posição de Rabino de Nikolsburg, na Morávia – região histórica na parte oriental da República Checa. Durante duas décadas, mais ou menos, ocupou essa posição, após o que, ele se mudou para Praga – centro do Judaísmo centro-europeu na época. Nessa cidade, ganhou seu mais notável reconhecimento como líder espiritual da comunidade judaica. O Maharal fundou e dirigiu uma renomada Academia Talmúdica em Praga, conhecida como Klaus. Durante o tempo em que ocupou esse cargo, o Klaus se tornou um importante centro de estudos de Torá. Dada a proeminência da erudição e capacidade de liderança do Maharal, essa Academia atraiu muitos alunos e eruditos de grande talento, o que contribuiu de forma significativa para a vida judaica espiritual e intelectual na época. Além de ser um dos mestres mais influentes em Torá, de todos os tempos, o Rabi Yehuda Loew era cientista e matemático. Como não há registros de que tenha tido uma educação formal secular, fica evidente que ele era autodidata. Interessante mencionar que ele mantinha vínculos de amizade com os renomados astrônomos Tycho Brahe e Johannes Kepler. A reputação do Maharal ultrapassava a esfera judaica, atraindo a atenção do imperador Rodolfo II, da Casa de Habsburgo. Tendo servido como imperador do Sacro Império Romano-Germânico de 1576 a 1612 e possuindo vários outros títulos notáveis, como rei da Hungria e Croácia, rei da Boêmia e arquiduque da Áustria – o imperador Rodolfo II encontrou-se com o Maharal em 23 de fevereiro de 1592. Nas conversas que mantiveram, o assunto em que se aprofundaram foi a Cabalá – tema que fascinava o Imperador. Em 1584, o Maharal foi preterido na escolha para a posição de Rabino-Chefe de Praga, cargo esse que foi entregue a seu cunhado, o Rabi Isaac Hayoth. No entanto, pouco depois, o Maharal aceitou um convite de Posen, sua cidade natal, para lá servir como Rabino.  Retornou por pouco tempo para Praga, em 1588, onde sucedeu o Rabi Hayoth que se aposentava. Posteriormente, nesse mesmo ano, voltou a Posen para assumir o cargo de Rabino-Chefe da Polônia, período em que escreveu vários de seus trabalhos mais notáveis. Anos mais tarde, voltou a Praga, onde faleceu em 1609. O Maharal está enterrado no Velho Cemitério de Praga, na República Checa, que é um dos mais antigos cemitérios judaicos na Europa e constitui um importante local histórico no Bairro Judeu de Praga. O túmulo do Maharal é muito visitado, seja por peregrinos judeus seja por outros turistas, em virtude de sua renomada estatura na História Judaica e as histórias extraordinárias a ele associadas, como a do Golem de Praga. A Essência de D’us e a Divindade da Torá, segundo o Maharal de Praga. Como muitos outros filósofos e teólogos judeus, o Maharal de Praga discutia a essência de D’us dentro dos limites do pensamento tradicional judaico, que mantém que D’us é inefável e infinito. Ele ensinou que a verdadeira essência de D’us está além da compreensão humana. Assim como um ser finito não consegue, verdadeiramente, entender o conceito de infinitude, nós, humanos, não podemos compreender plenamente a essência Divina. O princípio fundamental do Judaísmo é a existência e absoluta unicidade de D’us. Para o Maharal, essa unicidade não significava, apenas, uma falta de pluralidade, mas sim, uma simplicidade absoluta, no sentido de que D’us não é composto por partes ou atributos. Quaisquer atributos usados para se referir a D’us na Torá apenas visam facilitar a compreensão humana e não denotam qualquer divisão ou multiplicidade no próprio Ser Divino. O Maharal via D’us como a razão suprema para tudo, no sentido de que tudo deriva d’Ele. Assim, pois, D’us é a “Razão Primordial” ou o “Motor Principal”. Contudo, o Maharal enfatizava que o envolvimento de D’us com o mundo não muda nem afeta Sua Essência. O Todo Poderoso permanece transcendente mesmo sendo imanente e envolvido nas questões humanas. O Maharal ensinou que o estudo da Torá oferece uma percepção sobre D’us – não no sentido de compreender Sua essência, que é inconcebível –, mas de entender Seu propósito para o mundo, o Povo de Israel e a humanidade. Para o Maharal, a Torá é muito mais do que um conjunto de mandamentos Divinos – é um reflexo da Sabedoria e da Vontade de D’us. Contribuições do Maharal ao estudo da Torá O Maharal de Praga deu uma profundidade filosófica e cabalística singular ao estudo do Talmud e do Midrash. O Talmud é a fonte primária da lei religiosa e da teologia judaica. Já o Midrash é uma porção não jurídica da Torá, constituída por narrativas, conceitos teológicos e ensinamentos morais, geralmente mediante histórias, parábolas e alegorias. Ele via a Agadá – as narrativasdo Talmud e do Midrash – não apenas como histórias e lições morais, mas como profundos ensinamentos místicos e filosóficos. Ele mergulhou nessas narrativas e parábolas, delas extraindo camadas de significado e revelações que conectaram o pensamento judaico com ideias filosóficas e princípios cabalísticos mais abrangentes. Além disso, o Maharal enfatizava a unidade e harmonia inerentes à Torá, que influenciaram sua compreensão sobre várias discussões talmúdicas. Em suas obras, conseguiu demonstrar a profundidade intrínseca e a interconexão existente na Torá. Os escritos do Maharal, particularmente seu comentário acerca do Pirkei Avot – um dos tratados da Mishná que consiste em ensinamentos éticos, máximas e aforismos de alguns de nossos maiores Sábios – refletem a santidade que ele, Rabi Yehuda Loew, personificava. Abraço. Davi.

 

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