quarta-feira, 3 de julho de 2024

CRISTIANISMO HOJE. Parte II

 

Islamismo. Livro Jesus um Profeta do Islã. Por Muhammad Ata Ur Rahim. Capítulo VIII. O CRISTIANISMO DE HOJE. Parte II. Os primeiros seguidores de Jesus, que eram casados, devem ter seguido as regras de comportamento ensinadas por Moisés. Hoje, o seu exemplo já não é emulado. A destruição das estruturas familiares, que, atualmente, verifica-se no Ocidente, demonstra a ausência de um guia de conduta efetivo no seio do casamento cristão, que indique como um homem deve se comportar com uma mulher e vice-versa. Extrair um princípio moral dos Evangelhos e tentar viver de acordo com ele, não é o mesmo que se comportar de uma dada maneira por se saber que Jesus agiu dessa mesma forma, nessa situação — um é fruto do conhecimento dedutivo e o outro resulta do conhecimento revelado. Não há referências à forma como Jesus andava, sentava, como se mantinha limpo, como ia se deitar, como acordava, como cumprimentava as pessoas, como se comportava com os mais velhos, com os mais novos, com as mulheres idosas, com as mulheres jovens, com estranhos, com convidados e com os seus inimigos, como fazia as suas compras no mercado, como viajava e o que lhe era ou não permitido fazer. Os documentos relativos à mensagem de Jesus, tal como lhe foi revelada por Deus, são incompletos e imprecisos. As doutrinas em que o Cristianismo atualmente se baseia não se encontram nesses documentos. Além disso, não obstante, o fato de os documentos, sobre o modo como Jesus agia, serem quase inexistentes e o pouco que se conhece ser virtualmente ignorado, a Igreja sempre reclamou o título de intérprete e guardiã da mensagem de Jesus, mesmo não tendo sido institucionalizada por ele. Ora, Jesus não estabeleceu qualquer hierarquia aos padres, no sentido de servirem de mediadores entre Deus e o homem e, apesar disso, a Igreja de Paulo sempre ensinou aos Cristãos a crerem que a sua salvação estava assegurada desde que agissem e tivessem fé no que a Igreja lhes dizia. Mas onde foi a Igreja buscar a autoridade? Essa autoridade, reclamada nas suas formas mais extremas, pode ser encontrada na doutrina papal da Igreja Católica Romana, que o Cardeal Carmel Heenan (1905-1975) resumiu nas seguintes palavras: «O segredo da maravilhosa unidade da nossa Igreja está na promessa de Cristo de que a Igreja nunca deixará de ensinar a verdade. Assim, sabemos o que a Igreja ensina, aceitamos, pois sabemos que é necessariamente verdade... Todos os padres católicos ensinam a mesma doutrina porque todos obedecem ao vigário de Cristo. A palavra "vigário" significa "alguém que toma o lugar de outrem". Portanto, o Papa é o vigário de Cristo porque toma o seu lugar como chefe da Igreja na terra. A Igreja permanece única porque todos os seus membros acreditam na mesma fé e acreditam nela porque a Igreja não pode ensinar nada que seja falso. É isso que queremos dizer ao afirmar que a Igreja é infalível. Cristo prometeu guiar a sua Igreja e uma das formas que escolheu para guiar a Igreja foi a de deixar o seu Vigário na terra a fim de que falasse por ele. Por isso dizemos que o Papa é infalível, porque ele é o chefe da Igreja infalível e Deus não permitiria que ele a conduzisse ao erro» 145 É significativo que o Cardeal Heenan fale de "Cristo", mas não diga nada sobre Jesus, nem refira os Evangelhos para apoiar suas afirmações. Muitas vezes se provou que este dogma é estranho, pois, se de fato todos os Papas são infalíveis, então porque foi o Papa Honório anatematisado? Quererá a recente Encíclica papal, que afirma que os Judeus não foram responsáveis pela suposta crucificação de Jesus, dizer que, afinal, os papas anteriores não eram infalíveis? Atualmente, muitos Católicos Romanos rejeitam a validade da «promessa de Cristo de que a Igreja nunca deixará de ensinar a verdade», pois tal não se encontra em nenhum dos Evangelhos. A grande diferença entre os ensinamentos e a prática da Igreja preocupa o Arcebispo de Cincinato, Joseph L. Bernadin (1928-1996). Aliás, numa entrevista na U. S. Católica, Bernadin disse o seguinte: «São tantos os que se consideram bons Católicos, muito embora as suas crenças e práticas pareçam estar em conflito com os ensinamentos oficiais da Igreja, que isto é quase um novo conceito do que significa ser Católico hoje em dia... a partir do momento em que se tornou legitimo (em 1966) comer carne à controlo de nascimentos, deixar o episcopado e se casar ou, ainda, fazer aquilo que apetecer». A este respeito, Greely escreve o seguinte: «A prática da abstinência da carne às sextas-feiras, que significava emular o jejum de Jesus e comemorar o dia em que foi crucificado, tornou-se, por fim, um mandamento da Igreja e, durante séculos, serviu como uma espécie de distintivo dos Católicos Romanos». Dóris Grumbach (1918-2022) escreveu na sua Crítica: “O Vaticano II (Concilio do Vaticano, de 1962), deixou-me estupefato pois trouxe a possibilidade de dar mais do que uma resposta a um mundo mal definido, que assenta nas consciências e nos comportamentos individuais. Mas tal como noutras áreas da experiência humana, por regra, assim que se abre uma fresta tudo passa a ser posto em dúvida. Dessa forma, nada permanece constante ou absoluto e, para mim, a Igreja se tornou uma questão discutível Ainda sigo os Evangelhos, Cristo e alguns dos seus seguidores, mas a instituição deixou de me parecer importante. Já não vivo nela».146 O fato de a Igreja se ter investido de autoridade, tal como a ideia de sua total infalibilidade, ainda permanecem, tendo-se enraizado até nas Igrejas que rejeitam a autoridade do Papa. Nos dias de hoje, contudo, começa-se a duvidar e a rejeitar a validade desta doutrina numa escala nunca conhecida. De acordo com as palavras de George Harrison: «Quando se é novo, nossos pais nos levam à Igreja e a escola empurra-nos a uma religião. Obviamente, ambos tentam introduzir algo em nossa mente, porque, caso contrário, ninguém iria à Igreja, nem ninguém acreditaria em Deus. Mas porquê? Porque não interpretaram a Bíblia como deviam. Eu não acreditei verdadeiramente em Deus como me tinham ensinado, pois era exatamente igual a algo saído dum conto de ficção cientifica. Apenas, ensinam-nos a ter fé, sem termos que nos preocupar com isso e tendo apenas que acreditar no que nos dizem». Entre os dois polos, uma aceitação ou uma rejeição completa da segurança da Igreja oficial como guardiã da mensagem de Jesus, há toda uma vasta gama de opiniões acerca do que pode ser um cristão. Sobre isso, Wilfred Cantwell Smith (1916-2000) escreve o seguinte: «Atualmente, há tanta diversidade, tantas divergências e tanto caos no seio da Igreja Cristã, que o velho ideal de uma verdade cristã unificada e sistemática, desapareceu e o movimento ecumênico surgiu demasiado tarde. O que aconteceu foi que o mundo Cristão deslizou para uma situação de grande variedade e de inúmeras alternativas opcionais. Deixou de ser possível ouvir, ou sequer imaginar que alguém lhe possa dizer qual o significado formal e genérico de ser cristão. Cada um terá que decidir por si e só por si». Essa conclusão pressupõe que existem, atualmente, tantas versões do Cristianismo como existem cristãos e que o papel que a Igreja outrora desempenhou, de instituição guardiã da mensagem de Jesus, já se perdeu quase por completo. Aliás, um estudioso diplomado pela U.C.L.A. pergunta o seguinte: «Qual é a razão de ser da Igreja se tudo cabe sempre à minha consciência»? No entanto, a Igreja permanece como parte integrante da atual cultura ocidental e a relação que existe entre as duas é interessante. Na tentativa de compreender a natureza da existência, foram escritas, no Ocidente, durante os últimos séculos, numerosas obras literárias, que podem nos servir de catálogo acerca de todos os ramos do pensamento, que a mente humana persegue sempre que não possui a certeza do conhecimento revelado, segundo o qual deve viver e nortear sua vida. Alguns escritores, tais como Pascal, compreenderam que a mente é um instrumento limitado e que o coração é o centro do ser, aquele que contém o verdadeiro conhecimento: «O coração tem razões que a razão desconhece... É o coração e não a mente que tem consciência de Deus. É nisso que consiste a fé: na percepção intuitiva de Deus através do coração e não através da razão». 150 Numa tentativa para garantir o acesso ao coração, muitos rejeitaram o Cristianismo e experimentaram outros caminhos: «Diz-se que a prática do misticismo conduz ao conhecimento da "verdade" acerca do universo, uma verdade que é inexprimível por palavras, mas que pode ser sentida. O caminho pode ser a música, as drogas, a meditação...”.151 Estas tentativas de aproximação da compreensão da Realidade têm sido adotadas em larga escala por muitas pessoas no Ocidente, muitas vezes, apenas como meio de autossatisfação. A Igreja se acomodou depressa a essas novas tendências da cultura Ocidental. Alguns padres, numa tentativa de manter as Igrejas cheias, introduziram no ritual grupos de música pop e equipamento musical para atraírem os jovens; concertos, exposições e vendas de objetos variados, para os gostos mais conservadores. Os motivos caridosos ajudam aqueles que se sentem atraídos por eles a estabelecer um propósito. Estas tentativas de "modernizar" a Igreja e de mantê-la, a todo custo, "atualizada", estão de acordo como as intenções da Igreja de Paulo de fazer cedências e com a ideia de que, quando não puder transmitir a mensagem de Jesus, deve, pelo menos, desempenhar uma "função social útil". Esse processo de cedências, desenvolvido especialmente durante a última década, teve como resultados uma continua absorção da Igreja pela cultura e a reabsorção da cultura por esta mutante estrutura da Igreja. É um processo com dois sentidos, que tem vindo a ser constantemente aperfeiçoado, desde que Paulo e os seus seguidores o desencadearam. Muitas pessoas "voltaram ao Cristianismo" em consequência das suas experiências com música, drogas e meditação, tendendo, ou a rejeitar completamente as experiências anteriores e a adotar uma forma puritana de cristianismo, ou a incorporar no seu modo de vida novas versões dele. Todavia, estas duas tendências escondem a profecia de Jesus que, assim, ou é exaltado como Deus, ou considerado como uma figura carismática, que preconizou o bem, mas foi mal compreendido. A identificação da Igreja com a cultura ocidental está claramente exposta quando observamos como as pessoas vivem, boje em dia, pois, à exceção dos que se retiraram a mosteiros e conventos de forma a louvarem Deus, o estilo de vida daqueles que se intitulam cristãos aproxima-se muito do estilo de vida de todos os que se afirmam agnósticos, humanistas ou ateus; as suas crenças podem ser diferentes, mas em geral os comportamentos são os mesmos. As leis que existem nos países cristãos do Ocidente, que governam o nascimento e a morte, a formação e a dissolução do casamento, os direitos de propriedade no interior e fora do casamento ou, no caso de divórcio ou morte, a adoção, tutela, o comércio e a indústria não se encontram nos Evangelhos. Não são leis que tenham sido reveladas ao homem por Deus, mas são, isso sim, fruto de um conhecimento dedutivo e foram, ou herdadas do sistema de leis dos romanos, ou baseadas na prática corrente das pessoas durante um longo período, ou ainda estatutos erguidos e emendados de acordo com o método democrático que deriva dos antigos gregos. Nos tribunais de hoje, nas discórdias entre pessoas, ninguém pode invocar os Evangelhos como uma autoridade compulsiva e fazê-la valer. A cristandade dos nossos dias é inseparável da cultura ocidental. A Igreja Cristã e o Estado são um só, mas os indivíduos que trabalham no interior destas instituições não vivem como Jesus. Hoje em dia, a completa enfermidade de que sofre a cristandade se deve, sem dúvida, ao fato de que falta aos cristãos a ciência do comportamento social e essa falta os empobreceu nesta vida e os deixou mal preparados para o que acontece depois da morte. Tal como escreve Wilfred Cantwell Smith: «A afirmação de que a cristandade é verdadeira não tem nada de significativo; a única questão que diz respeito a Deus, a mim ou ao meu vizinho é se o meu cristianismo é verdadeiro e o vosso também. E, no meu caso, relativamente a essa questão, a essa verdadeira questão cósmica, a única resposta válida é um desgostoso 'nem por isso...'». A luz de tudo isso, não é de fato uma surpresa que, a medida que as igrejas de todo mundo se esvazia, as Mesquitas do Islamismo se encham. Abraço. Davi

 

segunda-feira, 1 de julho de 2024

LIVRE ARBÍTRIO X PECADO ORIGINAL. Parte III

 

Judaísmo. Livro Judaísmo e Cristianismo – As Diferenças. Por Trude Rosmarin ((1908-1989). Capítulo III. LIVRE ARBÍTRIO X PECADO ORIGINAL. Parte III. Ao judeu é ensinado que a alma humana é criada pura e descontaminada. A sua esperança é que, ao morrer, esteja tão livre do pecado quanto ao nascer. O mesmo pensamento é expresso na exortação rabínica de devolver a alma ao seu Criador no mesmo estado de pureza que a recebeu em custódia. Obviamente, esse aspecto não dá margem a nada semelhante ao dogma cristão do Pecado Original. O cristão busca proteção e fuga do Pecado Original – e da pecaminosidade em geral – sob a proteção da crença na “graça” como manifesta na vida e imolação de Jesus Cristo. Um judeu desafia o pecado orgulhosa e desafiadoramente, fortalecido pelo compromisso Divino de que ele mesmo pode subjugá-lo e controlá-lo. Longe de ser maldição ou falta de sorte, o judaísmo considera a tentação do pecado como um aspecto humano característico e precioso. Pois “não existe má inclinação nos animais”. O impulso perverso, o qual pode e deve ser dominado, é inerente ao ser humano e acrescenta a ele valor e dignidade, e não o afasta deles. Os rabinos interpretaram de modo vigoroso o mandamento “E amarás teu Deus com todo o teu coração, Deuteronômio 6,5”. Como significado que se deve servir a Deus com ambos os impulsos – a inclinação para o bem e aquela para o mal. O mesmo pensamento é expresso na exposição midráshica da passagem “E Deus viu tudo o que tinha feito, e era muito bom Gênesis 1,31”. A expressão “muito bom” é tida como uma alusão também à inclinação má, pois se não fosse por aquela inclinação – em sua forma sublimada. É claro, ninguém construiria uma casa, se casaria, teria filhos e se engajaria em empenhos úteis. A lição a ser deduzida é que o desejo sexual e a ambição pelo sucesso terreno não são sentimentos maus por si mesmo, mas somente se forem gratificados promiscuamente e não estiverem sujeitos ao controle da “inclinação pra o bem”. A literatura cristã sagrada é rica em narrações sobre “santos”  que milagrosamente derrotaram o” diabo”. O judaísmo não reconhece poder mau independente e em oposição a Deus. A devoção judaica, portanto, não é testada em embates com o diabo, mas numa batalha bastante realística contra o “mau impulso”. Existem inúmeras histórias talmúdicas sobre sábios que dominaram seus desejos pecaminosos com a potente arma do “bom impulso”. Esses contos refletem satisfação e felicidade em vez de resignação e mágoa. Um judeu se regozija quando pode provar seu caráter ético na batalha sem ajuda contra as tentações do pecado. Pois sem a tentação e sua poderosa isca, não haveria mérito algum em resistir a ela. Essa atitude é notavelmente expressa na história talmúdica sobre o duelo do piedoso Rabi Amram com o desejo sexual. Certa vez, sentindo-se incapaz de resistir a tentação de uma bela mulher,  o rabi procurou por ajuda e convocou seus colegas com o seguinte apelo: “A casa de Amram está pegando fogo”. Mas eles não poderiam apagar a chama da paixão que ameaçava consumi-lo. Então o Rabi Amram, por conta própria, retirou o desejo pecaminoso de seu coração e, quando se viu livre daquelas labaredas de fogo, assim se dirigiu ao pecado: “Apesar de você ser fofo e eu carne, mesmo assim sou mais forte do que você”. Um judeu é ensinado a se considerar sempre e cada vez mais forte do que o pecado e do que o poder que o aproxima dele. Ele é convidado a se vangloriar dessa força, do mesmo modo como o Rabi Amram fez. E assim, mesmo quando sucumbe ao pecado, um judeu ainda sabe que se tentar com afinco, é capaz de derrotar o mau impulso. Apesar de o desejo pecaminoso ser fogo, o ser humano é mais forte que ele e capaz de extingui-lo com seu impulso ético. “Sou mais forte do que você”. Essa é a resposta judaica pecado e, por isso, nunca recorreram a qualquer outra arma contra a má inclinação, a não ser o bom impulso e o poder da escolha ética. Obviamente, essa visão é bastante dinâmica, em oposição aos princípios cristãos estáticos do “pecado original” e da “graça”. O espírito dinâmico do judaísmo dá a incumbência aos seus seguidores de lutar incessantemente por uma perfeição ética maior. Por meio da subjugação do mau instinto. A perfeição almejada é incomensurável e, portanto, um judeu deve sempre se esforçar em renovar seu empenho ético. Ele não pode relaxar e esmorecer na escalada as alturas éticas, nem confiar num “salvador” que o levará até elas. Ele próprio deve trilhar o difícil caminho, vagarosamente e passo a passo. Pois, se não fosse assim, não haveria mérito na devoção e não haveria glória e triunfo na derrota do “mau impulso”. O problema ético com o qual o cristão fiel se confronta é mais simples e menos desafiador. Primeiramente, ele deve acreditar em Jesus Cristo e que ele morreu devido aos pecados da humanidade. Essa crença, e nada mais, abre os portões do Paraíso cristão. É claro, o cristão também tem o compromisso de levar uma vida virtuosa. Permanece o fato, entretanto, de que o cristianismo coloca a “graça” acima da conduta e do empenho ético na busca bem-sucedida da salvação. O cristianismo não dá valor ao estimulante desafio ético representado pelo “mau impulso”, pois não vê o pecado como “desafio”. Mas, sim, como o inevitável destino de cada ser humano do qual existe somente uma escapatória a “graça” da imolação de Jesus Cristo. Os cristãos, por este motivo, as vezes acham difícil compreender a maneira pela qual o judaísmo vê o ser humano que “se afastou do pecado cujo sabor conhecia e subjugou seu mau impulso”. Aqui, uma vez mais, o caráter dinâmico do progresso ético é exaltado sobre a perfeição ética alcançada pela mera crença passiva. A característica dinâmica da ética judaica talvez seja mais memoravelmente exaltada na vigorosa alegoria talmúdica seguinte: “No mundo vindouro, o Santíssimo – abençoado seja – trata a má inclinação e a aniquilará diante do justo e do perverso. Ao justo parecerá uma poderosa montanha, mas, ao perverso, um simples fio de cabelo. Ambos se lamentarão. O justo se lamentará e exclamará: Como conseguimos escalar uma montanha tão alta como está? E o perverso se lamentará, dizendo: Como foi que não pudemos dar conta de um simples fio de cabelo como esse”! Esta é, portanto, a recompensa para a piedade e a punição para o pecado. A vitória ética do justo é engrandecida e projetada em tal dimensão, que aqueles que a alcançam ficam chocados com sua magnitude. A punição dos pecadores, por outro lado, consiste na minimização do desafio no qual não lograram êxito. De modo que fiquem perplexos de vergonha por não terem conseguido subjugar aquele “simples fio de cabelo”. Não existe ponte que possa transpor o abismo existente entre as doutrinas judaicas do livre arbítrio e da liberdade de escolha ética e dos dogmas cristãos do “pecado original e da “graça”. Abraço. Davi.