quarta-feira, 5 de junho de 2024

A VIRTUDE NÃO VEM DO CÉU. Parte II

 

Confucionismo. O Livro das Religiões. A VIRTUDE NÃO VEM DO CÉU. Parte II. O conceito chines de paraíso, por sua vez, adquiriu um tom mais burocrático, e, na época da dinastia Song (960-1279 d.C.), o céu era visto como reflexo da corte do imperador chinês. Com um imperador próprio e um serviço público de divindades menores. Apesar do grande número de referência ao céu, Confúcio não acreditava que seus conceitos morais vinham dos deuses. Ao contrário, dizia que eram traços inerentes ao coração e a mente humana. Nesse sentido, o confucionismo é mais um sistema humanístico de filosofia moral do que uma religião. Embora ainda hoje, com cerca de 6 milhões de seguidores, essa diferenciação não seja tão marcada. Na religião popular da China, Confúcio passou a integrar o enorme panteão de deuses, mas muitos de seus seguidores o reverenciam apenas como um grande mestre e pensador. Os cinco relacionamentos comuns. Soberano-subalterno. Os soberanos devem ser benevolentes e os subalternos leais. Pai-filho. Os pais devem ser carinhosos, e os filhos, obedientes. Marido-esposa. Os maridos devem ser bons e justos, e as esposas, compreensivas. Irmão-irmão. Os irmãos mais velhos devem ser gentis, e os mais novos, respeitosos. Amigo-amigo. Os amigos mais velhos devem ser atenciosos, e os mais novos, reverentes. O ritual como base. A adoção do confucionismo como religião deve-se, em grande medida, ao fato de Confúcio defender a prática de ritos e cerimônias que honravam ancestrais. Parte de uma obrigação maior de lealdade a família e amigos e respeito aos idosos, que Confúcio definiu como os Cinco Relacionamentos Comuns. A reciprocidade desempenha um papel fundamental nesses relacionamentos, uma vez que o confucionismo inclui, em sua essência, a regra de ouro – não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você. Confúcio acreditava que por meio do desenvolvimento de laços de amor, lealdade, ritual e tradição, além do pensamento de virtude, ação de virtude e respeito. Todo mundo poderia ser bom, e a sociedade se uniria de maneira sensata e positiva. Reverenciando ancestrais e realizando os rituais certos em homenagem a eles, os humanos poderiam manter um estado de harmonia entre este mundo e o céu. No nível familiar, esses rituais eram um reflexo dos ritos e sacrifícios realizados pelos imperadores para seus ancestrais, confirmando o mandato dos céus que regia seu governo. Confúcio passou doze anos viajando e ensinando. Adquiriu discípulos da mesma forma que as “escolas” de filosofia contemporânea da Grécia antiga. A doutrina do meio diz: “Somente o indivíduo dotado da mais completa sinceridade existente sob o céu pode se transformar”. A devoção aos pais e aos antepassados continua sendo uma das mais importantes virtudes confucionistas, e seus laços e deveres não se extinguem com a morte. Os filhos devem levar oferendas ao túmulo de seus pais e reverenciá-los em locais sagrados em casa, que devem conter tábuas nas quais o espírito dos ancestrais possa morar. Até hoje, o principal momento de um casamento confucionista é quando o casal se curva perante as tábuas dos ancestrais do noivo. Uma forma de “apresentação” formal da noiva aos antepassados da família do marido, para receber sua bênção. A evolução do confucionismo. Foi durante a dinastia Song que o erudito Zhu Xi (1130-1200 d.C.) incorporou os elementos do taoismo e do budismo no confucionismo. Confúcio (552 a.C. – 489 a.C.) não foi o primeiro sábio chinês a contemplar as verdades eternas, e ele próprio admite não ter inventado nada, mas simplesmente estudado as ideias de antigos pensadores, compilando-as em cinco livros: Os Cinco Clássicos. Na dinastia Zhou ocidental (1050-771 a.C.), os estudiosos eram bastante valorizados na corte, e no século VII a.C. surgiram as chamadas Cem Escolas de Pensamento. Confúcio viveu numa época de efervescência filosófica, porém também de grandes mudanças sociais, com a diminuição do poder dos imperadores Zhou e a ameaça à ordem social. O foco de Confúcio na ordem e na harmonia resultou de sua verdadeira preocupação com o possível colapso da sociedade. Os imperadores das últimas dinastias, como a Han (205 a.C. – 220 d.C.), a Song (960-1279 d.C.) e a Ming (1368-1644 d.C.), reconheceram o valor dos ideais confucionistas em manter a ordem social. Desse modo, o confucionismo se tornou a religião oficial da China, o que causou forte repercussão na vida diária e no pensamento chinês até o século XX (1901-2000). O confucionismo foi atacado durante a Revolução Cultural (1966-1976), liderado por Mao Tsé Tung (1893-1976), por seu conservadorismo social. No entanto, recentemente um novo confucionismo surgiu na China, mesclando ideias confucionistas com pensamentos atuais chineses e filosofia ocidental. Embora Confúcio tenha desenvolvido sua filosofia com base em conceitos e práticas existentes, ele ficou conhecido por afirmar que os seres humanos são naturalmente bons. Só precisam aprender a utilizar suas virtudes – e que essa bondade não se restringe à aristocracia. Os Analectos: “Tenha a lealdade e a sinceridade como princípios fundamentais. A natureza dos homens é parecida: são seus hábitos que os afastam”. Abraço. Davi

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