Confucionismo. O Livro das
Religiões. A VIRTUDE NÃO VEM DO CÉU. Parte II. O conceito chines de paraíso,
por sua vez, adquiriu um tom mais burocrático, e, na época da dinastia Song
(960-1279 d.C.), o céu era visto como reflexo da corte do imperador chinês. Com
um imperador próprio e um serviço público de divindades menores. Apesar do
grande número de referência ao céu, Confúcio não acreditava que seus conceitos
morais vinham dos deuses. Ao contrário, dizia que eram traços inerentes ao
coração e a mente humana. Nesse sentido, o confucionismo é mais um sistema
humanístico de filosofia moral do que uma religião. Embora ainda hoje, com
cerca de 6 milhões de seguidores, essa diferenciação não seja tão marcada. Na
religião popular da China, Confúcio passou a integrar o enorme panteão de
deuses, mas muitos de seus seguidores o reverenciam apenas como um grande
mestre e pensador. Os cinco relacionamentos comuns. Soberano-subalterno. Os
soberanos devem ser benevolentes e os subalternos leais. Pai-filho. Os pais devem
ser carinhosos, e os filhos, obedientes. Marido-esposa. Os maridos devem ser
bons e justos, e as esposas, compreensivas. Irmão-irmão. Os irmãos mais velhos
devem ser gentis, e os mais novos, respeitosos. Amigo-amigo. Os amigos mais
velhos devem ser atenciosos, e os mais novos, reverentes. O ritual como base. A
adoção do confucionismo como religião deve-se, em grande medida, ao fato de
Confúcio defender a prática de ritos e cerimônias que honravam ancestrais.
Parte de uma obrigação maior de lealdade a família e amigos e respeito aos
idosos, que Confúcio definiu como os Cinco Relacionamentos Comuns. A
reciprocidade desempenha um papel fundamental nesses relacionamentos, uma vez
que o confucionismo inclui, em sua essência, a regra de ouro – não faça com os
outros o que você não gostaria que fizessem com você. Confúcio acreditava que
por meio do desenvolvimento de laços de amor, lealdade, ritual e tradição, além
do pensamento de virtude, ação de virtude e respeito. Todo mundo poderia ser
bom, e a sociedade se uniria de maneira sensata e positiva. Reverenciando
ancestrais e realizando os rituais certos em homenagem a eles, os humanos
poderiam manter um estado de harmonia entre este mundo e o céu. No nível
familiar, esses rituais eram um reflexo dos ritos e sacrifícios realizados
pelos imperadores para seus ancestrais, confirmando o mandato dos céus que
regia seu governo. Confúcio passou doze anos viajando e ensinando. Adquiriu
discípulos da mesma forma que as “escolas” de filosofia contemporânea da Grécia
antiga. A doutrina do meio diz: “Somente o indivíduo dotado da mais completa
sinceridade existente sob o céu pode se transformar”. A devoção aos pais e aos
antepassados continua sendo uma das mais importantes virtudes confucionistas, e
seus laços e deveres não se extinguem com a morte. Os filhos devem levar
oferendas ao túmulo de seus pais e reverenciá-los em locais sagrados em casa,
que devem conter tábuas nas quais o espírito dos ancestrais possa morar. Até
hoje, o principal momento de um casamento confucionista é quando o casal se
curva perante as tábuas dos ancestrais do noivo. Uma forma de “apresentação”
formal da noiva aos antepassados da família do marido, para receber sua bênção.
A evolução do confucionismo. Foi durante a dinastia Song que o erudito Zhu Xi
(1130-1200 d.C.) incorporou os elementos do taoismo e do budismo no
confucionismo. Confúcio (552 a.C. – 489 a.C.) não foi o primeiro sábio chinês a
contemplar as verdades eternas, e ele próprio admite não ter inventado nada,
mas simplesmente estudado as ideias de antigos pensadores, compilando-as em
cinco livros: Os Cinco Clássicos. Na dinastia Zhou ocidental (1050-771 a.C.),
os estudiosos eram bastante valorizados na corte, e no século VII a.C. surgiram
as chamadas Cem Escolas de Pensamento. Confúcio viveu numa época de
efervescência filosófica, porém também de grandes mudanças sociais, com a
diminuição do poder dos imperadores Zhou e a ameaça à ordem social. O foco de
Confúcio na ordem e na harmonia resultou de sua verdadeira preocupação com o
possível colapso da sociedade. Os imperadores das últimas dinastias, como a Han
(205 a.C. – 220 d.C.), a Song (960-1279 d.C.) e a Ming (1368-1644 d.C.),
reconheceram o valor dos ideais confucionistas em manter a ordem social. Desse
modo, o confucionismo se tornou a religião oficial da China, o que causou forte
repercussão na vida diária e no pensamento chinês até o século XX (1901-2000).
O confucionismo foi atacado durante a Revolução Cultural (1966-1976), liderado
por Mao Tsé Tung (1893-1976), por seu conservadorismo social. No entanto,
recentemente um novo confucionismo surgiu na China, mesclando ideias
confucionistas com pensamentos atuais chineses e filosofia ocidental. Embora
Confúcio tenha desenvolvido sua filosofia com base em conceitos e práticas
existentes, ele ficou conhecido por afirmar que os seres humanos são
naturalmente bons. Só precisam aprender a utilizar suas virtudes – e que essa
bondade não se restringe à aristocracia. Os Analectos: “Tenha a lealdade e a
sinceridade como princípios fundamentais. A natureza dos homens é parecida: são
seus hábitos que os afastam”. Abraço. Davi
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