Islamismo. www.arresala.org.br. Por: Ahmed Ismail. A
MEDITAÇÃO SOBRE AS REALIDADES DO ALÉM. Em nome de Allah, o Clemente, o
Misericordioso. A benção e a paz sobre o Nobre Mensageiro Mohammad e sobre sua
purificada linhagem. Diz Allah, O Majestoso, no Alcorão: “É ELE (ALLAH) QUEM
VOS DÁ VIDA E ENTÃO VOS FARÁ MORRER E EM SEGUIDA VOS RESTITUIRÁ A VIDA…” (22:
66). Em sua existência o ser humano tem sobre si o decreto de 4 fases: o útero,
a vida terrena, a vida no Barzakh (pós-morte) e a vida no akhirah (eternidade).
A vida terrena é como um tênue e curtíssimo fio suspenso na eternidade, e nesta
limitadíssima extensão de tempo temos a oportunidade preciosa de despertar
nossa consciência para a realidade maior, que não conhece limitação de tempo ou
espaço, a qual se denomina AKHIRAH (eternidade). ALLAH, Exaltado Seja, dotou o
humano das faculdades necessárias para a perfeita compreensão desta realidade.
Enviou Profetas e Mensageiros revelando a Ciência Correta (Orientação Divina),
para que a humanidade se guiasse sobre a realidade que está além dos sentidos.
De fato, sem esta orientação correta, o homem permanece como alguém que esteja
confinado num quarto escuro; que não consegue conceber a vastidão e a luz além
dos limites das paredes que o cercam. Em tal condição de ignorância, o homem
faz do seu quarto “o seu mundo”, concentrando sua atenção e suas expectativas
apenas no que está ao alcance dos seus sentidos. Evidencia o Alcorão:
“DISTINGUEM SOMENTE A APARENTE VIDA TERRENA; PORÉM ESTÃO ALHEIOS QUANTO A OUTRA
VIDA.” (30; 7). Comumente vivemos segundo a interpretação de nossos sentidos e
não nos percebemos do quanto isso é superficial. Não obstante, todos sabemos
que é inevitável o confronto com uma realidade que transcende toda nossa
compreensão: a morte. A perturbadora constatação que o homem é a única criatura
que tem consciência de que morrerá cria nele uma constante inquietação. Por
mais que se negue a raciocinar sobre sua existência, o homem convive com essa
ameaçadora consciência da morte. Assim, desde os tempos mais remotos e em todas
as sociedades humanas desenvolveu-se uma filosofia voltada a diversão, ao
prazer e a ocupação mental para afastar essa perturbadora realidade. No mundo
moderno adotou-se um estilo de vida voltado a satisfação constante dos sentidos
e desenvolveu-se todo um conjunto de ideias que visam ocultar ou suavizar a
inevitabilidade da morte. Uma curiosa característica que diferencia a sociedade
moderna das sociedades tradicionais é que, a reverência e a ritualização da
morte que cumpriam um papel de suavizar o sofrimento e estabelecer um laço
comunitário, na sociedade moderna e individualista tendem a perder qualquer
significado. Em seu dia a dia o homem moderno, ainda que cercado por todos os
avanços tecnológicos de sua época confronta-se com a morte à sua volta e então
choca-se, atemoriza-se por um instante para logo depois retornar a condição
alienante, envolvido em seus planos, negócios, prazeres, viagens, programas de
lazer para manhã ou para daqui um ano, como se a possibilidade da morte não
existisse até que ele próprio se confronta com o inevitável. Diz o Altíssimo no
Alcorão: “NÃO VOS DEMOS UMA VIDA LONGA PARA QUE QUEM DE VÓS QUISESSE REFLETIR
PUDESSE FAZÊ-LO?…” (35: 37). Compreendemos que ainda que curta a existência
terrena em comparação a eternidade, diante da percepção humana, esta vida
constitui tempo perfeitamente hábil para que o homem reflita e busque a
orientação divina. Antes que a morte chegue e com ela a trágica constatação da
perda das oportunidades proporcionadas pela vida. Consta que o Mensageiro de
Allah (saas) tenha dito: “A mais inteligente das pessoas é a que mais recorda
sua morte” e também “Recordai a morte! Juro por aquele em cuja mão está minha
vida que se soubésseis o que eu sei, certamente teríeis passado menos tempo a
rir e mais tempo a chorar”. Diante da realidade maior que se descortina com a
morte, o homem lamenta o tempo perdido nas ilusões, rivalidades, no acúmulo de
bens e em todas as outras atividades próprias da vida terrena. Evidencia o
Alcorão: “(DISSE XAITAN)… JURO QUE OS ALUCINAREI NA TERRA E OS COLOCAREI TODOS
NO ERRO; SALVO DENTRE ELES OS TEUS SERVOS SINCEROS.” (15: 39 e 40). Este poder
de sedução de Xaitan, abrilhanta para o homem tudo o que o afasta da senda
divina, levando-o a se empenhar naquilo que o levará a ruína espiritual no
AKHIRA (vida eterna), e a desprezar as ações que resultariam em sua
bem-aventurança após a morte física. Entretanto, não há nenhum obstáculo
intelectual ou prático entre o homem e a Orientação Divina. Consciência da
realidade da morte não significa algum tipo de negação mórbida da vida. É comum
ouvirmos o argumento de algumas pessoas carentes de entendimento que, acreditam
que “viver” significa somente usufruir sem limites ou restrições e que,
qualquer outro modo de pensar seria um cerceamento da liberdade individual. O
Islam nos ensina que o usufruir dos benefícios da vida é necessário e que isto
não significa transformarmos a existência numa contínua busca de prazer e
diversão. A opinião dessas pessoas se baseia num erro fundamental: de que a
vida não possui nenhum propósito. O Islam nos orienta a consciência de que a
vida possui um alto propósito, e que este propósito pode ser compreendido por
aqueles que acatam a Orientação Divina e que em outras palavras, adotam a
Mensagem Divina como guia para sua vida. ALLAH promete sua proteção aos que se
apegam firmemente a orientação divina e se empenham sinceramente nesta senda,
livrando-os das trevas da ignorância e guiando-os para a luz, assim evidencia o
ALCORÃO: “ALLAH É O PROTETOR DOS FIÉIS; É QUEM OS RETIRA DAS TREVAS E OS CONDUZ
PARA A LUZ; AO CONTRÁRIO, OS INCRÉDULOS, CUJOS PROTETORES SÃO OS SEDUTORES QUE
OS ARRASTAM DA LUZ, LEVANDO-OS PARA AS TREVAS, SERÃO CONDENADOS AO INFERNO ONDE
PERMANECERÃO ETERNAMENTE.” (2: 257). É esta condição fundamental da vida
terrena de oportunidade de escolha que a torna preciosa. A todo momento de
nossa vida temos diante de nós a senda correta e os muitos caminhos da perdição
espiritual e a despeito de todos os fatores externos a decisão final sobre
nossas ações pertence a nós mesmos. Disse o Mensageiro de Allah (saas): “Não há
uma só noite em que o anjo da morte não chame os mortos nos túmulos e
pergunta-lhes o que lamentam hoje quando vêem vivamente e conhecem o além.
Então dizem os mortos: “Nós lamentamos e invejamos os que crêem, que estão nas
mesquitas a orar enquanto nós não, estão a conceder Zakat enquanto nós não,
estão a jejuar durante o Ramada enquanto nós não, estão a doar em caridade o
que excede as necessidades de suas famílias, enquanto nós não o fazemos”. Este
Hadíth demonstra a real escala de valores pela qual nossa vida neste mundo será
pesada e é esta escala que se tornará evidente para a pessoa, quando as ilusões
materiais chegarem ao fim com a morte física. Imam Ali (as) em um dos seus
sermões disse: “Lembrai: vosso hoje pode ser o único tempo que terás para
esperar, anelar e trabalhar e depois de hoje pode haver o grande vazio da
morte, quem quer que obre durante este período de espera, a morte não lhe causará
dano. Lembrai, quem não se beneficia do Din cai presa fácil de Xaitan e quem a
orientação não pode conduzi-lo ao caminho reto termina em calamidade e em
destruição. Lembrai que está decretado que a vida siga e a vós se aconselha que
obreis para o mundo vindouro com pensamentos corretos e obras piedosas”. Portanto,
o benefício do Din está ao alcance dos que meditam sobre suas ações, o mundo
que o cerca e, sobretudo, quanto as palavras de Allah no Alcorão, luz para a
compreensão das questões desse mundo e do além; e esta compreensão é de grande
valia para a ação correta e o aperfeiçoamento da fé. Imam Mussa Ibn Jáfar (as)
disse: “Quem não se examina e julga a si mesmo a cada dia, não é um dos
nossos”. Este princípio moral preserva o homem de muitas das ilusões
engendradas por Xaitan e verdadeiramente aquele que JULGA A SI MESMO e que se
auto-repreende encontra o caminho para as boas ações. O incremento disso é a
compreensão correta da verdadeira escala de valores que devemos adotar em nossa
vida. No decorrer de nossa curta passagem neste mundo somos ensinados a adotar
os mais diversos padrões e escalas de valores originados das crenças e idéias
humanas, alguns dizem-nos que o conforto e a riqueza são os mais elevados
valores da vida, outros que a cultura e a erudição representam esses valores, e
muitas outras escalas de valores nos são ensinadas. Entretanto poucos de nós
questionamos sobre qual seria a escala de valores que ALLAH Exaltado Seja,
teria estabelecido quanto a nossa vida e nossas ações. Não obstante a nossa
razão nos diga que com a morte nossas escalas de valores também morrem. Mesmo o
mais materialista dos homens aceita a verdade de que a morte iguala a todos e
anula as distinções forjadas pelo homem. Ainda que a estupidez humana tenha
criado diferenças que são carregadas até o túmulo, todos somos forçados a
concordar que todas as pretensões e convenções humanas terminam aí. A escala de
valores de ALLAH, a qual transcende a morte e vigora na eternidade difere
absolutamente de todos os padrões humanos de julgar a vida. Essa escala não
exige do homem uma total renúncia da vida material como muitos insensatos
preconizam, longe disso, essa escala exige que o homem cumpra suas obrigações
mundanas, busque o ganho de vida lícito, que viva neste mundo e que satisfaça
suas necessidades lícitas, apenas que não faça de tudo isso o Objetivo último
de sua existência, que não tenha o bem estar mundano como uma única e exclusiva
meta. O Islam nos ensina que o adotar o bem-estar mundano como objetivo último
da existência, negligenciando a Realidade Maior da eternidade é um estado de
absoluta ignorância, e aqueles que adotam tal modo de viver e pensar são os que
provam o pior destino quando o inevitável os alcança.Evidencia o Alcorão: “AQUELES
QUE NÃO CRÊEM NA OUTRA VIDA CONSTITUEM O PIOR EXEMPLO…” (16: 60). “E AQUELES
QUE NEGAM O ALÉM TEMOS PREPARADO PARA ELES UM CASTIGO DOLOROSO.” (17:10). O
negar a realidade do Akhira não se resume a uma negação formal baseada em
descrença, mas sim é a atitude de negligenciar os Preceitos Divinos buscando
como meta única da existência o satisfazer nossas próprias paixões, caprichos e
desejos, elegendo-os como ídolos para os quais todos os nossos esforços e todo
nosso tempo é devotado. Nessa escala divina de valores com a qual nossas vidas
e nossas ações serão pesadas, absolutamente nada das pretensões humanas é
levada em consideração. Nas fiéis tradições consta que o Mensageiro de ALLAH
(saaw) tenha dito: “Quando um homem morre cessam todas suas obras, com exceção
de três: a caridade ininterrupta, o conhecimento útil que tenha deixado a
outrem ou um bom filho que peça a ALLAH por ele”. Invariavelmente, o ser humano
torna-se cativo de suas ações ao fechar os olhos paras este mundo, deixando
para trás todas as aparências externas e todas as escalas de valores forjadas
pela vaidade humana. Imam Ali (as) disse: “Existem três amigos para um
muçulmano. O primeiro amigo é o que diz: estarei contigo, quer você esteja vivo
ou morto, este é sua Ação. O segundo amigo é o que diz: eu estarei contigo até
a entrada de seu túmulo, então eu o abandonarei, este é seu filho. O terceiro
amigo é o que diz: eu estarei com você até a sua morte, e este é a sua riqueza
(seus bens), que pertencerão a seus herdeiros quando ele morrer”. Parte Dois. Diz
Allah, O Altíssimo, no Alcorão: “SABEI QUE A VIDA TERRENA É SOMENTE JOGO,
DIVERSÃO, VAIDADES, MÚTUA VANGLÓRIA E RIVALIDADE REFERENTE A MULTIPLICAÇÃO DOS
BENS E DOS FILHOS; É COMO A CHUVA QUE COMPRAZ OS CULTIVADORES POR VIVIFICAR A
PLANTAÇÃO, LOGO, COMPLETA-SE SEU CRESCIMENTO E A VERÁS AMARELADA E TRANSFORMADA
EM FENO. NA OUTRA VIDA HAVERÁ CASTIGOS SEVEROS, E A INDULGÊNCIA E COMPLACÊNCIA
DE ALLAH, QUE É A VIDA TERRENA SENÃO UM PRAZER ILUSÓRIO?” (57: 20). Este
versículo sagrado discorre de modo esplêndido e conciso sobre a natureza da
vida neste mundo. O versículo se inicia detalhando as atividades nas quais a
maioria dos seres humanos gastam seu tempo de vida e sua motivações. Em
seguida, declara que tudo isso está incluso em um ciclo efêmero que termina com
a morte, e então, apresenta a realidade maior da vida eterna: a punição ou a
misericórdia divina. A efemeridade deste ciclo seria por si só um motivo
relevante para que o humano meditasse sobre o verdadeiro objetivo de sua
existência e revisse sua escala de valores. Um certo número de questões
perturbadoras tem sido sistematicamente afastado da mente do homem: Qual a
finalidade de minha existência? Fui criado para trabalhar de sol a sol para
juntar coisas que a morte, inevitavelmente tirará de mim? Se o objetivo último
de minha vida é comer, beber, dormir, acasalar e procriar porque foi me dada a
razão se mesmo um cão não precisa dela para cumprir tudo isso? Estas e outras
perguntas do mesmo teor surgem a um homem que tenha desenvolvido alguma
sabedoria sobre si mesmo, e a menos que ele as considere seriamente não
alcançará nenhum amadurecimento real. Algo que é profundamente perturbador para
o homem que tenha sua consciência absorvida neste mundo, é a luta constante
pelo acúmulo de bens e a luta ainda maior que segue a primeira pela manutenção
do que juntou. A insegurança quanto ao dia de amanhã e o confronto com a
realidade de que tudo lhe será tirado pela morte. Imam Assadeq (as) disse:
“Aquele que devota seu coração a este mundo estará sujeito a 3 condições:
preocupação sem fim, insaciáveis desejos e fútil esperança”. O Din (Religião) a
seu turno, dispõe o coração humano ao equilíbrio e ao trato dos assuntos deste
e do outro mundo segundo o seu grau de importância. Visa libertar o homem das
algemas deste estado de ignorância que o arrasta e o faz viver como um escravo
de todas as formas de ilusão até que a morte o alcança. Sobre este estado de
inconsciência Imam Ali (as) comentou certa vez: “Quantos miseráveis (dignos de
pena) estão com os dias contados, porém, estão laboriosamente buscando os bens
(deste mundo)”. O Islam nos alerta quanto à necessidade de reflexão e o esforço
no aproveitamento do tempo que temos a nossa disposição. O Mensageiro de Allah
(saas) disse: “Aproveitai 5 oportunidades antes de 5 coisas: tua juventude
antes de tua velhice, tua saúde antes de tua doença, tua riqueza antes de tua
pobreza, teu tempo livre antes de tua ocupação e tua vida antes de tua morte.”
De fato, o tempo é o ítem fundamental da existência humana. Lamentavelmente,
poucos usam de sabedoria para administrá-lo e terminam por adotar um estilo de
vida onde o tempo lhes possui e não o contrário. O Mundo Moderno caracteriza-se
por seu mecanismo sutil de arregimentar o tempo. Somos condicionados a
sacrificar o nosso tempo em atividades fúteis de tal modo que, a menos que
despertemos para a realidade jamais encontraremos o tempo para o esforço
espiritual e para a reflexão sobre nós mesmos e sobre o Akhirah (eternidade). O
Islam prescreve o caminho do equilíbrio, do bom senso de não negligenciar nem
as atividades da vida prática referentes ao ganho da vida e do cuidado com
nossos bens e com nossos dependentes, e muito menos negligenciar nossas
obrigações com Allah e o esforço pelas recompensas eternas. Imam Assadeq (as)
tratou desse ponto dizendo: “O melhor auxílio a outra vida é esta”. E disse
também: “Não é um dos nossos aquele que desiste deste mundo em prol do outro e
nem o que desiste do outro mundo em prol deste”. Diz Allah no Alcorão: “TODO
SER PROVARÁ O SABOR DA MORTE. NÓS VOS EXPERIMENTAMOS COM O MAL E O BEM PARA VOS
POR A PROVA E SEREIS TRAZIDOS ATÉ NÓS”. (21: 35). Assim, todas as
circunstâncias, alegrias, tristezas, triunfos e fracassos são aspectos desta
prova que é sucedida pelo retorno a Allah. O fim de todas as medíocres
expectativas desta vida terrena, de todas as rivalidades e vaidades,
distinções, ambições e posses é seguido da confrontação consigo mesmo; com a
realidade maior que se descortina com a morte, onde todas as máscaras caem e só
resta aquilo que somos e fizemos. Ao descrente e ao iníquo esta confrontação é
mais dolorosa. Evidencia o Alcorão: “SE PUDESSES VER OS INÍQUOS NA AGONIA DA
MORTE QUANDO OS ANJOS COM AS MÃOS ESTENDIDAS LHE DISSEREM: ENTREGAI VOSSAS
ALMAS! HOJE, SER-VOS-Á INFLIGIDO O CASTIGO AFRONTOSO POR HAVEREM DITO MENTIRAS
ACERCA DE ALLAH E POR HAVERDES SE ENCHIDO DE SOBERBA DIANTE DE SEUS
VERSÍCULOS.” (6 : 93). Tanto quanto a vida terrena, no que se refere a sua
realidade física é o efeito do que foi concebido na vida intrauterina, o estado
do homem após a morte é o resultado do que tenha realizado na vida terrena. O
estado de consciência em que tenha deixado este mundo será o estado em que se
encontrará ao adentrar a dimensão do Barzakh (limbo). Diz Allah no Alcorão: “…
E ANTE ELES HAVERÁ UMA BARREIRA QUE OS DETERÁ ATÉ O DIA EM QUE FOREM
RESSUCITADOS”. (23: 99 e 100). BARZAKH é a denominação desta dimensão
intermediária, desta nova realidade que se revela com a morte física. Nesta
nova realidade, além dos limites físicos, a natureza e os valores das coisas
são inteiramente diversos a este mundo. Nesta dimensão que antecede o Akhirah
impera a escuridão e toda luz que pode ser conduzida para lá é a resultante do
IMAN (FÉ) e das ações consoantes a ele que o humano realizou neste mundo. Se
este Imán (fé) no momento da morte estiver firmemente estabelecido no coração,
e se for fundamentado no que Allah revelou (FÉ MONOTEÍSTA) e no conhecimento
quanto a profecia (conhecimento do último profeta enviado a humanidade) e
baseado em ações dignas e consoantes a Lei Divina, este Imán será a luz de seu
portador nas sombras do Barzakh. A intensidade desta luz corresponderá ao grau
de consciência e de integridade desta fé. Um sábio dentre os Sufyyah escreveu
que existem 5 espécies de escuridão e para cada uma delas há uma luz
específica: “A escuridão do amor mundano, a luz para isto é o temor, a PIEDADE
(TEMOR A ALLAH), a escuridão do pecado, a luz para isto é o arrependimento, a
escuridão do Qabr (túmulo), a luz para isso é o kalima sagrado (axhadu an la
iláha illa llah wa axhadu anna Mohammad rasulullah ), o além é escuridão, a luz
para ela são as boas ações, o Sirat (ponte sobre o inferno) é escuridão, a luz
para ela é o Imán (fé)”. Decerto que um Imán (fé) que não seja forte o bastante
para fazer o seu portador estabelecer o Sallah corretamente sem negligenciar o
seu tempo correto, cumprir o zakat, consagrar o Jejum de Ramadã, abster-se do
ilícito e empenhar-se no bem e na caridade, não será luz suficiente para o
momento da morte e a escuridão do além. Mesmo no instante da morte, a força do
Imán se manifestará ou não, segundo o modo como foi conduzido no decorrer da
vida e certamente uma fé que não tenha sido forte durante a vida neste mundo,
não o será também no momento final. De fato, este processo de desenlace depende
do grau de consciência adquirido em vida, da qualidade da fé e do estado
espiritual da pessoa. A intensidade do sofrimento e da dificuldade no momento
da morte é definida por esses fatores. Evidencia o Alcorão: “ELE É O SOBERANO
ABSOLUTO SOBRE SEUS SERVOS E ENVIA ANJOS CUSTÓDIOS ATÉ QUE A MORTE CHEGUE A
ALGUM DE VÓS, ENTÃO NOSSOS MENSAGEIROS ANGELICAIS RECOLHEM A ALMA, SEM
DESCUIDAR-SE DE NADA.” (6: 61). E ainda: “QUANDO ALCANÇA (A ALMA) A GARGANTA E
VÓS ENTÃO FICAIS PERPLEXOS A OLHAR E AINDA QUE NÃO NOS VEJAIS, ESTAMOS MAIS
PERTO DELE QUE VÓS…” (56: 83 e 84). A alma é retirada pelos anjos e quando o
corpo desce ao túmulo inicia-se um interrogatório em que é inquirida sobre
ALLAH, O DÍN, O MENSAGEIRO DE ALLAH, O LIVRO (ALCORÃO) E O IMAM DE SUA ÉPOCA. O
muçulmano virtuoso que tenha deixado o mundo com uma fé íntegra terá lucidez
para responder satisfatoriamente estas questões. O descrente, o que tenha
morrido em estado de ignorância, o hipócrita, o muçulmano que tenha cometido
pecados graves sem ter se arrependido ou que tenha negligenciado suas
obrigações para com ALLAH, se encontrarão em profundo embaraço e não
conseguirão responder a estas questões. Deste interrogatório resultará a
condição em que a alma se encontrará até o Dia do Juízo, se em paz e
bem-aventurança ou em sofrimento, aflição e trevas. QABR (túmulo) é uma
denominação genérica, não apenas um lugar físico como em nossa dimensão. Mesmo
no caso de um corpo cremado, desaparecido nas águas, despedaçado por feras a
alma ocupa um lugar no Barzakh ao qual denominamos Qabr e sua capacidade de compreensão
e seus sentidos permanecem. Como uma criança que ao nascer pouco compreende do
que está a sua volta, a alma tem um período variável de entorpecimento próprio
do processo de transição (o modo como a morte se opera possui considerável
influência nesse processo). Nesta dimensão intermediária, o alcance da
percepção das almas varia tanto quanto os estados de sono e a natureza dos
sonhos do seres humanos nesta vida. Com os sentidos permanecem as sensações de
prazer e dor, calma e desespero, calor e frio. Os que deixaram este mundo com
um Imán (fé) sincero e correto e deixaram para trás ações condignas, gozarão de
serenidade e luz, os que morreram desprovidos de fé ou com uma fé equivocada ou
com transgressões graves sofrerão as terríveis aflições do Qabr e serão
oprimidos pela escuridão. Estágios de consciência ou estágios de inconsciência
espiritual, forte condicionamentos e expectativas na vida física, apegos a ideias
ou sensações vividas, elos mentais ou emocionais, presença ou não, no coração
espiritual de uma pessoa, de energia espiritual proveniente da oração ou do
Dhikr (recordação de Allah), esses e muitos outros elementos determinam o
estado em que as almas se encontram nesta dimensão. Evidencia o Alcorão: “ALLAH
DARÁ FIRMEZA AOS QUE CRÊEM COM A PALAVRA FIRME, NESTE MUNDO E NA VIDA FUTURA.”
(14: 27). Os que creem e buscam sinceramente obedecer a ALLAH são cobertos pela
misericórdia divina e protegidos dos tormentos. Nas tradições atribuídas ao
Profeta (saas) consta que o Imán, o Sallah, o Jejum, o Zakat, o Dhikr, a
recitação do Alcorão e todas as boas ações do Muçulmano tornam-se seus
guardiões no Qabr. Se em linhas gerais, é possível traçar um quadro dessa
realidade metafísica, é muito difícil definir com precisão os múltiplos estados
possíveis em que os que deixam este mundo se encontram na dimensão do Barzakh. A
multiplicidade de fatores que determinam estes estados também não pode ser de
todo compreendidos. Tal conhecimento, em muitos de seus aspectos, está além da
compreensão comum da grande maioria de nós. O que podemos ter em mente como uma
idéia suficientemente adequada é que a realidade metafísica possui uma natureza
que foge dos limites que conhecemos do tempo e do espaço, e que as sensações
oníricas (os estados de sono e o que conhecemos como sonhos) se assemelham a
algo da realidade metafísica existente no Barzakh. Falsas Noções Sobre a Vida
após a Morte As questões até aqui abordadas em todos os tempos suscitaram a
inquietação e inumeráveis teorias entre os seres humanos. Muito embora Allah
tenha concedido o Conhecimento correto a seus Mensageiros para que orientassem
os povos sobre todas as questões da vida humana, a humanidade na maioria das
vezes negligenciou a orientação divina e abraçou crenças forjadas e teorias sem
fundamento sobre esses temas. Desde o início dos tempos Xaitan e seus
seguidores dentre os gênios e os humanos propagaram falsas concepções e crenças
que com o decorrer do tempo imprimiram-se fortemente em todas as sociedades,
distorcendo mesmo o conhecimento revelado. As principais falsidades propagadas
sobre o além foram a teoria da reencarnação e a crença em uma possível
comunicação com os mortos; ambas, de origem pagã. A teoria da reencarnação
advoga que a alma ao deixar este mundo retorna a ele em outro corpo, tal
processo se repetiria sucessivas vezes, o que alguns dos que defendem esta
teoria justificam como sendo um processo de evolução da alma. Esta crença
tornou-se comum entre os povos antigos à medida que se afastaram do MONOTEÍSMO
original e caíram na ignorância espiritual, na idolatria e nas práticas
mágicas. Esta teoria se opõe a MENSAGEM DOS PROFETAS (o DÍN), pois todos os mensageiros
de Allah e todas as escrituras divinamente reveladas afirmam claramente que:
Allah decretou ao homem uma vida terrena, a morte física, a ressurreição no dia
do Juízo, o julgamento e o destino eterno (akhirah) seja no paraíso ou no
inferno. A teoria da reencarnação por sua vez desmente os profetas de ALLAH,
tenta ludibriar o homem quanto a realidade do Akhirah, dando-lhe falsas
esperanças e desviando-o da Orientação Divina. Nos últimos 150 anos, os
defensores da reencarnação no ocidente têm tentado sem sucesso, provar a
veracidade de sua crença se apoiando em pesquisas científicas. O fato, porém, é
que nenhum cientista sério jamais corroborou tal teoria, o que alguns tentam
justificar como provas de reencarnação é na verdade a constatação de uma outra
teoria amplamente aceita pela ciência que é a herança genética. Os avanços das
pesquisas sobre herança genética tendem a desmascarar as pretensões dos
defensores da reencarnação. Quanto a crença numa possível comunicação com as
almas dos mortos, também se originou do ideário pagão nos tempos antigos e
incorporou-se a crença popular europeia no final do séc. XIX sob o nome de
Kardecismo. O fundador deste movimento buscou revestir as antigas práticas
pagãs de um caráter cristão, entretanto NEM NAS ESCRITURAS E NEM NOS DIZERES
ATRIBUÍDOS A JESUS OU A QUALQUER OUTRO PROFETA É POSSÍVEL ENCONTRAR QUALQUER
APOIO A ESSA CRENÇA. Na verdade nenhum dos autênticos mensageiros de ALLAH
jamais praticou ou recomendou qualquer prática desse tipo. Mas a questão é:
podem os mortos se comunicar com os vivos? No Barzakh, a alma pode ouvir e
mesmo ver (se lhe for permitido) tudo o que provém do mundo terreno. Em
variados níveis de consciência a alma pode estar ciente do estado em que se
encontram seus parentes no mundo físico. Porém, a alma não pode transpor os
limites da dimensão em que se encontra. O que explica os inúmeros e
corriqueiros fenômenos de suposta comunicação e que tais fenômenos são operados
não pelas almas dos mortos, mas sim, pelos gênios a serviço de Xaitan que
utilizam este estratagema para ludibriar e manipular os humanos neste mundo.
Esses seres fazem uso de seus poderes de mistificação para se fazerem passar
por pessoas já falecidas. Nas tradições consta que o Mensageiro de Allah tenha
dito: “Todo humano desde o seu nascimento tem a acompanhá-lo um gênio maligno
(a serviço de Xaitan) que conhece todos os seus segredos, pois circula nele
como o sangue em suas veias”. Com a morte dessa pessoa, Xaitan eventualmente
usa desse artifício para iludir e criar falsas esperanças nos demais usando o
que conhece acerca do falecido, pois sua missão e objetivo é desviar e forjar
falsas crenças sobre o invisível e o Din. Ganhando a confiança dos incautos,
ele propaga crenças como a reencarnação, a inexistência do dia do Juízo, do
paraíso e do inferno, fazendo com que desmintam Allah e seus profetas. É
precisamente esta oposição ao que foi revelado por Allah a seus profetas e
mensageiros o objetivo de Xaitan na propagação dessas falsas crenças. Com
efeito, ao negar o dia do juízo, a ressurreição e a existência do paraíso e do
inferno os que adotam crenças como o espiritismo se tornam descrentes renegando
a Verdade revelada trazida por todos os profetas (as). Ademais, a própria razão
para uma suposta comunicação entre os vivos e os mortos levanta uma questão: se
a verdade e a orientação divina fosse comunicada por esse meio, então afinal,
para que Allah teria enviado os profetas e mensageiros para viverem como homens
entre os homens, enfrentarem todo o tipo de vicissitudes e perseguições? Decididamente
não há como harmonizar a Mensagem revelada aos profetas com a doutrina
espírita. Em alguns casos, Xaitan opera curas e previsões para sustentar a
autenticidade de tais fenômenos, iludindo multidões. Algumas dessas
manifestações nada mais são do que estados alterados da consciência humana
(transes) em que o inconsciente individual do médium entra em contato com o
inconsciente coletivo (onde estão registradas as impressões mentais e
metafísicas). Em nenhum dos dois casos há de fato uma comunicação com as almas
dos mortos. Tais fenômenos nada mais são do que a habilidade de Xaitan em
iludir o ser humano. Para por fim, induzi-lo a morrer num estado de descrença e
ignorância da realidade espiritual. Consequentemente, aquele que deixa este
mundo com essas crenças será considerado no mundo vindouro e no dia do juízo
como um descrente, um seguidor de Xaitan e como tal, suas obras serão reduzidas
a nada e será atirado no inferno. Diz o Altíssimo no Alcorão: “DIZE-LHES:
QUEREIS QUE VOS INTEIRE DE QUEM SÃO OS MAIS DESMERECEDORES POR SUAS OBRAS? SÃO
AQUELES CUJOS ESFORÇOS SE DESVANECERAM NA VIDA TERRENA, NÃO OBSTANTE CREREM TER
PRATICADO O BEM. ESTES SÃO OS QUE RENEGARAM OS VERSÍCULOS DE SEU SENHOR E O
COMPARECIMENTO ANTE ELE; ASSIM SUAS OBRAS TORNARAM-SE NULAS E NÃO LHES
RECONHECEREMOS MÉRITO ALGUM NO DIA DA RESSURREIÇÃO. SUA MORADA SERÁ O INFERNO
POR SUA DESCRENÇA E POR TEREM ESCARNECIDO MEUS VERSÍCULOS E MEUS MENSAGEIROS”.
(18:103 a 106). Palavras Finais. Diz Allah, O Poderoso, no Alcorão: “AQUELES
QUE NÃO ESPERAM NOSSO ENCONTRO APRAZEM-SE COM A VIDA TERRENA CONFORMANDO-SE COM
ELA E NEGLIGENCIAM NOSSOS VERSÍCULOS”. (10: 7). Dia após dia, convivemos com a
morte a nossa volta. Os noticiários, as catástrofes, a perda de nossos
parentes, vizinhos e amigos e de fato, pouco ou quase nada meditamos sobre
isso. Em nossa escala de valores e prioridades quase sempre a diversão, o trabalho
por nossos bens ocupam os primeiros lugares, ainda que o LIVRO DE ALLAH e os
exemplos dos profetas (as) e dos Imames (as) sejam evidências de uma realidade
que transcende as nossas medíocres expectativas quanto a esta vida. É relatado
nos ahadith que o Mensageiro de Allah (saas) tenha dito: “Os sensatos e os
nobres são os que mais recordam a morte e estão constantemente a preparar-se
para o seu encontro”. Cada novo dia é uma preciosa oportunidade para que nos
empenhemos nas boas ações, para que nos examinemos cuidadosamente a fim de
rejeitar as más inclinações e nos aproximarmos dos princípios do Din. Queira
Allah que este modesto trabalho seja de valia aos muçulmanos e muçulmanas nesse
sentido, para que fortaleçam seu din em busca das melhores recompensas nesta
vida e na vida futura”. Allahuma Salli Ala Mohammad Wa Ali Mohammad. Abraço.
Davi.
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