Teosofia. Editor do Mosaico. A DOUTRINA DA
REENCARNAÇÃO NO CRISTIANISMO PRIMITIVO. Parte II. Os 3 volumes escritos por
Orígenes disponível em português são: Sobre os Princípios, Exacta e Contra
Celsius onde ele sustentava a doutrina da reencarnação, da preexistência da
alma, da transmigração da alma e da apocatástase. Essa é a doutrina da redenção
e salvação de todos os seres inclusive os que estavam no inferno. Orígenes
pensava não haver um inferno eterno, mas sim um lugar de disciplina temporária
e após esse estágio todos continuariam evoluindo para encontrarem o Logos
Eterno. Lucas 15: 20-22 "E levantando-se foi para seu pai, e quando ainda
estava longe viu o pai, e se moveu de íntima compaixão e correndo, lançou-se ao
seu pescoço e o beijou”. Outro aspecto do ensino esotérico de Orígenes é que
ele concebia a interpretação das Escrituras em três níveis. Primeiro o corpo, que era a nível superficial, aquele que as Escrituras dizem II Coríntios 3:6
"a letra mata", onde o observador cria doutrinas exclusivistas e
dogmas absolutos misturados as crenças e superstições. Segundo a alma, um estado
mais evoluído de decifrar o texto sagrado, mas ainda intermediário apenas nos
primeiros estratos da epiderme espiritual, não se vislumbrando a aplicabilidade
objetiva do enunciado proposto. Terceiro o espiritual, entrando na interpretação
profunda e mística do texto sagrado. Nessa terceira fase se percebe que é
necessário adentra o portal dos mistérios ocultos, Mateus 13:11 "a vós é
dado conhecer os mistérios do reino dos céus", para retirar das Escrituras
sua simbologia e tipologia oculta que representa a essência daquilo que o
Espírito deseja falar ao discípulo. O primeiro nível, é a literalidade
exteriorizado por crenças e superstições. O segundo, é a conveniência para nosso
próprio interesse e bem-estar. O terceiro, é a interpretação lógica, intuitiva e
racional, compreendendo as alegorias e tipologias não como verdades, mas
princípios e conceitos que podem ser usados em todas as religiões e
espiritualidade. Nesse terceiro nível há mistérios que somente os iniciados
místicos, cabalistas, sufistas, gnósticos e espiritualistas tem acesso, pois fogem ao senso comum
da religiosidade. E alguns mistérios das Escrituras de todas as religiões estão velados não permitidos à revelação, apenas no momento oportuno. Lucas
15:21 “E o filho lhe disse: pai pequei contra o céu e perante ti, e já
não sou digno de ser chamado seu filho". Numa vida não temos como pagar
todo o nosso carma negativo, são necessárias outras vidas, para que o ajuste e
reparação possam acontecer e continuarmos nosso processo evolutivo dentro das
fases que distinguem nossos corpos energético, emocional e mental. Além dos
sutis. O inferno eterno era relativizado por Orígenes em seus escritos quando
ele usa a referência de Isaías 50: 11 "Eis que todos vós que acendeis fogo
e vos cingis com faíscas, andai entre as labaredas dos vossos fogos, e entre as
faíscas que acendestes. Isso vos ocorrerá pela minha mão e em tormentos
morareis". Esse texto é claro, porque não há uma argumentação quanto a perenidade
infernal, e em todo o Antigo Testamento segundo os melhores exegetas bíblico,
não existe a ideia de um inferno eterno. Os judeus povo precursor desse sagrado
testamento, acreditam na reencarnação, inclusive usando textos cabalístico de
um famoso rabino Isaac Luria Arizal (1534-1572) para comprovar teologicamente
essa doutrina. A editora judaica Sefer, com sede em São Paulo, Brasil, publicou
o livro Portal das Reencarnações, escrito por Joseph Saitoun, tratando
especificamente desse tema. Uma leitura recomendável aqueles que desejarem se
aprofundar no assunto. Orígenes era flexível quanto a interpretações de
textos bíblicos onde se percebiam um juízo sumário e executório preferindo uma
alegoria e metáfora representativa para fugir do dogmatismo, preconceito e
crença cega. A interpretação neoplatônica da reencarnação foi ensinada pelos
Pais da Igreja. Mateus 11: 11 "Em verdade em verdade vos digo que dentre
os que de mulher têm nascidos, não apareceu alguém maior do que João Batista,
mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele". A
reencarnação tem a premissa de voltar à vida para reparar ou compensar o
aspecto negativo ou positivo do carma, continuando o processo evolutivo numa
perspectiva de aprendizado, no âmbito negativo, para não incorrer nos mesmos
erros em renascimentos posteriores. Esses estágios não estão restritos aos
humanos, mas alcançam todos os reinos orgânicos evidenciados nos minerais,
vegetais, animais e o mundo invisível. Dentro de suas restritas constituições
de matérias e formas conscientemente primitivas e mais adiantadas. Podemos
inferir um silogismo: A reencarnação contém a lei da ação e reação, carma, sendo que, para cada causa existe um efeito produzindo evolução para mérito ou demérito. Ocorrendo mérito, virtudes e beatitudes, tem como resultado o homem
perfeito. Acontecendo demérito, vícios e pecados, retardamos o processo para ascender
ao Logos Eterno. Mateus 5: 48 "Sede vós perfeitos, como é perfeito o vosso
pai que está nos céus". Orígenes foi discípulo de Amônio Saccas (175-242)
um mestre místico que viveu em Alexandria na primeira metade do século III e na
época era corrente dizer-se que "Amônio o que aprendeu com Deus". Ele
foi o fundador do sistema eclético, nascido de pais cristãos, mas renunciou à
sua religião nativa e voltou-se à filosofia "pagã". Pelo fato de ter
encontrado a Sabedoria Divina em seu próprio interior, foi chamado
"Theodidaktos" ou ensinado por Deus. Todavia ele preferia o termo
"Phialethes", ou amante da verdade. Seus discípulos eram também conhecidos
como "Filaleteus". Não deixou escritos, ensinamentos orais e seus
pupilos foram submetidos ao voto de segredo, como de costume nas Escolas de
Mistério. Por conseguinte, ele fez uma distinta tentativa de beneficiar o mundo
através do ensinamento daquelas partes da Ciência Secreta que lhe eram
permitidas ser reveladas por seus guardiães diretos daqueles tempos.
Outro mestre que influenciou Orígenes foi Plotino (204-270) que dizia: "O
Único, o Deus Supremo, é exaltado acima do Nous e das ideias. Ele está
absolutamente acima da existência escapando a razão. Permanecendo sempre em
repouso. Ele faz jorrar de Sua própria plenitude como um raio uma imagem de Si
mesmo, chamada Nous e que forma o conjunto das ideias do mundo
inteligível". Plotino foi discípulo direto de Amônio Saccas, com o qual
permaneceu onze anos. O que Platão (428 AC 347) foi para Sócrates (469 AC 399),
e o apóstolo João para Jesus, Plotino foi em relação a Amônio. Naqueles dias, Plotino, participou em uma expedição à Ásia na esperança de alcançar a Índia, mas não
foi bem-sucedido. Seguiu a Roma, onde despendeu o resto de sua vida ensinando e
escrevendo. Seu principal trabalho, as Enéadas, incorporam suas ideias
teosóficas. Plotino combinou uma das maiores capacidades intelectuais com a
profunda iluminação mística, e sua vida foi baseada na autodisciplina e
purificação. Sua intensa aspiração espiritual resultou no êxtase, uma sublime
condição de existência absorta na Vida Divina, o Samadhi da filosofia hindu.
Seu discípulo Porfírio (234-305) relata que Plotino gozou tal experiência em
seis ocasiões durante sua vida. Seus ensinamentos tiveram uma duradoura e
profunda influência não somente no pensamento filosófico dos séculos
posteriores, mas também na teologia cristã. A Igreja tomou sua seminal doutrina
da Trindade dos escritos de Plotino. Helena Blavatsky (1831-1899) diz:
"Tudo que é grande e nobre na teologia cristã provém do Neo
platonismo". Orígenes teve um fim como de todos os mártires por suas
ideias iluminadas que se opunham à crendice, fé cega e dogmatismo vigente na
Igreja cristã dos primeiros séculos. Foi torturado física e psicologicamente
e morto no ano de 254. O conceito de Teosofia ou Sabedoria Arcana foi pensado
inicialmente em Alexandria no século III pelos dois mestres de Orígenes que
citamos acima. Romanos 8: 28 "E sabemos que todas as coisas contribuem
juntamente para o bem aqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito". Abraço. Davi.
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