Budismo. Livro O Evangelho do Buda. Vida e Doutrina de Sidarta Gautama. 5. O REI BIMBISARA. Sidarta cortou a sua bela cabeleira e trocou as vestes reais pelo rústico hábito amarelo. Ordenou a Channa, o cocheiro, que regressasse a Kapilavastu com o nobre corcel Kanthaka e dissesse ao rei, seu pai, que ele havia abandonado o mundo. E o Tathágata vagou pelas estradas esmolando de tigela na mão. Mas a pobreza do seu aspecto não podia encobrir a majestade do seu espírito. Seu porte nobre denunciava a sua origem real. De seus olhos irradiava o fervoroso anseio pela Verdade. Sua beleza juvenil, aumentada pela santidade, iluminava a sua fronte. Todos os que o viam, contemplavam-no assombrados. Os mais apressados detinham os passos e se voltavam pra olhá-lo, e todos lhe tributavam homenagens. Ao entrar na cidade de Rajagrilha, o príncipe mendicante foi de casa em casa, esperando silenciosamente que alguém lhe desse esmola. Para onde quer que fosse o bem-aventurado, as pessoas lhe davam o que tinham, prostravam-se humildemente diante dele e lhe agradeciam por não desdenhar de aproximar-se de suas casas. Todos exclamavam comovidos: Eis aqui um nobre muni - asceta. Sua chegada é uma bênção. Que felicidade nos aguarda! E logo a sua tigela se enchia, porque todos os vizinhos gritavam: Toma do alimento, Senhor. Toma do que é nosso". O rei Bimbisara, observando a comoção da cidade, indagou a causa, e averiguada, enviou um criado para identificar o forasteiro mendicante. O criado soube que o muni era um sákia de origem nobre. Que tinha se retirado para as margens de um riacho do bosque e comia o que as pessoas lhe depositavam na tigela. Comovido, o rei vestiu seus régios ornamentos, colocou sua cruz de ouro, empunhou o cetro, e acompanhado de seus anciãos e sábios conselheiros, foi ao encontro do misterioso forasteiro. O rei encontrou o muni de raça sákia sentado à sombra de uma árvore. Admirando a tranquilidade de seu semblante e a distinção de seus gestos, saudou-o respeitosamente e lhe disse; Oh Samana! As suas mãos são feitas para manejar as rédeas de um império e não para segurar a tigela do mendigo. Se eu não adivinhasse que você era de origem real, não suplicaria que se associasse a mim para governar o meu reino e participar do meu poder. O desejo do mando fica bem para os temperamentos magnânimos, e a opulência não deve ser desprezada. Adquirir tesouros a custas da perda da religião não é coisa boa. Porém excelso mestre é quem tem ao mesmo tempo o poder , a opulência e a religião e, com discrição e sabedoria, desfruta de todos esses bens. Sakiamuni olhou-o e respondeu-lhe. Oh rei! O senhor tem fama de liberal e religioso, e suas palavras são prudentes. O rico bondoso que emprega bem suas riquezas possui na verdade um tesouro inestimável. Todavia, nenhum proveitoso tirará de suas riquezas aquele que as guarda avaramente. A caridade é prolífera em proveitos. É a maior riqueza, pois quando a pessoa é pródiga não tem remorsos. Eu rompi todos os laços que me ligavam, porque busco a libertação. Como poderia voltar de novo ao mundo? Quem deseja a vida religiosa, que é o tesouro mais precioso, deve abandonar tudo quanto prende a sua personalidade e distrai a sua atenção. Deve libertar sua alma da luxúria, da avareza, da ambição e do poder. Aquele que cede a luxúria, mesmo que por um pouco, a verá crescer, e mesmo que domine o mundo, se sentirá infeliz. O fruto da santidade vale mais do que o poderio sobre a Terra, do que o descanso no céu, do que o império e o predomínio sobre os mundos. Um Buda reconhece que a riqueza é ilusória e não confunde o veneno com o alimento sadio. O peixe que se salvou do anzol terá afeição pela isca? Enamorar-se-á o pássaro de sua gaiola? O enfermo febril anseia por um medicamento refrigerante. Daremos a ele outro que lhe aumente a febre? Apagaremos o fogo se lhe mudarmos o combustível? Rogo que o senhor não se perturbe. Fale aos que ambicionam os cuidados da realeza e as inquietudes da opulência, que desfrutam temerosos de perder suas riquezas. Porque a qualquer momento podem perdê-la, e ao morrer não levarão consigo nem o ouro nem o régio diadema. Em quem mandará um rei morto? A lebre que escapou da boca de uma serpente voltará para ela a devorar? Aquele que queimou a mão numa tocha, vai erguê-la novamente depois de tê-la atirado ao chão? O cego que recuperou a visão desejará que lhe arranquem os olhos? Veja se consegue acertar as respostas. Meu coração não anela desejos vagos. Renunciei a coroa real e preferi livrar-me dos encargos das existências. Não quero, portanto, contrair novos deveres que me impeçam de prosseguir o trabalho iniciado. Sinto separar-me do senhor, contudo devo ir ao encontro dos yogis que poderão me ensinar a verdadeira religião e a encontrar a maneira de se evitar o mal. Desejo que o seu reino desfrute de paz e prosperidade, que a sabedoria resplandeça em seu governo como o sol meridiano em dia claro. Que o seu régio poder seja firme. Que a justiça seja o seu cetro. O rei uniu respeitosamente as mãos, e prostrando-se diante de Sakyamuni, disse-lhe: Que você encontre o que está buscando, e quando o tiver encontrado, rogo que volte e me aceite por seu discípulo. O Tathágata separou-se amistosamente do rei, resolvido a cumprir o seu propósito. Abraço. Davi.
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