quarta-feira, 9 de julho de 2025

A RELIGIÃO DO ISLÃ - Parte XII

Islamismo. Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo (1961 - ). A RELIGIÃO DO ISLÃ. Parte XII. “Um salto de fé”. O segundo tema introdutório se refere à base de nossa fé. No idioma português, existe um conceito comum de que “fé” implica na crença em algo que não pode ser demonstrado. Em outras palavras, a “fé” requer o que é conhecido como um “salto de fé”, através do qual se vai além do que pode ser aceito racionalmente, chega-se a uma aceitação e crença cegas. Esse enfoque é contra o conceito islâmico. De uma perspectiva islâmica, a fé deve estar “baseada no conhecimento”, de tal maneira que tanto a razão quanto o coração encontrem consolo e se submetam a ela com uma resolução firme. O Islam não exige das pessoas que creiam em assuntos que sejam contra sua própria natureza e razão, da qual Allah as dotou. Pelo contrário, Allah convida os seres humanos a refletir – admirar a criação, a si mesmos e a tudo o que os rodeia. Allah assinala aspectos diversos da criação e os descreve como sinais para aqueles que refletem. Quando os seres humanos refletem sinceramente sobre a criação que os rodeia, chegam à conclusões muito claras: (1) esta existência não poderia ter surgido sem um Criador Sábio e Inteligente e (2) dito Criador Sábio e Inteligente não haveria criado nada sem que houvesse um objetivo maior. Por isso, Allah disse: “Na criação dos céus e da terra e na alternância do dia e da noite há sinais para os sensatos, Que mencionam Deus, estando em pé, sentados ou deitados, e meditam na criação dos céus e da terra, dizendo: Ó Senhor nosso, não criaste isto em vão. Glorificado sejas! Preserva-nos do tormento infernal!” (3: 190-191). “Porventura não refletem em si mesmos? Deus não criou os céus, a terra e o que existe entre ambos, senão com prudência e por um término prefixado. Porém, certamente muitos dos humanos negam o comparecimento ante o seu Senhor (quando da Ressurreição).“ (30: 8). “Pensais, porventura, que vos criamos por diversão e que jamais retornareis a Nós?” (23: 115). O argumento qu'rânico é que não é logicamente possível chegar a outra conclusão. De fato, se uma pessoa crê em Deus como o Criador, por definição é impróprio pensar que tal nobre e grande Criador tenha criado toda a ordem e beleza sem que houvesse um objetivo por trás dessa criação. Uma pessoa que crê em um criador, entretanto não crê que este criador tenha tido algum propósito em sua criação, está descrevendo a um criador infantil e pouco inteligente. É difícil crer que um criador assim possa ser responsável por uma criação como a que observamos no cotidiano. Não, certamente a criação ressalta certos atributos do Criador e aponta um propósito importante e grandioso por trás de toda a criação. A totalidade da natureza da existência assinala que o Criador possui um caráter muito especial e que não criaria nada simplesmente por diversão ou embromação. Esse Criador só pode ser Allah com Seus perfeitos e sublimes atributos – quer dizer, a criação necessita de Allah e não pode ser justa e apropriada, a menos que esteja sob o controle de Allah, exatamente como é Allah. Sobre isso, Allah disse no Qur’an: “Se houvesse nos céus e na terra outras divindades além de Deus, (ambos) já se teriam desordenado. Glorificado seja Deus, Senhor do Trono, de tudo quanto Lhe atribuem!” (21: 22). Uma segunda conclusão muito importante a que se pode chegar, através da simples análise desta criação, é que criou tudo isso do nada pode recriá-lo facilmente. Se possui uma habilidade de recriar as coisas mesmo depois de seu desaparecimento, também significa que tem a habilidade de ressuscitá-las e pô-las diante de si. Obviamente, esta ideia tem repercussões para os seres humanos e seu comportamento neste mundo. Por isso Allah destaca este aspecto e recorda os seres humanos sobre seu significado no Qur’an. Por exemplo, Allah diz: “Não reparam em que Deus, Que criou os céus e a terra, é capaz de criar outros seres semelhantes a eles, e fixar-lhes um destino indubitável? Porém, os iníquos negam tudo.” (17: 99). “E Nos propõe comparações e esquece a sua própria criação, dizendo: Quem poderá recompor os ossos, quando já estiverem decompostos? Dize: Recompô-los-á, Quem os criou da primeira vez, porque é Conhecedor de todas as criações. Ele vos propiciou fazerdes fogo de árvores secas, que vós usais como lenha. Porventura, Quem criou os céus e a terra não será capaz de criar outros seres semelhantes a eles? Sim! Porque Ele é o Criador por excelência, o Onisciente! Sua ordem, quando quer algo, é tão-somente: Seja!, e é. Glorificado seja, pois, Aquele em Cujas Mãos está o domínio de todas as coisas, e a Quem retornareis.” (36: 78-83). Aquele que nega a ressurreição espera que Allah trate os malfeitores da mesma forma que trata os piedosos. Isso não é característica de Allah. Allah deixa claro que isso nunca acontecerá e ressalta que ditas ideias só podem vir daqueles que não creem em Deus. Allah disse: “E não foi em vão que criamos os céus e a terra, e tudo quanto existe entre ambos! Esta é a conjectura dos incrédulos! Ai, pois, dos incrédulos, por causa do fogo (infernal)! Porventura, trataremos os fiéis, que praticam o bem, como os corruptores na terra? Ou então trataremos os tementes como os ignóbeis?” (38: 27-28). Apesar de estar além do alcance deste livro, a fé islâmica no Qur’an e a veracidade do Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) também se baseiam em evidências claras e diretas. A crença no Qur’an como uma revelação Divina não é uma fé cega, ao contrário está diretamente relacionada com a natureza milagrosa e a extrema beleza do próprio Livro. Da mesma forma, a crença no Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) também está apoiada por indícios que confirmam sua chegada em revelações anteriores, pelo caráter nobre do Profeta, pela vitória que Allah lhe outorgou, pela mudança que aconteceu durante e depois de uma geração sob sua orientação, etc. O ponto é que as crenças islâmicas em Deus como o Único Criador e Senhor, a crença em um propósito de vida, na ressurreição, no Qur’an e na veracidade do Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) se baseiam em um conhecimento e entendimento que são compatíveis com a natureza humana. De fato, devido ao embasamento no conhecimento, tudo que é incrementado em nosso conhecimento, relacionado com ditas crenças, gera um acréscimo na fé. Assim, o conhecimento e a fé nunca se enfrentam no Islam. Novamente, isso se deve a não haver mistérios nem absurdos nos quais devemos crer. Os mistérios e absurdos requerem “saltos de fé” e são totalmente alheios e ausentes às crenças islâmicas. Os artigos da fé Os “artigos da fé”, ou as categorias gerais que se supõem formar a crença dos muçulmanos, foram definidos pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) em um famoso hadith conhecido como o “hadith do Anjo Gabriel”. Nesse hadith, o Anjo perguntou ao Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele): “O que é o imaan?” O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) respondeu: “É crer em Allah, Seus anjos, Seus livros, Seus mensageiros, no último Dia e crer no qadr (decreto Divino), sendo ou não agradável.” (Muslim). É importante que todos os muçulmanos, incluindo os convertidos, compreendam, ao menos basicamente, cada um dos artigos da fé. Para isso apresentarei cada um em separado. Crer em Allah A crença islâmica em Deus gira em torno de um monoteísmo puro e inalterado, comumente chamado tauhid. Para aclarar este tema, os sábios dividiram a discussão do tauhid em ramos distintos, onde, cada um deles, cobre ou explica um aspecto da crença completa e correta em Allah. Estas ramificações estão clara e diretamente indicadas no Qur’an e na Sunnah. Uma maneira habitual de discutir o tauhid é dividi-lo em três categorias. Essas três categorias são tauhid ar rububiyah, tauhid al uluhiyah e tauhid al asma wa as sifaat. Tauhid ar Rububiyah: Em essência, trata-se de crer no caráter único de Allah com respeito a Suas ações. É a crença na Unicidade de Allah no que concerne a Seu domínio. Ele é o Único sem companheiros em Seu domínio e Suas ações. Só Ele é o Senhor (ar Rabb). Ele é o Único Criador, Possuidor e Mantenedor desta criação. Toda a criação foi orquestrada por Ele e só por Ele. Segundo Ibn Uthaimin, toda a humanidade, exceto os mais arrogantes, reconhece este aspecto do tauhid , quer dizer, que não existe Senhor e Criador exceto o Único Senhor e Criador. Isso é assim porque esta crença está arraigada na natureza humana. A humanidade reconhece e aceita que esta criação deve ter tido um Criador. A humanidade também aceita que este Criador é Único. Fica claro, graças a muitos versículos do Qur’an, que inclusive os árabes politeístas sabiam e reconheciam que o único e verdadeiro Criador estava acima de todos os ídolos que eles adoravam. Por exemplo, Allah disse no Qur’an: “Pergunta-lhes: A quem pertence a terra e tudo quanto nela existe? Dizei-o, se o sabeis! Responderão: A Deus! Dize-lhes: Não meditais, pois? Pergunta-lhes: Quem é o Senhor dos sete céus e o Senhor do Trono Supremo. Responderão: Deus! pergunta-se mais. Não (O) temeis, pois? Pergunta-lhes, ainda: Quem tem em seu poder a soberania de todas as coisas? Que protege e de ninguém necessita proteção? (Respondei) se sabeis! Responderão: Deus! Dize-lhes: Como, então, vos deixais enganar?” (23: 84-89). Sem dúvidas, esta crença em relação a Allah também exige ou implica os seguintes aspectos: Tudo o que acontece nesta criação é pelo Decreto, Permissão e Vontade de Allah. O sustento e a provisão são de Allah e somente d’Ele. A vida e a morte estão unicamente nas mãos de Allah. Todas as bênçãos vêm de Allah. A orientação ou estabelecimento de uma forma de vida é direito exclusivo de Allah. Somente Allah tem conhecimento do desconhecido. Ninguém tem direitos sobre Allah a menos que Allah Mesmo os tenha estabelecido. Tauhid al Uluhiyah: É a unicidade de Allah no que diz respeito a ser o único ilaah (Divindade, objeto de culto e adoração). É a atuação do tauhid tal como se fala nas ações dos seres humanos ou servos de Allah. Esse é o significado do testemunho de fé “Não existe nada digno de ser adorado afora Allah”. É a razão pela qual foram enviados os mensageiros e revelados os livros. É a “prova” que a humanidade enfrenta neste mundo. Allah disse “Não criei os gênios e os humanos, senão para Me adorarem.” (51: 56); e também disse: “O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele...” (17: 23). Esta ramificação do tauhid é a verdadeira meta ou essência dos ensinamentos dos profetas e mensageiros. O primeiro tipo de tauhid, tauhid ar rububiyah, é essencial e necessário. Na realidade, não há demasiada controvérsia ou desacordo sobre o primeiro tipo de tauhid

Não (O) temeis, pois? Pergunta-lhes, ainda: Quem tem em seu poder a soberania de todas as coisas? Que protege e de ninguém necessita proteção? (Respondei) se sabeis! Responderão: Deus! Dize-lhes: Como, então, vos deixais enganar?” (23: 84-89). Sem dúvidas, esta crença em relação a Allah também exige ou implica os seguintes aspectos: Tudo o que acontece nesta criação é pelo Decreto, Permissão e Vontade de Allah. O sustento e a provisão são de Allah e somente d’Ele. A vida e a morte estão unicamente nas mãos de Allah. Todas as bênçãos vêm de Allah. A orientação ou estabelecimento de uma forma de vida é direito exclusivo de Allah. Somente Allah tem conhecimento do desconhecido. Ninguém tem direitos sobre Allah a menos que Allah Mesmo os tenha estabelecido. Tauhid al Uluhiyah: É a unicidade de Allah no que diz respeito a ser o único ilaah (Divindade, objeto de culto e adoração). É a atuação do tauhid tal como se fala nas ações dos seres humanos ou servos de Allah. Esse é o significado do testemunho de fé “Não existe nada digno de ser adorado afora Allah”. É a razão pela qual foram enviados os mensageiros e revelados os livros. É a “prova” que a humanidade enfrenta neste mundo. Allah disse “Não criei os gênios e os humanos, senão para Me adorarem.” (51: 56); e também disse: “O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele...” (17: 23). Esta ramificação do tauhid é a verdadeira meta ou essência dos ensinamentos dos profetas e mensageiros. O primeiro tipo de tauhid, tauhid ar rububiyah, é essencial e necessário. Na realidade, não há demasiada controvérsia ou desacordo sobre o primeiro tipo de tauhid. Ele escreveu que tauhid al uluhiyah. “É saber e reconhecer com conhecimento e certeza que Allah é o único Deus e o único que verdadeiramente merece ser adorado. Também é afirmar que os atributos de Divindade não estão em nenhuma das criaturas. Portanto, ninguém merece ser adorado exceto Allah. Se a pessoa reconhece esse fato corretamente, reservará todos seus atos exteriores e interiores de servidão e adoração só para Allah. Cumprirá com os atos exteriores do Islam, como a oração, jihad, ordenar o bem e erradicar o mal, ser obediente aos pais, manter os laços de parentesco, cumprir com os direitos de Allah e de Suas criaturas. Não terá nenhum objetivo na vida que não seja o de agradar a seu Senhor e obter Suas recompensas. Em seus assuntos, seguirá o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Suas crenças serão aquelas demonstradas no Qur’an e na Sunnah. Suas ações serão o que Allah e Seu Mensageiro tenham legislado. Seu caráter e seus modos serão semelhantes ao Seu Profeta, em sua orientação, seu comportamento e todos os seus assuntos.” Esse aspecto do tauhid compreende tanto as ações do coração como as do corpo. Há dois aspectos em particular que devem ser combinados na adoração a Allah. As-Saadi disse: “O espírito e a praticidade da adoração se dão pela compreensão do amor e a submissão a Allah. O amor total e a submissão plena a Allah é a realidade da adoração. Se o ato de adoração carece de um ou ambos os componentes, não é um verdadeiro ato de adoração. Pois a realidade da adoração está na submissão e na priorização de Allah. E isso só ocorrerá se existir um amor total e pleno [por Allah] que domine todas as outras expressões de amor.” Jaafar Shaikh Idris descreve acertadamente o processo que deveria surgir através de uma correta crença em Allah e como deveria levar à realização de atos do coração que fossem aspectos essência do Tauhid. Idris disse: “Quando a fé entra no coração de uma pessoa, provoca certos estados mentais que dão como resultado certas ações aparentes, as quais são prova de uma fé verdadeira. O principal desses estados mentais é o sentimento de gratidão para com Deus, que se pode dizer, a essência da ibaadah (adoração a Allah). Este sentimento de gratidão é tão importante que o incrédulo é chamado kaafir que significa “aquele que nega a verdade” e também “aquele que é ingrato”. Entende-se, ao ler o Qur’an, que o principal motivo de se negar a existência de Deus é o orgulho injustificado. Essa pessoa orgulhosa sente que não foi criada, nem há de ser governada por um ser a quem deve reconhecer como alguém maior e por quem deve estar agradecida”. “Aqueles que disputam acerca dos versículos de Deus, sem autoridade concedida, não abrigam em seus peitos senão a soberbia, com a qual jamais lograrão o que quer que seja: ampara-te, pois, em Deus, porque é o Oniouvinte, o Onividente.” (40: 56). Do sentimento de gratidão vem o amor: “Entre os humanos há aqueles que adotam, em vez de Deus, rivais (a Ele) aos quais professam igual amor que a Ele; mas os fiéis só amam fervorosamente a Deus...” (2: 165). Um crente ama e é agradecido a Deus por Seus favores, mas considerando que suas boas ações, sejam mentais ou físicas, estão muito distantes de sua equiparação aos favores Divinos; preocupa-se constantemente que Deus não o negue algum desses favores ou o castigue na próxima vida por causa de seus pecados. Portanto, tem o temor a Ele, rende-se ante Ele e O serve com grande humildade.” Não há, então, uma verdadeira adoração a menos que o coração esteja cheio de amor por Allah. Isto auxilia a incitar outros componentes necessários como ter esperança em Allah e temor de Allah no coração. Abraço. 

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