quarta-feira, 11 de junho de 2025

O PERÍODO DA GRANDE FORÇA

Confucionismo. A Biografia de Confúcio. Memória Histórica de Sima Qian. 3. O PERÍODO DA GRANDE FORÇA. [502-496 a.C.]. No oitavo ano de governo do Duque Tinq, de Lu (502 a.C.), Kungshan Puniu não se deu bem com o Barão Huan Chi, e aliou-se a Yang Hu para promover uma rebelião, destronar o primogênito do barão e fazer herdeiros do trono os filhos de suas concubinas, amigos de Yang. Para isto capturaram o Barão Huan Chi, que afinal conseguiu escapar; no ano seguinte Yang foi derrotado e fugiu para o país de Ch’i. Confúcio contava então cinquenta anos. Kungshan Puniu iniciou outra rebelião contra o Barão Huan, na cidade de Pi, e o Barão Huan enviou a Confúcio um pedido para que fosse vê-lo. Confúcio havia-se devotado, desde longo tempo, ao prosseguimento de seus estudos; achava-se maduro e bem, sem, todavia, saber exatamente por onde começar a aplicação de seus ensinamentos às práticas governamentais. Uma vez, disse: - "Os reis Wen e Wu chegaram ao poder, procedentes das pequeninas cidades de Feng e K'eo, e por fim estabeleceram o império de Chou. Pi é um lugar pequenino, eu sei, mas talvez deva tentar." E assim estava Confúcio prestes a partir, mas seu discípulo Tselu não se conformava com isso e procurou dissuadi-lo. Confúcio replicou: - "Já que o barão pede para ver-me, há de ter um plano em mente, e se ele me guindar ao poder poderemos chegar a realizar algo como a obra do Imperador P'ing" (que restaurou o poder da Dinastia Chou, iniciando a chamada Era Chou Oriental). Afinal Confúcio não foi. Mais tarde o Duque Ting nomeou Confúcio prefeito de Chungtu. Ao cabo de um ano a cidade tornou-se um modelo para todas as suas vizinhas. Daí Confúcio foi promovido a Secretário das Obras Públicas e do Trabalho, e por fim tornou-se Grande Secretário da Justiça. Na primavera do décimo ano do Duque Ting (500 a.C.), Lu firmou um tratado de amizade com Ch’i, e no verão desse mesmo ano, um ministro de Ch’i, chamado Li Chu, disse ao duque de Ch’i: - "Isto vai-se tornando perigoso para nós, estando Confúcio no poder em Lu." Então combinaram uma conferência amistosa entre os dois países, em Chiaku. O Duque Ting preparava-se para comparecer à conferência, em sua carruagem; mas Confúcio, na qualidade de primeiro-ministro, Falou-lhe: - "Tenho ouvido dizer que a conferências civis deve-se enviar uma delegação militar, e a conferências militares deve-se enviar uma delegação civil. Os governantes dos velhos tempos sempre se faziam acompanhar de uma escolta militar, quando em visita a um país estrangeiro; recomendo que levemos conosco os Secretários da Guerra, Direito e Esquerdo." O duque assentiu, e assim partiram rumo a Chiaku, com os Secretários da Guerra. No local onde o encontro haveria de dar-se foi armado um altar, circundado por três plataformas de terra concêntricas. As duas delegações encontraram-se, com as cerimônias de costume. Curvaram-se, uma diante da outra, e galgaram as plataformas. Depois de haverem libado a taça de vinho do cerimonial, um oficial de Ch’i adiantou-se e pediu permissão para apresentação de uma orquestra com elementos de várias regiões; o duque de Ch’i deu consentimento, e os músicos vieram promovendo um tremendo ruído - os dançarinos civis com seus leques e flâmulas de rabo de boi ou penas de faisão, os dançarinos militares com suas lanças, tridentes, espadas e escudos. Confúcio avançou então alguns passos, até quase a beira da primeira plataforma; arregaçou as largas mangas de sua roupa, e disse: - "A que vieram estes músicos bárbaros, quando os chefes de governo estão celebrando uma conferência amistosa? Solicito que eles sejam dispensados." O oficial de Ch’i tentou fazê-los voltar, mas os músicos recusavam-se a obedecer. Todos os olhos voltaram-se para o duque de Ch'i e seu Ministro Yen Ying. O duque viu-se em grande embaraço e acenou com as mãos para que os músicos evacuassem o local. Depois de algum tempo, o mestre-de-cerimônias de Ch’i aproximou-se e pediu licença para fazer executar música palaciana, no que o duque assentiu. Artistas e anões, a caráter, começaram a execução, e outra vez Confúcio acercou-se da primeira plataforma e disse: - "Pessoas vulgares, que procuram corromper os governantes, devem ser mortas. Solicito uma providência do mestre-de-cerimônias. O mestre-de-cerimônias mandou matar os atores, cujos membros foram separados dos corpos. O duque de Ch’i achava-se grandemente envergonhado e impressionado, e achou que melhor seria regressar ao seu país. Falando em tom de grande ponderação, dirigiu-se aos seus ministros: - "Os homens de Lu ajudaram seu chefe a proceder como um gentil homem, enquanto estes agir como um bárbaro. Eis que cometi uma ofensa aos olhos do chefe de Lu. Que devo fazer?" Um oficial respondeu: - "Quando um gentil-homem se arrepende de seus erros, emenda-os com atos, e quando um homem vulgar se arrepende de seus erros, emenda-os com palavras. Se vos lastimais pelo que haveis feito, eu sugiro que vos emendeis com atos verdadeiros." Assim o duque de Ch’i devolveu as terras de Yun, Weniang e Kueit'ien, que haviam sido tomadas a Lu, como prova de arrependimento. No verão do ano décimo terceiro do Duque Ting (497 a.C.), Confúcio disse ao duque: - "Um súdito não deve possuir armamento privado, nem um senhor deve ter mais de cem "parapeitos" de terra" (cada "parapeito" representando trinta pés). O duque nomeou então Tselu, discípulo de Confúcio, Secretário do Baronato Chi, e ordenou que se reduzissem as cidadelas dos três grandes barões. Primeiro a cidade de Hou, pertencente ao Barão Shusun, foi reduzida. O Barão Chi estava prestes a reduzir sua cidade de Pi, mas Kungshan Puniu e Sun Cheh sublevaram o povo de Lu para um ataque à sede do ducado. O duque e os três barões dirigiram-se ao palácio do Barão Chi e ocuparam o terraço do Barão Wu. A gente de Pi atacou-os aí, sem conseguir tomar-lhes a posição. A batalha recrudesceu em torno do duque, e Confúcio mandou que os fidalgos Shen Kouhsu e Yo Ch’i marchassem de encontro aos atacantes. Os rebeldes foram derrotados, e os soldados de Lu os perseguiram e castigaram em Kumi. Os dois Barões Shusun e Chi correram então ao país de Ch’i, e a cidade de Chi foi arrasada ao nível do chão. A cidade de Ch'eng, reduto poderoso do Barão Meng, seria a seguinte na ordem de arrasamento, e o magistrado de Ch'eng falou ao Barão Meng: ,- "Quando a cidade for demolida, o povo de Ch’i achará o caminho aberto para atacar Lu pelo norte. Além disso, Ch' eng é o baluarte da casa de Meng: sem Ch'eng, não haverá Mengs. Recuso-me a vê-la destruída." Em dezembro o duque sitiou a cidade, mas não a capturou. No ano décimo quarto do Duque Ting (496 a.C.), Confúcio contava cinquenta e seis anos. Do posto de Grande Secretário da Justiça, foi promovido ao de Primeiro Ministro. Confúcio manifestou evidente prazer com a novidade, e seus discípulos falaram: - "Dizem que um gentil-homem não tem medo de desgraças e não se compraz no êxito." Ao que Confúcio redarguiu: - "Pois é assim? E não se diz também que uma pessoa é feliz por elevar-se a uma posição fora do comum? Nessa ocasião, fez executar a Shao Cheng mao, um ministro que pusera o governo em dificuldades.. Ao cabo de três meses de exercício como primeiro-ministro, os vendedores de carne de porco e de carneiro já não adulteravam sua mercadoria, e homens e mulheres andavam pela rua em faixas diferentes. As coisas que se perdiam na rua não eram indevidamente apropriadas, e os estrangeiros que visitavam a cidade não precisavam apresentar-se à polícia, trafegando em Lu como em seu próprio país. Quando o povo de Ch’i teve conhecimento disto, grande foi o susto:  "Se Confúcio permanece no poder, certamente Lu acabará por dominar os outros Estados, e quando for uma força dominante, nós, os vizinhos mais próximos, seremos os primeiros a sucumbir. Por que não firmar amizade com eles, presenteando-os com uma porção de terreno? O Ministro Li Chu propôs: - "Vamos antes procurar afastar Confúcio: se falharmos, então haverá ocasião de oferecer a Lu um pouco de terra." Assim escolheram oitenta moças, das mais formosas do país, habilitadas a executar a dança k'enq, com suas ricas vestes bordadas. Essas donzelas foram enviadas como dádiva ao governante de Lu, juntamente com cento e vinte esplêndidos cavalos; o fabuloso presente foi colocado diante do Grande Portão do Sul, de Lu. Por três vezes o Barão Huan Chi veio, em traje ordinário, ver o espetáculo; pensava que o duque aceitaria o presente, e sugeriu-lhe que fosse, por uma estrada perimetral, ver também. Assim o duque e o barão encaminharam-se àquele local, durante vários dias, negligenciando seus deveres governamentais. "Acho que é tempo de nos afastarmos", ponderou Tse lu. Confúcio replicou: - "Espera um pouco; já estamos quase na época do Sacrifício ao Céu, e se o duque tiver a lembrança de mandar as oferendas queimadas, para os ministros, após o culto público, preferirei ficar." Afinal o Barão Huan recebeu a oferta das moças de Ch’i, e por três dias não atendeu aos seus afazeres nem se lembrou de enviar aos ministros as oferendas do ritual. Então Confúcio partiu. Numa parada, na cidade de Tun, Shihchi falou, ao despedir-se: .­ "Mestre, sei bem que não mereceis nenhuma censura por abandonar Lu." Confúcio perguntou: "Posso cantar uma canção?" E cantou: Cuidado com a língua da mulher. Mais cedo ou mais tarde há de ferir. Cuidado com visita de mulher. Mais cedo ou mais tarde ela há de vir. Ei hô! Ei hô! Chegou a minha vez de partir. Shihchi voltou e o Barão Huan perguntou-lhe: "Que foi que Confúcio disse?" ShihChi contou a verdade, o barão exalou um suspiro e falou: - "O Mestre aborreceu-se comigo por causa destas prostitutas." Abraço. Davi


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