Cristianismo. Livro o Evangelho de Deus. Por Watchmann Nee (1903-1972). PREFÁCIO. Prefácio à Edição em Inglês. É do conhecimento dos leitores cristãos em todo o mundo que o irmão Watchman Nee foi especialmente encarregado pelo Senhor de ajudar os cristãos quanto à verdade da plena salvação de Deus. Na primavera de 1937, o irmão Nee deu uma série de vinte e seis mensagens sobre as verdades básicas do evangelho de Deus para a igreja em Xangai, China. Essas mensagens são o conteúdo dos volumes 28 e 29 de Obras Reunidas de Watchman Nee (The Collected Works of Watchman Nee). As questões abordadas são amplas, variando desde a condição pecaminosa do homem antes de ser salvo ao seu destino na era vindoura. No volume 28, o irmão Nee apresenta as particularidades da salvação de Deus, isto é, os pecados do homem; o amor, a graça e a misericórdia de Deus; a natureza da graça; a função da lei e a justiça de Deus; a obra de Cristo e do Espírito Santo na salvação de Deus; e a fé como o caminho da salvação. No volume 29, o irmão Nee trata detalhadamente das questões de segurança eterna da salvação e a maneira de Deus lidar com os pecados dos cristãos nesta era e na vindoura. Para ambas as questões, o irmão Nee apresenta respostas convincentes a partir da Bíblia e de como os cristãos atualmente entendem esses assuntos. As mensagens dessas séries foram proferidas pelo irmão Nee em chinês e manuscritas enquanto eram faladas. Essas notas foram traduzidas para o inglês e alteradas conforme necessário. Tanto quanto possível, o tom oral das mensagens foi preservado. Muitas ilustrações que o irmão Nee utilizou foram apreendidas de sua vida na China na época. Essas mensagens demonstram o comissionamento do Senhor para o nosso irmão e como o Senhor o equipou com a revelação de Sua Palavra. Que o Senhor abençoe ricamente todos os que lerem e virem essas verdades faladas pelo Senhor por meio de nosso irmão. Capítulo Um. O PECADO, OS PECADOS E O PECADOR. O Caráter desta Reunião — o Ensino do Evangelho. Hoje iniciamos uma série de reuniões de estudos bíblicos. Porém, antes de iniciarmos, gostaria primeiramente de dizer algumas palavras acerca da natureza destas reuniões. Não sei se há alguns aqui que estão conosco pela primeira vez. Alguns que vêm pela primeira vez acham muito difícil localizar nosso endereço. Muitos se queixam de que a rua onde nos encontramos é de difícil localização. Alguns até mesmo disseram que, apesar de estarem de fato sentados aqui, não sabiam como sair daqui após a reunião. Eles não sabiam que caminho tomar para chegar àquela loja de automóveis que viram enquanto vinham para cá, e não sabem como caminhar de lá para a parada de bonde ou para a parada de ônibus. Muito embora estivessem aqui, não estavam seguros e dificilmente poderiam lembrar-se do caminho pelo qual vieram. Esse é o caso de muitos cristãos em sua vida cristã. Se você lhes perguntar se creem no Senhor, eles dirão que sim. Porém, se lhes perguntar como foi que creram, eles dirão que não têm certeza. Eles não têm clareza alguma acerca da maneira pela qual foram salvos. As reuniões que teremos agora não são um reavivamento nem reuniões de evangelização. E, embora o assunto dessas reuniões seja o evangelho, elas não são reuniões de evangelização. Não estaremos pregando o evangelho desta vez; em vez disso, estaremos ensinando o evangelho. Por que precisamos ensinar o evangelho? Muitos foram salvos e se tornaram cristãos, mas ainda não sabem como se tornaram cristãos. O que vamos fazer hoje é dizer às pessoas como é que elas se tornaram cristãs. Em outras palavras, estamos dizendo-lhes que elas tomaram o sentido sul a partir da Rua Aiwenyi e caminharam diretamente para aquela loja de automóveis que viram, que dali viraram para Wende Lane onde estamos agora. Deram alguns passos em direção à janela do nosso salão de reuniões, viraram na entrada do nosso salão e caminharam até um cesto de lixo à porta do salão de reuniões e, em seguida, entraram no salão. Desta vez não estaremos persuadindo as pessoas a entrar; pelo contrário, estaremos dizendo-lhes como entraram. Se aqui houver alguns que não creram no Senhor, podem ficar desapontados. O que vamos fazer desta vez é mostrar aos que creram como é que creram. Alguns irmãos e irmãs podem ter muita clareza do evangelho; talvez até já saibam sobre o que estamos falando. Porém espero que o Senhor nos abençoe e nos conceda nova luz. Você precisa saber que estas reuniões são de estudo bíblico e destinam-se aos que creram, mas não sabem como creram. Dessa vez não estou tentando encorajá-lo ou reavivá-lo. Estou simplesmente lhe mostrando a direção. Em outras palavras, nessas reuniões nada mais sou do que um guia turístico. O Pecado, Os Pecados, O Pecador. Começarei com um princípio muito básico com respeito ao evangelho. Contudo, espero que a cada reunião avancemos um pouco. Nesta primeira reunião, nosso tema é um assunto que a maioria das pessoas não gosta de ouvir, mas é inevitável. Nosso assunto nesta reunião é o pecado, os pecados e os pecadores. A Bíblia dá muita atenção à questão do pecado. Somente quando tivermos clareza acerca do pecado é que poderemos compreender a salvação. Se quisermos conhecer sobre o evangelho de Deus e sobre a salvação de Deus, primeiro precisamos saber o que é o pecado. Devemos ver inicialmente como o pecado nos afetou e como nos tornamos pecadores. Só então teremos clareza da salvação de Deus. Vamos primeiro considerar o ABC. Precisamos ver o que é pecado, o que são pecados e quem é pecador. A Diferença entre Pecado e Pecados. Podemos facilmente dizer que a diferença entre pecado e pecados é que pecado é singular e pecados é plural. Entretanto, precisamos distinguir claramente entre pecado e pecados. Se você não consegue diferenciar os dois, será impossível ter clareza da sua salvação. Se uma pessoa não tem clareza da diferença entre pecado e pecados, mesmo que seja salva, sua salvação provavelmente é uma salvação obscura. Que é pecado de acordo com a Bíblia? E que são pecados? Permitam-me dar uma breve definição primeiro. Pecado refere-se àquele poder dentro de nós que nos motiva a cometer atos pecaminosos. Pecados, por outro lado, refere-se aos atos pecaminosos individuais, específicos, que cometemos exteriormente. Que é pecado? Não gosto de utilizar termos tais como “pecado original”, “a raiz do pecado”, “a fonte do pecado” ou similares. Estes termos são criados por teólogos e são desnecessários para nós agora. Seremos simples e consideraremos essa questão a partir da nossa experiência. Sabemos que há algo dentro de nós que nos motiva e nos obriga a ter certas inclinações espontâneas, que nos induz para o caminho da concupiscência e paixão. De acordo com a Bíblia esse algo é o pecado (Romanos 7:8, 16-17). Todavia, não há somente o pecado interior que nos obriga e induz, há também os atos pecaminosos individuais, os pecados, os quais são cometidos exteriormente. Na Bíblia, os pecados estão relacionados com a nossa conduta, enquanto o pecado está relacionado com a nossa vida natural. Pecados são os cometidos pelas mãos, pelos pés, pelo coração, e mesmo por todo o corpo. Paulo refere-se a isso ao falar dos feitos do corpo (Romanos 8:13). Então, que é o pecado? O pecado é uma lei que controla nossos membros (Romanos 7:23). Existe algo dentro de nós que nos leva a pecar, a cometer o mal e esse algo é o pecado. Se quisermos fazer uma distinção clara entre pecado e pecados, há uma parte nas Escrituras que precisamos considerar. São os primeiros oito capítulos do livro de Romanos. Esses oito capítulos mostram-nos o significado pleno do pecado. Nesses oito capítulos encontramos uma característica notável: do capítulo 1 ao 5:11, somente a palavra pecados, no plural, é mencionada; a palavra pecado, no singular, jamais é mencionada. Mas, de 5:12 até o final do capítulo oito, o que encontramos é pecado, não pecados. Do capítulo 1 até 5:11, Romanos mostra-nos que o homem tem cometido pecados diante de Deus. De 5:12 em diante, Romanos mostra-nos que tipo de pessoa o homem é diante de Deus: um pecador. Pecado refere-se à vida que possuímos. Antes de Romanos 5:12 nenhuma menção há de mortos sendo vivificados, pois o problema ali não é que alguém precise ser vivificado e, sim, que os pecados individuais que alguém cometeu precisam ser perdoados. De 5:12 em diante, temos a segunda seção. Aqui vemos algo forte e poderoso dentro de nós como uma lei em nossos membros, que é o pecado, que nos induz e obriga a cometer os pecados, os atos pecaminosos. Por isso há necessidade de sermos libertados. Os pecados têm a ver com a nossa conduta, e para isso a Bíblia mostra-nos que precisamos de perdão (Mateus 26:28; Atos 2:38; 10:43). Porém, o pecado é o que nos incita, induz-nos a cometer os atos pecaminosos. Por isso, a Bíblia mostra-nos que precisamos de libertação (Romanos 6:18, 22). Certa vez encontrei um missionário que falava sobre “o perdão do pecado”. Imediatamente levantei-me, apertei sua mão e perguntei: “Onde na Bíblia se diz ‘perdão do pecado’?” Ele argumentou que existiam muitos casos. Quando lhe perguntei se podia encontrar um para mim, ele disse: “Que você quer dizer? Não é possível encontrar nem sequer um lugar que diga isso?” Eu disse-lhe que em toda a Bíblia, em nenhum lugar são mencionadas as palavras o perdão do pecado; em vez disso, a Bíblia sempre fala de “perdão de pecados”. Os pecados é que são perdoados, não o pecado. Ele não acreditou em minhas palavras, então foi procurar em sua Bíblia. Finalmente me disse: “Sr. Nee, é tão estranho. Toda vez que essa frase é usada, um pequeno s é adicionado a ela”. Creio que você pode ver que os pecados é que são perdoados, não o pecado. Os pecados são exteriores a nós. Eis por que precisam ser perdoados. Contudo, algo mais está dentro de nós, algo forte e poderoso que nos leva a cometer pecados. Para isso precisamos não de perdão, mas de libertação. Precisamos ser libertados. Tão logo não estejamos mais sob seu poder e nada tenhamos a ver com ele, estaremos em paz. A solução para os pecados vem do perdão. Entretanto, a solução para o pecado vem quando não estivermos mais debaixo do seu poder e não tivermos mais nada a ver com ele. Os pecados estão relacionados com as nossas ações e são cometidos um por um. Eis por que precisam ser perdoados. O pecado, porém, está dentro de nós e precisamos ser libertados dele. Portanto, a Bíblia nunca diz “perdão do pecado”, mas “perdão dos pecados”. Tampouco a Bíblia fala sobre ser “libertado dos pecados”. Posso assegurar-lhes que a Bíblia nunca diz isso. Pelo contrário, a Bíblia diz que somos “libertados do pecado”, em vez de libertados dos pecados. A única coisa da qual precisamos escapar e ser libertados é daquilo que nos incita e nos induz a cometer pecados. Essa distinção é feita de modo bastante claro na Bíblia. Posso comparar os dois desta forma: De acordo com a Bíblia, o pecado está na carne; enquanto os pecados estão na nossa conduta. O pecado é um princípio dentro de nós; é um princípio da vida que temos. Os pecados são atos cometidos por nós; são atos em nosso viver. O pecado é uma lei nos membros. Os pecados são transgressões que cometemos; são atividades e atos reais. O pecado está relacionado com o nosso ser; os pecados estão relacionados com o nosso agir. Pecado é o que somos; pecados é o que fazemos. O pecado está na esfera da nossa vida; os pecados estão na esfera da consciência. O pecado está relacionado com o poder da vida que possuímos; os pecados estão relacionados com o poder da consciência. Uma pessoa é governada pelo pecado em sua vida natural, mas ela é condenada em sua consciência pelos pecados cometidos exteriormente. Pecado é algo considerado como um todo; pecados são coisas consideradas caso a caso. O pecado está no interior do homem; os pecados estão diante de Deus. O pecado requer que sejamos libertados; os pecados requerem que sejamos perdoados. Pecado diz respeito à santificação; pecados se relacionam com a justificação. Pecado é uma questão de vencer; pecados é uma questão de ter paz no coração. O pecado está na natureza do homem; os pecados estão nos hábitos do homem. Figurativamente falando, o pecado é como uma árvore e os pecados são como o fruto da árvore. Podemos tornar essa questão clara com uma simples ilustração. Ao pregar o evangelho, frequentemente comparamos o pecador a um devedor. Todos sabemos que ser devedor não é algo agradável. Contudo devemos lembrar que uma coisa é alguém ter dívidas; e outra coisa é ter disposição para contrair dívidas. Uma pessoa que toma empréstimos seguidas vezes não se importa tanto com o fato de usar dinheiro alheio. A Bíblia diz que os cristãos não devem ser devedores (Romanos 13:8); eles não deveriam tomar emprestado dos outros. Uma pessoa com tendência a tomar emprestado pode pedir duzentos ou trezentos dólares de alguém hoje e, depois, dois ou três mil dólares de outro amanhã. E mesmo que seja incapaz de pagar suas dívidas e seus parentes ou amigos tenham de pagá-las por ele, após uns poucos dias ele começará a pensar em pedir emprestado novamente. Isso mostra que tomar emprestado é uma coisa, mas ter tendência para o empréstimo é outra. Os pecados descritos na Bíblia são como débitos exteriores, enquanto pecado é como o hábito e a disposição interiores, é como a mente que tem a inclinação de tomar emprestado facilmente. Uma pessoa com tal mente não irá parar de tomar emprestado simplesmente porque alguém pagou seus débitos. Pelo contrário, ela pode até mesmo tomar emprestado ainda mais, porque os outros agora estão pagando suas dívidas. Essa é a razão de Deus não tratar apenas com o registro dos pecados, mas também com a inclinação para o pecado. Podemos ver a importância de lidar com os pecados, mas é igualmente importante lidar com o pecado. Somente ao vermos ambos os aspectos é que o nosso entendimento sobre nossa salvação será completo. Quem é Pecador? Agora precisamos fazer a pergunta: Quem é pecador? Creio que alguns dos irmãos aqui são cristãos por mais de vinte anos. Alguns até mesmo têm trabalhado pelo Senhor por mais de quinze anos. Minha pergunta pode ser considerada como um dos ABC’s da Bíblia. Quem é pecador? Creio que muitos responderão que pecador é alguém que peca. Se verificar no dicionário, temo que seja esta a resposta que você obterá: pecador é o que peca. Porém, se ler a Bíblia, terá de rejeitar esta definição, porque não é que os que pecam sejam pecadores, mas pecadores são os que cometem pecados. Que significa isso? Muitos entre nós leram o livro de Romanos. Ouvi muitos dizerem que Paulo, para provar que no mundo todos são pecadores, mencionou no capítulo três que todos pecaram e carecem da glória de Deus (v. 23). Deus busca justos e não encontra nenhum; Ele procura os que O entendam e que O buscam, e não encontra nenhum; todos mentiram e se extraviaram (vs. 10-13). Portanto, parece que Paulo está dizendo que no mundo todos são pecadores. Mas seja cuidadoso. Não seja rápido demais para dizer isso. Será que Romanos 3 menciona de fato o pecador? Se alguém puder encontrar a palavra pecador em Romanos 3, eu irei agradecer-lhe por isso. Onde pecador é mencionado neste capítulo? Por favor, repare que pecador nunca é citado aqui. Alguns dizem que por Romanos 3 falar sobre o homem pecando, isso prova que o homem é um pecador. Contudo, Romanos 3 não menciona o pecador. É Romanos 5 que fala sobre o pecador. Portanto, precisamos fazer a distinção: Romanos 3 fala sobre o problema dos pecados e Romanos 5 fala sobre o problema do pecador. Tudo o que Romanos 3 nos diz é que todos pecaram. Somente em Romanos 5 é dito quem são os pecadores. Todos que nasceram em Adão são pecadores. Isso é o que Romanos 5:19 nos diz. Se ler a J. N. Darby’s New Translation (Nova Tradução da Bíblia de J. N. Darby), você verá que ele usou as palavras tendo sido constituídos pecadores. Todos somos pecadores por constituição. Ao escrever um currículo, há dois itens que você deve colocar. Um é o seu local de nascimento e outro é a sua profissão. De acordo com Deus, somos pecadores por nascimento, e por profissão somos os que pecam. Por sermos pecadores por nascimento, seremos sempre pecadores, quer pequemos ou não. Certa vez eu estava conduzindo um estudo bíblico com os irmãos em Cantão. Disse-lhes que existem dois tipos de pecadores no mundo — os pecadores que pecam e os pecadores morais. Entretanto, quer seja um ou outro, você ainda é um pecador. Deus diz que todos os que nasceram em Adão são pecadores. Não importa que tipo de pessoa você seja; uma vez que foi gerado em Adão, é um pecador. Se você peca, é um pecador que peca. E se você não pecou ou para ser mais preciso, se você pecou menos, é um pecador moral ou um pecador que peca pouco. Se é uma pessoa nobre, você é um pecador nobre. Se se considera santo, você é um pecador santo. Em qualquer caso, ainda é um pecador. Hoje, o maior engano entre os homens é considerar um homem como pecador somente porque ele pecou; se não pecou, ele não é considerado um pecador. Porém, não existe tal coisa. Pecando ou não, desde que seja homem, você é pecador. Desde que tenha nascido em Adão, você é pecador. Um homem não se torna pecador porque peca; pelo contrário, ele peca porque é pecador. Portanto, meus amigos, lembrem-se da Palavra de Deus. Somos pecadores; não nos tornamos pecadores. Não precisamos nos tornar pecadores. Certa vez eu falava com um irmão. Havia uma garrafa térmica em frente a ele, e ele disse: “Aqui está uma garrafa térmica. Se ela orar: ‘Eu quero ser uma garrafa térmica’, que acontecerá?” Eu disse: “Ela já é uma. Não precisa ser uma”. O mesmo ocorre conosco, uma vez que sejamos algo, não há necessidade de nos tornarmos este algo. Embora nossos pecados sejam perdoados, permanecemos pecadores. Podemos até chamar-nos de pecadores perdoados. Mas muitos acreditam que não mais são pecadores. Acham que se afirmarmos que somos pecadores, isso significa que não conhecemos o evangelho tão bem. Isso pode não ser toda a verdade. Paulo não disse que seus pecados não foram perdoados. Mas ele disse que era um pecador (1 Timóteo 1:15). Você viu a diferença aqui? Se perguntasse a Paulo se os pecados dele foram perdoados, ele não poderia ser tão humilde a ponto de dizer não. Mas Paulo poderia humildemente dizer que é um pecador. Ele não poderia negar a obra de Deus nele. Contudo, ele tampouco poderia negar sua posição em Adão. Embora tenhamos recebido a graça em Cristo, Deus não removeu completamente o problema do pecado; nós ainda somos pecadores. O problema do pecado não será plenamente solucionado até que o novo céu e a nova terra apareçam. Entretanto, isso não significa que não tenhamos recebido uma salvação completa. Não me entendam mal. Em poucos dias trataremos desse ponto. O que devemos ver clara e corretamente é que toda pessoa no mundo é um pecador. Quer tenha pecado ou não, uma vez que seja um ser humano, você é um pecador. Quando alguns ouvem o evangelho, gastam o tempo todo pensando em quantos ou quão poucos pecados têm cometido. Mas diante de Deus há somente uma questão: Você está em Cristo ou em Adão? Todos os que estão em Adão são pecadores, e desde que seja um pecador, nada mais precisa ser dito. Por que, então, Paulo teve de dizer-nos em Romanos 1, 2 e 3 sobre todos os pecados que o homem comete? Estes poucos capítulos mostram-nos que pecadores pecam. Os primeiros três capítulos de Romanos provam que um pecador é conhecido pelos pecados que comete. Romanos 5, porém, diz-nos que tipo de pessoa um pecador na verdade é. Uma vez fui a Jian, em Kiang si, e uma noite encontrei um irmão que é guarda de segurança. Ele não acreditou que eu fosse um pregador e um obreiro do Senhor. Ali estava um problema. Sou um obreiro do Senhor e um servo de Cristo, mas ele não acreditava. Portanto, eu tinha de provar a ele quem eu era. Dei-lhe muitas provas. Por fim ele acreditou. Da mesma maneira, nós já somos pecadores. Mas não nos foi provado. Os três primeiros capítulos de Romanos provam que somos pecadores. Eles nos dão as evidências. Mostrando-nos que pecamos de tais maneiras, esses capítulos provam-nos que somos pecadores. O capítulo cinco diz que somos pecadores, mas os três primeiros capítulos provam que somos pecadores. Deixe-me relatar outra história. Em Fukien, havia alguns ladrões e sequestradores que haviam sido cristãos, ainda que fosse somente de nome. Embora fossem ladrões e sequestradores, a consciência deles ainda estava de certa forma um tanto sensível; quando percebiam que haviam sequestrado um pastor ou um pregador eles o libertavam sem resgate. Pouco a pouco, quando alguém era sequestrado dizia que era pregador ou pastor desta ou daquela denominação. Que fizeram os ladrões? Após algum tempo, eles descobriram uma maneira. Toda vez que alguém se dizia ser um pastor, os ladrões pediam-lhe que recitasse os dez mandamentos, a oração do Senhor, e as bem-aventuranças. Os que conseguissem recitar deviam ser pastores e, assim, deixavam-nos ir. Ouvi essa história recentemente e achei-a muito interessante. Se você fosse um pastor, tinha de provar. Os ladrões exigiam que aquelas pessoas lhes provassem que eram pastores. Da mesma forma, Deus quer provar-nos que somos pecadores. Sem nos provar isso, podemos esquecer quem somos nós. Esse é o motivo de Romanos 1—3 enumerar todos aqueles pecados. É para nos mostrar que somos pecadores. Após tantos fatos apresentados ali, foi-nos provado que somos pecadores. Portanto, nunca se deve pensar que são os muitos pecados que nos fazem pecadores. Já faz muito tempo que somos pecadores. Não nos tornamos pecadores após estes pecados serem cometidos. Precisamos estabelecer este fundamento claramente. Hoje você pode sair à rua, encontrar qualquer um, tomá-lo pela mão e dizer-lhe que é pecador. Se ele disser que não pode ser um pecador porque não assassinou ninguém ou não ateou fogo na casa de ninguém, você pode dizer-lhe que ele é um pecador que nunca matou ninguém nem ateou fogo na casa de ninguém. Se alguém lhe diz que nunca roubou nem cometeu fornicação, você pode dizer-lhe que ele é um pecador que nunca roubou nem cometeu fornicação. Não importa quem encontre, você pode dizer que ele é um pecador. Em todo o Novo Testamento, somente Romanos 5:19 nos diz quem é pecador. Todos os outros lugares no Novo Testamento nos dizem o que o pecador faz. Somente este único lugar nos diz quem o pecador é. Um pecador pode fazer um milhão de coisas, mas não são essas coisas que o constituem pecador. Uma vez que seja nascido em Adão, ele é pecador. Próximo O Maior Pecado. Abraço. Davi
segunda-feira, 16 de junho de 2025
sexta-feira, 13 de junho de 2025
BHAGAVAD GITA - O CANTO DO SENHOR. PREFÁCIO i
Hinduísmo. Srimad Bhagavad Gita - Canto do Senhor. Por Swuami Vijoyananda. PREFÁCIO I. O Bhagavad-Gita, ou Canto do Senhor, pertence à grande epopéia Mahabharata dos hindus. Este texto sagrado tem dezoito capítulos (25 a 42) do Bhisma-Parva desta epopeia. Também o chamam Gita ou Canto porque é um diálogo em verso entre Sri Krishna, a Encarnação Divina e Arjuna. O Gita é um dos mais importantes textos espirituais do mundo. O hindu instruído, culto e de temperamento espiritual lê este texto com profunda reverência e encontra através de seus versos sua pergunta respondida, sua dúvida dissipada, recobrado o seu ânimo e claro e iluminado o seu caminho; e assim prossegue com passos seguros sua marcha ao seu Ideal de vida. Sri Krishna, o instrutor do Gita, é o amigo ideal, o sábio preceptor, o grande yogui, o guerreiro invencível, o conhecedor perfeito, o estadista consumado da época; em sua pessoa todas as belas qualidades humanas estão harmonizadas. O fato de que este texto muito sagrado tenha como marco o campo de batalha, chama a atenção de muitos leitores, especialmente ocidentais, que sincera, mas desfavoravelmente, criticam a personalidade de Sri Krishna como Encarnação Divina. Dizem: Como é possível que a Encarnação de Deus instigue a seu melhor amigo a levantar seu arco e matar as pessoas? Como Deus, o misericordioso, pode ser a causa direta ou instrumental da matança? Isto necessita certo esclarecimento. Antes de tudo compreendamos uma coisa com toda claridade: Sri Krishna jamais disse à Arjuna que matasse a todos inimigos por algum fim pessoal; Ele o fez recordar seu dever de kshatriya, o guerreiro que protege a causa da retidão e justiça. Os adversários de Arjuna eram adictos de seu primo, que havia usurpado o trono de seu irmão mais velho. Esse primo havia tentado matá-los e lhes havia dito que teriam que reconquistar o trono no campo de batalha. Assim que não era o momento de demonstrar sua compaixão a estes injustos e ser morto por eles, dando-lhes a oportunidade de propagar a injustiça e a irreligiosidade. Muito diferentemente do que professam os crentes ocidentais, especialmente os cristãos, o hindu acha muito razoável a idéia de que Deus se encarne no corpo humano tantas vezes como sinta ser necessário. No Gita lemos: “Toda vez que declina a religião e prevalece a irreligião, Me encarno de novo.” Sem nos perdermos nas infrutíferas discussões dogmáticas das diferentes escolas de teologia, nas quais a lógica e o bom senso estão subordinados às opiniões sectárias, vamos ouvir o que diz o hindu em apoio de seu conceito sobre a Encarnação. Diz: Deus impessoal e sem qualidades é um conceito tão sumamente elevado que a maioria dos 2seres humanos não podem nem compreender nem sentir. Só pouquíssimos seres, que se liberaram de todo tipo de desejos e necessidades, que superaram a vida objetiva, que pela absoluta pureza de coração e pela devoção, dedicando seu corpo, mente e alma a Deus, puderam apagar completamente a diferença entre eles e seu Bem-amado Deus e assim gozar da suprema bem-aventurança do estado da beatitude, só eles podem dizer, por sua realização, que Deus é Impessoal; porque neste estado já não existe o conceito de personalidade, nem subjetiva nem objetivamente. Mesmo estes bemaventurados seres, ao baixar de seu elevado estado de supra-consciência, aceitam que Deus Impessoal é também pessoal como Ser Universal. Ele é tudo, o que existe objetivamente é Sua manifestação; Ele está em todos os seres animados e inanimados. O resto da humanidade, os que vivem a vida de necessidades e sua satisfação, para quem a individualidade é a realidade, necessitam de um exemplo objetivo, um ser humano que com sua vida pura e absolutamente abnegada e por sua realização espiritual se uma definitivamente com o Princípio Divino e viva como a própria figura da misericórdia e declare, com sua autoridade, a existência de Deus. Essa personificação humana da divindade é a Encarnação, que vive de época em época “para proteger aos bons, destruir aos maus e restabelecer a Eterna Religião.” Ninguém sabe a data exata da criação deste mundo ou de sua aparição como um processo evolutivo da natureza, a qual nada faz mecanicamente. A natureza é inteligente e todas as suas modificações levam a marca desta inteligência. O hindu diz que a natureza, individual e coletiva, é deus em manifestação; a natureza é parte do Onipresente. Tampouco conhecemos exatamente quando apareceu pela primeira vez o homem sobre esta terra. Todas as datas que propõem os antropólogos e outros homens de ciência são aproximadas, são conjecturas. Hoje é muito arriscado opinar que nossos irmãos de sete ou oito mil anos atrás eram menos avançados que nós em conceitos morais e espirituais. Os Upanishads, os textos de yoga, o sistema do samkhya, demonstram que os seres humanos daquela época, ainda que vivessem com menos artigos de luxo, tinham conceitos espirituais muito elevados. Alguns deles já sabiam que Deus é Universal, que Deus é Existência-Conhecimento-Bem-aventuranças Absoluta, que Deus é Pessoal e Impessoal; sabiam que o homem, pelo caminho do controle interno e externo pode gozar da Bem-aventurança eterna pela misericórdia divina; sabiam que todo o sofrimento humano é devido a que o homem ignora sua própria natureza divina. De maneira que não podemos dizer que o homem, antes da era cristã, não necessitou nem teve a benção da presença das Encarnações. É ilógico, insensato e dogmático dizer que antes da aparição de Jesus Cristo a raça humana não recebia a graça divina e que com a Encarnação de Deus no corpo de Jesus se abriu, pela primeira vez, a porta da salvação. Salvação é ser consciente da eterna presença de Deus. Além disso, o hindu diz que, como todas as ideias e normas, as da Religião prosperam também, durante certo tempo e depois decaem, as pessoas afastadas de 3seu Ideal, se tornam egoístas e mesquinhas, se esquecem de amar à Deus e à seu próximo, vivem a vida puramente sensual, de luta e competição. Quando se generaliza este estado, certos amantes da Divindade rogam fervorosamente pela salvação de seus irmãos ignorantes e a misericórdia se condensa em uma forma humana. Este fato místico, esta manifestação de Puro Amor, ocorreu antes e ocorrerá no futuro. Em qualquer parte do mundo, para o homem comum, a religião consiste só em cumprir alguns deveres morais. O dever varia segundo o ambiente e posição social da pessoa. Aparentemente o dever do pai é bem diferente do dever do filho. O dever de um rei ou governante de um povo é velar com zelo pelo bem-estar físico, moral e espiritual de cada pessoa do povo. Esta magna tarefa se cumpre com êxito quando o governante leva uma vida abnegada e dedicada. Se seu povo é atacado por inimigos, ele tem que derrotá-los sem considerações e se for necessário, oferecer sua própria vida no campo de batalha. Este é seu dever primordial, esta é sua religião. Por esta ação abnegada, o rei ou governante se purifica de suas limitações e se aproxima de Deus. Através do cumprimento do dever o homem consciente, o homem que não vive uma vida egoísta e puramente sensual, descobre que a felicidade é mais apreciável que o momentâneo prazer, que se goza mais fazendo felizes aos demais, que jamais esteve separado do resto da humanidade, que a felicidade moral é muito mais duradoura que a alegria corpórea e que o homem como Ser é sempre universal. A individualidade é um conceito puramente objetivo. Mesmo o homem comum, de mentalidade limitada, quando pensa em si mesmo, o faz em relação com seus familiares ou parentes imediatos, o que demonstra que, subjetivamente, ele jamais pode limitar-se nesta forma que é vista pelos outros; o homem subjetivamente é sempre o reflexo do Universal, é um aspecto indivisível da Divindade. As pessoas comuns têm muitas idéias confusas sobre o conceito do dever; estas confusões não se aclaram enquanto o homem leva uma vida objetiva; enquanto a opinião alheia, o anelo de ganhar méritos, de receber o elogio das pessoas, a ostentação, o logro do prazer sensório e o medo, constituírem o motivo ou motivos de suas ações e pensamentos. Este medo, ainda que pareça um paradoxo para muitos, é o principal impulso na vida. Este medo nos persegue de diversas maneiras: medo da opinião pública, medo de perder os bens, a reputação, a posição social, os familiares e o medo da morte. Este medo fabricou a ilusória individualidade, nos tem amarrados a ela e nos obriga a crer que somos criaturas de nascimento, juventude, velhice e morte. Freqüentemente vemos que o homem, confundido e assustado, fala demasiado de valor, compaixão e desapego que ele realmente não sente nem demonstra nos fatos. Algo muito parecido aconteceu à Arjuna no campo de batalha e, justamente por isso, Sri Krishna lhe deu conselhos apropriados sobre o dever, o yoga, a renúncia, os diversos caminhos espirituais e a liberação. O Bhagavad-Gita não é um tratado de teologia, nem um livro de orações devocionais e nem um texto de um sistema filosófico. Este 4sagrado texto, de forma sintética, ilumina a consciência humana, aclara os complexos problemas sobre o dever, o propósito da vida, a diferença entre o amor e o apego, a ciência do yoga, a prática da devoção e do difícil caminho do discernimento pelo qual, o homem de renúncia, logra o conhecimento direto do UM sem segundo, a Existência-Conhecimento, Bem-aventurança Absoluta. Lendo este livro, aquele que realmente tenha inquietude espiritual, descobre com assombro e certa alegria que muitas, senão todas, as perguntas de Arjuna, são ou poderiam ser as suas e que certas respostas de Sri Krishna retiram todas suas dúvidas, lhe dão ânimo e convicção, lhe preparam para seguir firmemente o caminho espiritual e fazem eco ao dito final de Arjuna: “Me sinto firme, minhas dúvidas desapareceram. Cumprirei Tua ordem.” Temos que advertir ao nosso leitor, se é um aspirante espiritual, sobre algo muito importante. Será muito difícil compreender o verdadeiro significado deste texto se não possui de antemão os imprescindíveis requisitos da vida espiritual. Antes de tudo, deve ter a capacidade de discernir entre o Real e o irreal; depois deve ter a firme determinação de renunciar à irrealidade; deve possuir as seis virtudes seguintes: controle dos sentidos, controle da mente, fortaleza para suportar as aflições, saber retirar-se dos objetos e conceitos que o perturbam no caminho espiritual, fé inquebrantável na própria capacidade e na existência divina, concentração e por último, o anelo de liberar-se desta irreal existência objetiva, deste conjunto de ideais e formas transitórias. Sem tais requisitos, a leitura deste texto espiritual não servirá muito ao nosso leitor. Talvez lhe ajude algo em sua carreira de erudição, agregando outra flor em sua cesta de ecletismo. O leitor deve saber muito bem que a vida de “parecer” é absolutamente distinta e contrária à vida de “ser” e que unicamente pelo caminho de “ser”, da sinceridade e retidão, se compreende a grande importância da vida espiritual. A espiritualidade ou religião transforma totalmente a vida; a leitura dos tratados espirituais não é para satisfazer uma mera curiosidade intelectual, seu propósito é levantar ao homem de seu equivocado e pernicioso estado animal e fazêlo recordar constantemente sua natureza divina, prepará-lo para viver uma vida de plenitude e ao final conduzi-lo à união completa com Deus, seu verdadeiro Ser. Os caminhos a este magno e único ideal são vários. Os hindus os chamam de “yogas”. Os principais yogas são quatro: Karma yoga ou yoga da ação, Raja yoga ou yoga do controle interno e externo, Bhakti yoga, ou yoga da devoção e Jñana yoga ou yoga do conhecimento do Supremo. Yoga também significa “união”, o que nos une com Deus. De maneira que yoga é ao mesmo tempo a base e o grande Ideal de todas as religiões. Os grandes sábios, santos e profetas de todas as religiões foram, são e serão yoguis; em suas vidas notamos a maravilhosa fusão das belas qualidades humanas com a divindade universal. Um verdadeiro yogui transcendeu as limitações individuais, personifica ao Conhecimento e seus sentimentos são universais; através de sua personalidade transparente a Divindade chega a nós diretamente. Abraço. Davi
quarta-feira, 11 de junho de 2025
O PERÍODO DA GRANDE FORÇA
Confucionismo. A Biografia de Confúcio. Memória Histórica de Sima Qian. 3. O PERÍODO DA GRANDE FORÇA. [502-496 a.C.]. No oitavo ano de governo do Duque Tinq, de Lu (502 a.C.), Kungshan Puniu não se deu bem com o Barão Huan Chi, e aliou-se a Yang Hu para promover uma rebelião, destronar o primogênito do barão e fazer herdeiros do trono os filhos de suas concubinas, amigos de Yang. Para isto capturaram o Barão Huan Chi, que afinal conseguiu escapar; no ano seguinte Yang foi derrotado e fugiu para o país de Ch’i. Confúcio contava então cinquenta anos. Kungshan Puniu iniciou outra rebelião contra o Barão Huan, na cidade de Pi, e o Barão Huan enviou a Confúcio um pedido para que fosse vê-lo. Confúcio havia-se devotado, desde longo tempo, ao prosseguimento de seus estudos; achava-se maduro e bem, sem, todavia, saber exatamente por onde começar a aplicação de seus ensinamentos às práticas governamentais. Uma vez, disse: - "Os reis Wen e Wu chegaram ao poder, procedentes das pequeninas cidades de Feng e K'eo, e por fim estabeleceram o império de Chou. Pi é um lugar pequenino, eu sei, mas talvez deva tentar." E assim estava Confúcio prestes a partir, mas seu discípulo Tselu não se conformava com isso e procurou dissuadi-lo. Confúcio replicou: - "Já que o barão pede para ver-me, há de ter um plano em mente, e se ele me guindar ao poder poderemos chegar a realizar algo como a obra do Imperador P'ing" (que restaurou o poder da Dinastia Chou, iniciando a chamada Era Chou Oriental). Afinal Confúcio não foi. Mais tarde o Duque Ting nomeou Confúcio prefeito de Chungtu. Ao cabo de um ano a cidade tornou-se um modelo para todas as suas vizinhas. Daí Confúcio foi promovido a Secretário das Obras Públicas e do Trabalho, e por fim tornou-se Grande Secretário da Justiça. Na primavera do décimo ano do Duque Ting (500 a.C.), Lu firmou um tratado de amizade com Ch’i, e no verão desse mesmo ano, um ministro de Ch’i, chamado Li Chu, disse ao duque de Ch’i: - "Isto vai-se tornando perigoso para nós, estando Confúcio no poder em Lu." Então combinaram uma conferência amistosa entre os dois países, em Chiaku. O Duque Ting preparava-se para comparecer à conferência, em sua carruagem; mas Confúcio, na qualidade de primeiro-ministro, Falou-lhe: - "Tenho ouvido dizer que a conferências civis deve-se enviar uma delegação militar, e a conferências militares deve-se enviar uma delegação civil. Os governantes dos velhos tempos sempre se faziam acompanhar de uma escolta militar, quando em visita a um país estrangeiro; recomendo que levemos conosco os Secretários da Guerra, Direito e Esquerdo." O duque assentiu, e assim partiram rumo a Chiaku, com os Secretários da Guerra. No local onde o encontro haveria de dar-se foi armado um altar, circundado por três plataformas de terra concêntricas. As duas delegações encontraram-se, com as cerimônias de costume. Curvaram-se, uma diante da outra, e galgaram as plataformas. Depois de haverem libado a taça de vinho do cerimonial, um oficial de Ch’i adiantou-se e pediu permissão para apresentação de uma orquestra com elementos de várias regiões; o duque de Ch’i deu consentimento, e os músicos vieram promovendo um tremendo ruído - os dançarinos civis com seus leques e flâmulas de rabo de boi ou penas de faisão, os dançarinos militares com suas lanças, tridentes, espadas e escudos. Confúcio avançou então alguns passos, até quase a beira da primeira plataforma; arregaçou as largas mangas de sua roupa, e disse: - "A que vieram estes músicos bárbaros, quando os chefes de governo estão celebrando uma conferência amistosa? Solicito que eles sejam dispensados." O oficial de Ch’i tentou fazê-los voltar, mas os músicos recusavam-se a obedecer. Todos os olhos voltaram-se para o duque de Ch'i e seu Ministro Yen Ying. O duque viu-se em grande embaraço e acenou com as mãos para que os músicos evacuassem o local. Depois de algum tempo, o mestre-de-cerimônias de Ch’i aproximou-se e pediu licença para fazer executar música palaciana, no que o duque assentiu. Artistas e anões, a caráter, começaram a execução, e outra vez Confúcio acercou-se da primeira plataforma e disse: - "Pessoas vulgares, que procuram corromper os governantes, devem ser mortas. Solicito uma providência do mestre-de-cerimônias. O mestre-de-cerimônias mandou matar os atores, cujos membros foram separados dos corpos. O duque de Ch’i achava-se grandemente envergonhado e impressionado, e achou que melhor seria regressar ao seu país. Falando em tom de grande ponderação, dirigiu-se aos seus ministros: - "Os homens de Lu ajudaram seu chefe a proceder como um gentil homem, enquanto estes agir como um bárbaro. Eis que cometi uma ofensa aos olhos do chefe de Lu. Que devo fazer?" Um oficial respondeu: - "Quando um gentil-homem se arrepende de seus erros, emenda-os com atos, e quando um homem vulgar se arrepende de seus erros, emenda-os com palavras. Se vos lastimais pelo que haveis feito, eu sugiro que vos emendeis com atos verdadeiros." Assim o duque de Ch’i devolveu as terras de Yun, Weniang e Kueit'ien, que haviam sido tomadas a Lu, como prova de arrependimento. No verão do ano décimo terceiro do Duque Ting (497 a.C.), Confúcio disse ao duque: - "Um súdito não deve possuir armamento privado, nem um senhor deve ter mais de cem "parapeitos" de terra" (cada "parapeito" representando trinta pés). O duque nomeou então Tselu, discípulo de Confúcio, Secretário do Baronato Chi, e ordenou que se reduzissem as cidadelas dos três grandes barões. Primeiro a cidade de Hou, pertencente ao Barão Shusun, foi reduzida. O Barão Chi estava prestes a reduzir sua cidade de Pi, mas Kungshan Puniu e Sun Cheh sublevaram o povo de Lu para um ataque à sede do ducado. O duque e os três barões dirigiram-se ao palácio do Barão Chi e ocuparam o terraço do Barão Wu. A gente de Pi atacou-os aí, sem conseguir tomar-lhes a posição. A batalha recrudesceu em torno do duque, e Confúcio mandou que os fidalgos Shen Kouhsu e Yo Ch’i marchassem de encontro aos atacantes. Os rebeldes foram derrotados, e os soldados de Lu os perseguiram e castigaram em Kumi. Os dois Barões Shusun e Chi correram então ao país de Ch’i, e a cidade de Chi foi arrasada ao nível do chão. A cidade de Ch'eng, reduto poderoso do Barão Meng, seria a seguinte na ordem de arrasamento, e o magistrado de Ch'eng falou ao Barão Meng: ,- "Quando a cidade for demolida, o povo de Ch’i achará o caminho aberto para atacar Lu pelo norte. Além disso, Ch' eng é o baluarte da casa de Meng: sem Ch'eng, não haverá Mengs. Recuso-me a vê-la destruída." Em dezembro o duque sitiou a cidade, mas não a capturou. No ano décimo quarto do Duque Ting (496 a.C.), Confúcio contava cinquenta e seis anos. Do posto de Grande Secretário da Justiça, foi promovido ao de Primeiro Ministro. Confúcio manifestou evidente prazer com a novidade, e seus discípulos falaram: - "Dizem que um gentil-homem não tem medo de desgraças e não se compraz no êxito." Ao que Confúcio redarguiu: - "Pois é assim? E não se diz também que uma pessoa é feliz por elevar-se a uma posição fora do comum? Nessa ocasião, fez executar a Shao Cheng mao, um ministro que pusera o governo em dificuldades.. Ao cabo de três meses de exercício como primeiro-ministro, os vendedores de carne de porco e de carneiro já não adulteravam sua mercadoria, e homens e mulheres andavam pela rua em faixas diferentes. As coisas que se perdiam na rua não eram indevidamente apropriadas, e os estrangeiros que visitavam a cidade não precisavam apresentar-se à polícia, trafegando em Lu como em seu próprio país. Quando o povo de Ch’i teve conhecimento disto, grande foi o susto: "Se Confúcio permanece no poder, certamente Lu acabará por dominar os outros Estados, e quando for uma força dominante, nós, os vizinhos mais próximos, seremos os primeiros a sucumbir. Por que não firmar amizade com eles, presenteando-os com uma porção de terreno? O Ministro Li Chu propôs: - "Vamos antes procurar afastar Confúcio: se falharmos, então haverá ocasião de oferecer a Lu um pouco de terra." Assim escolheram oitenta moças, das mais formosas do país, habilitadas a executar a dança k'enq, com suas ricas vestes bordadas. Essas donzelas foram enviadas como dádiva ao governante de Lu, juntamente com cento e vinte esplêndidos cavalos; o fabuloso presente foi colocado diante do Grande Portão do Sul, de Lu. Por três vezes o Barão Huan Chi veio, em traje ordinário, ver o espetáculo; pensava que o duque aceitaria o presente, e sugeriu-lhe que fosse, por uma estrada perimetral, ver também. Assim o duque e o barão encaminharam-se àquele local, durante vários dias, negligenciando seus deveres governamentais. "Acho que é tempo de nos afastarmos", ponderou Tse lu. Confúcio replicou: - "Espera um pouco; já estamos quase na época do Sacrifício ao Céu, e se o duque tiver a lembrança de mandar as oferendas queimadas, para os ministros, após o culto público, preferirei ficar." Afinal o Barão Huan recebeu a oferta das moças de Ch’i, e por três dias não atendeu aos seus afazeres nem se lembrou de enviar aos ministros as oferendas do ritual. Então Confúcio partiu. Numa parada, na cidade de Tun, Shihchi falou, ao despedir-se: . "Mestre, sei bem que não mereceis nenhuma censura por abandonar Lu." Confúcio perguntou: "Posso cantar uma canção?" E cantou: Cuidado com a língua da mulher. Mais cedo ou mais tarde há de ferir. Cuidado com visita de mulher. Mais cedo ou mais tarde ela há de vir. Ei hô! Ei hô! Chegou a minha vez de partir. Shihchi voltou e o Barão Huan perguntou-lhe: "Que foi que Confúcio disse?" ShihChi contou a verdade, o barão exalou um suspiro e falou: - "O Mestre aborreceu-se comigo por causa destas prostitutas." Abraço. Davi
segunda-feira, 9 de junho de 2025
ESCRITURAS JUDAÍCAS
Judaísmo. www.morasha.com.br ESCRITURAS JUDAÍCAS. Se a Torá é a pedra angular do judaísmo, o Talmud é o pilar central que se alça dos alicerces e sustenta todo o edifício espiritual e intelectual. A TORÁ. Leopold Zunz (1794-1886), historiador da religião judaica do século XIX, deu certa vez, uma caracterização muito feliz da Bíblia. Disse que ela tinha servido de “pátria portátil para os judeus”. Ideia semelhante tinha sido expressa nove séculos antes pelo rabino Saádia, (1720-1797) o Gaon (Reitor) da Ieshivá (Academia) de Sura: ”Israel só é um povo graças à Torá”. Esse fenômeno de uma Escritura que congrega em si a filosofia da crença religiosa, o guia de conduta moral, e que, num passado não muito remoto, abrangia e governava a totalidade da vida judaica, foi observado com admiração por Heinrich Heine, o grande poeta alemão, apesar de livre-pensador convicto: “Os judeus podem consolar-se de haver perdido Jerusalém, o Templo, a Arca da Aliança, os vasos de ouro e os tesouros preciosos de Salomão. Tal perda é insignificante em comparação com a Bíblia – o tesouro imperecível que salvaram. Se não me engano, foi Maomé quem denominou os judeus de “O Povo do Livro” – nome que conservaram até o dia de hoje e que é profundamente característico. Um livro é a sua pátria, seu tesouro, seu governante, sua felicidade e sua maldição. Vivem dentro dos limites pacíficos desse livro. Exercem ali seus poderes inalienáveis. Ali não podem nem ser espezinhados nem desprezados”. Sem a Bíblia é impossível imaginar que os judeus pudessem ter sobrevivido como povo distinto ou como comunidade religiosa durante tantos séculos e através de tantas vicissitudes. Uma interessante agadá relatada no Talmud, ilustra a maneira pela qual o próprio povo concebia sua dedicação à Torá. Quando os israelitas estavam reunidos ao pé do Monte Sinai, a fim de firmar a solene Aliança com D’us, desceu de repente do céu, ficando miraculosamente suspenso sobre suas cabeças, uma aparição do Livro e, ao lado dela, uma da Espada. “Escolham!” ordenou a Bat Kol (a voz celestial). “Podem ter uma coisa ou outra, mas não as duas - o Livro ou a Espada! Se escolherem o livro, devem renunciar à Espada. Se escolherem a Espada, então o Livro perecerá”. O autor rabínico desse episódio concluía então, exultante, que os israelitas tomaram uma decisão memorável na história da humanidade: escolheram o Livro! “Em seguida, o Divino - Abençoado seja!- disse a Israel: (Se respeitarem o que está escrito no Livro, serão preservados da Espada, mas se não o respeitarem, a Espada os destruirá!) O fato é que na história dos judeus, escrita com sangue e sofrimento em tão grande proporção, tem sido precisamente a devoção ao Livro o que os levou tantas vezes à destruição pela Espada, brandida não por eles, mas por seus inimigos; mas o povo judeu sobreviveu a todos seus perseguidores. A palavra hebraica para Bíblia é Tanach, composta pelas consoantes T-N-Ch, que representam as 3 divisões das Escrituras: Torá (Pentateuco), Neviim (Profetas) e Ketuvim (Escritos). De forma genérica, costuma-se designá-la por Torá, que em hebraico significa “orientação”, correspondendo à sua relação com o povo: uma orientação da vida. TALMUD E EXEGESE. Se a Torá é a pedra angular do judaísmo, o Talmud é o pilar central que se alça dos alicerces e sustenta todo o edifício espiritual e intelectual. Sob muitos aspectos, o Talmud é o mais importante livro judaico, o principal suporte de criatividade e vida nacional. A palavra Talmud deriva da raiz hebraica LMD. A raiz verbal LMD se aplica em hebraico tanto a estudo (=lamed) quanto a ensino (= limed). De forma sintética, o Talmud consiste na compilação das leis, tradições, comentários e interpretações judaicas registrados pelos doutos na Babilônia e em Israel, abrangendo um período de mais de 1000 anos (do século V a.C ao V d.C). Num mundo em constante mutação, foi um instrumento de adaptação da religião judaica às circunstâncias sempre cambiantes da vida do povo. Nenhuma outra obra expressa tantos aspectos da essência do povo judeu e de seu caminho espiritual, nem teve influência comparável sobre a teoria e prática da vida judaica, dando forma a seu conteúdo espiritual e servindo de guia de conduta. O povo judeu sempre soube que sua contínua sobrevivência e desenvolvimento dependem do estudo do Talmud, e os que são hostis ao judaísmo também tiveram conhecimento desse fato. O livro foi ultrajado, difamado e lançado às chamas inúmeras vezes na Idade Média e igualmente submetido a indignidades similares no passado recente. Em certas ocasiões o estudo talmúdico foi proibido por ser mais do que claro que uma sociedade judaica que abandonasse esse estudo não tinha real possibilidade de sobreviver. Enquanto a Bíblia se incorporou ao patrimônio da cultura universal e se tornou um clássico da humanidade, o Talmud ficou como o clássico do povo judeu. Israel, o povo do Livro, abraçou o Talmud, como o Livro do povo. Na história cultural judaica a busca da verdade e da compreensão, em termos de valores religiosos, raramente foi interrompida ao longo de três milênios. O foco central dessa preocupação sempre foi “O Livro”. Em torno dele desenvolvia-se uma atividade contínua de exame e reexame de seus textos sagrados que os judeus veneravam como sendo a verdade divinamente revelada. Uma área contígua de investigação e interpretação crítica, menos importante, mas não desprezível, era a das Leis Orais da Tradição – a Mishná – depois que esse código foi canonicamente fixado no século II, sob a chancela editorial do patriarca da Judéia, Iehudá Ha-Nassi (135-217). Essas investigações do texto resultaram num grande número de comentários escritos que se destinavam a precisar melhor e mais profundamente o significado dos sagrados textos hebraicos. O caráter relativamente não dogmático e aberto do pensamento religioso judaico tornou possível esse trabalho de investigação erudita. Não era raro que esses comentários provocassem discórdia e controvérsia por causa da natureza presumivelmente “herética” das opiniões que continham, como o “Guia dos Perplexos” de Maimônides (1138-1204) e as “Guerras do Senhor” de Gersônides, que os detratores passaram a chamar de “A Guerra contra o Senhor”. Apesar dessas exceções, a investigação da Torá admitia muitas diferenças de opinião. A necessidade de esclarecer o texto bíblico e de conciliar aparentes inconsistências e contradições por meio de um método de raciocínio que os especialistas chamam de “exegese”, era a força motriz principal que estimulava os devotos – a escrever e a estudar os comentários. Nos primeiros séculos que se seguiram à destruição do templo no ano 70 d.C, este aprofundamento, a busca de esclarecimento e o desejo de uma síntese religiosa resultaram na criação da monumental literatura da Guemará e do Midrash. Junto com a Mishná, da qual eram comentários rebuscados, formaram a obra rabínica coletiva conhecida como Talmud. As primeiras tentativas de uma abordagem científica ao exame textual da Bíblia e do Talmud tiveram lugar nas academias de Sura, Pumbedita e Nehardea, na Babilônia, no assim chamado período gaônico, nos vários séculos que precederam a Idade Média. Depois, inúmeras escolas de exegese bíblica, seguindo princípios diferentes, surgiram no Egito, em Tunis, Marrocos, na Espanha e na Provença. Até na França e na Alemanha cristãs, onde os judeus estavam menos avançados culturalmente, começou a despertar certo interesse nos setores, até então desprezados, da filologia e da gramática, embora não chegasse a resultados comparáveis aos dos sefaradim. Ashquenazim x Sefaradim: A história judaica na Europa é uma história regional, dependendo de onde os judeus se estabeleceram. Ao contrário do Oriente, onde o modelo era determinado por decretos das academias babilônicas, cada comunidade tinha seu próprio caráter, seus próprios rituais litúrgicos e costumes e, às vezes, sua própria variante judaica da língua nativa. A principal divisão do judaísmo europeu era entre os sefardim da Península Ibérica e os ashquenazim da Alemanha e norte da França. O judaísmo ashquenazi desenvolveu-se no ambiente do cristianismo da Europa ocidental, reagindo à queda do império romano. No começo da Idade Média, enquanto os judeus da Itália, principalmente em Roma, viviam tranquilos, sofreram os da França e da Espanha, para lá deportados em grande número pelos romanos, atrozes perseguições. Como se recusavam a se converter ao cristianismo, impôs-lhes, sob pena de expulsão, a conversão imediata. Alguns submeteram-se à conversão aparente, aceitando o batismo, mas conservando em seus corações a fé no D´us de Israel. Outros preferiram emigrar para o sul da França, longe de Paris e da influência de seus bispos, ou para a Alemanha, do outro lado do Reno. Comunidade Judaica na França Medieval. Carlos Magno e os judeus: Quando Carlos Magno (742-814) estendeu seu império sobre toda a Europa central, reunindo sob seu poder a França, a Alemanha e a Itália, a condição dos judeus nestes países começou a melhorar. Ele deteve a decadência urbana e o colapso do governo central que resultara das invasões bárbaras. Por uma questão de consciência política, ele e a dinastia carolíngia estimularam a imigração judaica. Os mercadores judeus receberam tratamento preferencial devido a suas conexões comerciais no Mediterrâneo e no Oriente. Alguns mercadores judeus, de suas bases na França, empreenderam missões exploradoras através da Europa oriental e das estepes da Rússia até o Oriente Médio, de onde continuaram para a Índia e para a China. Homens de negócios judeus tratavam familiarmente com reis e nobres da Europa ocidental durante os séculos X e XI; restrições canônicas impostas aos judeus por sucessivos Conselhos da Igreja foram desconsideradas por seus patrões reais tal era sua importância econômica. Assim, judeus se estabeleceram em Troyes, Mainz, Worms, Speyer, Colônia e outras cidades em desenvolvimento. O estudo da lei judaica era uma prioridade maior nas comunidades asquenazitas. Desde o século X, cópias do Talmud podiam ser encontradas fora das ieshivot da Babilônia, e isso facilitou a expansão e o desenvolvimento da erudição rabínica onde quer que os judeus se estabelecessem. As cidades renanas de Mainz e Worms, depois Troyes e Sens no norte da França, tornaram-se conhecidos centros acadêmicos. Vida Cultural (geral x judaica): O ambiente intelectual da Europa na Alta Idade Média estava longe de ser estimulante. As dificuldades da vida econômica, os ideais militares dos bárbaros e o analfabetismo da maioria da população impediam um florescimento cultural semelhante ao do Oriente muçulmano. Além disto, a cultura estava reservada ao clero e os judeus, evidentemente, não faziam parte dos que poderiam ter acesso à mesma. Em meio à ignorância generalizada, o simples fato de os judeus serem alfabetizados já lhes conferia uma enorme vantagem cultural. À medida que as comunidades foram-se estruturando, as necessidades práticas estimularam o surgimento de escolas e centros de estudos judaicos, onde se estudava a Torá e o Talmud. O isolamento cultural em que viviam os judeus impediu a integração que havia no califado. Nenhum deles se ocupou com Geografia, Astronomia ou Gramática com o interesse que estes assuntos despertavam entre os súditos do Califa; o estudo era restringido aos temas judaicos. Surgiram notáveis eruditos nestas comunidades europeias, compensando em profundidade o que lhes faltava em extensão. Rabeinu Guershom (960-1040) – ( A Luz da Diáspora) e Rashi (1040-1105): Dois rabinos desta época marcaram profundamente a história do pensamento judaico: Guershom de Mainz e Shlomo ben Isaac Rashi. Guershom ben Iehudá, que viveu no final do século X (965-1028), recebeu o cognome de “Meor HaGolá”, A Luz da Diáspora, devido a seu saber, sua cultura. É o primeiro erudito asquenazita conhecido e sua influência foi enorme. Nasceu em Metz e foi educado na França. Foi chamado também de Guershom de Mainz, porque estabeleceu e dirigiu a academia daquela cidade. A academia que fundou em Mainz tornou-se um centro de estudos de excepcional importância. Como comentador do Talmud, contribuiu para que as regras talmúdicas fossem compreendidas e praticadas. Entre as mais famosas disposições legais (takanot) a ele atribuídas estão: a que proibiu entre os judeus a poligamia, que eles de há muito haviam abandonado na prática; a que exigia o consentimento da mulher para o divórcio e a que garantia a inviolabilidade da correspondência privada. O discípulo mais brilhante de Guershom foi um jovem da cidade francesa de Troyes, chamado Shlomo ben Itzhak, mais conhecido pelo cognome Rashi. Abraço. Davi
sexta-feira, 6 de junho de 2025
II. IMACULADA CONCEIÇÃO
Cristianismo. Por Francisco Catão, teólogo e professor. II. IMACULADA CONCEIÇÃO. TERCEIRO DIA. A HUMANIDADE DE MARIA. Vinde, ó Deus, em meu auxílio. Socorrei-me sem demora. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Amém. CÂNTICO EVANGÉLICO. A minha alma engrandece ao Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque ele olhou para a humildade de sua serva. Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz (Bem-Aventurada). Porque o Poderoso realizou para mim coisas grandiosas. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os que têm planos orgulhosos no coração. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. (Lucas 1,47-52). ORAÇÃO. Ó Deus, que em vista dos méritos de Cristo preparastes uma digna habitação para o vosso Filho, preservando de todo pecado Maria, sua Mãe, concedei-nos viver cada dia mais no amor e na santidade para chegarmos até vós purificados de toda culpa, por intercessão materna da Imaculada Conceição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. LEITURA - Lc 2,1-7. Naqueles dias apareceu um edito do imperador César Augusto (63 a.C 14 d.C) ordenando o recenseamento de todo o mundo habitado (...). Cada um ia se alistar em sua própria cidade. Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, para a Judeia, a cidade de Davi, a fim de se inscrever com Maria, sua mulher, que estava grávida. Enquanto lá estava, completaram-se os dias para o parto e ela deu à luz seu filho primogênito, envolveu com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. PARTILHA. A imaginação cristã cuidou de embelezar a cena do Natal. O evangelista a simplifica. Sublinha a submissão de José e de Maria, apesar de sua gravidez, ao poder civil, a ponto de o jovem casal enfrentar a subida de Nazaré para Belém e de não encontrar acomodação senão junto ao cocho, em um compartimento ou gruta reservada aos animais. Completam-se os dias da gestação e Maria dá à luz um menino, despercebida dos olhos humanos. Somente a alegria dos anjos e a mão de Deus, por intermédio dos pastores e dos sábios do Oriente, confortam o humilde casal, de cuja santidade só desconfia o orgulhoso Herodes. Por temer o surgimento de um rival, ele mergulha a cidade de Davi (Belém) num histórico infanticídio. A pureza do coração de Maria e a fidelidade desinteressada de José são manifestações inequívocas da santidade de Deus, cuja presença entre os humanos é salva pela humildade de seus pais. INTERCESSÃO. Pai, nós vos louvamos por chamar todos os humanos a participar da santidade de vosso Filho, no Espírito Santo. De modo particular, louvamos pela santidade de Maria, pura de todo pecado desde o primeiro momento de sua concepção. Como criança, Jesus obedeceu a Maria, sua Mãe. Em Caná da Galileia, a pedido de Maria, Jesus transformou a água em vinho. Imitando Jesus, pois, ousamos hoje nos dirigir a Maria para que, por sua intercessão, nos seja concedido o dom da inteira submissão ao Pai e, pela mediação única de Jesus, a transformação santificadora de nossa vida no Espírito Santo, que convosco vive e reina, agora e para sempre. Amém. BENÇÃO. Que pela intercessão de Santa Maria, em nome de sua Conceição Imaculada, o Senhor nos abençoe, nos livre de todo mal, nos enriqueça com a graça da santidade e nos conduza à vida eterna. Amém. QUARTO DIA. MARIA E A LEI DE DEUS. Vinde, ó Deus, em meu auxílio. Socorrei-me sem demora. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Amém. "Felizes os que procedem com retidão, os que caminham na lei do Senhor. Felizes os que guardam seus testemunhos e o procuram de todo o coração. Não cometem iniquidade, andam por seus caminhos. De todo coração Te procuro: não me deixes desviar dos teus preceitos" Sl 119,1-3,10. ORAÇÃO. Ó Deus, que em vista dos méritos de Cristo preparastes uma digna habitação para o vosso Filho, preservando de todo pecado Maria, sua Mãe, concedei-vos viver cada dia mais no amor e na santidade para chegarmos até vós purificados de toda culpa, por intercessão materna da Imaculada Conceição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. LEITURA. Lc 2,22-23. Quando se completaram os dias para a purificação da Mãe (Lv 12,2-4) e resgate da criança (Nm 18,18) previsto na Lei de Moisés, seus pais levaram Jesus a Jerusalém a fim de apresentá-lo ao Senhor. Todo macho que abre o útero será consagrado ao Senhor (Levíticos 5,7) e, para oferecer em sacrifício, como vem dito na Lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombos (Levíticos 12,8). PARTILHA. A santidade de Jesus e de Maria se exprime inicialmente pela observância da Lei, pois, como terá ocasião de explicar o próprio Jesus, ele não veio para abolir a lei, mas para cumpri-la (Mateus 5,17). Na realidade, porém, como ficou manifesto em toda a sua vida, na resistência e até mesmo na rejeição que enfrentou por parte dos representantes da Lei, a santidade que veio comunicar-se com os humanos não consiste em observância religiosa, mas em um dom de Deus que, recebido na fé, manifesta-se nas obras de justiça e de amor. Maria procede como israelita piedosa e observa a lei, mas, de fato, sua santidade é a santidade cristã, a primeira de todos os cristãos santificada pelo dom de Deus, que a preservou de toda mancha do pecado, desde o primeiro instante de sua existência. Maria une em si os dois testamentos, o antigo e o novo, a lei e a graça, e, num certo sentido, toda a humanidade, que, no fundo do seu coração e feliz por trilhar os caminhos da Lei e vive em ação de graças pelo dom recebido. INTERCESSÃO. Pai, nós vos louvamos por chamar todos os humanos a participar da santidade de vosso Filho, no Espirito Santo. De modo particular, louvamos pela santidade de Maria, pura de todo pecado desde o primeiro momento de sua concepção. Como criança, Jesus obedeceu a Maria, sua Mãe. Em Canaá, a pedido de Maria, Jesus transformou a água em vinho. Imitando Jesus, pois, ousamos hoje nos dirigir a Maria para que, por sua intercessão, nos seja concedido o dom da inteira submissão ao Pai e, pela mediação única de Jesus, a transformação santificadora de nossa vida no Espírito Santo, que convosco vive e reina, agora e para sempre. Amém. BENÇÃO. Que pela intercessão de Santa Maria, em nome de sua Conceição Imaculada, o Senhor nos abençoe, nos livre de todo mal, nos enriqueça com a graça da santidade e nos conduza à vida eterna. Amém. QUINTO DIA. A INTERCESSÃO DE MARIA. Vinde, ó Deus em meu auxílio. Socorrei-me sem demora. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Amém. "Aclamai a Deus, Terra inteira, cantai hinos à glória do seu nome, dai glória em seu louvor. Dizei a Deus: Como são estupendas as tuas obras! Vinde ver as maravilhas de Deus, admirável é seu agir para com os homens" Salmos 66,1-3,5. ORAÇÃO. Ó Deus, que em vista dos méritos de Cristo preparastes uma digna habitação para o vosso Filho, preservando de todo pecado Maria, sua Mãe, concedei-nos viver cada dia mais no amor e na santidade para chegarmos até vós purificados de toda culpa, por intercessão materna da Imaculada Conceição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. LEITURA -João 2,1-5, 7-9. No terceiro dia houve um casamento em Canaá da Galileia, e a mãe de Jesus estava lá. Jesus foi convidado para o casamento e seus discípulos também. Ora, não havia mais vinho, pois o vinho do casamento havia acabado. Então, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. Respondeu-lhe Jesus: Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não chegou. Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. E Jesus lhes disse: Enchei as talhas de água. Eles encheram os jarros até a borda. Então lhes disse: Tirai agora e levai ao mestre de cerimônias. Eles levaram. Quando o mestre de cerimônias provou a água, ela se havia transformado em vinho. PARTILHA. A hora de Jesus é antecipada por um pedido de Maria. Ela vem sempre antes, previne, toma a iniciativa de fazer o bem, pois recebeu de Deus a graça da redenção e da santidade antes que fosse manchada pelo pecado que afeta a todos nós, filhos de Eva. Jesus não diz sim. Maria, no entanto, que o conhece como ninguém, sabendo quais sentimentos animam aquele coração de Filho de Deus, recomenda aos servidores que se coloquem a sua disposição. Maravilhosa recomendação materna: ponhamo-nos todos à disposição de Jesus, façamos o que ele nos diz. O resultado é a transformação da água, sinal da transformação de nossa vida, que muda da água para o vinho quando ouvimos e acolhemos a palavra de Jesus. INTERCESSÃO. Pai nós vos louvamos por chamar todos os humanos a participar da santidade de vosso Filho, no Espírito Santo. De modo particular, louvamos pela santidade de Maria, pura de todo pecado desde o primeiro momento de sua concepção. Como criança, Jesus obedeceu a Maria, sua Mãe. Em Canaá, a pedido de Maria, Jesus transformou a água em vinho. Imitando Jesus, pois ousamos hoje nos dirigir a Maria para que, por sua intercessão, nos seja concedido o dom da inteira submissão ao Pai e, pela mediação única de Jesus, a transformação santificadora de nossa vida no Espírito Santo, que convosco vive e reina, agora e para sempre. Amém. BENÇÃO. Que pela intercessão de Santa Maria, em nome de sua Conceição Imaculada, o Senhor nos abençoe, nos livre de todo mal, nos enriqueça com a graça da santidade e nos conduza à vida eterna. Amém. Livreto Imaculado Conceição. Abraço. Davi