terça-feira, 20 de maio de 2025

AS TRÊS DORES

Budismo. Livro O Evangelho de Buda. Vida e Doutrina de Sidarta Gautama. Por Yogi Kharshnanda. O Príncipe Sidarta alcança o Budado. 3. AS TRÊS DORES. O palácio dado ao príncipe pelo rei resplandecia com todo o luxo da Índia, porque o rei queria que o seu filho fosse feliz. Tudo quanto parecesse doloroso para ser contemplado, todas as misérias e todas as noções de sofrimento, foram afastados de Sidarta, para que ele ignorasse os males do mundo. Todavia, assim como o elefante cativo suspira pelas selvas, o príncipe se impacientava por ver o mundo, e pediu ao rei, seu pai, permissão para satisfazer o seu ardente desejo. Então, Suddhodana mandou atrelar quatro magníficos corcéis num carro adornado de pedrarias, e enfeitar os caminhos por onde Sidarta deveria passar. As casas da cidade foram enfeitadas com cortinas e bandeiras, e os espectadores, alinhados de cada lado, contemplavam avidamente o herdeiro do trono. Assim passou Sidarta com Channa, seu cocheiro, pelas ruas da cidade, e atravessou a campina sulcada de arroios e povoada de árvores frondosas. Em determinado lugar, encontrou um velho. Quando o príncipe viu aquele homem de corpo encurvado e rosto envelhecido com um sulco de dor entre as sobrancelhas, perguntou ao cocheiro: Quem é este? Sua cabeça é branca, seus olhos tremem e tem o corpo maltratado. Só consegue manter-se em pé apoiado num bastão. O cocheiro, a princípio embaraçado, atreveu-se por fim a dizer a verdade, e respondeu: Esses são os sinais da velhice. Esse homem foi uma criancinha e, depois, um adolescente cheio de entusiasmo e de prazer. Contudo os anos se passaram, e agora seu porte esbelto se foi e o vigor do seu corpo desapareceu. Sidarta, profundamente aflito pelas palavras do cocheiro, suspirou por causa do sofrimento da velhice e disse de si para si: Que gozo e que prazer podem experimentar os homens, quando sabem que a velhice virá e os fará sofrer e andar com tanta fraqueza? Mais adiante, à medida que seguiam, viram de um lado do caminho um enfermo, ofegante, as feições desfiguradas, convulso e gemendo de dor. O príncipe perguntou ao cocheiro: Que classe de homem é essa ? E o cocheiro respondeu: Este homem está enfermo. Os quatro elementos do seu corpo estão confusos e em desordem. Todos nós estamos sujeitos aos mesmos acidentes: o pobre e o rico, o ignorante e o sábio. Todas as criaturas que têm corpo estão expostas ao mesmo mal. E Sidarta se comoveu ainda mais. Todos os prazeres lhe pareciam vãos, e sentiu desgosto pelos prazeres da vida. O cocheiro fustigou para fugir de espetáculo tão triste, porém logo tiveram de parar em sua rápida carreira. Quatro pessoas passavam levando um cadáver. O príncipe, enternecido ante a visão do corpo privado da vida, perguntou ao cocheiro. O que estas pessoas estão levando? Vejo umas bandeirolas e umas grinaldas de flores. Mas os homens caminham tristes e pesarosos. O cocheiro lhe informou: É um morto, seu corpo está rígido, a vida fugiu dele e seu pensamento se extinguiu. Sua família e seus amigos levam agora o corpo dele para o sepulcro. O príncipe, cheio de horror e espanto, perguntou: Este caso é uma exceção, ou há no mundo outros exemplos semelhantes? Com o coração oprimido, o cocheiro lhe respondeu: Isto é igual para todos. Todos os que nascem devem morrer. Ninguém escapa da morte. Com a voz apagada e balbuciante, o príncipe exclamou: Oh homens mundanos, como é fatal o erro em que estão! Inevitavelmente o corpo de vocês se transformará em pó, e não obstante continuam a viver descuidados e despreocupados. O cocheiro, vendo a profunda impressão que aqueles lúgubres espetáculos causaram no príncipe, deu meia volta e entrou novamente na cidade. Ao passar pelo palácio da jovem princesa, sobrinha do rei, esta, surpreendida com a beleza varonil de Sidarta e vendo-o preocupado, exclamou: Ditoso o pai que o gerou: ditosa a mãe que o criou, ditosa a mulher que chama de marido um homem tão glorioso. Ao ouvir esse elogio, o príncipe respondeu: Ditosos são os que encontram a salvação. Aspirando a paz do espírito, eu buscarei a felicidade do nirvana. E ofereceu-lhe seu colar de pérolas preciosas, como para recompensá-lo da lição que havia dado e entrou no seu palácio. Abraço. Davi


Nenhum comentário:

Postar um comentário