domingo, 7 de dezembro de 2025

QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE A UMBANDA E O CANDOMBLÉ

Religião Afro-brasileira. Livro Revendo o Candomblé - III. Por Eurico Ramos. 4. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE A UMBANDA E O CANDOMBLÉ? Este é um tema muito polêmico e interessante, e podemos falar sobre os aspectos gerais que diferenciam os dois segmentos. A Umbanda é recente. Foi fundada aproximadamente em 1910, em Niterói, Rio de Janeiro, por um caboclo manifestado. A principal diferença entre a Umbanda e o Candomblé é a seguinte: O Candomblé é uma religião, ou seja, possui seu próprio idioma, seus costumes, suas danças e seus rituais. A Umbanda, embora nos dicionários seja definida também como religião, a meu ver, é muito mais uma seita, que emprega terminologia da língua portuguesa mescladas ao dialeto africano Kimbundo. Ao Tupi-guarani e a termos oriundos do espiritismo Kardecista. Entendo a Umbanda como uma seita porque não tem costumes próprios, não tem liturgia própria. Tudo que é professado na Umbanda em termos ritualísticos e litúrgicos é uma desinência do Candomblé e de outros cultos. Por isso, não a reconheço como uma religião, e sim como uma seita. Essas diferenças precisam ficar bem claras. A Umbanda é mais voltada ao culto dos espíritos desencarnados, estejam eles em evolução ou não. O Candomblé cultua as energias da natureza contidas nos quatro elementos, a saber: energia telúrica (terra), energia térmica (fogo), energia hídrica (água), energia eólica (ar), isso, mais especificamente nas casas de raiz Ketu. No Candomblé, o orixá se manifesta, de dentro para fora. Na Umbanda, o espírito incorpora, de fora para dentro. A nível vetorial existe uma grande diferença entre os dois tipos de manifestação. Ou seja, uma diferença direcional. Uma de fora para dentro, a outra de dentro pra fora. Por esse motivo, em alguns momentos Umbanda e Candomblé chegam mesmo a se antagonizar. Enquanto na Umbanda cultuam-se espíritos desencarnados, no Candomblé, ao contrário, utilizamos determinados elementos litúrgicos, contra egun, para manter os espíritos de desencarnados afastados do nosso ará, corpo. Por isso, a energia emanada na Umbanda é muito diferente daquela emanada no Candomblé. De dentro pra fora significa que a energia do orixá mora em cada um de nós. Manifestando-se e tornando "visível". De fora pra dentro significa que o nosso corpo é "tomado" por um espírito que não faz parte da nossa essência original. Outra grande diferença é que a Umbanda vem, lentamente, assumindo costumes do Candomblé. No entanto, na Umbanda não existe a manifestação de orixá. Na Umbanda, o que ocorre é a incorporação de espíritos que se relacionam, por algum motivo, com um determinado orixá africano. Pois orixá não fala, não dá consulta, não bate continência, não conhece copo de água, não dá passes etc. Um bom exemplo disso é o modo como se deve proceder quando uma pessoa vem da Umbanda pra o Candomblé com um histórico de incorporação de espíritos desencarnados. O erê, por exemplo, sempre é batizado com ritual litúrgico quando vem pra o Candomblé. Para nós, o erê é o que podemos chamar de "resto do orixá", cuja manifestação é mais "leve", por assim dizer, do que a manifestação do próprio Orixá. A criança de Umbanda não. Esta é, na verdade, um espírito infantil desencarnado. Como podemos ver, são coisas bem distintas. Na Umbanda, o médium é bastante "livre" e estará apto a incorporar qualquer entidade que tenha afinidade com ele. De modo completamente diferente, quando o indivíduo é iniciado no Candomblé, passará por uma série de preceitos e ebós que, lentamente, irão fechando suas aberturas no ará. Por conseguinte, tais espíritos desencarnados ficarão quase que "impossibilitados" de se manifestar novamente naquele corpo, porque os ebós do Candomblé, ortodoxo" afastam toda e qualquer energia ligada a espíritos desencarnados. Portanto, depois de uma feitura, é muito natural que as entidades de Umbanda fiquem mais afastadas do médium do que antes. Até os anos 1960, nas casas de Candomblé só eram tolerados os caboclos como remanescentes da Umbanda e por serem considerados espíritos "encantados". Já no final dos anos 1970, as entidades denominadas exus de Umbanda passaram a ser admitidas nas casas de Candomblé com maior frequência. No entanto, o exu Marabô que se manifesta na Umbanda nada tem a ver com o Barabô do Candomblé. Porque este último "não vira na cabeça de ninguém" (não incorpora, não manifesta). E até os dias de hoje, nos Candomblés tradicionais, não são toleradas e nem admitidas as manifestações de pretos velhos e afins. Abraços. Davi


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