Lao Tsé. Tao Te Ching – O Livro que Revela Deus. TAO TE CHING. INTRODUÇÃO. Introdução Parte I. Preliminares. Huberto Rohden (1893-1981). Os livros Máximos da Humanidade. Bhagavad Gita, de Krishna, nascido na Índia, há diversos milênios, orienta cerca de dois terços da humanidade. Tão Te Ching, de Lao Tsé, nasceu na China, há dois mil e seiscentos anos, e apresenta em 81 pequenos aforismos toda a sabedoria dos grandes mestres da humanidade. Evangelho, a mensagem viva do Cristo, orienta, há quase mais de dois mil anos, a consciência de quase toda a humanidade Ocidental. Considerei como minha missão terrestre traduzir e explicar esses três livros máximos da humanidade. Se eles fossem conhecidos e vividos, a vida terrestre do homem, em vez de ser um inferno de discórdias, seria um paraíso de harmonia e felicidade. LAO TSÉ (604 a.C.517). Lao significa idoso, maduro, sábio, correspondendo ao grego presbyteros, que significa literalmente ancião, com a conotação de maduro, espiritualmente adulto. Tsé é o sufixo de muitos nomes chineses, indicando menino, menina, jovem, adolescente. De maneira que podemos transliterar Lao Tsé por “jovem sábio”, “adolescente maduro”. Lao Tsé viveu no século VI a.C. Passou a primeira metade da sua vida, cerca de 40 anos, na corte imperial da China, trabalhando como historiador e bibliotecário. Em muitos capítulos deste livro transparece a grande familiaridade que o autor tinha com a situação política do Celeste Império Chines. Fazendo lembrar, por vezes, Shakespeare (1564-1616), cujos dramas revelam as intrigas e a corrupção das cortes europeias do seu tempo. Como o grande escritor britânico, Lao Tsé verbera o descalabro dos governos e aponta o caminho para a sua regeneração. Em outros capítulos, Lao Tsé desce as últimas profundezas metafísicas da realidade cósmica, procurando atingir a raiz do Uno para além de todas as ramificações do Verso. Nas explicações dos capítulos fizemos ver que Lao Tsé seguia o mesmo caminho da nossa “Filosofia Univérsica”, que embora nascida no Brasil em sua maneira cristalizada. Forma o background de todas as grandes filosofias da Antiguidade. Homem de meia idade, Lao Tsé abandonou a corte imperial e retirou-se, como eremita, para a floresta, onde viveu a segunda metade da sua longa vida estudando, meditando, auscultando a voz silenciosa da intuição cósmica. Deixando os seus reflexos no presente livro. Finalmente, com cerca de 80 anos, Lao Tsé cruzou a fronteira ocidental da China, desaparecendo, sem deixar vestígios da sua vida ulterior. Ao cruzar a fronteira, encontrou-se com o guarda da divisa, que lhe pediu um resumo da sua filosofia, ao que Lao Tsé entregou um pequeno manuscrito, contendo a quintessência do atual Tao Te Ching. O conteúdo deste livro, 81 poemas brevíssimos, consta de pequenos aforismos, muitas vezes em forma de paradoxos. Aliás, as grandes verdades revelam-se quase sempre em simples epigramas, lembrando os Provérbios de Salomão e as Beatitudes do Cristo. Paradoxo, do grego, ou absurdo, do latim, quer dizer “além da mente”. Ultra mental, designado uma verdade que a inteligência não pode alcançar, nem afirmar, nem negar. Por isso dizia Tertuliano (160 d.C. 240): Credo quia absurdum, eu aceito a realidade espiritual, porque ela é ultra intelectual, absurda, paradoxal. O que é intelectualmente cognoscível, como as coisas do ego empírico analítico, não é espiritual, não é absurdo. Lao Tsé, em quase meio século de silêncio e solidão, deve ter auscultado a voz do Infinito, a alma do Universo. Tentando exprimir em conceitos mentais e em palavras verbais a sua sabedoria ultra mental e ultra verbal. O leitor que não estiver afinado pela mesma onda cósmica não compreenderá o verdadeiro sentido da filosofia de Lao Tsé. Lao Tsé foi contemporâneo de outro chines, Kong Fu Tsé, latinizado de Confúcio, o qual elaborou uma filosofia moral social que não transcende o plano horizontal da vida cotidiana. Mas plasmou, como nenhuma outra pessoa, a vida do povo chines. A filosofia de Kong Fu Tsé não resistiu ao impacto do comunismo de nossos dias, sucumbindo, em parte, ao ateísmo militante e ao materialismo dialético comunismo. Lao Tse professa uma sabedoria de grande verticalidade, que nunca alcançou a popularidade da filosofia do seu colega. A filosofia de Lao Tsé se parece muito com a metafísica mística da Índia. A experiência intuitiva é jovem e bela somente no instante atômico em que nasce espontaneamente das profundezas da alma cósmica. Mais tarde, quando analisada intelectualmente, marcha e é profanada, e acaba com o fóssil inerte. Por isso, somente quem vive e vivência a silenciosa experiência de Lao Tsé pode compreender a sua sapiência cósmica. Mais importante do que qualquer ato ego consciente é a atitude cosmo consciente. A “verdade”, dizia Mahatma Gandhi (1869-1948), “é dura como diamante, mas também é delicada como a flor de pessegueiro”. Quem apenas analisa intelectualmente os aforismos filosóficos de Lao Tsé pode sentir-se repelido por sua dureza diamantina. Porém quem sabe intuir espiritualmente a alma dessa sabedoria, esse gozará a delicadeza flórea dela. Tao Te Ching convida o leitor a ser acima de tudo, um auscultador da silenciosa alma do Universo. Sendo que os chineses não escrevem com letras como nós, mas usam ideogramas para exprimir ideias, não há uniformidade nas palavras, quando produzidas pelos nossos símbolos alfabéticos. Lao Tsé, Tao Te Ching, admitem diversas grafias, como Lau Tsi, Dau Che King etc. Tao significa o Absoluto, o Infinito, a Essência, a Suprema Realidade, a Divindade, a Inteligência Cósmica, a Vida Universal, a Consciência Invisível, o Insondável etc. Nunca representa um indivíduo, uma pessoa, como Deus nas teologias Ocidentais. Te pode ser traduzido por caminho, diretriz, revelação. Ching corresponde a livro, escrito, documento. Tao Te Ching pode ser traduzido por “Livro que leva à Divindade”.
Lao Tsé. Tao Te Ching – O Livro que Revela Deus. TAO TE CHING. Introdução Parte II. Na presente tradução do texto guiamo-nos pelos tradutores alemães Rudolf Backofen e Werner Zimmermann, versão essa considerada bem próxima do original. Sendo que a escrita chinesa usa ideogramas em vez de letras, cada palavra permite vastas possibilidades de sentido e variantes. Basta lembrar que os referidos tradutores recorrem a mais de trinta palavras diferentes para exprimir o sentido do ideograma chines para Tao. Não estão interessados em reproduzir o corpo da palavra, contudo, sim a alma do texto, de acordo com o contexto. Na escrita ideográfica trata-se mais de sentir, adivinhar, farejar o sentido exato de cada símbolo, do que, propriamente, transliterar o respectivo ideograma. Por essa razão os leitores da presente versão provavelmente estranharão termos que não encontraram em outras traduções. A organicidade elástica de um ideograma Oriental permite grande número de variantes, quando expressa pela mecanicidade rígida de um vocabulário Ocidental. Aliás, o mal de quase todas as traduções que conheço, mesmo sem se tratar do Tao, nem de ideogramas, está no fato de pecarem ao tentar traduzir mecanicamente, de vocábulo para vocábulo. O corpo de um livro, em vez de interpretarem organicamente a alma do livro. O conhecido ditado italiano tradutore traditore (o tradutor é traído) é justificado no caso de se fazer uma tradução mecânica, em vez de uma tradução orgânica. Como se o pensamento fosse algo parecido com um computador material, e não uma entidade espiritual. Traduzir sem trair é obra de um verdadeiro artista. Não basta inteligir o corpo do livro, é necessário sentir também a alma. Nesta tradução de Tao Te Ching fizemos o possível para interpretar o espírito do livro, sacrificando por vezes a letra. Para compreender o TAO. Deus, Brahman, Yahveh, Tao, que é que se entende por essas palavras? Para muitos, Deus é uma espécie de ditador celeste, uma pessoa que vigia os homens de longe e registra os seus créditos e débitos. Premiando-os ou castigando-os depois da morte, mandando os bons para um céu eterno e os maus para um inferno eterno. Esse infantilismo primitivo domina as teologias cristãs de quase dois mil anos e, embora haja grandes variantes dessa concepção de Deus, no fundo é essa ideia antropomorfa – semelhança de forma humana. Entretanto, essa concepção nada tem que ver com o Tao. No seu livro Mein Wetbild, descreve Einstein (1879-1955), maravilhosamente, três tipos da concepção de Deus: 1. O conceito do Deus máquina, entre os povos mais primitivos. 2. O conceito do Deus pessoa, entre os hebreus do Antigo Testamento, em geral, e entre os cristãos de todos os tempos e países. 3. O conceito do Deus cósmico, professado por uns poucos místicos avançados, cujos representantes ultrapassam igrejas e teologia. Encontrando se esporadicamente, entre todos os povos e em todas as religiões. Einstein enumera, entre os da terceira classe, Demócrito (V a.C.), São Francisco de Assis (1182-1226), Baruch de Spinoza (1632-1677), quer dizer, um pagão, um cristão e um hebreu. Dizendo que são irmãos na fé. Lao Tsé e seu conceito de Tao poderiam ser incluídos no terceiro grupo, dos místicos cosmo sapientes. A elite espiritual dos povos Orientais e os verdadeiros místicos do Ocidente são os representantes mais avançados da cultura espiritual da humanidade. Todos eles professam a ideia do Deus cósmico. Não são politeístas, nem panteístas, nem mesmo monoteístas, são monistas cósmicos. O monoteísta conhece um só Deus pessoa, residente no céu. Os hebreus, no tempo de Moisés, nunca chegaram à ideia de um Deus único para o mundo inteiro. Admitiam um Deus único pra Israel, o Deus dos Exércitos. O monoteísmo nunca atingiu as alturas do verdadeiro monismo. Todo monoteísta é dualista, isto é, admite a existência de um Deus transcendente, de um Deus pessoa, residente em alguma região longínqua do cosmos. Com o qual o homem espera encontrar-se depois da morte. Esse conceito do encontro com Deus num tempo futuro e num espaço distante é comum a todos os monoteístas. Essa concepção monoteísta dualista de Deus contagiou, desde o princípio, o cristianismo Ocidental. O que é perfeitamente compreensível, uma vez que os primeiros discípulos de Jesus vinham do judaísmo. Até hoje o cristianismo teológico do Ocidente não se libertou totalmente dessa herança. Os místicos cristãos, adeptos do monismo cósmico, foram por isso mesmo perseguido, excomungados, ou pelo menos, considerados suspeitos de heresias. Quando uma criança pensa em termos de adulto, deixa de ser criança, e os jardins de infância a expulsam como elemento estranho. Quanto mais o homem se cosmifica ou universifica, tanto menos unilateral se torna e tanto mais onilateral é sua sabedoria. Luz colorida no seu modo de pensar humano revela a luz incolor da sua experiência divina, origem de todas as cores. Para o monista cósmico, Deus é a Realidade Uma e Única, o grande Uno da Essência, que sempre de novo se revela pela pluralidade das existências, por meio do Verso das criaturas. As criaturas não são novas realidades, mas apenas novas manifestações da única Realidade. São o Uno da Essência Infinita que se verte (verso) ou se esparrama no Verso das existências finitas. Em face da onipresença do Infinito é evidente que todos os finitos estão presentes no Infinito e que o Infinito está presente em todos os finitos. O monismo, assim concebido, é rigorosamente lógico e revela uma acribia de precisão matemática. Toda a filosofia ou sabedoria superior culmina infalivelmente no monismo cósmico, equidistante do dualismo separatista e do panteísmo identificador. Para o monista, tudo está em Deus, e Deus está em tudo. Porém tudo não é Deus, nem Deus é tudo. As criaturas não estão separadas de Deus, nem são idênticas a Deus. Todos os verdadeiros gênios da humanidade pensavam e sentiam em termos de monismo cósmico, cujo exemplo mais brilhante é o Cristo do Evangelho. E como poderia Lato Tsé , o grande gênio da sabedoria chinesa, ter pensado e sentido de outro modo? Por meio dos 81 capítulos brevíssimos do Tao Te Ching, lança-se, como um fio de luz, a experiência do Infinito, do Absoluto, do Uno, que se manifesta através dos Finitos, dos Relativos, do Verso. A sabedoria de Lao Tsé é tipicamente univérsica: do Uno emana o Verso. O Verso está no Uno e, embora o Uno do Infinito transcenda todo o Verso dos Finitos, estes estão imanentes naquele. O Tao, em torno do qual gira este livro, pode ser considerado com a Divindade, o Absoluto, o Infinito, o Eterno, o Insondável, o Uno, o Todo, a Fonte, a Causa, a Realidade, a Alma do Universo, a Vida, a Inteligência Cósmica, a Consciência Universal etc. Enquanto o leitor não se identificar totalmente com essa consciência univérsica do monismo cósmico de Lao Tsé não compreenderá a alma do Tao te Ching. Abraço. Davi