quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

A OBRA DE CRISTO. REDENÇÃO. Parte II

Cristianismo. Livro O Evangelho de Deus. Por Watchmann Nee (1903-1972). A OBRA DE CRISTO - REDENÇÃO. Parte II. A palavra do homem pode ajudar, mas ela também pode danificar. Devemos colocar de lado a palavra do homem. Vamos prosseguir passo a passo. Primeiro vimos que deve ser Deus quem toma nossos pecados. Então, vimos que Jesus de Nazaré veio para levar nossos pecados. Mas Sua justiça na terra foi mais que uma condenação para nós. Quando fomos salvos por meio do Senhor Jesus? Consideremos um tipo na Bíblia. No tabernáculo, entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos, havia um véu. Deus estava além do véu no Santo dos Santos. Fora do véu estava o mundo. A Bíblia nos diz que esse véu significa a carne do Senhor Jesus (Hb 10:20). Em outras palavras, o Santo dos Santos somente pode ser visto pelo Senhor Jesus como um homem na terra e pelos que têm uma vida igual à do Senhor Jesus. Nem todos podem ver Deus. Somente o Senhor Jesus podia ver Deus. Ninguém, em todo o mundo, pode ver o Santo dos Santos. Ele estava velado. Quando pôde o homem ver o Santo dos Santos? Quando Deus removeu o véu do céu e uniu o Santo dos Santos, o Lugar Santo e o átrio exterior a fim de que o homem fosse capaz de vê-Lo. Isso aconteceu quando o Filho de Deus foi crucificado na cruz. Naquela hora, o caminho para o Santo dos Santos foi aberto. Por isso Hebreus 10:19-20 diz que temos intrepidez para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus pelo véu. Este véu rasgado é a carne do Senhor Jesus. Agora, temos intrepidez e a plena certeza de fé para nos achegar a Deus. A justiça do Senhor Jesus na terra não tem relação direta conosco. Graças ao Senhor, pois Ele não ficou na terra para sempre. Se tivesse permanecido na terra para sempre, Ele ainda seria um grão. Graças a Deus porque Ele morreu e nos produziu, os muitos grãos. Graças ao Senhor pela cruz. Os Dois Aspectos da Cruz do Senhor. Aqui há uma questão: O Senhor morreu na cruz, mas qual o significado de Sua morte? Quem O enviou à cruz? Todos os que lêem os Evangelhos sabem que foram os judeus que O entregaram aos gentios e foram os gentios que O crucificaram na cruz. Se me lembro corretamente, Pilatos era um espanhol. Como podemos dizer que o Senhor Jesus morreu para levar nossos pecados? Ele foi claramente crucificado pelo homem. Em Atos 2:23, Pedro disse aos judeus que eles pregaram Jesus na cruz por mãos de iníquos. Aqui é dito que foram os judeus que pregaram o Senhor Jesus na cruz. Mas que fez o Senhor Jesus na cruz? Antes de ir à cruz, Ele esteve orando no jardim do Getsêmani. Sua oração, junto com suor com gotas como de sangue, foi causada pela perseguição e oposição do homem? Foi porque Judas trouxe homens para prendê-Lo? Ou foi porque Ele tinha de ir à cruz para nos redimir do pecado? Não foi porque Deus fez com que Aquele que não tinha pecado se tornasse pecado por nós e carregasse os pecados de todo o mundo sobre Si, para que Ele pudesse levar nossos pecados sobre o madeiro? Ali, Ele orou: “Pai, se queres, afasta de Mim este cálice” (Lucas 22:42).  Se a cruz fosse algo da mão do homem, se ela fosse apenas o instrumento para alguns homens maus matarem-No, e se houvesse apenas o aspecto humano do Senhor Jesus, então eu não gostaria de ouvir essa oração do Senhor. Não gostaria de ouvir Jesus de Nazaré ajoelhado ali orando ao Pai para, se possível, afastar Dele o cálice. No decorrer de dois mil anos, muitos mártires e discípulos do Senhor tiveram um grito mais forte que Ele ao se defrontarem com a morte. Muitos mártires, quando trancados em celas e masmorras, oraram para que o Pai os glorificasse, que queriam morrer pelo Filho e testificar a Palavra do Senhor com o sangue deles. Se não tivesse sido Deus quem começou a pôr o encargo pelos pecados sobre o Senhor no Getsêmani, e se não tivesse sido Deus quem tivesse colocado sobre o Senhor Jesus o encargo de tomar os nossos pecados, teríamos de dizer que o Senhor Jesus nem mesmo teve tanta coragem como aqueles que creram Nele. Assim, o problema é que a cruz tem o aspecto humano e o aspecto de Deus. O homem crucificou o Senhor Jesus na cruz. Mas o Senhor disse que nenhum homem tira Sua vida; Ele espontaneamente a entregou (João 10:17-18). O homem podia crucificar o Senhor mil vezes ou dez mil vezes, mas a não ser que Ele dessa Sua vida, nada poderia ter sido feito a Ele. O homem crê que Ele foi crucificado pelo homem. Nós cremos que Ele foi crucificado por Deus para redimir os pecados em nosso favor.  Temos de descobrir na Bíblia o que Deus fez na cruz. Primeiro, leiamos Isaías 53:5-10: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido. Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos”. Os apóstolos citam Isaías 53 muitas vezes no Novo Testamento. A pessoa falada nessa passagem das Escrituras é o Senhor Jesus. Que disse o profeta quando escreveu essa porção da Escritura? A última frase no versículo 4 diz: “Nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido”. No começo, o profeta achava que Ele fora ferido e afligido por Deus, que fora punido por Seus próprios pecados e ferido por Deus por Suas transgressões. Mas no versículo 5 há uma volta. Deus lhe deu uma revelação através da palavra. Mas achávamos que Ele estivesse meramente sofrendo punição e ferimento. Mas Ele não estava sofrendo punição e ferimento: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho” (vs. 5-6). A frase seguinte é muito preciosa: “Mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (v. 6). Isso é o que o Senhor fez. Vemos que em relação à cruz há o aspecto do homem e o aspecto de Deus. Embora tenham sido as mãos humanas que pregaram o Senhor Jesus, manifestando o ódio do homem por Deus, foi também Deus quem colocou todos os nossos pecados sobre Ele e O crucificou. A cruz foi obra de Deus; foi algo que Jeová cumpriu.  Que aconteceu na cruz? “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido” (vs. 7-8). Ser cortado da terra dos viventes é morrer. Os que estavam ao pé da cruz quando o Senhor foi crucificado admiravam-se e queriam saber por que esse homem estava sendo crucificado. Eles não sabiam a razão de aquilo estar acontecendo. O profeta disse que “ele não abriu a boca”, e que “como cordeiro foi levado ao matadouro; e como ovelha muda perante os seus tosquiadores”. Quem sabia que Ele estava sendo cortado da terra dos viventes pelo pecado do povo? Quem sabia que era Deus operando Nele para cumprir a obra de redenção? A cruz foi a maneira pela qual o Senhor cumpriu a redenção por meio de Sua morte. O versículo 9 diz: “Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca”. O versículo 10 é muito precioso: “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado”. A cruz é uma obra de Deus. Foi o próprio Deus quem levou nossos pecados na cruz. Foi Ele quem solucionou nosso problema de pecado. Nunca dê qualquer crédito a Judas por entregar o Senhor Jesus aos judeus. Nunca pense que sem Judas o Senhor não poderia ser o Salvador. Mesmo se mil ou dez mil Judas tivessem existido, ainda seriam inúteis. Foi o próprio Senhor Jesus quem suportou nossos pecados.  Quando o Senhor Jesus estava orando no jardim do Getsêmani, Ele pode ter parecido o mais fraco de todos os homens, sem qualquer coragem. Ele orou ao Pai para que passasse Dele o cálice (Lucas 22:42). Mas quando saiu do jardim e encontrou muitos homens maus, Ele disse: “Sou eu”, e eles “recuaram e caíram por terra” (João 18:6). Por favor, lembrem-se de que Ele não caiu quando se confrontou com os homens maus. Pelo contrário, Ele os fez cair. Mas enquanto Ele estava no Getsêmani, considerando o sofrimento que envolvia tomar os pecados do homem, como é que Aquele que não tem pecado seria feito pecado e como Ele iria tomar sobre Si o julgamento do pecado, Ele orou para que, se possível, o cálice fosse passado de Si. Não fosse pela questão da redenção, o Senhor Jesus nem mesmo seria comparado a um mártir. Quão fortes foram os muitos mártires cristãos quando marchavam para a arena dos leões. Mas o Senhor Jesus rogou que o cálice fosse, se possível, removido Dele. Fisicamente falando, o Senhor Jesus foi imensamente diferente de todos os mártires. Mas para a redenção, para solucionar o problema do pecado, para Deus vir ao homem e levar o pecado do homem, até mesmo Ele teve de pedir que, se possível, o cálice fosse removido. A Bíblia diz que Jeová foi quem fez Dele uma oferta pelo pecado. Foi Jeová quem pôs sobre Ele a iniquidade de todos nós. Isso foi algo que Jeová fez. A cruz foi obra de Deus; não foi obra do homem. A cruz é o próprio Deus vindo à terra para levar os pecados do homem. A cruz não é o homem crucificando o Filho de Deus.  Você se lembra do que a Bíblia diz que aconteceu entre a hora sexta e a nona? O sol escureceu (Lucas 23:44-45). Os judeus escarneceram Dele, e os gentios conseguiram açoitá-Lo e humilhá-Lo. Mas o sol estava além do controle dos judeus, e os gentios não tinham autoridade para manipular o sol. O homem protestou e tocou trombeta; mas o terremoto não foi algo que Pilatos conseguisse ordenar. Por que o céu escureceu? Esse fenômeno aconteceu porque o próprio Deus veio tomar nossos pecados. Isso não foi algo feito pelo homem. Se tivesse sido algo feito pelo homem, teria Deus aumentado a dor de Seu Filho quando Ele estava pregado na cruz? Deus não teria enviado doze legiões de anjos para vir e salvá-Lo? Tal fato sem dúvida aconteceria se não fosse pela redenção dos pecados. Agradecemos e louvamos a Deus porque foi Seu Filho quem veio para nos redimir dos pecados. Eis por que Ele disse: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mateus 27:46). Nenhum cristão por todos estes dois mil anos disse essas terríveis palavras quando estava para morrer. Por dois mil anos, quer os cristãos tenham morrido em paz quer em aflição, eles foram mais ousados que Ele. Por que o Filho de Deus foi ali rejeitado por Deus? Se tivesse sido meramente a mão do homem e a crucificação pelo homem, essa teria sido a ocasião em que Ele mais precisaria da presença de Deus. Quando o homem conspirou para persegui-Lo e matá-Lo, Deus deveria ter manifestado mais Sua presença. Esse foi o momento mais crucial e Deus tinha de estar com Ele. Por que Deus O abandonou, então? Foi unicamente porque o Filho de Deus tinha se tornado pecado e tinha suportado o julgamento. Essa é a razão de Ele ter clamado: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” Deus O desamparara. Nós, que cremos na obra da redenção, sabemos que o trabalhar da cruz foi para que Ele fosse julgado pelo pecado. A cruz do Senhor mostra-nos como o pecado é maligno e quão grande preço Deus pagou pela obra de redenção.  Além de Isaías 53, podemos encontrar outro testemunho claro da Escritura. Romanos 3:25 diz que Deus propôs Cristo como propiciação. Isso também mostra claramente que a obra foi feita por Deus. Deuteronômio 21:23 diz-nos que o que é levantado no madeiro é maldito de Deus. Quando o Senhor foi pregado na cruz, Ele não foi maldito do homem. Antes, Ele foi maldito de Deus. Eis por que Ele pode livrar-nos da maldição. Em 1 João 4:10 é dito que Deus nos amou e enviou Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Foi Deus quem enviou Seu Filho como propiciação. Não foi o homem quem O crucificou. Em 2 Coríntios 5:21 também é dito: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós”. Isso foi algo que Deus fez. A cruz é o trabalhar de Deus. Foi Deus quem enviou o Senhor Jesus para passar pela cruz. Atos 2:23 menciona tanto o aspecto de Deus como o aspecto do homem. “Este [homem] entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos”. O Senhor Jesus foi morto pelos judeus por mãos de iníquos. No entanto, tal morte foi de acordo com o desígnio de Deus. Isso mostra-nos que tudo foi feito por Deus. Nós temos pecado e o pecado somente pode ser tratado por Deus. Por essa razão, Deus veio ao mundo para ser um homem. Enquanto homem, Ele foi verdadeiramente justo. Mas essa justiça não foi imputada a nós. Foi a morte do Senhor Jesus que nos livrou da maldição da lei (Gálatas 3:13). Ele não nos livrou do pecado enquanto estava vivo, mas quando morreu. Na cruz, foi Deus quem O crucificou, não o homem. A mão do homem é inútil. Foi Deus quem aproveitou a oportunidade ali para manifestar o pecado do homem.  Redenção e Substituição  Agora temos de fazer uma pergunta. Uma vez que o Senhor Jesus morreu na cruz e uma vez que Deus O fez propiciação, como, então, podemos ser salvos? Qual a diferença entre redenção e substituição? São fatores semelhantes? Temos de reconhecer que a obra do Senhor Jesus é uma obra de redenção. Mas o resultado dessa obra redentora é a substituição. A redenção é a causa e a substituição é o resultado. A extensão da redenção é muito grande. Mas a extensão da substituição não é tão grande assim. É muito interessante que a Bíblia nunca diz que o Senhor Jesus morreu pelos pecados de todos. Ela somente diz que o Senhor Jesus morreu por todos (2 Coríntios 5:14). Sua obra redentora foi para satisfazer as justas exigências de Deus. Quando o Senhor cumpriu a redenção na cruz, essa obra de redenção não tinha absolutamente nada a ver com o homem. Quero impressioná-los fortemente com esta palavra: a redenção não está absolutamente relacionada conosoco. A obra de redenção é entre Deus e o pecado. Que é a obra de redenção? É o próprio Deus vindo ao mundo para resolver o problema do pecado. Uma vez que o problema do pecado foi resolvido, a obra da redenção foi cumprida.  O sangue do cordeiro pascal era aspergido nas ombreiras e nas vergas das portas (Êxodo 12:7). Deus disse que quando visse o sangue, Ele passaria pela casa (v. 13). O sangue foi para Deus ver. Não foi para os primogênitos verem. Os primogênitos não necessitavam ver o sangue; eles ficavam dentro das casas. O sangue foi para cumprir as justas exigências de Deus; não foi para cumprir as exigências dos primogênitos. Para os primogênitos não houve algo como a redenção. Se lermos o Antigo Testamento, descobriremos que o sangue para a expiação (isto é, redenção) do pecado deveria ser levado para dentro do Santo dos Santos. Era para ser aspergido sobre o véu sete vezes (Levítico 16:14-15). No dia da Expiação, o sumo sacerdote tinha de trazer o sangue e aspergi-lo sobre o propiciatório da arca. O sangue era para ser oferecido a Deus. É verdade que o sangue tinha de ser colocado sobre o polegar, a orelha e o dedo do pé de um leproso. Mas isso era feito com respeito à consagração. Era uma questão de consagração a Deus. O homem não tinha tal exigência. A redenção tem a ver com Deus. É Deus vindo para solucionar o que o homem não pode solucionar por si mesmo. Eis por que a Bíblia diz: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 João 2:2). A redenção inclui todo o mundo. Em tal redenção, todos, até os que não foram salvos, estão incluídos.  Deus veio e lidou com nossos pecados. O Senhor Jesus satisfez as justas exigências de Deus para que nós pudéssemos receber a substituição do Senhor Jesus. Sua redenção é uma preparação abstrata. Pelo crer Nele, essa redenção se torna uma substituição para nós. Diante de Deus, não foi uma substituição, mas uma redenção. É importante saber isso. Se não tivermos clareza desse assunto, ficaremos confusos a respeito de muitas outras doutrinas. A redenção é para Deus e a substituição é para nós. A redenção é para satisfazer as exigências de Deus e a substituição é para recebermos o benefício. O que Ele cumpriu foi redenção; o que nós recebemos é substituição. Eu não quero dizer que não haja tal ensinamento como substituição na Bíblia. Sem dúvida, há tal ensinamento. Mas todos os ensinamentos na Bíblia concernentes à substituição são escritos para os cristãos. Eles não são escritos para incrédulos. Para os gentios, dizemos que Jesus morreu por eles e cumpriu a redenção. Para os cristãos, dizemos que o Senhor Jesus os substituiu tomando seus pecados.  Na passagem em que lemos de Isaías 53, notamos que ela diz: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (v. 5). Por favor, observem que lemos nossas em vez de vossas. Ele levou o sofrimento pelos nossos pecados. Assim, nossos pecados são perdoados. É por nós, e não por todo o mundo. Quando Pedro citou Isaías 53, ele disse: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pedro 2:24). É sempre nossos e não vossos. Por isso, temos de ser cuidadosos quando pregamos o evangelho. É melhor que sejamos mais fiéis à Bíblia. A Bíblia nunca diz aos pecadores que Jesus morreu pelos pecados deles. A Bíblia diz que Jesus morreu por eles (Romanos 5:8). Existe tal fato: Jesus morreu por eles. Mas não há nada sobre Jesus ter morrido pelos pecados deles. Jesus morrer por eles é um fato. Mas o problema do pecado ainda não ficou resolvido. É verdade que todos os problemas do pecado já estão resolvidos diante de Deus. Mas se alguém não tiver participação nessa obra, seus pecados ainda não estão solucionados e esse não tem parte na substituição de Jesus. Quando alguém recebe o Senhor Jesus, seu problema de pecado é resolvido. Isso é substituição. Sem isso, não há substituição. Em outras palavras, a redenção foi realizada, mas a salvação ainda não. Se eu lhes perguntasse quando vocês foram redimidos, vocês responderiam que isso aconteceu há dois mil anos; mas se eu lhes perguntasse quando vocês foram salvos, vocês diriam que foi em determinado dia, mês e ano. A redenção foi algo que aconteceu há muito tempo. A salvação é algo presente. A redenção foi cumprida por Cristo. A salvação é realizada em nós. Fomos redimidos há dois mil anos, mas podemos ter sido salvos há poucos anos. Não sei como dizer isso mais claramente, contudo para mim está muito claro. A obra de redenção de Deus é uma questão referente a Ele mesmo; é para satisfaze-lo e nada tem a ver conosco. É algo absolutamente relacionado com Deus. O próprio Deus foi O que fez a obra. Quando vemos o que Deus cumpriu, e cremos e aceitamos, recebemos essa substituição.  Usemos outra ilustração. Há uma passagem que une as margens leste e oeste do rio Wham Poa. É uma passagem gratuita. O lugar é conhecido como Passagem Gratuita. Suponha que eu fosse um ladrão que tivesse roubado e assaltado muitas vezes ali. Contudo, agora eu sou diferente. Que deveria eu fazer se quisesse fazer um tratamento completo em relação ao meu passado de roubos e assaltos? Mesmo se eu quisesse reembolsar, aonde eu deveria ir? É difícil encontrar aqueles a quem assaltei. Que devo fazer? Por causa da justiça e para reembolsar, posso começar um serviço gratuito para transportar as pessoas pelo rio. Qualquer pessoa pode fazer a travessia e nada lhe será cobrado. Posso fazer isso para devolver o dinheiro que roubei das pessoas nesse lugar. Ofereço esse tipo de serviço grátis como uma solução para o problema de minha injustiça. Esse serviço gratuito é para mim uma solução para a injustiça. Mas para os outros é uma substituição; estou pagando a passagem no lugar dos outros. Esse é o modo de o Senhor Jesus lidar com o problema da punição. Deus enviou o Senhor Jesus para cumprir a redenção a fim de que Sua própria santidade e justiça bem como o problema do pecado fossem cuidados. Quando alguém crê, ele entra nessa obra, e o Senhor Jesus leva embora seus pecados.  Então, o Novo Testamento diz: “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos” (1 Pedro 3:18). Ele mesmo carregou em Seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados (1 Pedro 2:24). Tudo isso foi feito por nós. Na noite em que o Senhor Jesus foi traído, Ele tomou o cálice e deu graças, e o deu aos discípulos, dizendo: “Porque isto é o Meu sangue da aliança, que é derramado por muitos, para perdão de pecados” (Mateus 26:28). Foi por muitos, não por todos. No futuro, veremos incontáveis pessoas, com palmas nas mãos, lavados pelo sangue (Apocalipse 7:9, 14). Graças ao Senhor. Ele cumpriu a redenção por Sua própria causa, para que nós pudéssemos ser substituídos. Nada podemos dizer a não ser agradecer-lhe e louvá-Lo. Abraço. Davi.

domingo, 14 de dezembro de 2025

O PAI DE BUDA

Budismo. Livro O Evangelho de Buda. Vida e Doutrina de Sidarta Gautama - Por Yogi Kharishnanda. O PAI DE BUDA. O Buda estava em Radjagriha, quando recebeu um recado de seu pai, Suddhodana, que dizia: Desejo ver meu filho antes de morrer. Todos têm recebido o benefício de sua doutrina, menos seu pai e seus parentes. O Tathágata a que o mundo adora? Seu pai o espera, como o lírio impaciente aguarda a saída do Sol. O Senhor Buda atendeu ao pedido de seu pai, e se pôs a caminho para Rapilavastu Esse acontecimento foi conhecido por toda a Comarca, cujas pessoa diziam: O príncipe Sidarta, que deixou seu lar para adquirir luz e conhecimento, volta iluminado. Suddhodana saiu para receber o príncipe, acompanhado da família real e de seus ministros. Ao vê-lo de longe,, admirou-se da majestade de seu porte e da beleza de sua fisionomia. Alegrou-se em seu coração com sem que seus lábios conseguissem proferir uma palavra. Realmente aquele era seu filho, outrora o príncipe Sidarta, o herdeiro do trono. Todavia agora transformado em Buda, o Bem-aventurado, o Santo Iluminado, o Tathágata, O Senhor da Verdade, o Instrutor do mundo. O rei Suddhodana desceu do carro e foi ao encontro se seu filho, dizendo-lhe: Faz sete anos que não vejo você, e com que impaciência esperava este momento! O Senhor Buda assentou-se em frente de seu pai, que avidamente o olhava sem atrever-se a chamá-lo pelo nome. Depois, ele lhe disse: Sidarta, junte-se ao seu velho pai e seja de novo seu filho. Contudo, ao ver a serena firmeza de seu filho, reprimiu seus sentimentos dolorosos. E assim o rei sentado em frente de seu filho, gozava em sua aflição e sofria em sua alegria. Podia ufanar-se de seu filho, porém sofria ao pensar que não seria ele o seu herdeiro. O rei disse ao Senhor Buda: Queria oferecer a você o meu reino, todavia, você faria tanto caso desta oferta como de um punhado de cinzas. O Senhor Buda respondeu: Sei que o coração do rei transborda de amor e está profundamente triste por causa do seu filho. Mas, os amorosos laços que o ligam ao filho que perdeu há de ligá-lo com igual bondade a todos os seres. Ou em lugar deste filho, receberá outro maior do que Sidarta. Receberá o Buda, o Mestre da Verdade, o pregador da Justiça. A paz do nirvana inundará o seu coração. Suddhodana estremeceu de alegria ao ouvir as palavras suaves de seu filho. De mãos juntas exclamou com os olhos banhados de lágrimas. Que transmutação maravilhosa! Minha dolorosa tristeza se desvaneceu. Antes, eu estava pesaroso e meu coração aflito, porém agora colho o fruto de sua magna renúncia. Movido de profunda compaixão, você fez muito bem em renunciar as mesquinhas manifestações do régio poder. Para cumprir seus nobres propósitos de religiosa devoção. Você encontrou o caminho e já pode pregar a verdade ao mundo ansioso por libertação. Segundo relatam as Escrituras Sagradas, no vasto prado as margens do rio Rodana. O Mestre sentou-se dominando a multidão respeitosas ali congregada para ouvir a sua palavra. Buda estava sentado à direita do rei, seu pai, ao redor se agrupavam os magnatas da corte, e a seus pés Yasodhara. Que com seu manto prateado cobriu as pregas do pobre manto amarelo do seu esposo. À noite caiu sobre os ouvintes, como celestial donzela extasiada de amor. Cujas tranças de cabelo eram como ondulantes nuvens. As belas estrelas, as pérolas e os diamantes de sua coroa. A Lua, seu diadema, e as densas trevas teciam a sua vestimenta. Assim disse o Senhor Buda: Os livros ensinam que as trevas eram o princípio e que Brahma meditava solitário naquela noite. Não busquem ali Brahma nem o Princípio. Olhos mortais não podem vê-lo, nem a mente humana é capaz de o conhecer. Erguerá um véu após outro, mas sempre encontrará outro véu atrás. Os astros rodam e não perguntam. Basta que a vida e a morte, a alegria e a dor subsistam. Assim a causa e o efeito, o transcurso do tempo e o incessante fluxo e refluxo da assistência que é sempre mutável e desliza como um rio. Cujas rodas lentas ou rápidas se sucedem umas as outras desde sua longínqua fonte até o mar onde deságuam. O Sol evapora o mar e restitui ondas perdidas em forma de aveludadas nuvens, que gotejarão montanhas abaixo. Para refluir de novo, sem paz nem trégua. Isso basta para se saber quão ilusório são os céus, às terras, os mundos e as mudanças que o alteram em potentes rodas de lutas e violência. Cujo giro turbilhonante ninguém pode deter nem inverter. Não supliquem, porque as trevas não iluminarão. Nada peçam ao silêncio, porque ele está mudo. Nada esperem dos deuses implacáveis, oferecendo-lhes hinos e dádivas. Não pretendam suborná-los com sacrifícios de sangue. Devemos buscar a libertação em nós mesmos. Cada qual cria seu próprio cárcere. Cada qual tem tanto poder quanto os mais potentes. Porque tanto para as potestades que estão em cima, ao redor e embaixo de nós. Como para toda a carne e toda a vida. A ação engendra o prazer e a dor. Do que foi provém aquilo que é e o que será, melhor ou pior. Vocês podem elevar o seu destino a maior altura do que o de Indra ou rebaixá-lo mais do que o da Iarva. O que sob pode cair. O que cai pode subir. Os raios da roda não param de girar. Oh vocês que sofrem! Saibam que sofrem porque querem. Ninguém se excita â vida nem nela os retém condenados â morte. Girando sobre a roda e abraçando seus raios de agonia, seu aro de lágrimas, seu cubo de rija madeira. Mais fundo que o inferno, mais alto que o céu, além das mais longínquas estrelas. Mais além da morada de Brahma. Há um poder estável e divino, existente antes do princípio e que não terá fim. Eterno como o tempo, seguro como a certeza, que impele pra o bem e é súdito de suas próprias leis. A um toque seu, florescem os rosais e sua mão modela as pétalas de lótus. No obscuro solo e nas silenciosas sementes, tece o enfeite da primavera. Seu pincel colore as luzentes nuvens, e no pescoço do pavão real engasta suas esmeraldas. As estrelas são o seu porto, e o relâmpago, o vento e a chuva seus escravos. Constrói nas trevas o coração do homem, e na obscuridade do ovo o faisão de colo multicor. Sempre ativo, transmuta a ira e o ódio em amor. Seus tesouros são os cinzentos ovos no ninho do colibri dourado. Suas hexágonas favas de abelha são suas redomas de mel. A formiga obedece aos seus mandatos e a pomba branca o conhece bem. Solta as asas da águia toda vez que com pressa volta ao seu ninho. Conduz a loba para junto aos seus lobinhos e encontra sustento e amigos para os seres abandonados. Nada o repugna, nada o detêm.  Tudo ama. Enche os seios maternais de doce leite, bem como de veneno mortífero os dentes da serpente. Concerta no interminável dossel do firmamento a harmoniosa música das esferas móveis. Nos seios abismais da Terra esconde o ouro, o ônix, a safira e as lazulitas. Envolto perpetuamente no mistério, oculta-se na espessura dos bosques e alimenta ao pé dos cedros admiráveis rebentos com novas fibras, ervas e flores. Mata e salva sem outro motivo que o cumprimento do destino. O amor e a vida são os fios. A morte e a dor as lançadeiras do seu tear. Faz, desfaz e emenda tudo. Com o que faz, supera o que fez. Cada vida do homem é o resultado de suas vidas precedentes - passadas. Os erros passados engendram tristeza e sofrimento. A retidão passada traz felicidade. Eles colhem o que semeiam. Olhem para seus campos. O sésamo foi sésamo e o trigo foi trigo. O silêncio e a sombra o sabem. Assim nasce o destino do homem e mulher. Vem a vida e colhe o que semeou. Sésamo ou trigo ou ervas venenosas e daninhas que corrompem tanto a ele mesmo quanto a terra doentia. No entanto, se a terra for bem lavrada e as ervas más extirpadas, sendo semeada em lugar delas as sãs e puras. O solo será formoso e fértil e a colheita será ótima. Se aprende o motivo da dor e pacientemente o suporta. Esforçando-se por pagar as dívidas contraídas por suas culpas passadas. Sempre fiel ao amor e a verdade. Se limpa seu sangue da mentira e concupiscência e sem prejuízo de outrem sofre tudo mansamente. Perdoando as ofensas, pagando mal com o bem. Se dia a dia é compassivo santo, justo, amável e sincero. Extirpo o desejo de onde quer que penetre com raízes até extinguir o apego à vida. Se agir assim, terminará a conta de sua vida liquidando saldando seus débitos. Desse modo, acrescentando e vivificando os créditos recentes ou longínquos, que também produzirão crédito frutíferos. Quem age assim não precisa do que vocês chamam vida. Realizou o propósito que o fez homem. Já não o torturará a ansiedade nem o mancharão os pecados. Nem os prazeres e dores humanas turvarão a sua perpétua paz. Nem voltarão a eles mortes e renascimentos. Entra no nirvana. Uniu-se a Vida e, no entanto, não vive. É feliz porque deixou de existir, porém não deixou de ser. E o Senhor Buda retirou-se pra o bosque próximo da cidade. Abraço. Davi. 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

HINDUÍSMO. Parte II

Hinduísmo. Extraído da Enciclopédia Wikepédia. O HIDUISMO. Parte II. O Hinduísmo baseia-se no tesouro acumulado de leis espirituais descobertas por diferentes pessoas em diferentes tempos. As Escrituras Hindus foram transmitidas oralmente na forma de versos para auxiliar na sua memorização, muitos séculos antes de serem escritos. Ao longo dos séculos diversos sábios refinaram estes ensinamentos e expandiram o cânone. Na crença hindu pós Védica e moderna a maior parte das Escrituras não costuma ser interpretada literalmente; dá-se mais importância aos significados éticos e metafóricos derivados deles. A maior parte dos textos sagrados está em sânscrito, e os textos se dividem em duas classes: Shruti e Smriti. Shruti (aquilo que é ouvido) refere-se primordialmente aos Vedas, que compõem o mais antigo registro das Escrituras Hindus. Enquanto muitos hindus veneram os Vedas como verdades eternas reveladas aos antigos sábios (Rishis), alguns devotos não associam a criação deles com qualquer divindade ou pessoa, acreditando serem leis do mundo espiritual, que existiriam mesmo se não tivessem sido reveladas aos sábios. Os hindus acreditam que, como as verdades espirituais dos Vedas são eternas, elas estão sendo expressas continuamente, de diferentes maneiras. As Vedas são os textos mais antigos do Hinduísmo, e também influenciaram o Budismo, o Jainismo e o Sikhismo. Os Vedas contêm hinos, encantamentos e rituais da Índia Antiga. Juntamente com o Livro dos Mortos, o Enuma Elish, o I Ching e o Avesta, estão entre os mais antigos textos religiosos existentes. Além de seu valor espiritual, eles também oferecem uma visão única da vida cotidiana na Índia Antiga. Enquanto a maioria dos hindus provavelmente nunca leram os Vedas, a reverência por mais uma noção abstrata de conhecimento (Veda significa conhecimento em sânscrito) está profundamente impregnada no coração daqueles que seguem o Veda Dharma. Existem quatro Vedas que são os Rig Veda, Sama Veda, Yajur Veda, Atharva Veda. O Rig Veda é o primeiro e mais importante deles. Cada Veda se divide em quatro partes sendo a primeira o Veda propriamente dito, é o Samhitã, que contém Mantras Sagrados. As outras três partes formam um conjunto em três camadas de comentários, costumeiramente em prosa, tidos como feitos numa data um pouco posterior ao Samhitâ. São os Brahmanas, Aranyakas e os Upanishades. As primeiras duas partes foram chamadas posteriormente de Karmakanda (parte ritualística), enquanto as últimas duas formam a Jinanakanda (parte do conhecimento). Embora os Vedas tenham como foco os rituais, os Upanishades se concentram numa abordagem espiritual e em ensinamentos filosóficos, discutindo Brâman e a reencarnação. Os Upanishades são denominados Vedanta, porque eles contêm uma exposição da essência espiritual dos Vedas. Entretanto é importante observar que os Upanishades são textos e Vedanta é uma filosofia. A palavra Upanishad significa sentar-se próximo ou perto, pois os estudantes costumavam sentar-se no solo, próximos a seus mestres. Os Upanishades organizaram mais precisamente a doutrina Védica de auto realização, Yoga, e meditação, Karma e reencarnação, que eram veladas no simbolismo da antiga religião de mistérios. Os mais antigos Upanishades são geralmente associados a um Veda em particular, através da exposição de uma Brâmana ou Aranyaka, enquanto os mais recentes não. Formando o coração de Vedanta (final dos Vedas), eles contêm a técnica de adoração aos deuses Védicos e capturam a essência do dito do Rig Veda "A Verdade é Uma". Eles  colocam a filosofia hindu separada e acolhendo uma única e transcendente força imanente e inata na alma de cada ser humano, identificando o micro cosmo e o macro cosmo como Um. Podemos dizer que enquanto o Hinduísmo primitivo é fundamentado nos quatro Vedas, o Hinduísmo Clássico, a Yoga e o Vedanta, e correntes Tântricas do Bhakti foram modelados com base nos Upanishades. Textos hindus além dos Shrutis são chamados coletivamente de Smritis (memória). Os mais célebres dentre os Smritis são os Poemas Épicos, que consistem do Mahabharata e do Ramaiana. O Bhagavad Guita, parte integral do Mahabarata, e um dos mais populares textos sacros do Hinduísmo, contém ensinamentos filosóficos de Krishna, uma encarnação de Vishnu, narradas ao príncipe Arjuna às vésperas de uma grande guerra. O Bhagavad Guita, narrado por Krishna, é descrito como a essência dos Vedas. O Guita, no entanto, por vezes também chamado de Guitopanishade costuma ser categorizado com maior frequência entre os Shrutis, por ter um conteúdo de natureza Upanishádica. Os Smritis também incluem os Puranas, que ilustram ideias hindus através de narrativas vividas. Também existem textos de natureza sectária, como o Devi Mahatmya, os Tantras, os Yoga Sutras, Tirumantiram, Shiva Sutras e Agamas. Um texto mais controverso, o Manusmriti, é o livro de leis que singulariza os códigos sociais do sistema de castas. Os Puranas são considerados Smriti; ensinamentos não escritos passados oralmente de uma geração a outra. Eles são distintos dos Shrutis ou ensinamentos escritos tradicionais. Existem um total de dezoito Purunas maiores, todos escritos em formas de versos. Acredita-se que estes textos foram escritos muito anteriormente ao Ramayana e ao Mahabarata. Acredita-se que o mais antigo Purana provém de cerca de 300 a.C., e os mais recentes de 1300-1400 revisados. Tal pode ser notado quando se observa que todos eles comentam que o número de Puranas é dezoito. Os Puranas variam muito: o Skanda Purana é o mais longo com 81.000 versos, enquanto o Brahma Purana e o Vamana Purana são os mais curtos com 10.000 versos cada. O número total de versos em todos os dezoito Puranas são de 400.000 versos. O Ramayana e o Mahabarata são os livros Épicos Nacionais da Índia. São provavelmente os poemas mais longos escritos em todo o mundo. A obra conta a história de um príncipe, Rama de Ayodhya, cuja esposa Sita é abduzida (raptada) pelo demônio Ravana, rei de Lanka. O Mahabharata é atribuído ao sábio Vyasa, e foi escrito no período entre 540 a.C. 300. A obra, que conta a lenda dos Bháratas, uma das tribos arianas, discute o Tri Varga ou as três metas da vida humana que são Kama ou desfrute sensorial, Artha ou desenvolvimento econômico e Dharma a religiosidade mundana que se resume em códigos de conduta moral e ritual. O Ramayana é atribuído ao poeta Valmiki, e foi escrito no primeiro século, apesar de ser baseado em tradições orais que datam de seis ou sete séculos Antes de Cristo. A Bhagavad Guita é considerado parte do Mahabárata (escrito 400 a.C. 300), sendo um texto central do Hinduísmo, um diálogo filosófico entre o deus Krishna e o guerreiro Arjuna. Este é um dos mais populares e acessíveis textos do Hinduísmo, e é de essencial importância para a religião. O Guita discute altruísmo, dever, devoção, meditação, integrando diferentes partes da filosofia hindu. Manu é o homem lendário, o Adão dos hindus. As leis de Manu, ou Manusmriti, são uma coleção de textos atribuídos a ele. A mais antiga evidência de uma religião pré histórica na índia data do fim do Neolítico, no período harapano inicial (5500 AC 2600). As crenças e práticas do período pré clássico (1500 AC 500), são chamadas coletivamente de religião histórica Védica. O Hinduísmo moderno cresceu a partir dos Vedas, dos quais o mais antigo é o Rig Veda, que data de 1700 a.C. 1100). Os Vedas centralizam o culto em divindades como Indra, Varuna e Agni, e no ritual do Soma. Sacrifício de fogo eram realizados, chamados de Yagna, e entoavam Mantras Védicos, porém não construíam templos nem ícones. Tradições Védicas mais antigas mostram fortes semelhanças com o Zoroastrismo e outras religiões Indo Europeias. Os principais Épicos em sânscrito, o Ramayana e o Mahabarata, foram compilados durante um período extenso que abrangeu os últimos séculos antes de Cristo, e os primeiros da Era Comum. Contêm histórias mitológicas sobre os governantes e as guerras da antiga Índia, intercaladas com tratados religiosos e filosóficos. Os Puranas posteriores recontam histórias sobre os Devas e Devis (deuses hindus), suas interações com os humanos e suas batalhas contra demônios. Pouco é conhecido sobre a origem do Hinduísmo, já que a sua existência antecede os registros históricos. É dito que o Hinduísmo deriva das crenças dos arianos, que residiam nos continentes sub Indianos (nobres seguidores dos Vedas), Dravidianos e Harapanos. Alguns dizem que o Hinduísmo nasceu com o Budismo e o Jainismo, mas Heinrich Zimmer (1890-1943) e outros orientalistas afirmam que o Jainismo é muito anterior ao Hinduísmo, e que o Budismo deriva deste e do Sankhya que em consequência afetaram o desenvolvimento de sua religião mãe. Diversas são as ideias sobre as origens dos Vedas e a compreensão se os arianos eram ou não nativos ou estrangeiros na Índia. A existência do Hinduísmo data de 4000 a.C. 6000. Historicamente, a palavra hindu antecede o Hinduísmo como religião; o termo é de origem persa e primeiramente referia-se ao povo que residia no outro lado (do ponto de vista persa) do Sindhu ou rio Indo. Foi utilizado para expressar não somente a etnicidade mas a religião Védica desde o século XV e XVI, por personalidades como Guru Nanak (1469-1539) fundador do Sikhismo. Durante o Império Britânico, a utilização do termo tornou-se comum, e eventualmente, a religião dos hindus Védicos foi denominada hinduísmo. Na verdade, foi meramente uma nova vestimenta para uma cultura que vinha prosperando desde a mais remota Antiguidade. As seis Escolas Filosóficas Ortodoxas Hindus (Astika, que aceitam a autoridade dos Vedas) são Nyaya, Vaisheshika, Sankhya, Yoga, Purva Mimamsa e Uttara Mimamsa. As Escolas não Védicas são denominadas Nastika, ou heterodoxas, e referem-se ao Budismo, Jainismo e Lokayata. As Escolas que continuam a influenciar o Hinduísmo hoje são Purva Mimamsa, Yoga e Vedanta. A Escola Nyaya é de importância ímpar no desenvolvimento da filosofia indiana devido ao seu papel na construção de um sistema lógico e analítico, do qual nasceu todo o resto da filosofia lógica indiana, além de  influenciar o desenvolvimento paralelo em diversas outras áreas do pensamento. O Nyaya foi fundado por Aksapada Gautama, conhecido como Aksapada (o de olhos fixos nos pés), que escreveu o texto de maior importância dessa Escola, o Nyaya Sutra, por volta do século II AC. Inicialmente vista com suspeita pelo clero hindu, passou logo depois a ser promovido por este como ferramenta de debate contra os heterodoxos (Materialistas, Budistas e Jainistas). A Escola teve seu prestígio incrementado, e o seu sistema passou a ser visto como um dos meios para se levar à salvação. A Escola Vaisheshika representa uma linha de pensamento intimamente associada com a da Nyaya, e originalmente proposta pelo sábio Kanda (ou Kana Bhuk, literalmente, comedor de átomos), em torno do século II AC. Basicamente, a Vaisheshika expressa uma forma de atomismo e postula que todos os objetos do universo físico são redutíveis a um número finito de átomos. A filosofia Samkhya é anterior ao Bramamismo, filosofia que deu origem ao Hinduísmo, como coloca o orientalista Heinrich Zimmer (1890-1943) em seu clássico Filosofias da Índia. O monge Patandjali do sul da Índia que viveu entre os anos (200-400), onde até hoje a tradição Tamil preserva elementos das filosofias pré Védicas, tinha formação no sistema Saamkhya Yoga, indissociável. O Samkhya foi compilado bem antes de Patandjali, por Kapila, que viveu pouco tempo antes de Budha Sakyamuni (563 a.C. 483). Uma diferença importante entre o Samkhya e o Bramanismo é que o primeiro é dualista, e o segundo monista, mas ambos vêm o Espírito, ou Deus, como imanente e transcendente ao mesmo tempo. A diferença mais significante do Samkhya é que a Escola de Yoga não somente incorpora o conceito do Ishvara (Deus Pessoal) numa visão do mundo metafísica mas também sustenta Ishvara como um ideal sobre o qual meditar. A razão é que Ishvara é o único  aspecto de Purusha (do infinito Terreno Divino) que não foi mesclado com Prakrti (forças criativas temporárias). Também utiliza as terminologias Brahman Atman e conceitos profundos dos Upanishades, adotando uma visão Vedântica monista. A realização do objetivo do Yoga é conhecido como Moksha ou Samadhi. E como nos Upanishades, busca o despertar ou a compreensão de Atman como sendo nada mais que o infinito brâmane, através da (mente) ética, (corpo) físico e meditação (alma), o único alvo de suas práticas é a Verdade Suprema. A Escola Purva Mimamsa (investigação anterior) estabeleceu as bases para a formulação de regras de interpretação dos Vedas. O principal questionamento da Purva Mimamsa se refere a natureza das leis naturais (Dharma). Segundo esta linha de pensamento, a natureza do Dharma não é acessível à razão ou observação, e deve ser inferida a partir da autoridade da revelação, contida nos Vedas. Este método empírico e eminentemente sensível de aplicação religiosa é a chave para Sanatana Dharma e foi especialmente desenvolvido por racionalistas como Sankaracharya e Swami Vivekananda. A Purva Mimamsa, sendo fortemente ligada à exegese textual dos Vedas, deu origem ao estudo da filologia (estudo de uma língua através de seu conteúdo escrito, que visa não só a restauração e crítica dos textos para o conhecimento do uso linguístico e sua história, mas também a compreensão da globalidade dos fenômenos culturais, especialmente os de ordem literária, a que ela serve de veículo) ou da filosofia da linguagem na Índia. A introdução da noção de Shabda (discurso) como unidade indivisível de som e significado é devido ao sábio Bhartrhari no século VII. O sistema do Yoga é geralmente considerado como tendo surgido a partir da filosofia Sankhya. Entretanto o Yoga referido aqui, é especialmente o Raja Yoga, ou união através da meditação. E é baseada em um texto que exerceu grande influência de Patandjali intitulado Yoga Sutras, e é essencialmente uma compilação e sistematização da filosofia do Yoga Meditacional. Os Upanishades e o Bhagavad Guita também são textos indispensáveis ao estudo da Yoga. A Escola Uttara Mimamsa (investigação posterior), também conhecida como Vedanta, é talvez a pedra angular dos movimentos do Hinduísmo, e certamente foi responsável por uma nova onda de investigação filosófica e meditativa, renovação da fé, e reformas culturais. A maior parte da atual filosofia hindu está relacionada a mudanças que foram influenciadas pelo pensamento Vedanta, o qual é focalizado na meditação, moralidade e centralização no Eu Uno, ao invés de rituais ou distinções sociais como as castas. Primeiramente associada com os Upanishades e seus comentários por Badarayana, e Vedanta Sutra, o pensamento Vedanta dividiu-se em três grupos, descritos a seguir. Advaita literalmente significa "não dois", isto é o que referimos como monoteísta, ou sistema não dualístico, que enfatiza a unidade. Seu consolidador foi Shankaracharya (788-820). Shankara expôs suas teorias baseadas amplamente nos ensinamentos dos Upanishades e de seu guru Gaudapada. Através  da análise da consciência experimental, ele expôs a natureza relativa do mundo e estabeleceu a realidade não dual ou Brahman no qual Atman (a alma individual) ou Brahman (a realidade última) são absolutamente identificadas. Não é meramente uma filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação, direcionadas a obtenção da paz e compreensão da verdade. Sankaracharya acusou as castas e rituais como tolos, e em sua própria maneira carismática, suplicou aos verdadeiros devotos a meditarem no amor de Deus e alcançarem a verdade. Ramanuja (1040-1137) foi o principal proponente do conceito de Sriman Narayana como Brahma o Supremo. Ele ensinou que a realidade possui três aspectos: Ishvara (depositar diante do Senhor), Vishnu Cit (alma) e Acit (matéria). Vishnu é a única realidade independente, enquanto alma e material são dependentes de Deus para sua existência. Devido a esta qualificação da realidade última, o sistema de Ramanuja é conhecido como não dualístico. Madhva (1199-1278) identificou deus com Vishnu, mas a sua visão da realidade era puramente dualista, pois ele compreendeu uma diferenciação fundamental entre o Deus Supremo e a alma individual, e o sistema consequentemente foi denominado Dvaita (dualismo) Vedanta. As principais Escolas Não Védicas ou Heterodoxas (Nastika) do pensamento hindu são o Budismo, o Jainismo e Lokayata ou (Karvaka). A Escola Devocional Bhakti tem seu nome derivado do termo hindu que evoca a ideia de amor prazeroso, abnegado e indizível de Deus como Pai, Mãe e Filho Amado, ou qualquer outra forma de relacionamento que encontre apelo no coração do devoto. A Filosofia de Bhakti procura usufruto pleno da divindade universal através da forma pessoal, o que explica a proliferação de tantas divindades na Índia, frequentemente refletindo as inclinações particulares de pequenas áreas ou grupos de pessoas. Vista como uma forma de Yoga ou União, ele preconiza a necessidade de se dissolver o Ego em Deus, na medida em que a consciência do corpo e a mente limitada, como individualidade, seriam fatores contrários à realização espiritual. Essencialmente, é Deus que promove toda mudança, que é a fonte de todos os trabalhos advindos da idade através do amor e da luz. Os movimentos Bhakti rejuvenesceram o Hinduísmo ao longo da sua intensa expressão de fé e receptividade às necessidades emocionais e filosóficas da Índia. Pode-se dizer corretamente que influenciaram a maior parte, principalmente as mudança nas orações e rituais hindus desde tempos remotos. A mais popular forma de expressão de amor a Deus na tradição hindus é através do Puja, ou ritual de devoção, frequentemente utilizando o auxílio de Murti (estátua) juntamente com canções ou recitação de orações meditacionais em formas de mantras. Canções devocionais denominadas Bhajan (escritas primeiramente nos séculos XIV-XVII, Kirtan (elogio) e Arti (uma forma filtrada do ritual de fogo Védico) são algumas vezes cantados juntamente com a realização do Puja. Este sistema orgânico de devoção tenta auxiliar o indivíduo a conectar-se com Deus através  de meios simbólicos. Entretanto, é dito que Brahkta, através de uma crescente conexão com Deus, é eventualmente capaz de evitar todas as formas externas e é inteiramente imerso na bênção do indiferenciado amor a Verdade. A palavra Tantra significa tratado ou série contínua, e é aplicada a uma variedade de trabalhos místicos, ocultos, médicos e científicos bem como aqueles que agora nós consideramos como Tântricos. A maioria dos Tantras foram escritos no final da Idade Média e surgiram da cosmologia hindu. É vital uma nota sobre o elemento Ahimsa no Hinduísmo para compreender a sociedade que se formou à volta de alguns dos seus princípios. Enquanto o Jainismo, à medida que era praticado, era certamente uma grande influência sobre a sociedade indiana, que dizer da sua exortação do Veganismo e da não violência como Ahimsa, o termo primeiro apareceu nos Upanishades. Assim, uma influência internamente enraizada e externamente motivada levou ao desenvolvimento de uma grande quantidade de hindus que acabaram por abraçar o Vegetarianismo, numa tentativa de respeitar formas superiores de vida, restringindo a sua dieta a plantas e vegetais. Cerca de 30% da população hindu atual, especialmente em comunidades ortodoxas  no sul da Índia, em alguns Estados do norte como Guzerate e em vários enclaves Brâmanes à volta do Sub Continente, é vegetariana. Portanto, enquanto o Vegetarianismo não é um dogma, é recomendado como sendo um estilo de vida Sátvico (purificador). Os Hindus abstêm-se predominantemente de carne, e alguns até vão tão longe quanto evitar produtos de pele. Isto acontece provavelmente porque o largamente pastoral povo Védico e as subsequentes gerações de hindus ao longo dos séculos dependiam tanto da Vaca para todo o tipo de produtos lácteos, aragem dos campos e combustível para fertilizante, que o seu estatuto de cuidadora espontânea da humanidade cresceu ao ponto de ser identificada como uma figura quase maternal. Assim, enquanto a maioria dos hindus não adora a Vaca, e as instruções escriturais contra o consumo de carne surgiram muito depois dos Vedas terem sido escritos, esta ainda ocupa um lugar de honra na sociedade hindu. Diz-se Krishna é tanto Govinda (pastor de vacas) como Gopala (protetor de vacas), e que o assistente de Shiva é Nandi, o touro. Com a força no Vegetarianismo (que é habitualmente seguido em dias religiosos ou ocasiões especiais até por hindus comedores de carne) e a natureza sagrada da Vaca, não admira que a maior parte das cidades santas e áreas na Índia tenham uma proibição sobre a venda de produtos de carne e haja um movimento entre os Hindus para banir a matança de vacas não só em regiões específicas como em toda a Índia. Contrário a crença popular, o Hinduísmo prático não é Politeísta nem estritamente Monoteísta. A variedade de deuses e avatares que são adorados pelos hindus são compreendidos como diferentes formas da Verdade Única, algumas vezes vistos como mais do que um mero Deus e um último terreno Divino (Brahman), relacionado mas não limitado ao Monismo, ou um princípio Monoteísta como Vishnu ou Shiva. Acreditando na origem única como sem forma (Nirguna Brahman), sem atributos ou com um Deus Pessoal (Saguna Brahma) com atributos, os Hindus compreendem que a verdade única pode ser vista de forma variada por pessoas diferentes. O Hinduísmo encoraja seus devotos a descreverem e desenvolverem um relacionamento pessoal com sua deidade pessoal escolhida (Ishta Devata) na forma de Deus ou Deusa. Enquanto alguns censos sustentam que os adoradores de uma forma ou outra de Vishnu (conhecidos com Vaishnavs) são 80% dos Hindus e aqueles de Shiva (chamados Shaivaites) e Shakti compõem o restante dos 20% tais estatísticas provavelmente são enganadoras. A maioria dos Hindus adora muitos deuses como expressões variadas do mesmo prisma da Verdade. Entre os mais populares estão Vishnu (como Krishna ou Rama), Shiva, Devi (a Mãe de muitas deidades femininas, como Lakshmi, Sarasvati, Kali e Durga), Ganesha, Skanda e Hanuman. A adoração das deidades é geralmente expressa através de fotografias ou imagens (Murti) que são ditas não serem o próprio Deus, mas condutos para a consciência dos devotos; marcas para a alma humana que significam a inefável e ilimitada natureza do amor e grandiosidade de Deus. Eles são símbolos do princípio maior representado, mas nunca presumido ser o conceito da própria entidade. Consequentemente, a maioria dos hindus adoradores de imagens as toma apenas como símbolos da divindade, opostos à idolatria, erroneamente imposta aos hindus. Recitação e Mantras originaram-se no Hinduísmo e são técnicas fundamentais praticadas até os dias de hoje. Muitos da chamada Mantra Yoga, é realizada através de Japa (repetições). Dizem que os Mantras, através de seus significados, sons e recitação melódica, auxiliam o Sadhaka (aquele que pratica) na obtenção de concentração durante a meditação. Eles também são utilizados como uma expressão de amor a deidade, uma outra faceta da Bhakti Yoga necessária para a compreensão de Murti. Frequentemente eles oferecem coragem em momentos difíceis e são utilizados para a obtenção de auxílio ou para invocar a força espiritual interior. As últimas palavras de Mahatma Gandhi (1869-1948) enquanto morria foi um Mantra ao Senhor Rama: "Hey Ram!". O mais representativo de todos os Mantras Hindu é o famoso Gayatri Mantra: traduzindo seria: "Om! Terra, Galáxias (invocação aos três mundos). Que nós alcancemos a excelência de Savitr, o Deus. Que Ele estimule os nosso pensamentos (meditações). O Mantra Gayatri é considerado o mais universal, o mais importante (Maha Mantra) de todos os Mantras Hindus, e invoca o Brâhma Universal como um princípio de conhecimento e iluminação do sol primordial, mas somente em seu aspecto feminino. Muitos Hindus até os dias de hoje, segundo uma tradição que permanece viva por pelo menos 5.000 anos, realizam abluções matinais às margens do rio sagrado, especialmente do rio Ganges. Conhecido como um Mantra Sagrado, é reverenciado como sendo a forma mais condensada do Conhecimento Divino (Veda). É governado pelo princípio, Ma (Mãe) Gayatri, também conhecido como Veda Mata (Mãe dos Vedas) sendo intimamente associado a deusa do aprendizado e iluminação, Sarasvati. O maior objetivo da religião Védica (Hinduísmo) é alcançar Moksha, ou liberação, através da constante dedicação a Satya (Verdade) e uma eventual realização de Atman (Alma Universal). Não importa se atingido através de meditação ou puro amor, este objetivo universal é alcançado por todos. Deve ser observado que o Hinduísmo é uma fé prática, e é incorporado em cada aspecto da vida. Acredita igualmente no temporal e no infinito, e somente encoraja perspectivas destes princípios. Os grandes Rishis (sábios, considerados espécies de santos hindus) e também denominados como Samsárico (aquele que vive no Samsara, o plano temporal ou terreste). Aquele que segue um meio honesto e amável (Dhármico) é um Jivanmukta (alma vivente liberta). As verdades fundamentais do Hinduísmo são melhores compreendidas na frase dos Upanishades, Tat Twam Asi (Assim És Tu), e na última aspiração como segue: Aum Asato ma sad gamaya, tamaso ma jyotir gamya, mrityor ma aamritaam gamaya. Aum conduz-me da ignorância para a Verdade, das trevas para a Luz, da morte para a Imortalidade. Fonte wikipédia. Abraço. Davi.

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

CABALA - MITOS E VERDADES. Parte III

 Judaísmo. Livro Uma Guia para a Sabedoria Oculta da Cabalá. CABALA - MITOS E VERDADES. Parte III. Conferindo a Realidade. Pontos Principais. A realidade não é o que os olhos veem. Os limites da nossa percepção subjetiva. Somos feitos de quatro fatores (camadas) e podemos mudar uma, para mudar todas as livre-escolhas. O livre-arbítrio não é realmente livre com a exceção da escolha do ambiente. Agora que temos uma compreensão básica de como a Cabala se desenvolveu e o que ela é. Chegou a hora de dar uma olhada mais profunda no que ela faz para você. Esse capítulo 2, para mostrar como os Cabalistas entendem o Criador e o que o Criador deseja para você. Esse capítulo também explora de forma mais completa a natureza da realidade e o que você percebe ou não sobre ela. Você também aprende o poder da livre escolha e como concentrar sua mente sobre aquilo que lhe ajuda a mudar sua vida para melhor. Isso é tudo que existe? Olhe em sua volta. O que vê? O que ouve? Você já se perguntou se tem algo aí fora que pode ser detectado pelos seus cinco sentidos. Talvez existam outras criaturas dentro do espaço que você não percebe - mundos que são transparentes e irreconhecíveis segundo nosso ponto de vista? Para um Cabalista, nós vivemos na escuridão, incapazes de ver a maior realidade, mesmo ela estando aí. Ignorando a outra, tomamos essa visão do mundo como a única possível realidade. Mas pense na Cabala como uma maneira de o todo da realidade de forma a poder vê-la. Uma vez que isso acontece e que nós aceitamos, nossa percepção da realidade muda. Não podemos mais agir da mesma maneira como antes, quando estávamos ainda na escuridão. Isso é para nosso benefício mútuo e dos demais. Além dos cinco sentidos. Você jamais se sentiu estranho porque sua mão tem apenas 5 dedos? Provavelmente não. Apesar de podermos expandir o alcance que nossos cinco sentidos percebem, não podemos realmente imaginar quais são as percepções que nos faltam. É impossível reconhecer a verdadeira realidade porque não é algo do qual sentimos falta do mesmo jeito que a falta de um sexto sentido.  Visto que a imaginação é um produto de nossos cinco sentidos, nunca poderemos ver um objeto ou criatura que não nos seja familiar. Pense no mais criativo dos ilustradores de livros infantis ou na maioria dos artistas abstratos que você conhece. Será que seus desenhos se parecem com coisas que existem no mundo físico? Experimente imaginar a coisa mais esquisita, mesmo assim, você terá criado algo já conhecido. Ou algo que você subtraiu da sua realidade quotidiana. Ir além dos cinco sentidos não acontece literalmente. É mais uma maneira de descrever um sentido de percepção superior. Onde entendemos a interconexão de tudo e o nosso lugar nessa realidade interconectada. É possível que você e eu recebamos mutas sensações de objetos externos. Mas porque os nossos sentidos não têm as mesmas qualidades daqueles objetos, não os percebemos. Percebemos somente a parte do objeto que lembra qualidades que já possuímos. Para uma percepção completa de qualquer coisa, precisamos antes estar interiormente completos. Em outras palavras, precisamos estar conscientes de todas as formas de realidade que existem em nós. Então, a nossa imagem da realidade será completa. Como, então, alcançar o sexto sentido que aumenta a nossa percepção além da realidade convencional? De fato, ele existe em todos, mas está oculto. Lembra da intenção no capítulo anterior? Com ela, podemos ativar esse sentido adormecido e torná-lo ativo. Com persistência e estudo, começamos a adquirir a percepção do mundo Criador - o mundo da doação. Na Cabala, esse mundo é chamado de "O Mundo Superior". Com estudo e o desenvolvimento do sexto sentido, nós começamos gradualmente a sentir e a entender o Mundo Superior. Do outro lado da barreira. Nossa percepção do Mundo Superior varia dependendo do nosso estado espiritual. No início, não podemos perceber o Mundo Superior porque nossas qualidades são opostas as do Criador. Em tal estado, podemos somente perceber o mundo material no qual vivemos. Tudo aquilo que imaginamos ser o mundo espiritual é apenas invenção da nossa imaginação. Mas, a partir do momento que adquirimos a primeira qualidade espiritual, o primeiro bocado de altruísmo, adquirimos também a habilidade de ver o mundo espiritual tal como é realmente. Os cabalistas o chamam "atravessar a barreira". Uma vez que atravessamos a barreira, podemos progredir até sem professor. Porque nesse estado estaremos sob a orientação do Criador. Ainda, na maioria dos casos, os Cabalistas continuam estudando com um professor até após atravessarem a barreira. Todavia seu relacionamento os seus professores mudam drasticamente. Não precisam mais conduzir um cego pela mão. Porém, os dois andam juntos lado a lado num caminho encantado de descobertas. Além da barreira, a pessoa aprende de sua própria alma, observando-a e à sua relação com o Criador. Além da barreira, a pessoa aprende de sua própria alma, observando-a e à sua relação com o Criador. Para compreender esse processo de aprendizagem, pense em como escutamos. O mecanismo da escuta reage a uma certa pressão de fora trabalhando da mesma maneira como a pressão, mas em direção oposta, pressionando de dentro. Dessa maneira, ele se mantém em equilíbrio, permitindo-nos medir. Nese caso, o volume e o grau de som. Mas aí está o obstáculo. Para que ocorra esse tipo de pressão, tem que haver um elemento de união entre aquele que percebe e o objeto de percepção. No caso da nossa escuta, é o tímpano. Mas, qual é a força de união que pode ligar à nossa percepção ao Criador? Talvez o que precisamos seja um "tímpano espiritual", que teria a mesma qualidade daquela dada pelo Criador? Bem, tal "tímpano" existe, é a intenção introduzida no Capítulo 2. Qualquer coisa que você faça com a intenção de doar é considerado "doação" na espiritualidade. O problema é saber onde está a sua intenção de receber e transformá-la em intenção de doar. Mas detalhes serão dados a respeito no capítulo 12. Tornando-se um aluno da Cabala. A única realidade está dentro de nós. Nossa compreensão está baseada nos genes que herdamos, na nossa experiência, nossa socialização e o que já aprendemos. É tudo totalmente subjetivo. Independentemente do que os nossos sentidos captam o que eventualmente entendemos e como agimos em consequência, é muito pessoal. Por exemplo se fossemos surdos, deixariam de existir sons a nossa volta? Não teria música e o som de aviões a jato rugindo sobre nossas cabeças? Será que os passarinhos deixariam de cantar só porque não podemos ouvi-los? Para nós, sim. Não há como descrever para um surdo o som de um rouxinol. Outrossim, não há duas pessoas que ao ouvir o mesmo som tenham a mesma experiência. Tudo aquilo que você e eu acreditamos existir fora de nós. São na realidade, experiências que sentimos dentro de nós. Não temos meios de dizer como elas realmente são por dentro ou por fora. Então, quando pensamos na realidade, nós de fato estamos pensando naquilo que vemos como objetivo através das lentes de nossa própria percepção. Na procura da liberdade. Comecemos esta parte com uma alegoria do Baal HaSulam: Era uma vez um rei que queria saber quem dos seus súditos lhe era fiel. Ele anunciou que qualquer pessoa que quisesse vir trabalhar para ele seria recompensada por uma refeição festiva, digna de rei. Quando as pessoas chegaram não havia ninguém nos portões, apenas um cartaz indicando para onde se dirigir e o que fazer. Mas sem guardar sem guardas para vigiar as chegadas. Aqueles que trabalharam nas áreas designadas estavam expostos a um pó mágico, e aqueles que se dirigiram a outro lugar, não o foram. De noite quando todos se sentaram à mesa, aqueles que trabalharam segundo a indicação do cartaz. Gostaram muito da refeição, mas para aqueles que não seguiram o cartaz, a comida era a pior que eles jamais haviam provado. Assim sendo, somente aqueles que escolheram seguir o rei foram recompensados em sentir o mesmo prazer que o rei sentiu. Já foi dito, há muito tempo, que as pessoas são realmente felizes se eles estão livres de escravidão, de opressão, e livres para tomar suas próprias decisões. Da mesma maneira, as pessoas se perguntam como reconciliar o conceito de livre escolha com a existência de um poder maior. No caso dos Cabalistas - o Criador. O único desejo do Criador é para que você e eu nos sintamos realizados e felizes. Esse estado só pode ocorrer quando chegarmos ao estado do Criador, ao seu nível. Isso somente pode ocorrer quando o nosso desejo se igualar ao desejo do Criador de dar prazer. Se isso parece redundante, pois assim: é a reciprocidade que mais nos aproxima da perfeição e do desejo do Criador para conosco. Então, como podemos reconciliar essa ideia de livre arbítrio com aquilo que o Criador deseja para nós. Aqui está, passo a passo, a lógica do Cabalista: 1. O Criador é absolutamente benevolente. 2. Assim sendo, ele quer nos dar prazer absoluto. 3. Prazer absoluto significa estar no estado dele: Onisciente, onipotente e benevolente. 4. Nós, então teremos que chegar a sentir que seu estado é o estado de absoluta bondade. Em outras palavras, temos que fazer essa escolha de nossa própria vontade. 5. O livre arbítrio só pode acontecer com a condição de que o Criador não nos force. Para que possamos ser independentes Dele. 6. Por isso Ele está oculto e nos deu a existência nesse mundo, onde não sentimos o Criador de maneira vivida e tangível como os objetos físicos. 7. Sem senti-lo nem como sendo terrível ou bondoso, mas a partir de um estado completamente "neutro", podemos decidir que ser como Ele é a bondade absoluta. Falsa liberdade. A Cabala nos ensina que mesmo o Criador querendo se relacionar com sua criação, Ele se ocultou de nós dar-nos a impressão de libre arbítrio. Nossas condições, parece que podemos agir, pensar e escolher completamente independentes da presença do Criador. Nossas escolhas parecem ter sido feitas do nosso próprio querer e vontade. Não vemos ou detectamos uma mão invisível conduzindo nossas ações e podemos até dizer que nossas escolhas são realmente livres. Pense nisso dessa maneira: O Criador planejou toda sua vida, até detalhes como o que você vai almoçar hoje. Mas se o Criador planeja de antemão todas as nossas decisões e movimentos, será que o livre arbítrio é realmente livre? A resposta é que as nossas escolhas são livres quando vistas da nossa perspectiva. O fato de que o Criador sabe aquilo que decidiremos não significa nada para nós. Enquanto ainda não sabemos o que escolheremos. O princípio do prazer e da dor. Como acabamos de explicar, o único desejo do Criador é que nós nos sintamos plenos de alegria. Reconhecer essa verdade é essencial ao nosso caminho da perfeição. Não é nenhum segredo que todos nós desejamos ter prazer e que para isso fazemos de tudo para achá-lo. Mas, se a intenção do Criador é para que possamos buscar e experimentar o prazer, onde a dor encaixa nessa equação? Você e eu não tomamos nenhuma ação a menos que acreditemos que, de alguma maneira, nos fará sentir bem ou, pelo menos, melhor. Cada uma de nossas ações é o resultado de um cálculo de que elas aumentarão a nossa felicidade. Desse jeito, você e eu nos colocamos, de maneira consciente em situações dolorosas para gozar de mais prazer. Certas situações dolorosas nos levam a reavaliar o que nós acreditamos serem as causas de nossa felicidade e os gradua de acordo com a sua importância. Digamos que você tem um relógio Rolex, e o fato de lhe pertencer lhe causa grande prazer. O que ele representa como realização, o que ele mostra a respeito de seu status, e quem sabe o que mais, algum dia um ladrão aponte uma arma para seu peito lhe pedindo seu amado relógio, ou até ... A maioria das pessoas sãs aceitariam um ato doloroso. Nesse caso entregar um item que lhe é caro. Para evitar um ato ainda mais doloroso. Uma espécie de ferimento ou pior. Pense nisso como se fosse uma espécie de sistema de gradação. As pessoas podem calcular que qualquer desconforto no presente vale ter prazer no futuro... Em outros termos, a presente dor é válida para obter algum prazer no futuro. Quatro fatores, camadas, de nosso faz de conta. A Cabala afirma que 4 fatores determinam o estado da pessoa a todo momento: 1. Fonte: Isso é um ponto de partida, o bolo espiritual de genes. Mas não é uma tela um branco. Pense nisso como sendo uma parede que foi pintada e repintada muitas vezes. As camadas prévias de tinta estão debaixo da superfície. Talvez elas não possam ser vistas ou distinguidas. Todavia elas fazem parte da composição da parede, sempre o ponto de início pra o próximo, como quando pintamos uma parede, a camada atual é sempre a subcamada para a próxima demão. 2. Vias de desenvolvimento que não mudam sob a influência de fatores externos. Esse fator lida com a maneira que evoluímos como resultado de nossos genes. Essas vias podem se referir a coisas que temos tendências a gostar ou desgostar, a nossos talentos e outros traços hereditários. 3. Vias de desenvolvimento que mudam sob a influência de fatores externos. Digamos que você recebeu uma crítica ruim de seu chefe no trabalho. Você pode ficar transtornado e zangado, e sentir que o feedback não é justo. Ou você pode decidir que o seu chefe se importa com você e lhe diz o que você tem que fazer para vencer. De qualquer maneira, o evento externo da crítica do seu chefe o afetará com certeza e o mudará. 4. Vias de desenvolvimento dos próprios fatores externos. O quarto fator é o ambiente externo e sua contínua evolução. Para continuar o exemplo anterior. Se optar por trocar o seu patrão - talvez, trocando de trabalho - isto o exporia a um novo conjunto de influências. Mas estas seriam influências que você escolheu. Como mostram os quatro fatores, a confluência da origem de uma pessoa, sua natureza interna, e as forças imutáveis e mutáveis, todas contribuem para a nossa construção interior. No entanto, de todos os quatro elementos, o único que podemos modificar é o quarto, o nosso ambiente. Mas, porque os elementos se afetam mutuamente, ao mudar o nosso ambiente, podemos moldar em última instância, todos os outros elementos dentro de nós. Em resumo: Aquilo que percebemos como nosso mundo é uma imagem subjetiva do que o Criador nos deu. O Criador quer somente lhe outorgar, e quando você recebe, você vai querer ser como o Criador e lhe doar em retorno. Quatro fatores determinam o nosso estado a qualquer momento: Fonte, vias de desenvolvimento que não mudam e que derivam da natureza da pessoa, vias de desenvolvimento que mudam sob a influência de fatores externos e vias de desenvolvimento dos fatores externos em si. Se quiser mudar seus desejos e direção na vida, você deve assumir o controle do ambiente no qual vive. Abraço. Davi

domingo, 7 de dezembro de 2025

QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE A UMBANDA E O CANDOMBLÉ

Religião Afro-brasileira. Livro Revendo o Candomblé - III. Por Eurico Ramos. 4. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE A UMBANDA E O CANDOMBLÉ? Este é um tema muito polêmico e interessante, e podemos falar sobre os aspectos gerais que diferenciam os dois segmentos. A Umbanda é recente. Foi fundada aproximadamente em 1910, em Niterói, Rio de Janeiro, por um caboclo manifestado. A principal diferença entre a Umbanda e o Candomblé é a seguinte: O Candomblé é uma religião, ou seja, possui seu próprio idioma, seus costumes, suas danças e seus rituais. A Umbanda, embora nos dicionários seja definida também como religião, a meu ver, é muito mais uma seita, que emprega terminologia da língua portuguesa mescladas ao dialeto africano Kimbundo. Ao Tupi-guarani e a termos oriundos do espiritismo Kardecista. Entendo a Umbanda como uma seita porque não tem costumes próprios, não tem liturgia própria. Tudo que é professado na Umbanda em termos ritualísticos e litúrgicos é uma desinência do Candomblé e de outros cultos. Por isso, não a reconheço como uma religião, e sim como uma seita. Essas diferenças precisam ficar bem claras. A Umbanda é mais voltada ao culto dos espíritos desencarnados, estejam eles em evolução ou não. O Candomblé cultua as energias da natureza contidas nos quatro elementos, a saber: energia telúrica (terra), energia térmica (fogo), energia hídrica (água), energia eólica (ar), isso, mais especificamente nas casas de raiz Ketu. No Candomblé, o orixá se manifesta, de dentro para fora. Na Umbanda, o espírito incorpora, de fora para dentro. A nível vetorial existe uma grande diferença entre os dois tipos de manifestação. Ou seja, uma diferença direcional. Uma de fora para dentro, a outra de dentro pra fora. Por esse motivo, em alguns momentos Umbanda e Candomblé chegam mesmo a se antagonizar. Enquanto na Umbanda cultuam-se espíritos desencarnados, no Candomblé, ao contrário, utilizamos determinados elementos litúrgicos, contra egun, para manter os espíritos de desencarnados afastados do nosso ará, corpo. Por isso, a energia emanada na Umbanda é muito diferente daquela emanada no Candomblé. De dentro pra fora significa que a energia do orixá mora em cada um de nós. Manifestando-se e tornando "visível". De fora pra dentro significa que o nosso corpo é "tomado" por um espírito que não faz parte da nossa essência original. Outra grande diferença é que a Umbanda vem, lentamente, assumindo costumes do Candomblé. No entanto, na Umbanda não existe a manifestação de orixá. Na Umbanda, o que ocorre é a incorporação de espíritos que se relacionam, por algum motivo, com um determinado orixá africano. Pois orixá não fala, não dá consulta, não bate continência, não conhece copo de água, não dá passes etc. Um bom exemplo disso é o modo como se deve proceder quando uma pessoa vem da Umbanda pra o Candomblé com um histórico de incorporação de espíritos desencarnados. O erê, por exemplo, sempre é batizado com ritual litúrgico quando vem pra o Candomblé. Para nós, o erê é o que podemos chamar de "resto do orixá", cuja manifestação é mais "leve", por assim dizer, do que a manifestação do próprio Orixá. A criança de Umbanda não. Esta é, na verdade, um espírito infantil desencarnado. Como podemos ver, são coisas bem distintas. Na Umbanda, o médium é bastante "livre" e estará apto a incorporar qualquer entidade que tenha afinidade com ele. De modo completamente diferente, quando o indivíduo é iniciado no Candomblé, passará por uma série de preceitos e ebós que, lentamente, irão fechando suas aberturas no ará. Por conseguinte, tais espíritos desencarnados ficarão quase que "impossibilitados" de se manifestar novamente naquele corpo, porque os ebós do Candomblé, ortodoxo" afastam toda e qualquer energia ligada a espíritos desencarnados. Portanto, depois de uma feitura, é muito natural que as entidades de Umbanda fiquem mais afastadas do médium do que antes. Até os anos 1960, nas casas de Candomblé só eram tolerados os caboclos como remanescentes da Umbanda e por serem considerados espíritos "encantados". Já no final dos anos 1970, as entidades denominadas exus de Umbanda passaram a ser admitidas nas casas de Candomblé com maior frequência. No entanto, o exu Marabô que se manifesta na Umbanda nada tem a ver com o Barabô do Candomblé. Porque este último "não vira na cabeça de ninguém" (não incorpora, não manifesta). E até os dias de hoje, nos Candomblés tradicionais, não são toleradas e nem admitidas as manifestações de pretos velhos e afins. Abraços. Davi


sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

CONFÚCIO - OS ANALECTOS. INRODUÇÃO III

Confucionismo. www.rl.art.br. CONFÚCIO – OS ANALECTOS. INTRODUÇÃO III. O Mestre disse, sobre shao, que era perfeitamente linda e perfeitamente boa e, sobre wu, que era perfeitamente linda, mas não perfeitamente boa. (III.25) Podemos ver com essa passagem que Confúcio exigia da música e, consequentemente, da literatura, não apenas perfeição estética, mas também que fosse perfeitamente boa. Shao era a música de Shun, que, escolhido por sua virtude, subiu ao trono por meio da abdicação de Yao, enquanto wu era a música do rei Wu, que, apesar da própria virtude, conquistou o Império apenas depois de recorrer à força – daí o nome wu, “força militar”. Por esta razão, o primeiro era não apenas perfeitamente belo, mas também perfeitamente bom, enquanto o último, embora perfeitamente belo, deixou a desejar quanto à sua bondade. Que Confúcio considerasse o wu inferior ao shao não é surpreendente se lembrarmos sua ojeriza em relação ao uso da força ou à violência, que se dizia estarem entre as coisas sobre as quais ele nunca falava (VII.21). Para Confúcio, algo ser perfeitamente bom era mais importante do que a perfeição estética. Se uma peça de música é ou não aceitável depende de sua qualidade moral. A perfeição estética é importante porque é o único veículo apropriado para conduzir a perfeita bondade. A música esteticamente perfeita pode-se ouvir com alegria, mas apenas quando a perfeição moral é fundida com a perfeição estética é que pode ser experimentada a alegria que vai além de qualquer expectativa. O Mestre ouviu o shao em Ch’i e por três meses não sentiu o gosto das refeições que comia. Ele disse: “Jamais sonhei que as alegrias da música pudessem chegar a tais alturas”. (VII.14) Não é por acaso que a música que encantava Confúcio fosse precisamente shao, que ele elogiava por ser perfeitamente bom “melodias de Chang” são capazes de conquistar nossa preferência caso estejamos desatentos. Não são, portanto, pouco atraentes como música. No final das contas, não é a falta de beleza, mas a falta de correção ou moralidade que marca a música chamada de “melodias de Cheng”. As “melodias de Cheng” certamente não diziam respeito somente à música. O que é dito sobre as melodias aplica-se também às palavras, já que a falsidade existe tanto no significado das palavras quanto no charme da música. Em oposição às melodias de Cheng, encontramos Confúcio aclamando o Kuan chü, com os quais as Odes abrem: No kuan chü há alegria sem futilidade, e tristeza sem amargura. (III.20) Isso mostra que não era pela expressão de prazer em si, mas pela expressão de imoderado prazer que Confúcio condenava as melodias de Cheng. Em contraposição, o Kuan chü é um exemplo da expressão de prazer e de tristeza exatamente na mesma medida. Confúcio resumiu suas opiniões sobre poesia nas seguintes palavras: As Odes são trezentas, em número. Podem ser resumidas a uma frase: Não se desvie do caminho. (II.2). Edificação, entretanto, não é o único propósito da poesia. Entre outras coisas, as Odes podem “estimular a imaginação” (XVII.9). Quando se lê poesia, uma pessoa acorda para as similaridades subjacentes entre fenômenos que, para os de pouca imaginação, parecem não ter nenhuma relação. Tzu-hsia perguntou: “Seu encantador sorriso com covinhas, Seus belos olhos esgazeando, Padrões de cores em seda lisa.” Qual o significado de tais linhas? O Mestre disse: “As cores são acrescentadas após o branco”. “E a prática dos ritos, também vem depois?” O Mestre disse: “É você, Shang, quem iluminou o texto para mim. Apenas com um homem como você é possível discutir as Odes”. (III.8) O Mestre elogiou Tzu-hsia pela sua compreensão das Odes porque ele viu que, assim como na pintura as cores são acrescentadas depois que as linhas gerais são dadas em branco, também o refinamento de observar os ritos é inculcado em um homem que já nasceu com a substância certa. As Odes têm um outro uso, que é possibilitar que um homem fale bem. O filho de Confúcio relatou uma conversa que certa vez teve com seu pai. “Você estudou as Odes?” “Não.” “A menos que estude as Odes, não será capaz de sustentar uma conversa” (XVI.13). As Odes eram uma antologia que todo homem educado conhecia plenamente, de modo que uma citação correta delas extraída podia ser usada para comunicar a opinião de alguém em situações delicadas ou que requeressem extrema polidez. Habilidade de falar por meio do disfarce de uma citação era particularmente útil em conversas diplomáticas. É por essa razão que Confúcio disse: “Se um homem que conhece as trezentas Odes de cor (...) se mostra incapaz de ter iniciativa própria quando enviado para reinos estrangeiros, então qual a utilidade das Odes para ele, independentemente de quantas ele tenha aprendido?” (XIII.5). Esse jeito de usar as Odes não se limita a situações diplomáticas. Ao criticar o governante e seu governo, um homem também deveria recorrer a citações das Odes. Como colocou o autor anônimo do prefácio de Kuan chü, “Aquele que fala não ofende, ao passo que aquele que ouve pode entender o aviso”. Isso é importante em sistemas políticos nos quais ofensas feitas àqueles no poder podem facilmente causar sérios problemas a alguém. E há outra vantagem. Quando a verdadeira opinião de alguém é amortecida por uma citação, é sempre possível que esse alguém negue, posteriormente, que tal significado, seja qual for, tenha sido intencional. Por essa razão, tais práticas persistiram até os dias de hoje. Em Os analectos há um bom exemplo desse costume de falar veladamente. O príncipe K’uai K’ui, o filho do duque Ling, de Wei, fugiu para Chin depois de uma fracassada tentativa de assassinar Nan Tzu, a famosa mulher do seu pai. Quando da morte do duque de Ling, o filho de K’uai K’ui, Che, sucedeu ao seu avô. Com o apoio do Exército Chin, o príncipe K’uai K’ui se instalou em uma cidade fronteiriça de Wei, esperando por uma oportunidade de destronar seu filho. Jan Yu queria saber se Confúcio estava do lado de Che, mas já que tanto ele quanto Confúcio eram visitantes naquele reino não lhes cabia serem vistos discutindo abertamente as políticas de Wei; e se uma pergunta direta lhe tivesse sido colocada, Confúcio muito provavelmente teria se recusado a respondê-la. Tzu-kung, que tinha a reputação de ser um orador talentoso (XI.3), ofereceu-se para tentar descobrir. Assim foi como correu a conversa. Ele entrou e disse: “Que tipo de homens eram Po Yi e Shu Ch’i?”. “Eram excelentes anciãos.” “Tinham alguma queixa?” “Procuravam a benevolência e a encontraram. Então, por que teriam qualquer queixa?” Sequer uma palavra foi dita sobre Wei, mas Tzu-kung ficou satisfeito por ter obtido a resposta. Ele saiu e disse: “O Mestre não está do lado dele” (VII.15). Po Yi e Shu Ch’i eram os filhos do senhor de Ku Chu. O pai queria que Shu Ch’i, o filho mais novo, o sucedesse, mas, quando ele morreu, nenhum dos filhos estava disposto a tirar do outro a sucessão, e ambos foram às montanhas e passaram a viver como eremitas. Ao aprovar Po Yi e Shu Ch’i em sua tentativa de entregar a sucessão um ao outro, Confúcio estava implicitamente reprovando Che, que estava envolvido em uma vergonhosa briga com o próprio pai pelo trono. Até agora olhamos apenas para os ensinamentos morais de Confúcio relacionados ao seu ideal de cavalheiro. Há, entretanto, outro lado de seus ensinamentos que foi amplamente negligenciado pelos intelectuais e estudiosos. É a sua preocupação com o que pode ser descrito como questões de método. No âmago desse aspecto dos seus ensinamentos está a oposição entre hsüeh (aprendizado) e ssu (pensamento). Para compreender o significado desta oposição, precisamos, antes de tudo, descobrir o que constituía aprendizado. Um rápido exame das dificuldades que se encontram em traduzir a palavra hsüeh se mostrará esclarecedor. A escolha natural em inglês por um equivalente é o verbo “to learn” [aprender], mas muito frequentemente somos forçados, pelas exigências da língua inglesa, a usar “to study ” [estudar]. A razão é a seguinte: o verbo “aprender” requer um objeto explícito. Por exemplo, não dizemos “ele aprende”. Podemos, é claro, dizer “Ele aprende rápido”, ou “Ele está disposto a aprender”, mas esses são casos especiais em que o ponto principal da frase não está na palavra “aprender”. Por outro lado, dizemos “ele estuda”. Há, entretanto, outras diferenças entre “aprender” e “estudar”. Tendemos a “aprender” algumas coisas mas “estudar” outras. Por exemplo, uma criança aprende a andar, mas um entomólogo estuda o comportamento das formigas. Aprendemos algo prático; estudamos algo teórico. Quando se trata de aprender, o foco está naquele que aprende; ao estudar, o foco está no objeto de estudo. Ao aprender algo novo, um homem se aprimora. Ou ele adquire uma nova técnica ou se torna mais proficiente em uma técnica antiga. Ao estudar, um homem adquire novos conhecimentos, mas esses novos conhecimentos não necessariamente fazem alguma diferença para ele do ponto de vista prático. Essa diferença de uso entre “aprender” e “estudar” é importante para o entendimento de hsüeh. Hsüeh está muito mais perto de “aprender” do que de “estudar”. Do mesmo modo que “aprender”, hsüeh faz diferença para o homem enquanto pessoa. É uma atividade que capacita o homem a adquirir uma habilidade nova ou se tornar mais proficiente em uma habilidade já adquirida. Mas, no contexto confucionista, o ponto mais importante é lembrar que é hsüeh que capacita o homem a se tornar um homem melhor do ponto de vista moral. Assim, a moralidade, na visão de Confúcio, é algo muito próximo à ideia de habilidade. Pode ser transmitida de mestre a discípulo. É por causa dessa possibilidade que Confúcio dava tanta ênfase a hsüeh. Embora “aprender” seja um equivalente muito mais satisfatório para hsüeh do que “estudar”, uma tentativa de se ater rigidamente ao uso de “aprender” pode, por si só, dar margem ao surgimento de dificuldades. Quando, por exemplo, Confúcio fala sobre hsüeh shih, é natural traduzir isso por “estudar as Odes”, mas isso, conforme vimos, transforma uma atividade prática em uma teórica. Porém, traduzir a frase por “aprender as Odes” sugere aprender as Odes de cor. Embora isso sem dúvida seja parte do significado, definitivamente não é todo o significado nem mesmo a parte mais importante dele. Como vimos, a principal proposta de hsüeh shih é tanto aprimorar a sensibilidade de uma pessoa quanto capacitá-la a usar linhas das Odes para disfarçar o que quer dizer. Assim, às vezes o tradutor se vê em dificuldade para encontrar um equivalente satisfatório para hsüeh. “Aprender” é algo que diz respeito a toda a sabedoria acumulada do passado. Embora não exclua necessariamente conhecimento teórico, a ênfase, conforme é previsível, é no aprendizado moral. E essas verdades morais são, na maior parte das vezes, epitomizadas na forma de preceitos. Os ritos eram, claro, um código para tais preceitos, embora provavelmente também devem ter existido preceitos que não eram contemplados por esses códigos. Que os ritos formavam uma grande parte daquilo que um homem precisava aprender é confirmado por duas passagens de Os analectos. Na primeira, Confúcio disse: “A menos que um homem tenha o espírito dos ritos (...) ao ter coragem ele vai se tornar indisciplinado e, ao ser íntegro, ele vai se tornar intolerante” (VIII.2). Entretanto, em outra passagem ele disse: “Amar a determinação sem amar o aprendizado pode levar à intolerância” (XVII.8). As duas declarações são praticamente idênticas, exceto pelo fato de que em uma temos “os ritos”, enquanto na outra temos “aprender”. Se “aprender” tem um papel tão importante nos ensinamentos de Confúcio, por que não aparece mais frequentemente em Os analectos? Porque “aprender” não é o único termo que é usado para a atividade. Muito frequentemente Confúcio usa, no lugar de “aprender”, wen (ouvir) e, mais raramente, chien (ver). Em especial, “ouvir” é usado quando há alguma referência ao aprendizado de preceitos específicos ou quando “aprender” é colocado em contraste com a ação de colocar em prática aquilo que é aprendido. Aqui estão exemplos do ensinamento de um preceito específico. O Mestre disse: (...) “Sempre ouvi dizer que um cavalheiro dá para ajudar os necessitados, e não para manter os ricos em uma vida farta”. (VI.4). Ch’en Ssu-pai disse: “Ouvi dizer que um cavalheiro não demonstra parcialidade. E mesmo assim o seu Mestre é parcial?”. (VII.31) Tzu-hsia disse: “Já ouvi dizer: vida e morte são uma questão de Destino; riqueza e honra dependem do Céu”. (XII.5) Confúcio disse: “Sempre ouvi dizer que o chefe de um reino ou de uma família nobre preocupa-se não com subpopulação, mas com a distribuição desigual; não com a pobreza, mas com a instabilidade”. (XVI.1) Tzu-yu respondeu: “Há algum tempo ouvi do senhor, Mestre, que o cavalheiro instruído no Caminho ama seus semelhantes e que os homens vulgares instruídos no Caminho são fáceis de serem comandados”. (XVII.4) Tzu-lu disse: “Há algum tempo ouvi do senhor, Mestre, que o cavalheiro não entra nos domínios daquele que não pratica o bem”. (XVII.7) Tzu-chang disse: “Isso é diferente do que eu ouvi. Ouvi que o cavalheiro honra aqueles que lhe são superiores e é tolerante para com a multidão, que é cheio de elogios para com os bons ao mesmo tempo em que se apieda dos incapazes”. (XIX.3) A relação entre ouvir e colocar em prática o que se ouviu é claramente abordada nas seguintes passagens: O Mestre disse: “Use seus ouvidos (wen) amplamente, mas deixe de fora o que é duvidoso; repita o resto com cuidado e você cometerá poucos erros. Use seus olhos (chien) amplamente e deixe de fora o que é perigoso; coloque o resto em prática com cautela e você terá poucos arrependimentos”. (II.18) A única coisa que Tzu-lu temia era que, antes que pudesse colocar em prática algo que aprendera, lhe ensinassem outra coisa diferente. (V.14) O Mestre disse: “Estas são as coisas que me causam preocupação: (...) incapacidade de, quando me é dito (wen) o que é correto, tomar uma atitude”. (VII.3) O Mestre disse: “Faço amplo uso de meus ouvidos e sigo o que é bom daquilo que ouvi; faço amplo uso dos meus olhos e retenho na minha mente o que vi”. (VII.28) Tzu-lu perguntou: “Deve-se imediatamente colocar em prática o que se ouviu?”. (XI.22) A inter-relação entre aprender e colocar em prática o que se aprendeu é forte porque entre as coisas que se aprende estão os preceitos, e qual seria a utilidade de aprender um preceito se não se fizesse uma tentativa de colocá-lo em prática? Daí a preocupação de Confúcio quanto a sua incapacidade de se mover para uma nova posição assim que ele aprendeu que essa posição é moralmente correta e o medo de Tzu-lu de se atrasar se preceitos surgirem mais rápido do que ele pode acompanhar. Mas isso não significa que se deve colocar um preceito em prática simplesmente porque é um preceito. Deve-se, antes de tudo, refletir profundamente quanto a se ele é correto. É por isso que Confúcio está constantemente aconselhando que se deve escolher daquilo que foi aprendido apenas o que é bom e deixar de fora o que é duvidoso. A única maneira de fazer isso é por meio do pensamento. Isso nos traz de volta à questão de aprender e pensar. Há um ditado bem conhecido em Os analectos: “Se um homem aprende com os outros mas não pensa, ele ficará confuso. Se, por outro lado, um homem pensa mas não aprende com os outros, ele estará em perigo” (II.15). Deve-se aprender com os sábios do passado e do presente, mas, ao mesmo tempo, deve-se tentar aprimorar aquilo que foi aprendido. Embora tanto aprender quando pensar sejam indispensáveis, Confúcio parece considerar o ato de aprender, de alguma forma, mais importante. Ele disse: “Uma vez passei todo o dia pensando, sem comer nada, e toda a noite pensando sem ir para a cama, mas descobri que nada ganhei com isso. Teria sido melhor gastar o tempo estudando” (XV.31). Aqui Confúcio está falando que se devêssemos nos entregar a uma busca apenas, então aprender seria mais proveitoso do que pensar. Um momento de reflexão mostrará que essa visão é bastante razoável. Se a meta de um homem é conseguir avanços de conhecimento, tanto pensamento quando aprendizado são igualmente necessários, mas, em casos em que o homem não tem esse objetivo, por meio do aprendizado ele pode ao menos ganhar algo, ao tomar conhecimento do que já é sabido, mas dificilmente terá qualquer ganho se ficar pensando in vácuo. Tomemos um exemplo que ilustra o modo como Confúcio refletiu sobre os ritos existentes. O Mestre disse: “Os ritos prescrevem um boné cerimonial de linho. Hoje, usamos seda preta no lugar. Isso é mais frugal, e eu sigo a maioria. Os ritos prescrevem que a pessoa prostre-se antes de subir os degraus. Hoje faz-se isso após tê-los descido. Isso é casual, e, embora indo de encontro à maioria, sigo a prática de prostrar-me antes de subir”. (IX.3) Aqui temos um caso claro de uma visão crítica de Confúcio quanto aos ritos. Ele concluiu que em um determinado caso estava preparado para seguir a maioria, mas não no outro caso. Ele chegou a essa conclusão voltando aos princípios que subjazem aos ritos em questão. No segundo caso, o princípio subjacente é respeito, enquanto no primeiro caso há igualmente frugalidade. Que o respeito devesse ser o princípio subjacente é nada menos do que algo a ser esperado, mas que a frugalidade devesse ser tal princípio pode parecer surpreendente, até que lembremos da resposta de Confúcio para uma pergunta quanto aos fundamentos dos ritos. Parte desta resposta foi: “Com os ritos, é melhor pecar pela simplicidade do que pela extravagância” (III.4). Todas as coisas sendo iguais, é melhor ser frugal. O gorro de seda cinza é mais frugal, mas nada perde em respeito. Daí a aprovação de Confúcio. Prostração depois de subir os degraus, por outro lado, é casual, em outras palavras, menos respeitoso, e não tem ganhos compensatórios. Daí a desaprovação de Confúcio. Conforme vimos, preceitos são muitas vezes introduzidos pela fórmula “Ouvi dizer”. Muitas vezes, entretanto, essa fórmula é dispensada, particularmente nos casos em que o preceito está para ser examinado. Nesses casos, a pergunta “O que você acha desse dizer?” é simplesmente colocada. Por exemplo: Tzu-kung disse: “‘Pobre sem ser servil, rico sem ser arrogante’. O que o senhor pensa desse provérbio?” O Mestre disse: “É bom, mas melhor ainda é: ‘Pobre, mas alegre no Caminho; rico, porém observador dos ritos’” (I.15). Aqui o preceito citado por Tzu-kung trata da superação da pobreza e da riqueza como obstáculos para a realização moral. Confúcio examina o preceito sob esse aspecto e propõe uma versão aprimorada. Alguém disse: “‘Pague uma injúria com uma boa ação’. O que você acha desse ditado?”. O Mestre disse: “Com o que, então, você paga uma boa ação? Deve-se pagar a injúria com a retidão, mas pagar com uma boa ação apenas uma boa ação”. (XIV.34) Aqui Confúcio critica o provérbio existente “Pague uma injúria com uma boa ação” por ela ser generosa demais, já que não deixa nada com o que se pagar uma boa ação. É suficiente, na visão de Confúcio, que não sejamos motivados pela vingança. O que Confúcio advoga é o caminho do meio entre vingança e generosidade excessiva. De exemplos como esses, em que Confúcio examina criticamente preceitos existentes, podemos inferir algumas coisas sobre sua opinião geral quanto ao problema das regras e dos princípios. Na época de Confúcio, se alguém devesse explicitar o problema, seria correto colocá-lo em termos de li (os ritos) e yi (retidão). Já abordamos a relação entre os dois no contexto da moralidade dos atos e dos agentes. Agora examinaremos mais detidamente essa relação. Os ritos são um código de regras de comportamento. Embora os ritos, por serem algo herdado da Antiguidade, carregassem grande autoridade, mesmo assim essa autoridade não pode garantir a correção deles. Se eles estão corretos ou não depende de estarem à altura das exigências do que é correto. Serem ou não corretos, por outro lado, é o critério pelo qual todos os atos têm, em última instância, de ser avaliados. Assim, há uma íntima relação entre li e yi. O exame crítico dos preceitos existentes é precisamente isso, sujeitar as regras à prova de se ele condiz ou não ao que é considerado correto. Mas por que uma regra que foi considerada correta no passado deveria ser submetida a novo e fresco escrutínio? A resposta é a seguinte: primeiro, uma regra, uma vez formulada em termos precisos, não pode se adaptar a circunstâncias cambiantes. O que foi correto em uma época anterior não necessariamente continua sendo correto em uma época subsequente. Essa consciência de que as regras têm de estar de acordo com o os tempos – que mudam – é claramente sentida por Confúcio. Ele disse: “Os Yin basearam-se nos ritos de Hsia. Pode-se saber o que foi acrescentado e o que foi omitido. Os Chou basearam-se nos os ritos de Yin. Pode-se saber o que foi acrescentado e o que foi omitido” (II.23). Aqui podemos ver que, embora os ritos de uma época posterior tenham tido como base aqueles de uma época anterior, por causa do passar do tempo novas regras tiveram de ser acrescidas, e outras, obsoletas, tiveram de ser suprimidas. Essa consciência de que aquilo que é apropriado muda com o tempo foi uma das características diferenciadoras do pensamento de Confúcio, tanto que Mêncio o descreve como “o sábio cujas ações eram apropriadas ao seu tempo” (Mencius, V.B.1). Em segundo lugar, podem surgir circunstâncias em que uma regra entre em conflito com outra. Tal conflito apenas pode ser solucionado lançando-se mão de princípios morais básicos. Em terceiro lugar, mesmo com uma regra que possa ser satisfatória em si, há ocasiões em que a observância dela entra em conflito com a ideia por trás da regra. Por todas essas razões, é preciso sempre estar alerta à possibilidade de que uma regra necessite reformulação a qualquer momento e em qualquer ocasião. Até agora, apenas observamos o problema do ponto de vista da subordinação da regra ao princípio. Igualmente, o princípio não pode existir sem regras que lhe deem expressão. Princípios morais precisam ser aplicados na prática, e qualquer ato que dê expressão a um princípio moral será, na verdade, um exemplo de uma ou outra regra. Isso é, conforme vimos, especialmente verdade nos casos em que o objetivo de um ato é mostrar certa atitude, por exemplo, respeito. Nenhuma ação é, inerentemente, um sinal de respeito. Uma ação pode apenas servir para demonstrar respeito dentro de uma certa convenção, e uma convenção apenas pode ser pronunciada, declarada, em uma regra. Dessa forma, enquanto uma regra pode continuar correta apenas sendo constantemente medida e avaliada mediante necessidades de princípios, um princípio não pode existir sem regras, no que diz respeito a ter expressão. Esse diálogo entre regra e princípio constitui a essência do sistema de pensamento moral de Confúcio. Nesse sentido, a abordagem de Confúcio pode ter algo a oferecer ao debate sobre se moral é algo objetivo ou uma convenção. O argumento funciona mais ou menos da seguinte forma. Se moralidade é uma convenção, não tem nenhuma objetividade. Apenas se podem julgar regras morais dentro das convenções de um dado sistema social do qual elas fazem parte. Não há como julgá-las misturando critérios de sistemas diferentes. Por outro lado, se a moralidade é algo objetivo, como ficamos sabendo que essa realidade objetiva nos coloca problemas epistemológicos? A abordagem de Confúcio parece oferecer uma saída. Todas as regras morais têm implícito algum princípio ou princípios. Uma regra pode, portanto, ser julgada por seu sucesso em realizar esses princípios. Em outras palavras, regras morais têm embutidos padrões pelos quais podem ser julgadas. Se deixam a desejar, isso aponta para o caminho do seu aprimoramento. Por outro lado, os princípios implícitos são ideais que se tornam mais claros para nós na medida em que são usados como padrões para criticar as regras. Adquirimos uma visão mais aprofundada sobre um princípio moral ao descobrir as inadequações das regras que lhe dão expressão. Além de refletir sobre questões morais do passado, pensar também é importante se conseguimos ver conexões entre fenômenos que à primeira vista parecem não ter relação. Vimos que isso é importante tanto na esfera da literatura quanto na esfera da moralidade. Na literatura, vimos que as Odes podem estimular a imaginação de modo que seja possível ver similaridades subjacentes entre fenômenos díspares. No campo da moralidade, é por meio do método shu que podemos esperar ser capazes de praticar a benevolência, e shu consiste em usar a nós mesmos como analogia para descobrir sobre as preferências e aversões de outros seres humanos. Confúcio não toleraria nenhum discípulo que, por não conseguir pensar, fosse incapaz de descobrir novas aplicações para princípios já conhecidos. Ele disse: “Se mostro um dos cantos de um quadrado para alguém e essa pessoa não consegue encontrar os outros três, não mostro uma segunda vez”. De fato, Confúcio acreditava tanto no valor do estudante que fizesse o máximo de esforço para pensar por si próprio que ele disse, na mesma ocasião: “Nunca explico nada para alguém que não esqueça do mundo ao tentar entender um problema ou que não entre em um frenesi ao tentar se expressar por palavras” (VII.8). Vimos que Confúcio elogiou Tzu-hsia como alguém com quem valia a pena discutir as Odes (III.8). Ao elogiar Tzukung de modo similar, ele acrescentou a seguinte observação: “Diga algo a este homem, e ele poderá ver sua relevância em relação ao que não foi dito” (I.15). Essa também é a característica essencial para um professor. “Merece ser um professor o homem que descobre o novo ao refrescar na sua mente aquilo que ele já conhece” (II.11). Inteligência é algo que Confúcio valorizava muito. O maior elogio feito por ele foi dirigido a Yen Hui, que não apenas era superior aos seus colegas discípulos em matéria de compreensão moral como também em inteligência. Quando Tzukung, que não era homem de pouca inteligência, observou “Como eu ousaria me comparar a Hui? Quando lhe é dita uma coisa, ele compreende cem coisas. Quando me é dita uma coisa, eu entendo apenas duas”, Confúcio consolou-o dizendo: “De fato, você não é tão bom quanto ele. Nenhum de nós dois é tão bom quanto ele” (V.9). Confúcio era um grande pensador, assim como um grande ser humano. Na condição de pensador, ele propunha um ideal para todos os homens. Este consistia na possibilidade de uma pessoa aperfeiçoar o próprio caráter. A realização desse ideal envolve não apenas ser benevolente com outros indivíduos, mas também trabalhar arduamente pelo bem-estar do povo. Por isso Confúcio não podia oferecer nenhuma esperança de recompensa, seja nesta vida ou na próxima. A recompensa reside no ato de fazer o que é bom, e isso constitui a alegria de perseguir o Caminho. Ele tinha grande respeito pela sabedoria do passado, mas não a aceitava sem fazer críticas. Para ele, o único modo de progredir é refletir sobre aquilo que nos foi entregue pelo passado. Confúcio era tudo, menos dogmático: “recusava-se a fazer conjecturas ou a ser dogmático; recusava-se a ser inflexível ou egocêntrico” (IX.4). Ao descrever a si próprio, ele disse: “Não tenho preconceitos quanto ao que deve e ao que não deve ser feito” (XVIII.8). Não se pode negar que, ao longo dos séculos, o confucionismo incorporou muitos dogmas e desenvolveu tendências autoritárias, mas seria tão injusto acusar disso Confúcio quanto culpar Jesus pelos excessos da Igreja Católica ao longo da história. Confúcio era modesto quanto às suas próprias realizações. Ele disse: “Como posso me considerar um sábio ou um homem benevolente?” (VII.34). Apesar dessa modéstia, ele provavelmente realizou, em grande parte, o seu próprio ideal. De outra forma, seria impossível justificar a reverência e a afeição a ele demonstradas pelos discípulos, que eram muito diferentes em termos de talento e temperamento. Yen Hui, que era excepcional em matéria de moral e inteligência, disse-lhe certa vez, quando Confúcio achou que ele tinha sido morto em uma emboscada: “Enquanto o senhor, Mestre, estiver vivo, como eu ousaria morrer?” (XI.23). Ele descreveu o ideal do Mestre e seu método de ensino da seguinte maneira: Quanto mais o observo, mais alto ele parece. Quanto mais o pressiono, mais duro ele se torna. Vejo-o à minha frente. De repente, está atrás de mim. O Mestre é bom em conduzir alguém passo a passo. Ele me estimula com a literatura e me traz de volta às coisas essenciais por meio dos ritos. Eu não conseguiria desistir nem que quisesse, mas, uma vez que dei o melhor que pude, ele parece levantar-se acima de mim e não consigo segui-lo, por mais que eu queira. (IX.11) Tzu-kung, o homem do mundo que teve uma carreira bem-sucedidda tanto como diplomata quanto mercador, fez o seguinte comentário quando alguém criticou Confúcio: Não é possível difamar Chung-ni. Em outros casos, homens de excelência são como montanhas que uma pessoa pode escalar. Chung-ni é como o sol e a lua, que ninguém escala. Mesmo que alguém quisesse escapar do sol e da lua, como isso deporia contra eles? Isso somente serviria para mostrar mais claramente que esse alguém não teve consciência do seu próprio tamanho. (XIX.24) Mais adiante ele disse: O Mestre não pode ser igualado, assim como o céu não pode ser medido. (...) Em vida, ele é glorificado e, na morte, será pranteado. Como pode ele ser igualado? (XIX.25) Tseng Tzu, o discípulo que levava sua responsabilidade moral tão seriamente (VIII.7), disse, de acordo com Mencius, o seguinte sobre Confúcio: Banhado pelo Rio e por Han, alvejado pelo sol de outono, tão imaculado era ele que seu testemunho não pode ser ultrapassado. (III.1.4) Mêncio deu eco a esse sentimento quando disse: Desde que o ser humano veio para este planeta, nunca houve um maior do que Confúcio. (II.A.2) De sua parte, Confúcio nunca se disse superior em inteligência ou em qualidades morais. Ele disse: “Não nasci com conhecimento, mas, por gostar do que é antigo, apressei-me em buscá-lo” (VII.20), e “Em um vilarejo de dez casas, sempre haverá aqueles que são meus iguais quanto a fazer o melhor que podem pelos outros e quanto a ser fiéis às próprias palavras, mas dificilmente terão tanta vontade de aprender quanto eu tenho” (V.28). Em ambos os dizeres, tudo o que ele proclamava era sua sede de aprender. Esta era igualada apenas por sua sede de ensinar. Ele disse: “Silenciosamente depositar conhecimento na minha mente, aprender sem perder a curiosidade, ensinar sem cansar: isso não me apresenta dificuldade alguma” (VII.2). Novamente, ao negar que fosse um sábio, ele disse: “Talvez possa ser dito sobre mim que aprendo sem esmorecer e que ensino sem me cansar” (VII.34). Como professor, ele era capaz tanto de criticar seus discípulos com firmeza quanto de provocá-los de forma bemhumorada. Quando Tsai Yü tirou um cochilo durante o dia, Confúcio disse: “Um pedaço de madeira podre não pode ser esculpido, tampouco pode uma parede de esterco seco ser aplainada” (V.10). De novo, quando o mesmo discípulo duvidou da sabedoria do período de luto de três anos, Confúcio disse: “Quão insensível é Yü. (...) Os pais de Yü não lhe deram três anos de amor?” (XVII.21) Na ocasião em que Confúcio foi até Wu Ch’eng e encontrou Tzu-y u ensinando música às pessoas, ele brincou com o discípulo ao dizer: “Para que usar um cutelo de boi para matar uma galinha?” Quando Tzu-y u levou isso a sério e começou a defender suas próprias ações, Confúcio admitiu que estava apenas brincando (XVII.4). A impressão predominante que fica de Confúcio, ao se ler Os analectos, é a de um homem cuja vida era cheia de alegrias. Quando o prefeito de She perguntou a Tzu-lu que tipo de homem Confúcio era, Tzu-lu não respondeu. O comentário de Confúcio foi: Por que você não falou simplesmente o seguinte: ele é o tipo de homem que esquece de comer quando está distraído com um problema, que é tão alegre que esquece suas preocupações e que não percebe a aproximação da velhice? (VII.19) Ele descreve essa alegria em termos mais concretos quando diz: Ao comer arroz comum e ao beber água, ao utilizar o próprio cotovelo como apoio, a alegria será encontrada. Riqueza e status conquistados por meios imorais têm tanto a ver comigo quanto as nuvens que passam. (VII.16) Não há dúvida de que parte dessa alegria vinha da busca do Caminho. Confúcio disse: “aos setenta, segui o meu coração, sem passar dos limites” (II.4). É compreensível que ele tenha ficado alegre quando, após toda uma vida de cultivação moral, ele descobriu que aquilo que ele desejava naturalmente coincidia com aquilo que era moral. Mas a alegria não era confinada ao lado moral da sua vida. Em uma ocasião em que ele estava com um grupo de discípulos, Confúcio pediu que dissessem o que gostariam de fazer. Quando terminaram, Confúcio demonstrou que sua simpatia estava com Tseng Hsi, que dissera: No final da primavera, uma vez confeccionadas as roupas da estação, eu gostaria de, junto com cinco ou seis adultos ou sete meninos, ir tomar banho no rio Yi e aproveitar a brisa no Altar da Chuva e então voltar para casa entoando poesias. (XI.26) Eis aqui um homem que, de fato, apreciava as alegrias da vida. Qualquer um que tenha lido os dizeres de Confúcio atentamente e sem preconceitos com certeza achará difícil reconhecer o incorrigível conservador e arqui vilão no qual às vezes ele é transformado. Confúcio é, talvez, uma nova instância do profeta-modelo. D.C.L. www.rl.art.br. Abraço. Davi