Cristianismo. Livro O Evangelho de Deus. Por Watchman Nee (1903-1972). A JUSTIÇA DE DEUS - Parte I. Nos primeiros capítulos, vimos que o homem pecou e que a salvação de Deus é baseada no fato de o homem ter pecado. Se o homem não tivesse pecado, não haveria necessidade de salvação. Uma vez que o homem pecou, Deus deu a lei para mostrar-lhe que ele pecou. A lei de Deus veio ao mundo a fim de que as transgressões humanas abundassem. No princípio, o homem tinha apenas pecado; ele não tinha transgressões. Mas quando a lei veio, o homem não só possuía pecado, mas também transgressões. Após transgredir, o homem percebe que é um pecador. Graças ao Senhor, porque apesar de termos pecado e transgredido, Deus, que é amor, propôs-se a dar-nos graça e misericórdia. Ele propôs fazer algo para nós a fim de resolver os problemas que não podemos resolver por nós mesmos. Neste capítulo, contudo, devemos ver algo mais. Apesar de Deus nos amar e mostrar-se misericordioso para conosco e apesar de pretender plenamente nos dar graça, há algo que torna muito difícil para Deus fazê-lo. Deus não pode conceder-nos graça instantaneamente; Ele não pode dar-nos vida eterna diretamente. Há um dilema que Deus deve resolver antes de poder conceder-nos graça. O problema, o qual a Bíblia menciona frequentemente, é a própria justiça de Deus. A expressão justiça de Deus tem confundido muitos teólogos há séculos. Se lermos a Bíblia sem conceitos nocivos ou noções preconcebidas, Deus nos mostrará o que é a Sua justiça. Podemos ver essa questão claramente sem muita dificuldade. Neste capítulo, desejamos ver, pela graça de Deus, o que é a justiça de Deus. Em outras palavras, esperamos ver a dificuldade que Deus encontra quando Ele nos salva. Sua Salvação Combinada com Sua Justiça. Se Deus vai salvar-nos, Ele deve fazê-lo de modo que combine ou se ajuste a Ele mesmo. Se Deus vai dar-nos salvação, Ele não pode dar-nos de maneira que contrarie Sua natureza, Seu método e Sua maneira. Somos pecadores cheios de transgressões e, por isso, não temos nenhuma noção de justiça. Se quiséssemos ser salvos, provavelmente usaríamos todos os meios possíveis, quer retos ou tortuosos, bons ou maus. Tentaríamos mil e uma maneiras para sermos salvos. Desde que sejamos salvos de alguma maneira, isso já nos basta. Não nos preocupamos se o procedimento é adequado ou se o método está certo. Desde que sejamos salvos, estamos satisfeitos. Nem mesmo atentamos de onde vem a salvação e se está ou não certa. Nesse sentido somos como ladrões. O que preocupa um ladrão é conseguir dinheiro. Ele não se preocupa de onde o dinheiro vem. Desde que ganhe dinheiro, fica satisfeito. Ele não tem o conceito do certo e do errado; ele não tem o conceito de justiça e de injustiça. Mas devemos perceber que a salvação não é somente uma questão de sermos salvos, mas de Deus salvar-nos. Embora desejemos ser satisfeitos não importando como somos salvos, Deus não pode dizer que tudo o que implica na salvação se resume em salvar-nos, sem se importar se a maneira pela qual somos salvos está correta ou não. Deus, sem dúvida, deseja dar-nos graça e salvar-nos. Indubitavelmente, Ele quer dar-nos Sua vida. Deus é cheio de amor, e Ele está mais do que desejoso de que sejamos salvos. Mas se Deus vem salvar-nos, Ele tem de fazê-lo de modo excelente. Por isso, o fato de Deus nos salvar é um grande problema. Deus realmente deseja salvar os homens. Mas qual o método a ser usado por Ele para que o homem possa ser salvo da maneira justa? Que método há que seja o mais racional? Que método há que se compare com Sua própria dignidade? É fácil ser salvo, mas é difícil ser salvo justamente. Eis por que a Bíblia fala muito sobre a justiça de Deus. Ela nos diz repetidamente que Deus salva o homem de maneira compatível com Sua justiça. Que é a justiça de Deus? A justiça de Deus é o modo de Deus agir. Amor é a natureza de Deus, santidade é a disposição de Deus e glória é o próprio ser de Deus. Justiça, no entanto, é o proceder de Deus, Sua maneira e Seu método. Uma vez que Deus é justo, Ele não pode amar o homem meramente conforme o Seu amor. Ele não pode conceder graça ao homem meramente conforme Ele quer. Ele não pode salvar o homem meramente conforme o desejo do Seu coração. É verdade que Deus salva o homem porque o ama. Mas Ele deve fazê-lo de um modo que esteja de acordo com Sua justiça, Seu proceder, Seu padrão moral, Sua maneira, Seu método, Sua dignidade e Sua majestade. Sabemos que para Deus é fácil salvar o homem. Mas não é fácil para Deus salvá-lo de maneira justa. Apenas imagine quão fácil seria para Deus salvar-nos se a questão da justiça não fosse um problema. Não haveria dificuldade alguma. Se Deus não nos amasse, nada poderia ser feito por nós e tudo seria sem esperança. Mas Deus nos amou e teve misericórdia de nós. Além disso, Ele pretende dar-nos graça. Se a justiça não contasse, Deus poderia dizer: “Você pecou? tudo bem, apenas não cometa o erro novamente”. Deus, assim, poderia ignorar nossos pecados. Ele poderia dispensar-nos e mandar-nos embora. Se Deus não julgasse o pecado do pecador e tratasse seus pecados conforme a lei, mas perdoasse descuidadamente, onde então estaria Sua justiça? Aqui reside a dificuldade. Algum tempo atrás, um irmão se envolveu numa questão complicada e foi posto na prisão pelo governo. Eu sabia que, embora ele não estivesse completamente sem culpa, o erro era realmente de outra pessoa. Por causa disso, quis ajudá-lo. Fui até Nanquim - China e conversei com algumas pessoas que estavam envolvidas no caso. Eu lhes falei sobre a situação e pedi-lhes que ajudassem em alguma coisa. Éramos nove ali e todos éramos muito ocupados. Tivemos nove reuniões num período de onze dias, tentando descobrir um modo de ajudar aquele homem. Finalmente, todas essas pessoas admitiram que tinham a maneira e a autoridade para livrá-lo, mas não poderiam fazê-lo sem incriminar a si mesmos. Então, tivemos de achar um modo de libertar o homem que fosse, ao mesmo tempo, legal. Sem dúvida alguma, Deus é cheio de amor para conosco. Deus quer salvar-nos. Mas Ele também deseja fazê-lo legalmente. Se não nos salvar legalmente, Ele não pode salvar-nos de maneira nenhuma. O amor de Deus é limitado por Sua justiça. Deus não pode agir contrariamente a Si próprio e declarar irresponsavelmente que nossos pecados estão apagados, que tudo está bem e que podemos considerar-nos livres. Se Deus nos perdoasse de modo irresponsável, que lei, que justiça e que verdade seriam deixadas no universo? Tudo isso estaria acabado. É verdade que Deus nos quer salvar, e é verdade que precisamos ser salvos. A questão é se há ou não injustiça em sermos salvos. Há muitos hoje que aceitam subornos e são parciais por causa dos relacionamentos particulares. Eles sempre ajudam os outros, e os outros sempre recebem benefícios deles; mas todos concordamos que essas pessoas não são adequadas. Elas não são justas, mas corruptas. Elas podem ter muito amor, mas o que fazem não é correto. Deus não pode salvar-nos à custa de se envolver em injustiça. Deus deve salvar-nos preservando Sua justiça. Para Deus é importante salvar-nos, mas deve fazê-lo de acordo com Sua justiça. Deus poderia salvar-nos imediatamente com Seu amor. Mas também deve salvar-nos de maneira muito justa. Como isso pode ser feito? Para Deus não é uma questão fácil salvar-nos sem violar Sua justiça. Como pode Deus justificar pecadores sem cometer injustiça? Como pode Deus salvar pecadores sem envolver-se em injustiça? Como Deus pode perdoar nossos pecados de maneira justa? Deus quer salvar-nos, mas Ele quer que sejamos capazes de dizer ao mesmo tempo que recebemos Sua vida e fomos salvos porque Ele nos justificou da maneira mais justa. A Salvação de Deus para a Demonstração da Sua Justiça. Há um livro na Bíblia, o livro de Romanos, que nos diz como Deus trata especificamente com esse problema. Vejamos Romanos 3:25-26, começando com a segunda parte do versículo 25: “Para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus”. Aqui tenho de acrescentar uma palavra. Algumas versões cometem um erro ao traduzir o versículo 25. Elas traduzem: “Para declarar Sua justiça para a remissão de pecados passados, pela tolerância de Deus”. Mas a palavra para não deveria ser usada nesse versículo. Em vez disso, deveria dizer: “Para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos”. Além disso, no versículo 26, a palavra e deveria ser entendida como união de duas coisas que ocorrem ao mesmo tempo. Assim, esta sentença deveria ser entendida desta maneira: “Para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus”. Enquanto Deus justifica os que creem em Jesus, Ele demonstra ser justo, e o homem deve reconhecê-Lo como justo. O versículo 25 trata de problemas passados; o versículo 26 trata de problemas presentes. Os problemas passados referem-se ao povo da época do Antigo Testamento. Os problemas presentes relacionam-se ao povo da época do Novo Testamento. O versículo 25 trata de questões do Antigo Testamento. O versículo 26 trata de questões do Novo Testamento. As pessoas da época do Antigo Testamento transgrediram a lei por quatro mil anos. Elas eram cheias de pecados e transgressões. Mas Deus não as destinou à perdição ou destruição imediata. Naqueles quatro mil anos, dia após dia, Deus tolerou e deixou impunes os pecados previamente cometidos. Não vemos o lago de fogo imediatamente após o jardim do Éden. Embora Deus dissesse ao homem que no dia em que ele comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal certamente morreria (Gênesis 2:17), quando Adão comeu o fruto, ele não foi imediatamente para o lago de fogo. Por quê? Porque Deus deixou impunes os pecados da época do Antigo Testamento; Ele exerceu Sua tolerância sobre eles. Deus tolerou e deixou impunes os pecados cometidos pelo homem no passado. Mas uma questão se levanta imediatamente: Deus foi justo ao tolerar e deixar impunes os pecados humanos no Antigo Testamento? Qual foi o propósito de Deus em fazer isso? Na verdade, ao deixar impunes os pecados do homem e tolerá-los, Deus estava manifestando Sua justiça. Deus não quer que pensemos que após sermos salvos, nossa salvação é ilegal. Deus não gostaria que o homem acolhesse tais críticas. Deus quer mostrar-nos que nada há de ilegal ou injusto em Seus caminhos. Quanto aos pecados da época do Antigo Testamento, Ele diz que Sua tolerância e Sua indulgência foram para demonstrar a Sua justiça. Quanto aos pecados da presente era, Ele diz que o que é feito é também para demonstrar Sua justiça. Deus deseja que ao justificar os que creem em Jesus, Ele seja reconhecido como O justo. A salvação de Deus não é “mercadoria contrabandeada”. Deus quer que a nossa salvação venha pela “porta da frente”. Nossa salvação tem de ser correta e adequada. Ele não permitirá que ninguém diga que a nossa salvação é inadequada. Ele não oferece uma salvação fraudulenta. Uma salvação fraudulenta é rejeitada por Deus. A intenção de Deus é salvar-nos, mas Ele quer fazê-lo de maneira a estar relacionada com Sua natureza, Seu padrão moral, Sua dignidade, Sua lei e Sua justiça. Deus não pode salvar-nos ilegalmente. Aqui temos um problema. Se Deus estivesse disposto a usar todos os meios possíveis para nos salvar e se ignorasse totalmente a questão da justiça, Ele poderia dizer a qualquer pessoa: “Vai, você está livre”. Há homens que são tolamente bons. Se Deus dissesse isso, Ele seria um Deus tolamente bom. Deus jamais poderia ser assim. Se Deus não amasse você, seria fácil — Ele simplesmente o deixaria morrer e perecer quando pecasse. Mas Ele não pode permitir que isso aconteça, porque o ama. O problema é que o pecado do homem e o amor de Deus aqui estão juntos. Agora, quando a justiça é adicionada a esses dois, a salvação se torna a coisa mais difícil sobre a terra. Se o homem não tivesse pecado, tudo estaria bem; e se Deus não nos amasse, também não haveria problema. Se alguém comete um crime e deve morrer, isso nada tem a ver comigo se eu não o amo. Hoje muitos estão presos para ser executados. A questão significa pouco para mim se eu não os amo. Ser-me-ia difícil somente se os amasse e quisesse salvá-los. Se eles não tivessem pecado, a questão seria fácil de tratar. E se não os amasse, a questão também seria fácil de controlar. Além disso, se eles pecaram e os amo, mas não tenho justiça, a questão ainda pode ser tratada facilmente; posso controlá-la irresponsavelmente por meio de suborno. Mas, se sou uma pessoa justa, não posso recorrer a tais métodos fraudulentos e impróprios. Não os libertaria ilegalmente. Se vou salvá-los, tenho de fazê-lo corretamente. Levar a cabo tal salvação se torna a mais difícil tarefa em toda a terra. Estas três questões — amor, pecado e justiça — não podem coexistir facilmente. O amor é um fato; o pecado também é um fato e a justiça é uma necessidade. Por esses três estarem juntos, Deus deve vir com uma maneira de nos salvar e de satisfazer Seu coração de amor, enquanto, ao mesmo tempo, de preservar a Sua justiça. Cumprir tal obra seria deveras uma obra-prima. Aleluia! A salvação que Deus nos preparou em Seu Filho Jesus é tal obra-prima. Ele é capaz de nos salvar de nossos pecados e demonstrar Seu amor, e é capaz de fazê-lo da maneira mais justa. Isso Ele faz pela obra redentora do Senhor Jesus. A Vinda de Cristo como a Exigência de Deus em Justiça. A vinda do Senhor Jesus Cristo à terra foi a exigência de Deus em justiça; não foi a exigência de Deus em graça. Essa é uma palavra muito séria. Se houvesse amor sem justiça, o Senhor Jesus não teria necessidade de vir à terra e a cruz teria sido desnecessária. Por causa do problema da justiça, o Senhor Jesus teve de vir. Sem justiça, Deus poderia salvar-nos do modo que quisesse. Ele poderia ignorar nossos pecados ou perdoá-los levianamente. Ele poderia adotar uma atitude permissiva em relação aos nossos pecados ou ficar completamente alheio a eles. Se Deus dissesse: “Já que todos pecaram, desta vez Eu deixo passar; apenas não pequem novamente”, não haveria necessidade nenhuma para um Jesus de Nazaré no primeiro plano. Além da exigência da justiça, não era necessária a vinda de Jesus de Nazaré. A vinda de Jesus de Nazaré foi uma exigência da justiça. Quando o pecado entrou no mundo, o governo de Deus foi danificado. Sua ordem determinada no universo foi quebrada; Sua glória foi esmagada; Sua santidade foi profanada; Sua autoridade foi rejeitada e Sua verdade foi distorcida. Quando o pecado entrou no mundo, Satanás riu e os anjos testificaram que o homem tinha falhado e caído. Se Deus tivesse de julgar o pecado sem misericórdia, Ele agiria sem amor. Mas, se Ele ignorasse os pecados do homem sem julgá-los, Ele agiria sem justiça. Porque Deus ama ao mundo e ao mesmo tempo é justo, Ele teve de enviar o Senhor Jesus até nós. Por ser justo, Ele teve de julgar o pecado. Porque Ele é amor, Ele teve de suportar o pecado do homem em seu lugar. Devo enfatizar essas duas declarações: Deus deve julgar porque é justo. E Deus sofre o julgamento e a punição devidos ao homem, porque Ele é amor. Sem julgamento, não vemos justiça; com julgamento, não vemos amor. Contudo, o que Ele fez foi suportar o julgamento em nosso lugar. Dessa forma, Ele manifesta tanto Seu amor como Sua justiça em Jesus Cristo. A Cruz Manifesta a Justiça e o Amor de Deus. Assim, a cruz está onde a justiça de Deus é manifestada. A cruz nos mostra o quanto Deus odeia o pecado. Ele está determinado a julgar o pecado. Ele estava disposto a pagar preço tão alto como o de ter Seu Filho pregado na cruz. Deus não estava disposto a desistir de Sua justiça. Se Deus estivesse disposto a esquecer Sua justiça, a cruz teria sido desnecessária. Por não estar disposto a abandonar Sua justiça, Deus preferiu que Seu Filho morresse. A cruz também é o lugar onde o amor de Deus é manifestado. O peso dos nossos pecados deveria estar sobre nós. Se não o suportamos, é injusto. Mas suportar tal carga é demais para nós. Por isso Ele veio e a carregou por nós. O fato de Deus dispor-se a suportar a carga mostra-nos Seu amor. O fato de Deus ter, na verdade, suportado tal fardo, demonstra a Sua justiça. Deus fazer-nos levar a punição é justiça sem amor. Deus não nos fazer levar a punição é amor sem justiça. Por Ele tomar a punição e levá-la por nós, há tanto justiça como amor. Aleluia! A cruz cumpre tanto a exigência da justiça, como a exigência do amor. Nossa salvação hoje não é “mercadoria contrabandeada”; não a recebemos de modo fraudulento ou impróprio. Nós não fomos salvos ilegalmente. Fomos salvos de modo claro e definitivo por meio do julgamento. Para nós, o perdão é gratuito, mas para Deus não há tal coisa como perdão gratuito. Para Ele, o perdão vem somente após a redenção dos pecados. Por exemplo, se você infringir a lei, e o tribunal exigir que pague uma multa de mil dólares, você deve pagar a multa para que seu caso seja encerrado. Da mesma maneira, fomos salvos somente após sermos julgados na cruz. Nossa salvação vem após sofrermos o julgamento pelo pecado em Cristo. É uma salvação que vem apenas mediante o julgamento. Aleluia! Nós fomos julgados; então, depois disso, fomos salvos. O amor de Deus está aqui e a justiça de Deus também está aqui. Deixe-me dar uma ilustração. Suponha que haja um irmão que seja milionário e que eu seja um de seus devedores. Digamos que eu lhe deva grande soma em dinheiro, quantia tão grande quanto os dez mil talentos mencionados no livro de Mateus (18:24). Quando tomei emprestado o dinheiro dele, assinei uma nota promissória. Na nota, a quantidade e o vencimento estão claramente estabelecidos, bem como os termos e as condições da penalidade. Suponha que agora eu vá até ele e diga: “Gastei todo o dinheiro que tomei emprestado de você, e é-me impossível ganhá-lo e pagá-lo a você num momento de crise econômica como este. Estou com dificuldade até para conseguir comida e sobreviver. Por favor, tenha misericórdia e me libere. Devolva-me a promissória”. Se eu implorar dessa maneira, ele pode devolver-me a nota? A promissória contém exatamente a quantidade que lhe devo e a época em que devo pagar. Esse é um contrato que não somente eu devo cumprir, mas ele tem de honrar da mesma forma. Como devedor, tenho a responsabilidade de pagá-lo dentro do prazo estipulado. Como credor, ele também tem uma responsabilidade a cumprir, isto é, de devolver-me a promissória somente após receber o dinheiro. Se ele me devolver a nota antes de receber o dinheiro, mesmo que o faça por amor e em consideração a mim, ele não está sendo justo. Porque nós, seres humanos, somos simplesmente injustos e estamos acostumados a atitudes injustas, raramente nos ocorre que o perdão gratuito seja uma forma de injustiça. Mas Deus não pode fazer algo injusto. Se Deus nos perdoasse gratuitamente, Ele seria injusto. Além do mais, voltando à ilustração, suponhamos que esse irmão me devolva a nota promissória sem receber o dinheiro. Isso vai afetar-me de modo negativo. Quando tiver dinheiro, irei usá-lo indiscriminadamente. Terei descoberto que posso usar o dinheiro dos outros fácil e levianamente. Assim, esse perdão gratuito do irmão é injustiça para com ele e uma má influência para mim. Agora, suponha que esse irmão seja justo, mas não queira que eu lhe pague. Que ele pode fazer? Deixe-me contar-lhe o que fiz numa situação semelhante. Certa vez alguém foi até minha casa pedir-me dinheiro emprestado. Ele era um cristão nominal. Então lhe disse que, de acordo com a Bíblia, os cristãos não devem tomar dinheiro emprestado. Mas assim mesmo ele suplicou-me que lhe emprestasse dinheiro. A princípio, resolvi simplesmente dar-lhe o dinheiro; mas sabia que ele era irresponsável com o dinheiro dos outros, porque alguns irmãos me haviam alertado e dito que essa pessoa frequentemente pedia dinheiro emprestado aos irmãos, e advertiram-me a não lhe emprestar coisa alguma. Então, numa segunda consideração, decidi a não simplesmente dar-lhe o dinheiro, mas em vez disso, emprestar-lhe. Quando lhe entreguei a quantia que me pediu, perguntei-lhe quando iria devolvê-la. Eu o pressionei por uma data de pagamento, embora soubesse que a quantia nunca seria restituída. Pedir emprestado era um hábito dele; era sua vida. Mas não podia dizer-lhe que não esperava que ele pagasse, pois isso seria um convite para mais empréstimos. Assim, estabeleci uma data de pagamento. Quando chegou o dia, propositadamente escrevi-lhe uma carta, lembrando-o de que a data havia chegado. Após receber minha carta, ele veio ver-me. Mas antes que pudesse falar muito, eu o interrompi e lhe disse que fosse para casa e encontrasse com sua esposa, pois ela tinha algo a dizer-lhe. Assim, ele foi para casa. Na verdade, antes que viesse ver-me, eu levei à sua casa a quantia exata que ele me devia e a dei à sua esposa. Disse-lhe que quando seu marido voltasse para casa, ela deveria dizer-lhe que eu lhe havia mandado a soma do dinheiro do pagamento de sua dívida. Quando o marido chegou em casa, a esposa lhe disse o que eu havia falado. Então ele abriu o pacote e encontrou a quantia exata de seu débito. Ele então entendeu o que fazer. Voltou à minha casa e me devolveu o dinheiro. Nesta atitude, você pode ver o amor e a justiça. Se este homem tivesse sido forçado a me pagar, não teria havido amor. Mas se não o autorizasse a pagar, eu teria sido injusto, pois eu havia dito claramente que o dinheiro lhe havia sido dado como empréstimo. Não apenas teria sido injusto em mim mesmo, como também teria exercido má influência sobre ele. Numa próxima vez, ele teria sido mais irresponsável. Assim, eu fiz o que fiz. Devemos a Deus “dez mil talentos”, mas não temos como restituí-lo. Agora, Deus está fazendo a mesma coisa conosco. Porque nos ama, Ele não pode pedir-nos que o paguemos. Mas porque é justo, Ele não nos dirá que não precisamos pagar. Para nós, é impossível restituí-Lo. No entanto, para Deus é injusto liberar-nos de nossa obrigação. Louvamos ao Senhor porque Ele veio para nos dar o “dinheiro” a fim de que possamos pagar lhe o que devemos. O cobrador é Deus e o pagador também é Deus. Sem cobrar, não há justiça; mas se tivermos de pagar, não há amor. Agora, o próprio Deus é o cobrador; assim, a justiça é mantida. E o próprio Deus também é o pagador; assim, o amor é mantido. Aleluia! O cobrador é o pagador. Esse é o significado bíblico da redenção dos pecados. Dessa forma, Jesus, o Nazareno, veio e levou nossos pecados em Seu corpo na cruz. O próprio Deus veio carregar os nossos pecados. Nossos pecados foram julgados por Deus na pessoa de Jesus Cristo. O sangue do Senhor Jesus derramado na cruz é a prova desse julgamento. Nós nos achegamos a Deus por esse sangue. Por intermédio do Senhor Jesus, dizemos a Deus que fomos julgados. Agora, devolvemos-Lhe o que o Senhor Jesus pagou por nós. É verdade que pecamos. Mas não somos irresponsáveis; houve o julgamento. É verdade que tínhamos um débito. Mas não estamos fugindo dele; o débito já foi pago. Abraço. Davi
MOSAICO ESPIRITUAL
sexta-feira, 31 de outubro de 2025
terça-feira, 28 de outubro de 2025
A RELIGIÃO DO ISLAM. Parte XVIII
Islamismo. IslamHouse.com. Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo (1961 - ). RELIGIÃO DO ISLAM. Parte XVIII. O estabelecimento da Oração. O significado do “estabelecimento das orações” Um aspecto muito importante que devemos levar em conta sobre este pilar é que não se refere somente ao mero “ato” de fazer a oração. No Qur’an, Allah não determina apenas a forma como se deve orar, senão que demanda dos crentes o iqaamat as-salaat (“o estabelecimento das orações”). Desta maneira, este pilar do Islam não consiste simplesmente em orar, senão que é algo mais especial que Allah e Seu Profeta denominaram “o estabelecimento das orações”. Apenas se a pessoa ora de maneira adequada e correta pode cumprir com este pilar. Isso revela que muitas pessoas simplesmente oram, há muito poucas que estabelecem a oração. Isso se assemelha à declaração de Umar, que Allah esteja satisfeito com ele, a respeito da peregrinação: “As pessoas que realizaram a peregrinação foram poucas, enquanto os presentes foram muitos.” Ad-Dausiri também destaca uma diferença entre as seguintes frases: “estabelecer a oração” e “simplesmente orar”. Ele disse: “[Allah] não disse ‘os que simplesmente oram’, senão que disse ‘aqueles que estabelecem as orações’. Allah faz uma distinção entre as duas frases para diferenciar as orações verdadeiras e reais das que apenas seguem o formato de oração. A verdadeira oração é a que sai do coração e da alma, a oração com humildade, daqueles que se prostram em silêncio e temerosos frente à Allah.” A oração que só tem “aparência de oração” nunca foi requerida por Allah. Definitivamente, parte deste “estabelecimento” das orações é a implementação dos aspectos espirituais e internos da oração, como fez uma alusão ad-Dausiri. Sem dúvida, esta não é a única diferença entre as duas ações, como se pode constatar na definição ou declaração acerca do “estabelecimento das orações” dos grandes sábios do Islam. Por exemplo, o famoso Jarir at-Tabari, estudioso do tafsir (explicação do Qur’an), escreveu: “Estabelecer significa orar dentro dos horários, com seus aspectos obrigatórios e com o que tudo aquilo que foi determinado obrigatório por aquele quem ditou as questões obrigatórias.” Logo em seguida, cita o companheiro Ibn Abbas que disse: “estabelecer as orações implica realizá-las com suas reverências, prostrações e recitar de uma maneira completa, assim como temer a Allah, dedicando-O uma atenção plena”. Um dos primeiros estudiosos, Qatada, também disse: “O estabelecimento das orações é ater-se aos horários, ablução, reverências e prostrações.” Em geral, poder-se-ia dizer que o “estabelecimento das orações” implica que se deve realizar e executar as orações de uma forma apropriada como é indicado no Qu'ran e na Sunnah. Isso inclui os aspectos tanto externos quanto internos da oração. Nenhum dos dois, por si só, é suficiente para estabelecer a oração, verdadeiramente. Deve-se apresentar um estado puro para oferecer a oração. No caso dos homens, na medida do possível, deve-se realizar em congregação, em uma mesquita. As orações devem ser realizadas de acordo com suas normas e regulamentos; as ações físicas também devem ser acompanhadas de submissão, humildade, tranquilidade, etc. Deve-se realizar todos estes atos integrantes da oração de maneira apropriada e seguindo as indicações transmitidas pelo Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Todas estas indicações formam parte do estabelecimento das orações. São aspectos essenciais, ou seja, o cimento de toda a estrutura do Islam. Tudo que foi mencionado anteriormente, deixa claro que Allah se refere a algo que não é leve e nem pode ser adquirido de uma hora para outra. Trata-se do cumprimento das orações da melhor maneira possível, de acordo com a Sunnah do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele), com a intenção devida e estando muito atento a cada passo da oração. Uma pessoa pode estabelecer parcialmente a oração. Pode, sob um prisma legal, haver realizado suas orações; mas, mesmo assim, as recompensas de Allah por estas orações podem não ser as esperadas. Como disse o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele): “Uma pessoa pode finalizar [a oração] e tudo o que seja registrado para ele, a respeito de sua oração, atinja um décimo, um nono, um oitavo, um sétimo, um sexto, um quinto, um quarto, um terço ou meio.” O significado do “estabelecimento das orações” foi explicado por ser um dos pilares do Islam. Esse pilar não consiste apenas em orar. Não consiste apenas na realização dos movimentos físicos que são realizados durante uma oração. Muito menos consiste em simplesmente orar com o coração sem nenhum tipo de movimento físico que acompanhe tal ação. Não é simplesmente orar quando seja conveniente à pessoa. Deve-se realizar cuidadosamente este pilar do Islam a melhor e mais perfeita forma. Sobre isso Nadwi escreveu: “A Salah [oração] não consiste somente numa série de movimentos físicos. Não é um rito estático ou sem vida, ou algo parecido a uma disciplina militar – onde não há voz e não interessa à vontade. É uma ação na qual os três aspectos da existência humana - físico, mental e espiritual – encontram sua máxima expressão. O corpo, a mente e o coração participam da oração com equilíbrio. Permanecer de pé, ajoelhar-se ou prostrar-se são atos que pertencem ao corpo; a recitação pertence à língua; a reflexão e a contemplação pertencem à mente e o temor, arrependimento e lamento ao coração.” Não há exagero na importância da oração no Islam. É o primeiro pilar do Islam que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) mencionou, logo após mencionar o testemunho de fé, através do qual a pessoa se torna muçulmana. Ela foi determinada como obrigatória para todos os profetas e todos os povos. Uma vez, um homem perguntou ao Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) qual era a ação que possuía mais virtude. O Profeta respondeu que é a oração. O homem continuou repetindo a pergunta. Nas três primeiras respostas Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “a oração”, mas, na quarta, ele disse “o esforço pela causa de Allah”. A importância da oração é embasada em muitos ditos do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Por exemplo, o Profeta disse: “O primeiro assunto pelo qual o servo será julgado no Dia do Juízo será a oração. Se estiver correta, também o resto de suas ações serão corretas. Mas, se estiver incorreta, o resto de suas ações também o serão.” A importância da oração se apoia no fato de que o mais importante é a relação do servo com Allah, sem levar em consideração as ações que este praticou durante sua vida. Ou seja, sua fé (imaan), o conhecimento de Allah (taqwah), a sinceridade (ikhlaas) e a adoração a Allah (‘ibaadah) é que importam. Sua relação com Allah é demonstrada, colocada em prática, cresce e fortalece através da oração. Então, se a oração é correta e adequada, o resto das ações também será; entretanto, se a oração não é correta e nem adequada, o resto das ações não será, como bem declarou o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Na realidade, se a oração é realizada corretamente, recordando sinceramente Allah e buscando n’Ele o perdão, deixará uma marca permanente na pessoa que a realiza. O crente, quando termina sua oração, sente seu coração cheio pela presença de Allah. Torna-se temeroso e coloca todas as suas esperanças em Allah. E através desta experiência, não irá desejar se afastar dessa sublime posição e nem desobedecer a Allah. Allah mencionou este aspecto da oração quando disse: “Recita o que te foi revelado do Livro e observa a oração, porque a oração preserva (o homem) da obscenidade e do ilícito...” (29: 45) Nadwi descreveu este efeito da oração devidamente oferecida de maneira eloquente: “Seu objetivo consiste em gerar no foro interno do ser humano um poder espiritual, uma luz de fé e uma consciência de Deus, tão grande, que o capacitam a enfrentar qualquer tipo de maldade e tentação com êxito. Além de mantê-lo firme nos tempos de provações e adversidade e protegê-lo da debilidade da carne e dos desejos desmedidos.” Na próxima vida o perdão e a complacência de Allah correlacionam-se com a oração. o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “Allah determinou cinco orações. Aqueles que realizam com perfeição a sua ablução, realizam suas orações nos períodos adequados, completem suas reverências e prostrações com khushu’ têm a promessa de que Allah os perdoará. E aquele que não cumprir com os requisitos não obterá a promessa de Allah. Pode ser perdoado ou castigado.” As orações são consideradas como uma forma de purificação para o ser humano, pois ele se volta e encontra com seu Senhor cinco vezes ao dia. Como foi mencionado anteriormente, esta repetida presença ante Allah deveria evitar com que as pessoas cometessem pecados durante o dia. Além disso, deveria ser um momento de arrependimento e remorso, quando a pessoa pede perdão a Allah pelos pecados cometidos. A oração, por si só, é uma boa ação que apaga algumas das más ações cometidas. Isso fica claro no seguinte hadith do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele): “Se uma pessoa tivesse um riacho perto de sua casa e se banhasse nele cinco vezes por dia, acreditarias que houvesse algum tipo de sujeira em seu corpo?” As pessoas responderam: “Não haveria nenhum tipo de sujeira”. O Profeta de Allah então disse: “Isto é similar às cinco orações diárias. Através delas, Allah apaga os pecados.” (Bukhari e Muslim). Em outro hadith, o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “As cinco orações diárias e a oração de sexta-feira – até a próxima oração de sexta-feira, são a expiação dos pecados cometidos entre elas.” (Muslim). A importância fundamental da oração para a fé de um muçulmano se evidencia na declaração do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele): “Para um homem, o politeísmo (shirk) e a incredulidade (kufr) se encontram no abandono da oração.” (Muslim). Em seu hadith, o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) utiliza as palavras ash-shirk e al-kufr, que se referem a algo que resulta do conhecido ou compreendido. Entende-se que o kufr afasta as pessoas do Islam. Além disso, as palavras shirk e kufr são mencionadas juntamente, o que se considera como outro sinal de que esta ação pode nos tirar do Islam. As palavras de Siddiqi que denotam a importância da oração constituem um resumo de toda esta análise. Ele escreveu: “a oração é a alma da religião. Onde não há oração, não pode haver purificação da alma. A pessoa que não ora é uma pessoa sem alma. Caso tirassem as orações deste mundo, acabaria a religião, já que é através da oração que o homem chega a conhecer Deus, obtendo, assim, um amor desinteressado pela humanidade e um sentimento interno de devoção. Deste modo, a oração é o primeiro e mais elevado e solene fenômeno e manifestação da religião.” O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) confirmou a importância da oração no Islam quando disse: “O principal é o Islam. Seu pilar é a oração. E seu ápice é o esforço pela causa de Allah.” Alguns pontos importantes sobre as leis relativas à oração Este não é o lugar apropriado para entrar em detalhes sobre as leis que regem as orações. Entretanto, devemos mencionar certos pontos fundamentais. As cinco orações diárias são obrigatórias para todos os muçulmanos adultos ou não. Obviamente, as mulheres em período menstrual ou que apresentem sangramento pós-parto não deverão oferecer suas orações até que sua situação se normalize, pois se encontram em um estado de impureza para cumprir com o rito (o que será analisado mais adiante). Estas mulheres não deverão compensar as orações perdidas. Antes de iniciar o ritual da oração, deve-se apresentar um estado de pureza física. Allah disse: “Ó fiéis, sempre que vos dispuserdes a observar a oração, lavai o rosto, as mãos e os antebraços até aos cotovelos; esfregar a cabeça com as mãos molhadas e lavar os pés até os tornozelos. O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “As orações não serão aceitas sem uma purificação prévia.” (Muslim). Desta maneira, por exemplo, se alguém praticar o ato sexual, seja através do coito ou em sonho erótico, ou se a mulher termina sua menstruação ou sangramento pós-parto, deve realizar uma ablução completa, denominada ghusl, antes de começar a oração. Outra forma de se obter o estado de purificação é o wudhu ou purificação menor, que consiste na limpeza do rosto, cabeça, braços e pés. A ablução deve se repetir antes de cada oração, se a pessoa fez alguma das necessidades fisiológicas, se teve flatulência, se dormiu profundamente ou se perdeu a consciência. Este requisito prévio da oração enfatiza o fato de que a adoração a Deus requer todo o nosso ser. Afora o ritual da oração, se, por exemplo, a pessoa quiser suplicar a Allah, não é necessário realizar as abluções. Além de estar num estado de purificação, nossa roupa e o lugar onde se realizará a oração devem estar livres de impurezas. Em outras palavras, a roupa e a área devem estar limpas de urina, excrementos, sangue e qualquer outra substância impura. Deste modo, toda a atmosfera e o sentimento dos indivíduos estarão purificados para começar a entrar neste nobre estado de oração e comunicação direta com seu Senhor. Cabe ressaltar que os horários das orações diárias são fixos. Allah disse: “... observai a devida oração, porque ela é uma obrigação, prescrita aos fiéis para ser cumprida em seu devido tempo.” (4:103). Estes horários são definidos nos seguinte hadith: “O anjo Gabriel se aproximou do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) e disse: ‘Levanta-te e reza’. Ele realizou a oração da tarde no momento em que todos os objetos e suas respectivas sombras possuíam a mesma altura. Logo chegou a hora do crepúsculo e foi-lhe dito: ‘Levanta-te e reza’. Ele orou quando o sol havia desaparecido. Então, caiu a noite e foi-lhe dito: ‘Levanta-te e reza’. Ele rezou quando o crepúsculo já havia desaparecido. Logo veio o amanhecer e foi-lhe dito: ‘Levanta-te e reza’. Ele orou quando começava a amanhecer. Então, apareceu o dia seguinte e a oração do meio-dia e foi-lhe dito: ‘Levanta-te e reza’. Ele realizou a oração do meio-dia quando um objeto e sua sombra possuíam a mesma largura. Logo, chegou à oração da tarde e foi-lhe dito: ‘Levanta-te e reza’. Ele cumpriu com a oração da tarde quando a sombra de um objeto era o dobro da largura do mesmo. Então, veio para a oração do pôr-do-sol e este é um curto período que só ocorre uma vez ao dia. Logo veio a oração da noite, que era prestada quando já havia passado metade ou um terço da noite. Veio o amanhecer, quando havia alguma luminosidade e foi-lhe dito: ‘Levanta-te e reza’ e ele realizou a oração do amanhecer. Então foi-lhe dito: ‘Os horários [das orações] se encontram entre estas duas’ [ou seja, entre as duas ocasiões nas quais Gabriel apareceu para orar com ele].” Infelizmente, algumas vezes, os muçulmanos encontram-se muito ocupados durante o dia e, por isso, deixam todas as suas orações para a noite. Assim, elas são oferecidas todas ao mesmo tempo: a do meio-dia, da tarde, do crepúsculo e da noite. Aos revertidos é extremamente difícil combinar os horários das orações com seus horários de trabalho, além disso, às vezes, não têm a confiança suficiente para realizar suas orações na presença de outras pessoas ou solicitar um intervalo no trabalho para realizá-las. Essa prática de postergar as orações é incompatível com a Lei Islâmica. As orações devem ser realizadas no momento adequado e isso não é algo que deva ser cumprido apressadamente. Devem se esforçar na causa de Allah e descobrir uma forma de realizá-las nos horários pré-determinados. Em suma, se realmente têm que combinar duas orações, podem combinar a do meio-dia com a da tarde, durante o horário destinado à oração do meio-dia ou da tarde. Igualmente podem combinar as orações do crepúsculo e da noite e realizá-las durante o horário das orações do crepúsculo ou da noite. Nenhum outro tipo de combinação é permissível. Página 159. Abraços. Davi
sexta-feira, 24 de outubro de 2025
CABALA - MITOS E VERDADE. Parte I
Judaísmo. Livro um Guia para a Sabedoria Oculta da Cabala. Por Rav Michael Laitman. CABALA - MITOS E VERDADES. Parte I. Tirando a limpo. O Ponto Principal: A Cabala sai do esconderijo. A mudança está chegando. Porque agora e não antes. A Cabala e o espírito do "vale tudo". O Livro do Zohar, o mais importante livro da Cabala, afirma que a Cabala aparecerá e prosperará até o final dos dias. Com a popularidade atual da Cabala, parece que o final dos tempos está aqui. A Cabala ilumina e descreve as leis do mundo espiritual. Não é religião. É uma ciência espiritual, e por mais de 2000 anos ficou envolta em mistério. Em Foco. A Cabala foi tradicionalmente fechada para todos a não ser pra poucos e seletos estudantes. Não mais. Como nunca antes a Cabala tem se tornado chique, moderna e na moda. E mais, Cabalistas, que previamente hesitavam em abrir seus segredos ao público, tornaram-se as peças-chaves na disseminação. De pequenos grupos a exposição em massa. Mas a Cabala não foi sempre tão popular e os Cabalistas não eram nem de longe tão aberto. Por mais de 2000 anos, a Cabala foi mantida em segredo, escondida dos olhos do público. Poucos Cabalistas meticulosamente selecionavam seus alunos e lhes ensinavam em pequenos grupos. Por exemplo no século XVIII (1701-1800) o Grupo Ramchal, dos alunos do Rabbi Moshe Chaim Luzzato (1707-1746), tornaram especialmente difícil a entrada de novos alunos. Associar-se requeria a aceitação de um pacto rigoroso de estilo de vida e estudo que deveria ser levado adiante todos os dias no período em que o aluno permanecesse como membro. Outros grupos como o Grupo Kotzk (batizado com o nome de uma cidade polonesa), costumavam vestir-se com roupas surradas e tratavam as pessoas que não eram membros com cinismo ofensivo. Eles deliberadamente se distanciaram dos outros, por aparentarem desobedecer ao mais sagrado costume judaico como o Yom Kipur. Membros do grupo espalhavam migalhas de pão em suas barbas para parecer que tinham acabado de comer neste dia de jejum. Naturalmente a maioria das pessoas os repelia. No entanto, os mesmos Cabalistas, que esconderam essa sabedoria também se esforçaram pra escrever livros que permanecem como pilares da Cabala até os dias de hoje. Rabbi Isaac Luria (1534-1572) - O Santo de Ari, que primeiramente, ensinava a apenas um aluno. Afirmou que de seu tempo em diante, o estudo do O Livro do Zohar, estava permitido para todos que quisessem. Por essa razão, durante sua vida, o Ari ensinou um grupo de alunos, mas por volta de sua morte ele ordenou que todos parassem de estudar. Com exceção do Rav Chaim Vital (1542-1620). O Ari disse que somente Chaim Vital entendeu a maneira de ensinar adequadamente e ele temia que sem um professor adequado, o resto se desviaria. Quebrando a Parede de Ferro. No final da última década do século vinte (1990-2000) a Cabala realmente começou seu advento no palco central da consciência pública. A figura única e dominante na disseminação para o mundo da Cabala é sem dúvida Rav Yehuda Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (O Dono da Escada). Por seu Sulam (Escada), comentário sobre O Livro do Zohar. Ele não foi apenas o primeiro Cabalista a falar em favor da disseminação, mas realmente fazê-lo. Baal HaSulam publicou a revista ha-Uma (A Nação), em 5 de junho de 1940. Ele também tentou convencer David Ben-Gurion (1886-1973) e outros líderes do assentamento judeu na Palestina, hoje Israel, a incorporar princípios cabalísticos no sistema de educação. Baal HaSulam afirmou também que no futuro pessoas de todas as religiões estudariam a Cabala. Mesmo que mantendo sua religião de nascença sem que houvesse choque entre ambas. Estas afirmações e o ato de disseminar a Cabala pareciam tão não ortodoxas e inaceitáveis naquele tempo que a Nação foi fechada depois de apenas uma edição pelo Mandato Britânico na Palestina. Em justificativa, o Mandato Britânico disse havia recebido a informação que Ashlg estava promovendo o comunismo. Cabala - Porque Agora Precisamos Dela. A Cabala tem apenas um proposito oferecer uma abordagem que ajuda a responder à pergunta: "Qual é o sentido da minha vida?". Hoje, mais do que nunca as pessoas estão se perguntando sobre o significado e o propósito de suas vidas. Com as necessidades materiais supridas - e em alguns casos mais do que podemos imaginar - as pessoas ainda sentem um vazio em suas vidas. A Cabal é uma disciplina que invoca introspecção e novas perspectivas na vida. Que por sua vez fornecem plenitude espiritual. Está é a chave para sua popularidade. No Estudo dos Dez Ten Sefirot, um comentário extenso sobre os trabalhos do grande Ari, Baal HaSulam, escreveu que você está pronto para a Cabala se as vezes ... Você se questiona sobre o significado da vida. Pondera porque você e toda a vida existem. Questiona o porquê a vida as vezes ser muito difícil. A Sabedoria Certa para seu Tempo. No ciclo perfeito da vida, cada parte tem a sua função designada. Nenhuma parte da criação é livre para fazer o que quer porque o bem-estar de cada parte depende do bem-estar de todas as outras partes da criação. A lei de interdependência da Natureza garante que nenhuma criatura vais se sobrepor a outras criaturas. Porque destruir as outras criaturas significariam destruir a si próprio. Os seres humanos não são exceção a esta regra, mas muitos - se não a maioria, não apreciam esta ideia e de uma maneira ou de outra atuam de formas que machucam outras pessoas e, portanto, a eles próprios. Ao controlar os outros ou o nosso ambiente, pensamos que podemos manipular e moldar o mundo ao nosso gosto. Mas uma rápida olhada nas notícias nos faz refletir sobre os resultados. Tudo o que temos alcançado é infelicidade para nós e para os outros. No entanto, como mostraremos na parte 3, nada é criado sem um motivo, nem sequer a capacidade humana de destruir. Hoje, parece que a nossa felicidade de destruir está causando grande infelicidade para as pessoas e ameaçando o nosso meio ambiente. Por isso, não é de surpreender que as pessoas estejam começando a fazer perguntas sobre a vida. A sabedoria da Cabala pode nos ajudar, ou seja, se não responder completamente, pelo menos ajuda a explorar mais profundamente. Quanto mais as pessoas estão começando a perceber que maior riqueza, mais sexo, e mais poder, não as tornam mais felizes. Eles já não estão fazendo perguntas de o tipo "Como fazer?". Mas perguntas do tipo "Para Que?". Nesse momento, qualquer doutrina que possa nos ajudar a responder as perguntas do tipo "Para que?" tem uma boa chance e ser popular. Porque a Cabala especificamente explora questões sobre o sentido da vida, não é de surpreender que muitas pessoas a achem atraente. Isso, juntamente com a publicidade gerada pelas celebridades que se tornaram adeptas da Cabala. Tem chamado a atenção de todos que tem essas perguntas, em todos os lugares. Cabala e o Vale-Tudo. No espírito do "vale tudo" de nosso mundo de hoje, tudo se mescla com todo o resto: ciência com religião, tock e roll com Beethoven. Tem até sorvete de sushi (aposto que não sabiam disso). Seguindo a moda, a Cabala foi associada a mais doutrinas e ensinamentos do que guarnições para pizza. Mas há um motivo mais sério para a súbita emergência dessa antiga disciplina. A Cabala sempre teve uma reputação de possuir um discernimento das forças superiores da natureza, dos mundos espirituais e da natureza de Deus. Como resultado, as pessoas sempre quiseram associar os termos cabalísticos a toda espécie de ensinamentos. O problema com essa associação é que ela questiona o poder da Cabala no entendimento das nossas naturezas humanas e espirituais. Isso é afinal de contas, o ponto principal de interesse desse ensinamento hoje em dia, e a razão pela qual a Cabala foi desenvolvida. Então, para esclarecer qualquer concepção errada, daremos uma olhada ao que não é Cabala. Não é e não tem nada a ver com religião, mágica, misticismo, adivinhação, cultos, medicina holística, meditação, filosofia, teosofia, psicologia ou parapsicologia, PES, telepatia, intepretação de sonhos, cartas de tarô, yoga, fitas vermelhas, água benta, bençãos, regressões as vidas passadas, numerologias. Reiki, channeling, astrologia, projeções e viagens astrais, comunicação com os mortos, experiências extras-corporais, vudu, franco-maçonaria, reflexologia, UFO e outros ismos. A Cabala esteve presente por muito, muito tempo e somente afora está tomando seu lugar na consciência geral do público. Aqueles que a adotam como última moda, irão talvez procurar outra coisa. Mas aqueles que se aprofundam em seus princípios irão provavelmente encontrar o suficiente pra mantê-los por uma vida inteira. Em resumo: A Cabala é um método que responde à pergunta: Qual é o significado da minha vida. A Cabala ficou oculta até que as perguntas para as quais ela tem as respostas surgissem. A Cabala tem sido erroneamente associada à muitas modalidades de ensinamentos espirituais. A Cabala não é uma moda passageira, mas é um método prático que desafia o tempo. Permitindo entender a natureza humana e a natureza do Criador. Abraço. Davi.
quarta-feira, 22 de outubro de 2025
INTRODUÇÃO - O QUE VOCÊ ENCONTRARÀ NESTE LIVRO - CABALA
Judaísmo. Livro Um Guia para a Sabedoria Oculta da Cabala. Por Rav Michael Laitman. INTRODUÇÃO. Durante muitos séculos, a Cabala tem sido um tema "proibido". Examine a lista (parcial) dos requisitos prévios que existiam anteriormente e cujas respostas deveriam ser afirmativas para que fosse possível estudar Cabala. O aluno deveria ser judeu, do sexo masculino, casado, com mais de 40 anos, e proficiente em outros estudos judaicos. Então, como a Cabala está sendo ensinada abertamente e estudada em qualquer lugar? Por que a proibição foi suprimida? Cabalistas como Rav Yehuda Ashlag (1880-1954), Vilna Gaon (1720-1797), e muitos outros proeminentes Cabalistas afirmaram que o final do século 20 (1901-2000) marca uma mudança fundamental na história da Cabala. Agora está aberta para todos. Como vamos mostrar no livro, as proibições existiram por um motivo. Mas é exatamente pela mesma razão que elas agora foram retiradas. A humanidade no século XXI (2001-2100), está pronta para ver a Cabal como ela realmente é, um método científico, testado, empírico para alcançar a espiritualidade enquanto vivendo aqui neste mundo. Estudar Cabala é uma fascinante viagem. Ela muda sua perspectiva sobre o mundo e as pessoas à sua volta, e revela partes em você cuja existência lhe era desconhecida. É uma viagem de descobertas acontecendo dentro de nós, afetando todos os níveis da vida. A nossas relações com os nossos parentes, amigos e colegas de trabalho. A Cabala afirma muito simplesmente que, quando você souber como se conectar ao Criador diretamente, sem quaisquer intermediários, você encontrará sua bússola interior. Este é o objetivo da Cabala lhe ajudar a fazer, e a manter, o contato direto com o Criador. E quando você o fizer não precisará mais de nenhuma orientação. Então, bem-vindo ao Guia para a Sabedoria Oculta da Cabala. O QUE VOCÊ ENCONTRARÁ NESTE LIVRO. Este livro está dividido em três partes apêndices. Você aprenderá que a Cabala é uma ciência que descreve as leis do mundo espiritual. Na Parte I, "Mitos e Verdades da Cabala" falaremos sobre os princípios básicos e contaremos um pouco sobre como a Cabala começou. Continuaremos nossa jornada espiritual na Parte 2, "Antes que Existisse o Tempo" que começa com o ciclo de realidade da Cabala. Explicando como fomos criados, o que fazemos aqui, e como e em que ponto começou nossa ascensão ao Mundo Superior. Discutiremos como o mundo foi criado, como a Cabala explica o que está errado em nosso mundo atualmente, e o que precisa ser feito para consertá-lo. Nesta parte também falaremos como você pode se tornar um estudante da Cabala. Como você poderá usar este conhecimento diariamente pra seu benefício. Vamos explicar como diferenciar o professor certo do professor errado. Como usar o livro e a Internet em seus estudos da Cabal e até mesmo o papel da música no seu desenvolvimento espiritual. A Cabala está diretamente relacionada ao estado em que o mundo se encontra hoje. Na Parte 3, "Cabala Hoje" exploraremos, sob a perspectiva da Cabala, a crise global e discutiremos os caminhos para a cura. Finalmente, terminaremos com um tour rápido sobre como a Cabal afetará o seu futuro. Você também encontrará um apêndice muito útil pra incrementar sua viagem e lhe apontar a direção caso deseja aprender mais. O apêndice contém um glossário, uma lista de recursos adicionais, e algumas informações sobre nossa organização. Abraço. Davi.
segunda-feira, 20 de outubro de 2025
O CAMINHO DA MEDITAÇÃO
Hinduísmo. Srmad Bhagavad Gita - O Canto do Senhor. O CAMINHO DA MEDITAÇÃO. Capítulo VI. 1– Disse o BENDITO SENHOR: Aquele que cumpre com seu dever e não deseja o fruto de suas ações é um monge e também um karmayogui e não aquele que não trabalha nem cuida do sagrado fogo (O símbolo da Divindade, com o qual antigamente todo indo-ariano fazia seu culto). 2– Sabe, ó Arjuna, o que é chamado renúncia é idêntico à yoga porque ninguém pode ser um yogui sem renunciar ao desejo pelo fruto da ação. 3– Para o sábio que quer ser um yogui, a ação é o meio e para aquele estabelecido no yoga, a inação é o meio (para permanecer absorto no Supremo). 4– Quando já não se tem apego aos objetos sensórios e nem às ações, se diz que se alcançou o yoga. 5– Uma pessoa deve erguer-se por si mesmo e nunca se rebaixar, porque é (pode ser) amigo de si mesmo e também inimigo de si mesmo. 6– Para aquele que conquistou a si mesmo, seu ser é seu amigo, em troca para aquele sem controle, seu próprio ser é seu inimigo. 7– O homem sereno e de autocontrole, sempre está absorto no Supremo e se mantém igual no calor e no frio, no prazer e na dor, na honra e na desgraça. 8– É um yogui bem estabelecido aquele que logrou a satisfação pelo conhecimento e pela realização, que é firme em sua convicção, que tem seus sentidos controlados e considera de igual valor a um torrão de terra, a uma pedra e a uma peça de ouro. 9– Sobressai aquele que tem igual consideração para o amigo, o benfeitor, o inimigo, o neutro, o árbitro, o odioso, o parente, o bom e o mau. 10– Com seu corpo e mente dominados, livre de desejos e de bens e vivendo sozinho, retirado de todos, o yogui deve praticar constantemente a concentração mental. 11-12– Em um lugar limpo deve preparar um assento firme, nem muito alto nem muito baixo e depois de cobri-lo com erva kusha, uma pele de cervo e um lenço, deve sentar-se sobre ele. Em seguida, controlando as atividades sensórias e mentais mediante a concentração, deve praticar o yoga para lograr a purificação mental. 13-14– Mantendo as costas, o pescoço e a cabeça bem firmes e endireitados, deve fixar o olhar na ponta do nariz sem olhar em outra direção; em seguida, bem sereno e sem medo, praticando continência e disciplina mental e pensando sempre em Mim como sua suprema meta, deve permanecer absorto em Mim. 15– Desta maneira, pela constante concentração, o yogui logra absoluto domínio sobre sua mente e sua paz culmina na beatitude final, na união comigo. 16– Ó Arjuna, aquele que come muito ou come muito pouco, aquele que dorme muito ou dorme muito pouco, não logra o yoga. 17– Aquele que é moderado na comida, na diversão, na ação, no sono e quando está desperto, alcança o yoga que destrói o sofrimento. 18– Quando a mente bem controlada descansa só no Atman e se está livre do desejo pelos prazeres, então se diz que logrou o yoga. 19– A chama fixa de uma vela em um lugar sem vento é o exemplo da mente controlada de um yogui que praticou a concentração no Atman. 20-23– O estado no qual a mente, controlada pela prática da concentração, permanece quieta, no qual se goza de seu próprio Ser vendo-o com a mente pura e no qual, mediante o intelecto, realiza a bem-aventurança infinita que está além de toda percepção sensória, se chama yoga. Estabelecendo-se Nele, não se afasta da Realidade; alcançando-o, todo o resto parece ínfimo. Quando se está firme neste estado, mesmo os maiores sofrimentos não podem comovê-lo. Este yoga, que não tem nenhum contacto com o pesar, deve ser praticada com ânimo e convicção. 24-25– Abandonando completamente todos os desejos nascidos da fantasia e impedindo, só com a mente, que os sentidos se dirijam aos objetos em todas as direções e com o intelecto regulado pela concentração, pouco a pouco, deve-se lograr a quietude e assim estabelecendo a mente no Atman, não se deve pensar em outra coisa (deve praticar a absorção total no Supremo). 26-27– Em qualquer parte que encontre vagando a esta intranquila e vacilante mente, freando seus movimentos, se deve trazê-la sob o domínio do Ser. A bem-aventurança suprema chega ao yogui identificado com Brahman, cuja atividade se aquietou, cuja mente está tranquilizada e cujas paixões estão sossegadas. 28– O yogui que é completamente livre das manchas do apego e que constantemente controla a mente dessa maneira, com facilidade alcança a bem-aventurança infinita do contacto com Brahman. 29– Aquele cuja mente está absorta pela prática do yoga e é equânime, vê ao Atman em todos os seres e a todos os seres em seu próprio Ser. 30– Aquele que Me vê em tudo e vê tudo em Mim, não me perde nunca e Eu não o abandono jamais. 31– Aquele que estando unido com todos adora a Mim que resido em todos os seres, qualquer que seja sua ocupação, este yogui vive em Mim. 32– Ó Arjuna, o melhor yogui é aquele que considera ao prazer e a dor de todos os seres como se fossem seus. 33– Disse Arjuna: Ó Madhusudana (Krishna), este yoga que tu descreves como equanimidade, eu não vejo como pode ser permanente, devido à intranquilidade da mente. 34– Pois a mente, Ó Krishna, é intranquila, turbulenta, poderosa e obstinada. Parece-me que é tão difícil de controlar como o vento. 35– Disse o BENDITO SENHOR: Sem dúvida, ó tu de braços poderosos, a mente é intranqüila e difícil de controlar, no entanto, ó Kounteya, pode ser controlada mediante a repetida prática e o desapego. 36– Minha opinião é de que a pessoa cuja mente não está controlada, dificilmente logra este yoga, em troca, o homem de autocontrole, que faz o esforço segundo os meios (aconselhados) pode lográ-lo. 37– Disse Arjuna: O que acontece a uma pessoa que tem shraddha (fé), mas carece de determinação e não consegue lograr a perfeição no yoga (antes de morrer), devido à que sua mente vaga por toda parte? 38– Ó Krishna, Tu de poderosos braços, (este homem) perdido no caminho de Brahman, caindo de ambos (conhecimento e karmayoga) e sem suporte, não perecerá como uma pequena nuvem desprendida (de uma grande massa de nuvens). 39– Ó Krishna, Tu deves tirar de mim está dúvida completamente, porque ninguém além de Ti pode fazê-lo. 40– Disse o BENDITO SENHOR: Realmente, ó Partha, não há destruição para este homem nem aqui e nem no além, porque, meu filho, o benfeitor jamais termina mal. 41-42– Aquele que caiu do yoga (que não alcançou a perfeição) vai à esfera dos justos; depois de viver ali durante longo tempo, renasce em uma família de pessoas puras e prósperas ou renasce em uma família de sábios karma yoguis. Na realidade um nascimento assim é muito difícil de conseguir. 43– Então entra em contacto com o conhecimento adquirido na vida passada e se esforça mais do que antes para lograr a perfeição, ó Kourava! 44– Este homem, ainda assim, é levado à sua meta só pela força de suas práticas anteriores. Mesmo um mero investigador sobre o yoga é superior aos que fazem cultos. 45– Certamente, o yogui que pratica assiduamente, se purifica de suas faltas e aperfeiçoando-se durante várias vidas, ao final logra a meta suprema. 46– O yogui (karmayogui) é considerado superior aos ascetas, aos homens de conhecimento e às pessoas de ação; por isso seja um yogui. 47– Segundo Minha opinião, de todos os yoguis, sobressai aquele que com fé Me adora com toda sua mente absorta em Mim. Abraço. Davi
sexta-feira, 17 de outubro de 2025
XINTOISMO. Parte VII. CONCLUSÃO
Xintoísmo. Bushidor. Br. XINTOÍSMO. Parte VII. Conclusão. O Japão não foi cristianizado como os povos do Ocidente, não conheceu os saberes da civilização greco-romana, nem o Renascimento. Não se aproveitou do desenvolvimento trazido pela tecnologia das revoluções industriais dos séculos XVIII e XIX até a abertura da Era Meiji. Não participou das expedições de conquista ultramarinas empreendidas pelos países europeus a partir do século XV. Desconhecia até pouco mais de um século e meio, o que na Idade Média era conhecida como universitas – centro de pesquisa e conhecimento, embrião das universidades de hoje. Não viveu as grandes agitações da civilização, como a queda do Império Romano e as grandes invasões, as cruzadas e guerras religiosas, nem a Reforma e a Contrarreforma. Desconheceu também as conquistas da Revolução Burguesa e até a menos de um século e meio, ainda vivia no feudalismo, quando o Ocidente o expurgara da sua cartilha política havia quase cem anos. O isolamento de mais de dois séculos a que se submeteu sob o regime dos xoguns - facilitado pelo isolamento geográfico - contribuiu para assentar e reforçar o caráter e pensamento do povo japonês. Ao nativo xintoísmo, da excelência do homem e plena liberdade de crença, vieram juntar-se ideários forâneos que o enriqueceu. Dando-lhe agora as regras morais da convivência social pelo confucionismo e o conforto da vida pós-morte ensinado pelo budismo. O japonês que tinha o passado glorificado pela mitologia, tem no presente os mandamentos éticos do confucionismo e no futuro, a garantia da salvação pelos caminhos do budismo. Passado, presente e futuro complementam-se então na psique do povo, sem que os ensinamentos divirjam; antes, harmonizam-se e influenciam-se mutuamente, emprestando às vezes ensinamentos um ao outro. O príncipe Shotoku no século VI, de lendária sabedoria, ao incentivar a difusão do budismo em terras japonesas, deve ter percebido a harmonia e a complementaridade dos ensinamentos. Para o cumprimento dessa tarefa, o Japão trouxe também a escrita da China, ensinada por ordem do príncipe regente, para suporte do ensino do budismo. Foi então um tríplice acréscimo cultural: o budismo, o confucionismo e a escrita. Além da ampla cultura, que veio anexada inevitavelmente no bojo desse processo, o Japão moldou sua arte, literatura, sistema político e a organização social sob essa forte influência. O Japão não foi berço de nenhum patriarca religioso nem terra de revelações divinas - característica das modernas religiões - e a despeito de possuir uma religião panteísta, pagã, tida por alguns como antiquada, primitiva, selvagem, ainda no estágio pré-antropomórfico e pré-monoteísta, anterior à fase do desenvolvimento das religiões, ao japonês, essa "estagnação na fase primitiva" e falta de "desenvolvimento e modernização", parecem não fazer diferença na prática de sua fé. Ao xintoísmo de caráter absolutamente livre, juntou-se o budismo, religião ateia, não catequizadora, cuja salvação se dá pelo conhecimento e não pela intermediação de entidade espiritual, reforçando no caráter desse povo, a ideia da não-dependência, de liberdade com responsabilidade na busca da salvação, que é sempre individual, ou seja, não há intermediação de pessoa viva ou morta. Ao mesmo tempo o confucionismo lhe ensinava a prevalência do coletivo em detrimento do indivíduo, acentuando a responsabilidade para com o próximo tal qual lhe ensinava o xintoísmo. As estatísticas mostram a liberdade de afirmação religiosa. Em 1994 para uma população de 125 milhões de pessoas, pouco menos da de hoje (127 milhões), havia 115 milhões de xintoístas, 9 milhões de budistas, 1,5 milhão de cristãos e 11 milhões de outras religiões. Cuja soma supera em 90 milhões o número de habitantes, o que revela inclusividade, aceitação de permissiva multiplicidade da prática da fé em várias religiões (Matsumoto Shigeru in TAMARU et alii, op. cit., p. 14). Xintoísmo e budismo se aproximaram, se distanciaram e disputaram poder político, mas nunca digladiaram sobre questões doutrinárias. Pelo contrário, tentou-se até uma unificação, que se chamou genericamente às suas várias seitas de Ryobu-shintô (HERBERT, 1967a, p. 133). O território exíguo de 370 km², espalhado em mais de 4 mil ilhas, 70% ocupado por florestas montanhescas, de subsolo pobre, geologicamente instável, sujeito a terremotos, vulcões ativos, furacões, chuvas torrenciais e tsunamis, sempre foi extremamente rude à vida e parco em recursos aos habitantes. Embora dotada de rara beleza natural que os nativos tratam com muito apreço, não oferece nenhuma facilidade nem qualquer riqueza ao seu povo, a não ser aquelas que ele constrói por si. Mas o xintoísmo ensina ao japonês que aquela terra foi criada por deuses e ali nasceram seus deuses e sua gente, chamando-a então, "Terra dos deuses" (Atsutane Hirata apud in LITTLETON, op. cit., p. 34). E no fundo de sua alma, o japonês segue acreditando ter sido beneficiado por uma dádiva - poder morar numa terra divina, no paraíso digno de ser berço de deuses -, chamando-a ainda "o País dos Santos Espíritos", "a Terra da Grande Paz" (GRIFFIS, op. cit., p. 72). Não há possivelmente no mundo, nenhum outro povo e sua terra que sejam tão próximos e tão familiares um do outro, como constata Griffis, cuja simplicidade no temperamento é o mesmo de dez séculos atrás (ibidem p. 69). Muitas vezes estranha e mesmo antípoda às crenças das modernas religiões, a doutrinária, anômica, a força da mitologia xintô espalha-se por todo o Japão, modelando desde o nascimento, como uma cicatriz congênita, a personalidade desse povo. A singularidade de formar, sem ensinar; de ensinar, sem falar; de falar, sem dizer; e de sentir, sem compreender, possivelmente é o que nutre o mito e a longevidade e faz estudiosos - muitos, estrangeiros -, se debruçarem sobre os livros que tratam deste e de outros assuntos da cultura japonesa, fortemente enformada pelo Xintô. Por vezes, se simpatizar, como Lévi-Strauss, antropólogo e professor da Usp nos seus primórdios (BARROS, op. cit., p. 129). Simples, mais apreendido na convivência do que entendido, os princípios morais do Xintô bimilenário deram ao nipônico profunda fé, respeito e crença na excelência do homem como produto de origem e da vontade divinas. Fé, entendida como Fromm a descreve, não apenas como "crença em algo, mas a qualidade 40 .de certeza e firmeza que nossas convicções possuem; ... [como] traço de caráter que embebe toda a personalidade" (FROMM, 1990, p. 144). A nação pós-Era Meiji sofreu grande influência da cultura e dos conhecimentos do Ocidente, mas não ofuscou os princípios éticos e consuetudinários de seu nativo xintoísmo: sua teogonia é fonte que alimenta a alma do povo, dotado de "extraordinária vitalidade", como diz R. A. B. Ponson-by Fane (apud in HERBERT, 1964, p. 25). É o que fez o xintoísmo nos últimos dois milênios: fez o nipônico amar sua terra e sua gente, traçou um ideal ético amplo, não especificado, não legislado, não imposto, mas consensualmente tido como a matriz ética do convívio social e do amor à Natureza. Está presente em todos os aspectos do quotidiano, possibilitando ao nativo a realização de suas potencialidades de socialização, o fortalecimento de sua integridade pessoal e sua capacidade de amar. Uma sociedade que trilha o Caminho, resume o ideal do Xintô. "Mens sana in corpore sano" (mente sã em corpo são), diziam os romanos traçando seu homem ideal. "Homo sanus in communitate sana" (homem são em comunidade sã), é o que parece sugerir, sem dizer, o Xintô. GLOSSÁRIO Ainu: nativos do Japão, também chamados Ebisu (bárbaros). De acordo com o último censo, são cerca de 18 mil concentrando-se na Ilha de Ezo. Bugaku: É a dança nativa do gagaku desempenhada por uma corte em ocasiões festivas acompanhada de músicas muito antigas. Daimyô : (lit grande nome) - Nobre, senhor feudal, possuidor de grandes domínios de terras chamados myôden. Dohyô : Arena circular sobre terra batida destinada à luta de sumô. Gagaku: música e dança clássica nativa apreciada na corte imperial, cujo repertório foi trazido da China, Coreia e do sudeste asiático. Gohei: Pequenas tiras sagradas de papel branco utilizadas pelo monge xintoísta nas orações e ritos de purificação. É também utilizado para invocar deuses e repelir desgraças em ritos de exorcismo. Kagura: Dança e música do Xintô. Considerados sagrados, de origem antiga, ainda hoje são apresentados nos santuários xintô em festivais por jovens donzelas que pedem por boas colheitas. Segundo a mitologia, sua origem deve-se à deusa Ameno-Uzume-no41 .mikoto que dançou alegremente para atrair a deusa Amaterasu para fora da caverna onde havia se recolhido. Kanpaku: Principal conselheiro do Imperador encarregado de representá-lo e transmitir sua palavra em encontros importantes. Era o intermediário entre o Imperador e membros do governo. Na prática era o regente geral, o que exercia de fato o poder. Mikoshi: Andor, santuário portátil. Considera-se que a divindade repousa no seu interior durante as festividades, quando é carregada pelas ruas. Seu divino poder purificador protege dos maus espíritos e abençoa o ambiente por onde passa. Shogun: (lit enviado para combate aos bárbaros) - Termo abreviado do original Sei-itaishogun (comandante em chefe de combate aos bárbaros), aportuguesado para xogum. O título concedido pelo Imperador Gotoba era hereditário aos descendentes de Yoritomo Minamoto, considerado de fato o primeiro xogun, embora o título tivesse sido concedido no ano 720 a Tajihi no Agatamori pelo imperador Gotoba. Oda Nobunaga (1534-1582) era descendente dos Taira e Toyotomi Hideyoshi era plebeu, razão por que não obtiveram o título de xogum.
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quarta-feira, 15 de outubro de 2025
A RELIGIÃO DO ISLAM. Parte XVII
Islamismo. Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo (1961 - ). RELIGIÃO DO ISLAM. Parte XVII. No hadith do Anjo Gabriel, o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) declara, explicitamente, que se deve crer no Decreto Divino, “[tanto] em seus aspectos bons, como maus”. Ibn Qaiim destaca que por “mau” é feita uma referência aos seres humanos e não a Allah. A “maldade” é resultado das ações ignorantes, errôneas, opressivas e pecaminosas das pessoas. Não obstante, estas ações são permitidas e estabelecidas por Allah. Certamente, nenhum tipo de maldade pode ser atribuído a Allah, já que em relação a Allah, a ação é boa e cheia de sabedoria e deve ser considerada como um resultado do conhecimento e da sabedoria de Allah. Qualquer ação da natureza, em essência, é boa e não pode ter nenhuma maldade. Isso tem respaldo no hadith onde o Profeta diz: “A maldade não pode ser atribuída a Ti” (Muslim). Isso se deve a que cada ação que se realiza é o resultado de algum tipo de sabedoria e bondade e, portanto, não pode haver maldade. O próprio indivíduo pode pensar o contrário, mas, na realidade, tudo o que acontece na criação de Allah possui bondade e sabedoria. Ibn Uthaimin nos deixa um exemplo para ilustrar esta questão. Allah disse no Qur’an: “A corrupção surgiu na terra e no mar por causa do que as mãos dos humanos lucraram. E (Deus) os fará provar algo de que cometeram. Quiçá assim se abstenham disso.” (30: 41). Neste versículo, Allah expõe o surgimento da maldade (fasaad), suas causas e conseqüências. A maldade e as causas que a provocam são igualmente maléficas (sharr). Não obstante, seu objetivo é bom: que Allah lhes faça experimentar algo do que têm feito, assim regressarão ao caminho correto através do arrependimento. E assim existe uma sabedoria e um objetivo determinado no fasaad. Este objetivo e está sabedoria fazem com que toda ação seja algo bom e não puramente maldade. Por outro lado, a pura maldade consistirá em ações que não provoquem nenhum tipo de benefício ou resultado positivo. A sabedoria e o conhecimento de Allah impossibilitam a existência de ações desta natureza. Os frutos da crença correta no Decreto Divino Quando uma pessoa se dá conta de que todas as coisas se encontram sob o controle e o decreto de Allah, liberta-se de qualquer tipo de shirk ou de entidades associadas à Allah em sua crença. Existe somente um Verdadeiro e Único Criador e Senhor desta criação. Nada ocorre senão por Sua vontade e Sua permissão. Quando este conceito está firme no coração das pessoas, também se dão conta que nada é digno e merecedor de suas orações, ninguém pode ajudá-los e em ninguém se pode amparar a não ser Ele, o Único Deus. Portanto, essas pessoas dirigirão todos seus atos de adoração ao Único, Aquele que decretou e determinou absolutamente tudo. É assim que o tauhid ar-rububiyah (monoteísmo ao Senhorio) e o tauhid aluluhiyah (monoteísmo da adoração) são corretos e completamente cumpridos mediante uma apropriada crença no qadar. A pessoa colocará toda sua confiança em Allah. Deve prestar atenção às “causas e efeitos” externos que observa neste mundo. Sem dúvida, também deve levar em consideração que essas “causas e efeitos” não terão um desenlace a menos que Allah assim o queira. Deste modo, um crente nunca deve colocar sua confiança e dependência em suas próprias mãos ou em aspectos mundanos, como colocar a confiança nas mais daqueles que tem algum tipo de controle ou poder. Ao invés disso, deve seguir alguma