segunda-feira, 4 de agosto de 2025

INDAGAÇÕES DO SENHOR BUDA

Budismo. Livro O Evangelho de Buda. Vida e Doutrina de Sidarta Gautama. INDAGAÇOES DO SENHOR BUDA. Arada e Udraka eram os mais famosos mestres brâmanes, e ninguém os superava em sabedoria. O Tathágada sentou-se aos pés desses mestres e ouviu suas doutrinas sobre o atman, ou espírito do homem, que preside todas as ações. Os mestres ensinaram-lhe a doutrina da reencarnação e a lei do karma. Como as almas têm que sofrer ao nascerem em castas inferiores, ao passo que os purificados pelo sacrifício, oferendas e austeridades, chegam a ser reis, brâmanes e deuses. Cada vez em grau mais adiantado da existência. Sidarta estudou os encantamentos, oferendas e métodos mais propícios para alcançar o estado de êxtase e livrar-se da escravidão da personalidade. Dizia Arada: Que é personalidade que vê, ouve, cheira, gosta, toca, e que na visão, na audição, no olfato, no paladar e no tato tem as cinco raízes do espírito? Que é a personalidade que se move por meio das mãos e dos pés? A alma se manifesta por meio das expressões: Eu digo, eu sei, eu percebo, eu venho, eu vou, eu fico. A sua alma não é o seu corpo, nem seu olho, nem seu ouvido, nem seu nariz, nem sua língua, nem sua personalidade. O Eu percebe o tato no corpo, cheira com o nariz, vê com os olhos, ouve com os ouvidos, pensa com a mente. O seu Eu move suas mãos e seus pés. O seu Eu é sua alma. Irreligioso é duvidar da existência da alma, e quem não compreende essa verdade não está no caminho da salvação. O que pensa demais sobre essas coisas confunde a mente e se expõe a incredulidade. Contudo a purificação da alma conduz a libertação. Para alcançar a libertação é necessário afastar-se da multidão, levar vida eremítica e viver de esmolas. Se eliminarmos o desejo e reconhecermos a ilusão da matéria, encontramos as condições da vida imaterial. Como a erva madja, despojada de lenhosa casca ou com a ave presa que escapa de seu cárcere. Assim o Eu encontra repouso perfeito quando se livra de suas limitações. Essa é a verdadeira libertação, porém ela só e alcançada por aqueles que têm profunda fé. Como o Buda não ficou satisfeito com esses ensinamentos, ele replicou: As pessoas são escravas porque não abandonaram a ideia da personalidade. Em nosso pensamento, as coisas e suas qualidades são diferentes, todavia na realidade elas estão reunidas. No nosso pensamento o calor é distinto do fogo, contudo na realidade não podem separar-se. O senhor diz que consegue abstrair a coisa de sua qualidade, mas se leva essa operação até o fim, verá que não é assim. O homem não é um composto de vários princípios? não somos constituídos por diferentes escandas - do sânscrito Kandbas - resíduos, impressões, memórias do passado, como dizem os sábios? O homem é um composto de forma física, de sensações, de emoções, pensamentos, inclinações e mente. O que os homens chamam seu eu, não é uma entidade distinta dos escandas. Muita confusão provém de se crer vaidosamente que a personalidade é o verdadeiro Eu e de lhe atribuir a grandeza e o mérito das ações. A ideia da personalidade se interpõe a sua natureza racional e a verdade. Elimine-a, verá as coisas como elas são. Aquele que pensa sabiamente se desembaraçará da ignorância mediante a aquisição do conhecimento. Além disso, se a sua prsonalidade persiste, como poderá alcançar a libertação? Se o Eu está destinado a renascer em qualquer um dos três mundos. Encontrará sempre a mesma espécie de existência, ficará sempre envolto no egoísmo e no pecado. Tudo o que separa está sujeito à desagregação. Uma vez que não podemos escapar da roda de mortes e renascimentos, a libertação final não será possível. Udraka dizia: Você não vê ao nosso redor o efeito do karma? Por que os homens diferem quanto ao caráter, posição, riquezas e destino na vida terrena? É pelo seu karma, que compreende o mérito e o demérito. A reencarnação da alma depende do karma. Das vidas anteriores herdamos os resultados de nossas boas e más ações. Se assim não fosse, como poderia haver diferenças tão profundas entre os homens? O Tathágata meditou profundamente sobre os problemas da reencarnação e do karma, descobrindo a verdade neles subjacente. Então disse: A doutrina do karma é indiscutível, porque todo efeito tem sua causa. O homem colhe aquilo que semeia, e o que agora colhemos, devemos ter semeado em existências anteriores. Vejo que a alma reencarna porque está submetida a lei de causa e efeito e porque o homem cria o seu próprio destino. No entanto não vejo a reencarnação da personalidade. Esta minha individualidade não é composta de espírito e matéria? Não está constituída de qualidades que foram evoluindo gradualmente? Os cinco sentidos de percepção de meu organismo provêm dos antepassados que os tiveram. Minhas ideias provêm em parte dos indivíduos que as conceberam, e por outra parte das combinações dessas ideias em minha mente. Se há um atman, um espírito que percebe as sensações por meio dos sentidos, poderá ver, ouvir, cheirar, gostar e tocar muito melhor sem os olhos, nariz, ouvidos, língua e tato do organismo corporal. Compreendo a reencarnação da alma numa personalidade e a justiça do karma, no entanto, não vejo o atman que sua doutrina estatui como autor das ações humanas. Haverá um renascimento sem personalidade, pois se a personalidade fosse real, seria imortal e, portanto, não poderíamos nos livrar dela. O temor do inferno não teria limites e a paz não existiria para os homens. Os males da vida não provêm da ignorância e do pecado, mas são inerentes à natureza da nossa existência. O Tathágata foi depois ver os sacerdotes que oficiavam nos templos, e seu ser compassivo estremeceu ao presenciar a inútil crueldade realizada ante os altares dos deuses. É apenas por ignorância que esses homens realizam festas ruidosas e convocam magnas assembleias para celebrar sacrifícios sangrentos. Vale mais adorar a Verdade do que o vão desejo de agradar os deuses com efusão de sangue. Que amor pode sentir o homem que supõe que a destruição de uma vida invalida as más ações? Seria possível que um crime expie outro crime? Pode apagar os pecados do mundo o sacrifício de uma vítima inocente? Isso equivale a praticar a religião com aviltamento da moral. Acalmem o ânimo e não matem mais. Essa é a verdadeira religião. Os ritos são ineficazes. As orações são fórmulas repetidas de maneira vã. Os feitiços carecem de virtude favorável. Abraço. Davi.

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