quinta-feira, 28 de agosto de 2025

A RELIGIÃO DO ISLAM. Parte XIV

Islamismo. Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo (1961 - ). RELIGÃO DO ISLAM. Parte XIV. A crença nos Livros de Allah. Crer nos Livros de Allah é o terceiro pilar de fé mencionado neste hadith. Refere-se às revelações que Allah enviou a Seus Mensageiros, como misericórdia e orientação para dirigir a humanidade ao êxito nesta vida e a felicidade na próxima. O Qur’an é a revelação final. É a palavra de Allah. Ibn Uthaimin ressalta que a crença nos Livros de Allah compreende quatro aspectos:  Primeiro, deve-se crer que esses Livros foram realmente revelados por Allah. Segundo, deve-se crer especificamente nos Livros mencionados no Qur’an e na Sunnah. Trata-se do Qur’an revelado ao Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele), a Taurah revelada ao Profeta Moisés (que a paz esteja com ele), o Injil revelado ao Profeta Jesus (que a paz esteja com ele) e o Zabur revelado ao Profeta Davi (que a paz esteja com ele). Também no Qur’an há referência às “páginas” de Abraão e Moisés. Os Livros que possuem os judeus e cristãos, e que eles chamam Torá, Evangelho e Salmos, podem conter partes daquelas revelações originais, mas não há nenhuma dúvida que foram distorcidas e modificadas. Portanto, crer na Torá de Moisés, por exemplo, não significa que um muçulmano crê nos cinco primeiros livros do antigo testamento. São dois livros diferentes, embora o último possa conter partes do que havia sido revelado na Taurah original. . Em terceiro lugar, deve-se crer em tudo o que Allah revelou, tanto no conteúdo do Qur’an como nas revelações anteriores. Quer dizer que, por exemplo, se o Qur’an diz algo, então um muçulmano deve crer naquilo. Caso recuse algo que foi dito no Livro, então haverá negado sua crença nos Livros de Allah. Allah disse: “... Credes, acaso, em uma parte do Livro e negais a outra? Aqueles que, dentre vós, que cometem, não receberão, em troca, senão aviltamento, na vida terrena e, no Dia da Ressurreição, serão submetidos ao mais severo dos castigos. E Deus não está desatento em relação a tudo quanto fazeis.” (2: 85) . Em quarto lugar, deve-se atuar segundo a revelação que não foi revogada ou substituída, quer dizer, o Qur’an. Deve-se estar satisfeito com ele e submeter-se plenamente. Ainda que a pessoa não compreenda totalmente a sabedoria por trás de um dito mandamento. Todas as revelações prévias de Allah foram revogadas pela revelação final, o Qur’an. Não há necessidade de que o muçulmano se remeta aos remanescentes de nenhuma das escrituras anteriores. Tudo o que necessita para sua orientação está contido no Qur’an e o que o clarifica, como a Sunnah do Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Allah disse no Qur’an: “Em verdade, revelamos-te [Ó Muhammad] o Livro corroborante e preservador dos anteriores...” (5: 48) Sobre este versículo, Ibn Uthaimin comentou: “sobressai às escrituras prévias. Dessa maneira, não está permitido atuar segundo os ditames de nenhuma das escrituras anteriores, a menos que seja verificado e aceito pelo Qur’an”. O envio das revelações é uma das maiores bênçãos de Allah para a humanidade. Estas revelações guiam o homem à meta para a qual foi criado. É um dos muitos aspectos desta criação que ajudam o ser humano a ver e reconhecer a verdade. Sobre este ponto, Idris escreveu o seguinte: “Deus criou os homens para que fossem Seus servos. Ser servo de Deus constitui a essência do homem. Portanto, o homem não pode alcançar sua verdadeira humanidade e tranquilidade a menos que esteja à altura deste objetivo para o qual foi criado. Mas, como se pode fazê-lo? Deus, que é Misericordioso e Justo, ajuda de muitas maneiras. Deu-lhe uma natureza de bondade com inclinação a conhecer e servir ao verdadeiro Senhor. Deu-lhe uma mente que possui um sentido moral e capacidade de raciocinar. Fez de todo o universo um livro natural, cheio de sinais que guiam a pessoa que pensa em Deus. Entretanto, para fazer coisas mais específicas e obter um conhecimento mais detalhado de seu Senhor e servi-lo de uma forma mais exaustiva, Deus enviou mensagens através de Seus Profetas escolhidos entre os homens, desde a criação do ser humano. Por isso o Qur’an descreve mensagens anteriores como: orientação, luz, sinal, recordação, etc.” De fato, não somente enviou revelações à humanidade, como também enviou revelações específicas e diferentes segundo as necessidades e circunstâncias dos povos ao longo do tempo. Essa é outra expressão da grande misericórdia de Allah para com a humanidade. Este processo continuou até que foi revelado o Qur’an, que continha toda a orientação que a humanidade necessita desde os tempos do Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) até o Dia do Juízo Final. Dado que deve cumprir a função de guia para todos os tempos até o Dia da Ressurreição, diferente das escrituras anteriores, Allah protegeu o Qur’an de toda e qualquer alteração, erro ou distorção. Allah disse: “Nós revelamos a Mensagem e somos o Seu Preservador.” (15: 9) A crença nos mensageiros O seguinte pilar da fé trata sobre a crença nos mensageiros de Allah. Um mensageiro é um ser humano que foi eleito por Allah para receber Sua revelação; aquele a quem foi encomendada a tarefa de transmitir essa revelação às outras pessoas. O primeiro dos mensageiros foi Noé (Nuh). Os mensageiros foram enviados a todas as pessoas e todos transmitiram o mesmo ensinamento fundamental: “Em verdade, enviamos para cada povo um mensageiro (com a ordem): Adorai a Deus e afastai-vos do sedutor!...” (16: 36) O último Mensageiro e Profeta foi Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Allah disse: “Em verdade, Mohammad não é o pai de nenhum de vossos homens, mas sim o Mensageiro de Deus e o prostremos dos profetas; sabei que Deus é Onisciente.” (33:40) Cabe ressaltar que todos estes mensageiros e profetas foram seres humanos normais. Não possuíam nenhum tipo de atributo divino. Não tinha o conhecimento acerca do desconhecido salvo pelo que Allah os havia. Seu atributo mais elevado foi o de servos de Allah. Assim Allah os descreve no Qur’an. Certamente, com respeito ao Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) e fazendo referência a três dos mais importantes acontecimentos de sua vida, Allah se refere a ele como Seu servo. A crença correta nos mensageiros compreende quatro aspectos: Primeiro, deve-se crer que a mensagem que todos transmitiram é a Verdade proveniente de Allah. Se uma pessoa refuta um mensageiro que esteja confirmado no Qur’an ou em um hadith autêntico, com certeza está refutando a todos os mensageiros. Allah se refere ao povo de Noé dizendo: “O povo de Noé desmentiu os Mensageiros” (26: 105). Sem dúvidas, Noé foi o primeiro mensageiro. Basicamente, isso significa que se uma pessoa rechaça um mensageiro, na realidade, está rechaçando a todos; uma vez que as mensagens são, em essência, a mesma, única e consistente. Com relação a isso, o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “Por aquele em cujas Mãos se encontra a alma de Muhammad, não existirá nenhum judeu ou cristão nesta nação que me escute e logo morra sem haver crido em minha mensagem, que não será um dos habitantes do Fogo do Inferno.” (Muslim). Este é um dos aspectos que distinguem os muçulmanos dos povos antigos. Os muçulmanos creem em todos os profetas. Com certeza, outros povos recusavam alguns, fossem os judeus recusando Jesus (que a paz esteja com ele) ou os cristãos recusando Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Não possuíam nenhum tipo de fundamento para rechaçar o último profeta. Cada mensageiro se manifestou com provas e sinais muito claros. A recusa de seu povo só pode ter sido embasada na arrogância, ignorância ou hostilidade para com a verdade. - Segundo, deve-se crer em todos os mensageiros mencionados pelo nome no Qur"an e na Sunnah. Quanto aos que não são mencionados, deve-se crer neles a um nível geral, sabendo que Allah enviou muitos mensageiros – ainda que nem todos são mencionados no Qur’an ou em algum hadith. Allah declara no Qur’an: “Antes de ti, havíamos enviado mensageiros; as histórias de alguns deles te temos relatado, e há aqueles dos quais nada te relatamos...” (40:78) - Terceiro, deve-se crer em tudo que é relatado por estes mensageiros. Eles trazem a Mensagem de Allah de forma completa e adequada. Esforçam-se por transmitir esta Mensagem. Resistem em nome de Allah da forma mais incisiva. São os que mais conhecem a Allah e os melhores servos e adoradores do Senhor. Os mensageiros “foram protegidos de atribuir a Allah produtos de suas imaginações, de julgar de acordo com seus próprios desejos, de cometer pecados capitais e de agregar ou retirar coisas da religião.” - Quarto ponto, deve-se submeter, aceitar e atuar de acordo com as leis que foram ensinadas pelo Mensageiro. Allah disse no Qur’an: “Jamais enviaríamos um mensageiro que não devesse ser obedecido, com a anuência de Deus...” (4:64). Com relação ao Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele), Allah disse: “Qual! Por teu Senhor, não crerão até que te tomem por juiz de suas dissensões e não objetem ao que tu tenhas sentenciado. Então, submeter-se-ão a ti espontaneamente.” (4: 65). O crente deve entender que lhe foram enviados mensageiros para benefício e orientação da humanidade, ou seja, isso é uma grande benção de Allah. O conhecimento que eles transmitiram é um tipo de conhecimento que vai além da compreensão do intelecto humano, já que trata de assunto do oculto. De fato, a necessidade da humanidade pela orientação é maior que a necessidade por comida ou bebida. Porque, se carecerem da orientação da Allah, ensinada pelos mensageiros, perderão o melhor deste mundo e do outro. A crença no Último Dia e na Próxima Vida “O Último Dia” é nomeado como tal, pois não haverá um novo dia após ele; as pessoas do Paraíso habitarão em suas moradas, assim como as pessoas do Inferno. Entre seus diversos nomes, encontram-se: “O Dia da Ressurreição”, “A Realidade”, “O Acontecimento”, “O Dia do Juízo” e “O Escurecedor”. Este será o dia mais importante vivenciado pela humanidade. De fato, será o dia mais sério e mais temido por todos. A nova vida das pessoas será determinada nesse dia. Marcará um novo começo para cada uma das almas. Este novo caminho poderá levar tanto à graça eterna como à condenação eterna. A crença no Último Dia implica em crer em tudo que o Qur’an ou o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) declararam acerca dos eventos que acontecerão neste Dia. Existem alguns aspectos gerais (a ressurreição, o juízo e as recompensas, o Paraíso e o Inferno) que os muçulmanos devem crer com convicção. Também existem aspectos mais particulares que o Qur’an ou o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) mencionam. Quanto mais se sabe desse Dia e seus acontecimentos, maior será o efeito que esta crença terá sobre a pessoa. Por isso, é altamente recomendado que cada muçulmano estude e aprenda sobre os acontecimentos que ocorrerão antes e durante o Dia da Ressurreição. Como se encontra registrado no sahih Muslim, antes do Dia do Juízo e da destruição da terra, Allah enviará um vento mais suave que a seda, que levará as almas de todos os indivíduos que possuam ainda um mínimo de fé no coração. Portanto, os eventos do fim da terra serão presenciados somente pelas piores pessoas, as que careçam realmente de fé. Um dos primeiros acontecimentos será o sol nascendo no oeste. Neste momento todas as pessoas afirmarão ter fé, mas será tarde e isso não lhes adiantará em nada. Logo, a trombeta soará e tudo o que se encontra sobre a terra morrerá. Allah disse: “E a trombeta soará e aqueles que estão nos céus e na terra expirarão, com exceção daqueles que Deus queira (conservar). Logo, soará pela segunda vez e, hei-lhes ressuscitados, pasmados!” (39: 68) A terra e os céus serão destruídos. Logo após um período de quarenta – não se sabe se são horas, dias ou anos – a trombeta soará pela segunda vez e as pessoas serão ressuscitadas: “E a trombeta soará, e hei-lhes que sairão dos seus sepulcros e se apressarão para o seu Senhor. Dirão: Ai de nós! Quem nos despertou do nosso repouso? (Ser-lhes-á respondido): Isto foi o que prometeu o Clemente, e os mensageiros disseram a verdade.” (36: 51-51). De acordo com Ibn Uthaimin, a crença no Último Dia abrange três aspectos. O primeiro é a crença na ressurreição - logo após o segundo soar da Trombeta, as pessoas ressuscitarão ante Allah. Encontrar-se-ão nuas, descalças e sem a circuncisão. Allah disse: Do mesmo modo que originamos a criação, reproduzi-la-emos. É porque é uma promessa que fazemos, e certamente a cumpriremos.” (21: 104). A ressurreição será no mesmo corpo que a pessoa possuía em sua vida neste mundo. Ibn Uthaimin destacou a sabedoria e a importância deste fato: “Se houvesse uma nova criação significaria que o corpo que realizou os pecados neste mundo estaria a salvo de qualquer tipo de castigo. Retornar com um novo corpo e se aquele corpo for castigado contraria toda a noção de justiça. É por isso que os argumentos contextuais e racionais indicam que a pessoa ressuscitada não é uma nova criação, mas sim o retorno da mesma.” Também ressalta que Allah possui a habilidade de recriar os corpos, inclusive após estarem desintegrados. Os seres humanos podem não ser capazes de entender como isso é possível, assim como existem muitos outros aspectos que os seres humanos não compreendem. Sem dúvida, Allah o declarou e os crentes têm a certeza de que isso é a verdade e que Allah é completamente capaz de fazê-lo. O segundo aspecto é a crença na prestação de contas ou apreciação das ações e as recompensas ou castigos por estas. Este aspecto é mencionado e destacado em diversas partes do Qur’an. Aqui colocaremos alguns exemplos: “Em verdade, o seu retorno será para Nós; e o seu cômputo Nos concerne.” (88: 25-26) “E instalaremos as balanças da justiça para o Dia da Ressurreição. Nenhuma alma será defraudada no mínimo que seja; mesmo se for do peso de um grão de mostarda, tê-lo-emos em conta. Bastamos Nós por cômputo.” (21: 47). Allah deixa muito claro que todas as ações serão analisadas no Dia do Juízo. Disse: Allah. Página 136. Abraço. Davi

terça-feira, 26 de agosto de 2025

OUTROS ANOS DE ANDANÇAS

Confucionismo. Biografia de Confúcio. Memória Histórica de Sima Qian. 6. OUTROS ANOS DE ANDANÇAS. [488 -84]. No ano seguinte (488 A. C.) Wu e Lu promoveram uma conferência e cem reses foram levadas ao altar dos sacrifícios (sendo esse um número exorbitante e contra as formalidades da ordem feudal confuciana). O Ministro Pi de Wu, pediu ao Barão K'ang Chi para representar Lu, e, não querendo ir, o barão esquivou-se enviando Tsekung em seu lugar. Já Confúcio havia dito que os povos Lu e Wei eram primos (tendo sido irmãos os respectivos ancestrais); agora o sucessor do trono de Wei permanecia fora de sua terra, sem meios de estabelecer-se no país, e governantes das várias províncias andavam constantemente a cogitar de possíveis empreitadas. Confúcio tinha então muitos discípulos no governo de Wei, cujo monarca almejava conseguir os serviços do próprio Confúcio. Tselu perguntou, uma vez: - "Se o governo de Wei vos chamasse ao poder, como havíeis de principiar?" Confúcio explicou: -"Começaria por estabelecer o correto uso da terminologia" (relativa a castas e títulos). "Deveras?" - retorquiu Tse­ lu, e continuou: - "Sois esquisito e pouco prático! Para que firmar a terminologia?" E Confúcio falou de novo: Ah Yu, como és ingênuo! Se a terminologia não é correta, as coisas ditas perdem todo o sentido; se o que se diz não tem sentido, as ordens não podem ser cumpridas; se não se cumprirem as ordens, as normas próprias do culto e da sociedade (no ritual e na música) não se podem restaurar: se não se restauram as normas sociais e religiosas, falirá a justiça das leis [5]: quando falha a justiça legal a gente se perde sem saber o que faça ou deixe de fazer. Quando um gentil-homem faz alguma coisa, há de estar certo quanto à sua exata representação por palavras, e quando expede uma ordem, há de estar certo de que essa ordem poderá ser cumprida sem tergiversações. Um gentil-homem nunca emprega indiscriminadamente a terminologia." No ano seguinte (484 A. C.)[6]. Jan Ch’iu, então administrador assistente no governo de Lu, dirigiu o exército do Barão K'ang Chi contra Ch’i e saiu vitorioso na batalha de Lang. E o Barão K'ang perguntou a Jan Ch’iu: - "Como chegastes a aprender a ciência da guerra? Através de estudos ou por temperamento?" Jan Ch’iu respondeu: "Aprendi com Confúcio." Indagou o barão: - "E que espécie de homem é Confúcio?" Jan Ch’iu falou: - "Se o colocásseis no poder, sua reputação haveria de impor-se imediatamente. Poderíeis aplicar ao povo os seus ensinamentos ou apresentá-los aos deuses, e nem os deuses achariam defeitos neles. Tudo o que ele almeja é levantar um país à condição de perfeita ordem moral. Ainda que lhe désseis poder sobre 25.000 famílias, ele jamais abusaria disto em proveito próprio." "Devo convocá-lo?" ,.- inquiriu o barão. E Jan Ch'iu replicou: - "Não, convocar não - seria indelicado tratá-lo como a qualquer um; devíeis combinar com ele a sua vinda." Sucede que K'ung Wentse, de Wei, ia atacar T'aishu, e pediu a Confúcio conselhos táticos; Confúcio declinou polidamente, alegando nada saber do assunto. Após a entrevista, Confúcio preparou sua carruagem para partir, dizendo: - "Um pássaro pode escolher a árvore para morar, mas a árvore não pode escolher o pássaro." K'ung Wentse procurou, ainda assim, persuadi-lo a ficar. O Barão K' ang Chi despediu Kung Hua, Kung Pin e Kung Lin, e enviou presentes a Confúcio em sinal de boas-vindas: Confúcio tornou então à sua terra, Lu, longe da qual passara quatorze anos (496-184 a.C.). Abraço. Davi

sábado, 23 de agosto de 2025

FELICIDADE

Teosofia. Livro O Interesse Humano. Por N. Sri Ram (1889-1973). FELICIDADE. Felicidade é aquela condição ou estado que é buscada por todos os seres vivos. É inerente a vida, que é um processo de movimento constante a partir do interior. Toda evolução é um processo de organização para a libertação de ainda mais vida. Consequentemente, existe alegria no simples ato de viver a vida através de um instrumento perfeito. Apesar de rapinarem uns aos outros e da dor ocasionalmente sentida, as vidas de pássaros e animais em liberdade é alegre enquanto o homem não se intromete. É ele quem sai atirando e caçando, que os aprisiona em jaulas, que os tortura e os priva de mil e uma maneiras. Mesmo quando o homem morre como mártir, ou inflige dor a si mesmo, age assim porque isso lhe dá prazer para assegurar seu poder sobre si mesmo. E experimenta uma felicidade interior que é maior do que a dor. Maiores do que as alegrias da natureza física são as alegrias das emoções e da mente - a alegria da criação, da experiência estética, do amor. Cada uma é um tipo diferente de experiência. Segundo a filosofia antiga da Índia, a natureza mesma da vida ou existência é bem-aventurança. Obviamente a vida é uma força cinética. Ela é também, como podemos ver, um cabedal de energia latente, um depósito de potencialidade, ilimitado até onde sabemos. Quando a energia flui de um modo que expresse essa potencialidade, existe alegria. Quando existe restrição há sofrimento ou dor. Essa restrição deve-se ou ao molde no qual a vida que flui está aprisionada ou a uma distorção sofrida por essa vida na tentativa de ser diferente dela mesma. O que cria a distorção? No caso dos seres humanos esse molde é causado pela mente, que também é inerente a vida. Do ponto de vista da Teosofia - que é a sabedoria inerente a todas as coisas - sempre que existe percepção ou consciência. Seja de sono ou vigília, germinal ou desenvolvida. Onde existe mente existe dualidade - eu e o outro, dentro e fora, uma coisa e outra. A mente não está contente em permitir que a corrente de vida flua em seu próprio curso ou seu padrão natural. porém estabelece metas e objetivos segundo a experiência relembrada, e busca ser diferente do que é. Ela ou quer confinar-se dentro - o homem de tamas - de certos hábitos que lhe dão satisfação de tranquilidade ou estagnação. Ou age segundo certas ideias ou desejos, que também surgem do passado, e se distorce violentamente no processo. Este é o homem ambicioso ou impetuoso - o homem de rajas. Tanto no homem de tamas quanto no de rajas existe condicionalmente ou limitação da mente e da vida do homem. Em um caso pelo simples ímpeto de antigos hábitos de pensamentos e ação. Em outro pelo funcionamento da sua mente sobre experiências passadas, produzindo ideias e desejos novos. Quer o resultado seja estagnação ou ambição, estupidez ou desejo febril, existe um retrocesso ao processo natural de expressão livre e desimpedida do que está dentro da própria pessoa. O que dá lugar a infelicidade. Estamos familiarizados com a frase "vida, liberdade e a busca da felicidade". É importante que os três estágios que se fundem em um - a vida, a liberdade de que se precisa. E a felicidade que surge a partir do interior e que não é meramente uma reação agradável a uma excitação exterior - estejam todos agrupados. A felicidade é inerente à vida, não precisa ser perseguida ou buscada. Ela surge como resultado da livre expressão da vida, que só é possível quando a mente do homem não é condicionada pelo seu passado. É importante que, do ponto de vista da filosofia indiana, a meta e o objetivo da vida tenham sido concebidos como moksha ou liberdade absoluta. Não era apenas libertação da necessidade de uma vida terrena e da labuta nela implícita, libertação do karma, das complicações da vida passada. Todavia também das limitações da própria incapacidade de viver sua própria vida num estado de liberdade. Tal como podemos conceber que uma flor experimente quando é seu próprio eu natural. "Olhai os lírios do campo, eles não trabalham, nem fiam", contudo existe neles a exuberância da vida. O problema não é a felicidade a que todos acreditam ter direito. Questionamos apenas a necessidade da dor. O problema é um problema de dor ou sofrimento, como foi há muito afirmado pelo Senhor Buda em sua sabedoria. Dor e sofrimento são a negação da vida pela limitação que lhe é imposta. Essa limitação, que é a mesma coisa que karma, é imposta pela própria pessoa, por sua própria ignorância. Cada um é prisioneiro das próprias memórias, ansiando a repetição de prazeres passados, planejados prazeres futuros. Construindo muralhas de segurança com medo de perder o que possui e fechando-se dentro delas. Feliz o homem que não é escravo de seus próprios desejos, cuja mente e coração estão livres de ansiedade a respeito do amanhã. Ser dominado por um desejo não é ser livre. Quando homens e mulheres são perturbados por seus desejos não conseguem experimentar a felicidade. A satisfação do desejo é apenas temporária. Existe uma reação oriunda de cada satisfação, depois nos recobramos da reação e todo o processo repete-se indefinidamente. A verdadeira felicidade não dá origem a reação, pois é a experiência de um florescimento que ocorre a partir do interior. Não surge de fora, avoluma-se a partir do interior, mas não do eu isolado. É um estado de liberdade, e não o preenchimento de um vazio dentro de si próprio. Também não é aliviar-se da monotonia. Não é a mesma coisa que prazer, por mais agudo que seja, que surge a partir de uma excitação do corpo físico ou de qualquer outro corpo. A verdadeira felicidade não é um estado no qual o homem está separado do resto do mundo e indiferente a ele. Como quando está sob uso de drogas ou de bebida alcoólica. O estado da mais elevada felicidade é aquele em que a consciência é universal. Livre como o vento, e pode identificar-se instantaneamente com cada momento passageiro. O voo de um pássaro, o tremular de uma folha, os sorrisos e as lágrimas de outros seres humanos. O homem que está concentrado na satisfação de sua luxúria não consegue pensar em nada senão na satisfação e em si mesmo. O anelo pelo prazer pode destruir a humanidade, seja no individual ou no mundo coletivo em geral. O homem e a mulher livres não alimentam ansiedade a respeito do amanhã. Isto não quer dizer que eles não façam planos ou não vivam de maneira inteligente. Mas devem ter em seu interior aquele dinamismo do espírito. Estando desejo de aceitar qualquer que sejam as condições que tenham de confrontar. Somente isso lhes permitirá viver com tranquilidade, como homens e mulheres livres no verdadeiro sentido do termo. Mesmo na ausência disso, podemos ser felizes de certo modo, aceitando a vida fácil e filosoficamente. Muito de nossa felicidade, deve-se ao modo como assimilamos os incidentes da vida. Um bom batedor de críquete - esporte - consegue fazer a bola resvalar até a linha divisória batendo com o bastão num determinado ângulo. O que faremos se não tivermos um senso de eu muito forte. Ou podemos deixar que o comentário distorça nossos sentimentos até que se tornem um nó emaranhado que não pode ser facilmente desfeito. Aquele que altruisticamente busca tornar os outros felizes cria felicidade para si próprio. É possível dormir um sono mais tranquilo no chão do que sobre uma cama com colchão de penas. Dizem que Deus distribuiu suas prendas de modo muito desigual. Porém Ele se aproxima muito da imparcialidade nas porções de felicidade concedidas a Seus filhos. A libertação do desejo, se puder ser alcançada é a chave para o segredo da felicidade. o segredo jaz dentro da própria pessoa e em nenhum outro lugar. Nem mesmo em Deus, pois o que chamamos de Deus não é a realidade. Porém uma projeção de nossas próprias mentes. O segredo consiste em cada um ser ele próprio, o que não quer dizer tornar-se isto, aquilo ou aquilo outro. Como planejado e buscado por nossas mentes ambiciosas. Existe um vir a ser na natureza que é uma questão de forma. O ser é de vida em sua essência e pureza. Mas quando queremos competir, criar, experimentar, estabelecemos um objetivo fora de nós que buscamos atingir. Assim ocorre a luta, o conflito, a renúncia da felicidade que nos é possível dentro de nós mesmos. Desejar é ser arrastado pra fora de si próprio. A cessação do desejo, pela compreensão de sua natureza, é a retirada do não Eu e a compreensão do Eu. Nisso está a mais elevada felicidade. Existe um trecho interessante em um dos Upanishads que compara a felicidade experimentada pelos mortais, pelos devas e outros. A mais elevada felicidade, segundo esse trecho, é a felicidade do homem ou da mulher que compreendeu a natureza de Brahman. A verdade em todas as coisas e dentro de si próprio e não mais está acorrentado pelo desejo. Não ter desejos centrados no eu é amar a todos, pois é o desejo que separa aquele que desfruta dos outros a quem o objeto desfrutado pode igualmente servir. Quando existe amor sem posse e sem a busca de gratificação daquela posse, ocorre a bem-aventurança. Amar é doar livremente, e é na doação que está a experiência da felicidade. A felicidade está na plenitude da vida. A vida é consciência e existe em todos os níveis, mental, emocional e físico. Plenitude Implica plenitude do próprio ser. Portanto a realização de todos os ideais - verdade, beleza e bondade - a harmonização de pensamento e ação. Então, vive-se a partir de um centro interior no qual não existe possibilidade de conflito. Porém existe uma perene fonte de pensamento, sentimento e ação, tudo perfeitamente harmonizado. Tudo instintivamente respondendo às necessidades um do outro e a cada situação, à medida que surge de momento a momento. Abraço. Davi.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

O DIAGRAMA CHINÊS -TEI-GI - POEMA I

Lao Tse. Tao Te Ching. O Livro que Revela Deus. Por Huberto Rohden (1893-1981). O DIAGRAMA CHINÊ - TEI-GI. A bipolaridade complementar do Cosmos, que permeia toda a filosofia de Lao Tse, é maravilhosamente simbolizada pelo antiquíssimo diagrama chinês chamado Tei-Gi. Analisando a gênese deste símbolo, podemos dizer: o círculo incolor e vácuo representa a Tese do Absoluto, Brahman, a Divindade, como o puro Ser. Este círculo incolor e indefinido do Absoluto evolve rumo aos Relativos do Devir. Aparecendo como positivo e negativo, yang e yin, masculino e feminino, céu e terra. O simples Ser de Brahman tornou-se o Criador Brahma, iniciando o drama da evolução. Essas duas antíteses amadurecem na Síntese, rumo a Tese inicial, integrando-se nela sem se diluir. De maneira que a Tese Cósmica, passando pelas Antíteses Telúricas, culmina na Síntese Cosmificada. E o que se dá, automaticamente, no Cosmos Sideral pode acontecer espontaneamente no Cosmos Hominal, pelo poder criador do livre-arbítrio humano. O Tei-Gi simboliza a quintessência da filosofia de Lao Tse. O alfa e o ômega do Tao e da mentalidade chinesa. Coincidindo, basicamente, com a nossa Filosofia Univérsica.

Poema I

O Uno e o Verso do Universo
O Insondável (Tao) que se pode sondar
O inconcebível que se pode conceber
Não indica o Inconcebível
No inominável está a origem do Universo
O Nomeável constitui a mãe de todos os seres
O Ser indigita a Fonte Incognoscível
Ser e Existir são a Realidade total
A diferença entre Ser e Existir
É apenas de nomes
Misterioso é o fundo
Eis em que consiste a sabedoria suprema

Explicação Filosófica: Tao é a Realidade Insondável, o Brahman Absoluto, a Divindade Transcendente. Como tal, não é acessível ao nosso conhecimento lógico. Só conhecemos a Divindade Transcendente na forma do Deus Imanente. O nosso conhecer finito finitiza o Ser Infinito. Tao é em si mesmo anônimo, inominável. Quando o nominamos, reduzimos a um plano finito o Infinito, relativizamos o Absoluto. Parcializamos o Todo, colorimos o Incolor, personalizamos o Impessoal. O que se pode dizer e pensar não é a Realidade Absoluta, que é indizível e impensável. Através dos óculos da nossa finitude humana enxergamos a Infinitude Divina. Visualizando-a assim como nós somos, mas não assim como ela é. O Ser e o Existir, a Essência e a Existência, o Uno e o Verso constituem o Universo. A Unidade do Real na Diversidade dos Realizados, que é a Realidade Total. A Plenitude do Todo nos afeta como sendo a Vacuidade do Nada. Quem olha diretamente para a pleniluz solar não enxerga nada - por excesso de luz. A Essência do Ser é para o nosso conhecer como se fosse o Nada. Para nós, somente o Algo Existencial é objeto de conhecimento. O Todo Essencial é totalmente incognoscível, como se fosse o puro Nada. Toda a sabedoria consiste em evacuarmos essa Vacuidade, em nulificarmos essa Nulidade. Não para enxergarmos o Todo da Essência, mas para sermos invadidos pelo Todo. Em linguagem matemática diríamos: 1 representa o Todo da Essência Infinita. O 0 simboliza o Nada da não Essência. Mas, se colocarmos o Nada da não essencial do lado direito do Todo da Essência, resulta o Algo da Existência: 10, 100,1000 etc. O infinito gera do seio do Nada o Finito ou o Algo. O Algo Existencial é filho do Todo Essencial gerado no seio do Nada. Brahman, o Pai Infinito, gera os mundos, pelo seio de Maya, Mãe de Todos os Finitos: 1.000.000. Os nossos algarismos, que costumamos chamar arábicos, tiveram origem na Índia. O 1 simboliza o masculino, o 0 representa o feminino, e da união desses dois nascem todas Existencialidades. intuir essa Verdade é Sabedoria suprema, diz Lao Tse. Sabedoria ou Sapiência não é inteligência. Saber é saborear experiencialmente, intuitivamente, não é pensar analiticamente. A ciência é o produto da inteligência - a sapiência é dádiva da razão. A ciência vem do pequeno ego - a sapiência brota da Fonte do grande Cosmos. No homem se revela como o Eu e flui pelos canais humanos, se esses estiverem devidamente desegoficados e firmemente ligados à Fonte Cósmica. A cosmo plenitude plenifica a ego vacuidade. Abraço. Davi

terça-feira, 19 de agosto de 2025

INTRODUÇÃO

Judaísmo. Um Guia a Sabedoria Oculta da CABALA. Por Rabi Michael Laitman (1946 - ). INTRODUÇÃO. O homem sempre procurou respostas às perguntas básicas da existência: Quem sou? Qual é o propósito de minha existência? Por que existe o mundo? Seguimos existindo depois que o corpo físico completou sua tarefa? Cada um à sua maneira tenta responder a tais perguntas a partir das fontes de informação de que dispõe. Cada um de nós formula sua concepção do mundo a partir de sua experiência. A realidade e a vida cotidiana encarregam-se de pôr à prova constantemente esta percepção, obrigando-nos a reagir, melhorá-la ou então mudá-la. Alguns o fazem conscientemente, em outros ocorre como um processo inconsciente. A necessidade de efetuar mudanças e de procurar respostas provém do desejo de receber prazer e de evitar o sofrimento. As leis da natureza, nossa experiência de vida e a conduta das criaturas viventes nos ensinam que não existe um modo lógico de evitar por completo o sofrimento. Neste sentido, somos iguais aos demais seres vivos. Uma vaca, uma rã ou um peixe também procuram, à sua maneira, a maior quantidade de prazer com a menor quantidade de esforço. As questões essenciais a respeito do ser humano agregam outra dimensão ao sofrimento humano. Não nos permitem nos sentirmos satisfeitos mesmo depois de termos alcançado tal ou qual objetivo particular. Ao atingir a meta ansiada, sentimos rapidamente a carência de algum outro prazer. Isto nos impede de desfrutar nossas conquistas, reativando assim o nosso sofrimento. Vemos retrospectivamente que gastamos a maior parte do tempo esforçando-nos por atingir nossos objetivos, obtendo muito pouco prazer pelo sucesso em si. Nos últimos anos iniciou-se uma busca em massa a nível mundial por respostas. Muitos se voltam para o longínquo oriente e para a Índia em busca da verdade. Alguns encontram satisfação temporária mediante técnicas e procedimentos de relaxamento ou de redução do sofrimento por minimização das expectativas e da força do desejo. Estas ações meramente camuflam o fato de que não se tem obtido satisfação. Diversas formas de meditação, alimentação e exercícios físicos e mentais aquietam os instintos animais do ser humano, permitindo-lhe sentir-se fisicamente mais confortável. Sente-se senhor de suas reações, desenvolvendo a autoconsciência. Aprende a escutar as necessidades de seu corpo e de sua personalidade e a satisfazê-las. Este procedimento, que lhe ensina a diminuir suas expectativas, representa uma mera alternativa aos seus verdadeiros desejos. Em lugar de soluções, recebe anestesia local na fonte de seu sofrimento. Mas quando os efeitos da anestesia desaparecem, descobre que não pode ignorar a verdade: minimizar o desejo de receber prazer não nos permite escapar dele. Qualquer um que, tendo escolhido este caminho, realizar um honesto autoexame, comprovará que ainda não atingiu o objetivo desejado – deixar para trás o sofrimento e encontrar prazer ilimitado. Há também aqueles que procuram uma explicação lógica do universo por meio da investigação científica. As leis da natureza e da conduta humana têm sido estudadas durante milhares de anos. Nos últimos cem anos, desde que o pensamento científico se tornou um instrumento de estudo legítimo dos fenômenos naturais do nosso mundo, tem-se alcançado significativos progressos. A ciência baseia-se em pressupostos lógicos, investigação confiável e dados quantificáveis. O progresso que trouxe ao mundo é inegável, mas limitado. O que não pode ser medido por instrumentos científicos fica fora de seu alcance. A alma do homem, sua conduta e suas motivações se encontram fora dos limites de um autêntico estudo científico. Ainda no campo das ciências naturais, os pesquisadores e cientistas modernos descobrem que, à medida que avançam em suas investigações, mais escuro e confuso se torna o mundo que vão encontrando. Os textos científicos mais avançados se parecem cada vez mais com tratados místicos, ou pelo menos com ficção científica. Não é de se estranhar que haja tantos fanáticos por ficção científica entre os cientistas. Mas a ficção não oferece soluções -deixa os que buscam o verdadeiro caminho sem respostas, confusos e frustrados. Ao longo das gerações, os cabalistas têm escrito muitos livros em diversos estilos, de acordo com a época em que lhes competia viver: a linguagem da Bíblia (que inclui os cinco livros de Moisés, os Escritos e os Profetas), a linguagem das lendas, a linguagem jurídica e a linguagem da Cabala, um modo de descrever o sistema espiritual dos mundos superiores e a forma de alcançá-lo. Quatro linguagens ao todo, criadas para introduzir-nos em nossa realidade espiritual. Não se trata de caminhos diferentes, mas de aspectos do mesmo tema, em diferente formato. Explicam como avançar no mundo espiritual e como este está construído. A Bíblia e outras fontes espirituais autênticas foram reveladas para ensinar-nos como agregar a este mundo a vivência da esfera espiritual, como progredir nela, estudá-la e receber conhecimento espiritual. Baal HaSulam escreveu em seu livro Frutos da Sabedoria: "A sabedoria interna da Cabala é a mesma que a da Bíblia e o Zohar e a única diferença entre elas está em sua lógica particular. É como uma língua antiga traduzida para quatro idiomas. Resulta evidentemente que a sabedoria em si não mudou em absoluto com a mudança do idioma. Tudo o que temos que considerar é qual das cópias será a mais conveniente e amplamente aceita para ser transmitida". Os cabalistas utilizaram objetos materiais de nosso mundo – termos que nos são familiares - para descrever o reino espiritual. Eis aqui a possibilidade (e o perigo) da pessoa equivocar-se em seu estudo, imaginando representações materiais de nosso mundo que não existem em absoluto na espiritualidade. Este livro se dirige a todos aqueles que buscam consciência, que ainda não se esqueceram do que cada um se pergunta, de uma forma ou de outra, em sua solidão. É um livro para aqueles que buscam um método lógico e confiável para estudar os fenômenos do mundo. Não é um livro de Cabala, mas uma introdução aos princípios do enfoque cabalístico. É um primeiro passo para o entendimento das raízes da conduta humana e das leis da natureza. Este livro apresenta as bases da sabedoria da Cabala e seu modo de ação. Dirige-se a todos os que estejam interessados em conhecer a si mesmos, em compreender as razões do sofrimento e do prazer e em encontrar respostas para as grandes questões de sua vida. Abraço. Davi

domingo, 17 de agosto de 2025

O CAMINHO DO DISCERNIMENTO

Hinduismo. Srimad Bhagavad Gita - O Canto do Senhor. Por Swami Vijoyananda. Capítulo II. O CAMINHO DO DISCERNIMENTO. 1- Disse Sanjaya: A ele, que estava assim abatido pelo pesar e compaixão, com os olhos cheios de lágrimas e com a mente confusa, Madhusudana (Krishna) disse o seguinte: 2– Disse o BENDITO SENHOR: Neste momento crítico, ó Arjuna, de onde vem esta tua indigna debilidade, não-ariana, baixa e contrária ao logro da vida celestial? 3– Não te portes como um eunuco (carente de masculinidade), ó Partha, isto é indigno de ti, afasta esta debilidade de coração e ergue-te, ó destruidor dos inimigos! 4– Disse Arjuna: Mas, ó Madhusudana, ó destruidor dos inimigos, como queres que combata com flechas a Bhisma e Drona, merecedores de toda a veneração? 5– Sem dúvida seria melhor para mim viver mendigando, do que matar a estes nobres senhores. Mas se chegar a matar-lhes, então todos os nossos bens e prazeres neste mundo estariam manchados com seu sangue. 6– Não sabemos o que seria melhor, vencer ou sermos vencidos. Estes filhos de Dhritarashtra, a cuja destruição não queremos sobreviver, aí estão diante de nós. 7– Minha própria natureza está esmagada pela compaixão; a mente está perplexa com respeito ao dever. Diga-me, te suplico, o que seria definitivamente bom para mim; tomei refúgio em Ti, sou teu discípulo, instrua-me. 8– Ainda que eu fosse um rei próspero neste mundo, sem rivais e dominasse os seres celestiais, não vejo realmente o que poderia quitar este pesar que está consumindo meus sentidos. 9– Disse Sanjaya: Falando desta maneira a Hrishikesha, Gudakesha (o que domina o sono: Arjuna), o vencedor dos inimigos, disse de novo: “Ó Govinda, não vou lutar” e ficou em silêncio. 10– Ó Bhárata, então Hrishikesha, sorrindo, disse o seguinte ao que se lamentava entre ambos os exércitos. 11– Disse o BENDITO SENHOR: Estás te lamentando pelos que não o merecem e, no entanto, falas como um sábio. Os verdadeiros sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos. 12– Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu, nem esses reis, nem deixaremos de existir no futuro. 13– Assim como o ser encarnado tem sua infância, juventude e velhice, assim também ele toma outro corpo. Os sábios jamais se confundem sobre este ponto. 14– Ó Kounteya (Arjuna), as noções de calor e frio, de prazer e dor, nascem do contato dos sentidos com os objetos; tem origem e fim e são transitórias. Suporte-as, Ó Bhárata! 15– Ó tu, o melhor dos homens, só aquele que não se aflige por estas modificações e é equânime no prazer e na dor, logra a imortalidade. 16– O irreal jamais existe, o real nunca é inexistente. Os sábios conhecem esta verdade. 17– Saiba que é imortal Aquele que interpenetra tudo isto (o universo). Ninguém pode destruir este princípio imutável. 18– Estes corpos, em que mora o eterno, imortal e incomensurável Ser, têm fim, portanto luta, ó Bhárata! 19– Aquele que pensa que este Ser mata e aquele que pensa que este Ser morre, os dois são ignorantes; o Ser não mata nem morre. 20– O Ser não nasce, nem morre, nem se reencarna, não tem origem, é eterno, imutável, o primeiro de todos e não morre quando matam o corpo. 21– Aquele que sabe que o Ser é imortal, eterno, sem nascimento e imutável, como pode matar ou ser morto? 22– Como alguém deixa suas vestes gastas e coloca outras novas, assim o Ser corpóreo, deixa seu corpo gasto e entra em outros novos. 23– As armas não o cortam, o fogo não o queima, a água não o molha e o vento não o seca. 24– A este Ser não se pode cortar, nem queimar, nem molhar, nem secar, é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial. 1525– Se diz que este Ser é não-manifestável, impensável e imutável; sabendo que é assim, não deves lamentar-te. 26-27– Mas, ó tu de braços poderosos, se pensas que este Ser sempre nasce e morre, ainda assim não deves afligir-te por ele, porque o que nasce, morre e o que morre, renasce com certeza. Portanto não deves sofrer pelo inevitável. 28– Ó Bhárata! Os seres ao princípio não são manifestados; no meio, se manifestam e por último, permanecem não-manifestados. Então por que te afliges por eles? 29– Ao Ser, alguém o considera como algo maravilhoso, outro fala dele maravilhado; um terceiro ouve dele com maravilha, e há quem mesmo ouvindo sobre ele, o desconhece. 30– Ó Bhárata! Este Ser que mora em todos os corpos é sempre indestrutível, portanto não deves lamentar-te por nenhuma criatura. 31– Considerando teu dever, tampouco deverias vacilar, porque para um kshatriya (da casta guerreira) não há melhor sorte que lutar por uma causa justa. 32– Ó Partha! (Arjuna), são realmente afortunados aqueles kshatriyas, a quem se apresenta a grande oportunidade de lutar em uma guerra semelhante, que lhes abre as portas do céu. 33– Mas, se tu não lutares nesta guerra justa, não farás jus a tua reputação, faltarás a teu dever e cometerás um pecado. 34– Além disso, as pessoas falarão de tua eterna desgraça, o que para um fidalgo é pior que a morte. 35-36– Estes grandes guerreiros que estão em seus carros, considerarão que tu, por medo, te retiraste da batalha; eles te estimam muito e agora cairás em desgraça. Teus inimigos falarão de ti em termos pouco lisonjeiros. Há algo mais lamentável que isto? 37– Se morres na batalha ganharás o céu; se consegues a vitória, desfrutarás da terra. Assim que, levanta-te, decidido a lutar. 38– Considerando igual ao prazer e a dor, a vitória e a derrota, preparate para lutar e assim não pecarás. 1639– Já lhe ensinei a atitude necessária com relação ao conhecimento do Ser; agora ouve sobre a atitude com relação ao caminho da ação, dotado da qual, ó Partha, te libertarás das amarras. 40– Neste (caminho da ação) não se perde nenhum esforço por mais incompleto que seja, nem se produzem resultados contraditórios. Mesmo um pouco desta disciplina salva a uma pessoa de grande risco. 41– Neste caminho, ó Kourava (descendente de Kurú), existe uma só determinação que se dirige ao objetivo único. Os propósitos dos indecisos são inumeráveis e de formas diversas. 42-44– Ó Partha, os néscios, cujas mentes estão cheias de desejos, que consideram a vida celestial como sua meta mais elevada, que estão enamorados pelos panegíricos védicos, que consideram como algo muito superior, estes ignorantes falam em conhecidos termos floridos com relação a diversos tipos de cultos védicos que originam os nascimentos, ações e seus resultados, como meios para o prazer e o poder. Aqueles que estão atados a eles e se deixam levar por estas frases floridas, jamais logram a determinação única, que conduz o homem ao samadhi (absorção espiritual). 45– Os Vedas tratam os temas relacionados aos três gunas (aspectos ou qualidades). São a pureza, a ação e a inércia (componentes da natureza psicofísica). Mantendo-se equilibrado, ó Arjuna, libere-se da trindade dos gunas, dos pares de opostos (frio e calor, prazer e dor, etc.), de adquirir e conservar e estabelece-te no Atman (Ser). 46– Como o propósito de regar por várias fontes torna-se sem efeito quando chega a inundação, assim se alcança o propósito de estudar os Vedas pela realização íntima do Ser. 47– Só tens direito ao trabalho, não aos seus frutos. Que estes frutos jamais sejam o motivo de seus atos, nem fiques preso na inação. 48– Ó Dhananjaia, estabelece-te neste yoga, renuncia ao apego, seja indiferente ao êxito e ao fracasso e assim faça tudo. Esta equanimidade é o yoga. 49- Ó Dhananjaia, qualquer trabalho que se faça motivado pelo desejo é muito inferior ao que se faz com a mente não perturbada pelos resultados esperados. Refugia-te nesta tranqüilidade. Infelizes são os que trabalham ansiando os resultados. 50– Quando se tem esta tranqüilidade mental se libera, mesmo nesta mesma vida, do bem e do mal. Assim que, dedique-se a prática deste yoga. Karma Yoga significa a habilidade na ação. 1751– O sábio que possui esta tranqüilidade e se afasta dos frutos de suas ações, se libera das amarras do nascimento, crescimento, etc., e alcança um estado no qual não existe nenhum mal. 52– Quando tua compreensão ultrapassar os conceitos ilusórios, irás adquirir a indiferença com relação ao que ouviste e ao que deves ouvir. 53– Quando se aclarar tua compreensão perplexa por causa das diferentes opiniões e te estabeleças no samadhi (absorção espiritual), então lograrás o yoga. 54– Disse Arjuna: Ó Keshava, como defines ao homem de conhecimento firme e estabelecido no samadhi? Como fala, como caminha, como se senta o homem de conhecimento firme? 55- Disse o BENDITO SENHOR: Ó Partha, aquele que renuncia a todos os desejos e permanece satisfeito em seu próprio Ser, é considerado um homem de conhecimento firme. 56– Aquele que permanece imperturbável na adversidade e não anela a felicidade, que não tem apego, nem medo, nem ira, é um muni de sabedoria firme. (Muni significa: sábio que guarda silêncio.) 57– É permanente a sabedoria daquele que se mantêm desapegado em todas as situações, que não se regozija no bem-estar, nem se sente molestado no mal-estar. 58– E quando ele retira completamente os sentidos dos respectivos objetos, como a tartaruga oculta os membros do corpo em sua carapaça, então seu conhecimento se consolida. 59– Os objetos se desprendem do abstinente, porém não o desejo de gozo. Aquele que realiza o Ser Supremo se libera até deste desejo. 60– Ó Kouteya, os turbulentos sentidos forçam a ir pelo mau caminho, a mente daquele que está lutando para chegar à perfeição. 61– Controlando-os, o homem de conhecimento firme deve meditar em Mim. Sem dúvida, a sabedoria daquele que controlou seus sentidos não vacila mais. 62-63– Naquele que pensa nos objetos, nasce o apego, do apego nasce o desejo, do desejo (frustrado) nasce a ira, da ira nasce a ofuscação, da ofuscação nasce a confusão da memória, em seguida a vontade se destrói e então o homem perece. 1864– Mas o homem controlado, com seus sentidos restringidos, livre da atração e aversão, ainda que se mova entre os objetos, alcança a paz. 65– Ao alcançar a paz, todos seus pesares desaparecem. Na verdade, logo se manifesta a sabedoria do homem sereno. 66– Em troca, para aquele sem controle, não existe a sabedoria nem a meditação. Aquele que não medita não tem paz e sem a paz, como se pode lograr a felicidade? 67– Como o vento leva ao barco para fora de sua rota, assim perde-se a consciência quando a mente é levada pelos intranqüilos sentidos. 68– Por isso, ó tu de poderosos braços, aquele cujos sentidos diante dos objetos são bem controlados, alcançou o conhecimento firme. 69– O que é noite para os seres comuns, é dia para o homem de autocontrole e o que é dia para aqueles é noite para o conhecedor do Ser. (O homem comum é ignorante do supremo conhecimento, o qual é logrado pelo homem de autocontrole. A consciência do homem comum, que está sempre intranqüila, é puramente sensória; o sábio é indiferente a este tipo de consciência.) 70- Só alcança a paz o muni (sábio silencioso ou quem sempre pensa em Deus) em quem entram os desejos do mesmo modo que os rios no pleno e plácido oceano, sem perturbá-lo e não aquele que deseja os prazeres. 71– Aquele que vive desapegado, que abandona todos os desejos e que não tem noção alguma de ‘eu’ e ‘meu’, alcança a paz. 72– Ó Partha, este é o estado de estabelecer-se em Brahman, alcançando o qual não permanecem mais as ilusões. Mesmo que se consiga este estado no momento da morte, o homem alcança BrahmaNirvana e se identifica com o Supremo. Abraço. Davi

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

XINTOISMO. Parte V

Xintoísmo. Bushidor. BR. Mitologia e influência na formação da cultura e o caráter do povo japonês. XINTOÍSMO. Parte V. A Natureza e o senso estético no Xintoísmo.  Se observarmos as fases de desenvolvimento porque passaram as religiões, é de indubitável conclusão o primitivismo do Xintô, a fase ainda "das ideias infantis" dessa religião como afirma Griffis (GRIFFIS, op. cit., p. 69). "Estagnado" nessa fase de desenvolvimento, a Natureza - por força da crença de que os homens, a Natureza e os deuses, provêm de um único ancestral - é objeto de profunda apreciação, respeito e inúmeros festivais por todo o país. A comunhão com o divino e com a própria Natureza se funde num único sentimento, assim descrito emocionadamente por Rochedieu: [...] o Japão sabe conservar certos lugares unicamente pela beleza. É muitas vezes surpreendente e comovedor para o Ocidental ver nos parques grandes templos, ou simplesmente presenciar num jardim público. Um pai acompanhado do filho parar em silêncio ao pé de um lago, de uma pequena ponte, de uma cascata ou das flores. Tendo uma atitude de recolhimento porque, para o japonês, a comunhão com o divino obtém-se das mais das vezes através da união de todo o seu ser com as belezas naturais. Com obras de arte selecionadas, com a harmonia  que  emana de  um  monumento. Não é o valor ou  a grandeza da matéria  utilizada   que  cria  a  beleza,  mas  o amor com  que  o artista se debruça  sobre  a  sua obra,  nela  trabalhando por vezes durante anos, mas incutindo desse modo, no objeto que cinzela ou no quadro que pinta. Algo da sua alma, algo de si próprio, e esse algo que procura transmitir através da obra de arte é sempre aquilo que de melhor há em si (ROCHEDIEU, op. cit., p.37). A beleza natural é fundamental para a veneração dos kami nos santuários, independentemente do kami aí cultuado. Segundo Ono, é esse refinado senso estético da beleza que enleva o homem, conduzindo-o do mundo profano ao sagrado, que o faz experienciar o viver em comunhão com "o alto e profundo mundo do divino" (ONO, op. cit., p. 97). As leis xintoístas não provêm de um deus único, dado aos homens por revelação como nas grandes religiões do Ocidente. São descobertas dentro da Natureza onipresente, encantadora e ao mesmo tempo mística que se lhe mostra. A Natureza não é hostil como na mitologia judaico-cristã que expulsa o homem do Paraíso. Pelo contrário, ela existe abençoada pelos deuses e se desenvolve com harmonia e cooperação (ibidem p. 103). É portanto, dádiva divina, presente dos deuses para os homens. A vida econômica. A vida conectada ao kami - propósito natural do Xintô - fornece também o perfil ideológico das atividades comerciais e industriais do país. O Xintô considera que não apenas as atividades da cultura, mas a produção de "alimentos, roupas, bens e tudo que proporcione felicidade ao mundo, está conectado diretamente ao kami" (ONO, op. cit., p. 84). Fazendo jus a um forte senso da preponderância do coletivo, para o Xintô, "todo aquele que promove sua própria felicidade, deveria promover também a felicidade da sociedade. [...] Nós somos mais felizes quando fazemos outros felizes" (idem). Uma atividade que não tenha essa ligação, pode estar fadada ao fracasso (idem). Mas o Xintô não é ideário que despreza a matéria, falando apenas de "bens espirituais e divinos". É natural desejar um bem e adquiri-lo; não é necessariamente um mal, assim como não ter bens não é motivo de admiração. É natural que uma vida correta, de caminhante da Via dos deuses, seja por estes abençoada (idem). Os desejos de bens formulados para o bem estar público serão abençoados pelos kami, ao contrário, "a riqueza utilizada com fins egoístas ou que fira outros, não está de acordo com a Via dos deuses" (idem). O Matsuri. Nas suas origens o matsuri, que vem do verbo matsuru – adorar, venerar -, era uma cerimônia simples realizada no alto de uma colina ou na orla de um bosque. O que explica a maciça presença dos santuários xintoístas junto a entrada de bosques e florestas (ROCHEDIEU, op. cit., p. 112-113). A princípio o matsuri era uma cerimônia em que os homens do clã pediam aos deuses por boas colheitas. Era realizada à noite, iluminada por alguns archotes, em torno de uma árvore onde acreditava-se desciam os deuses (ibidem p.113). O matsuri era o centro espiritual da sociedade, o que determinava as relações entre os que adoravam seu kami (ONO, op. cit., p. 106). O momento mais solene era a dança do xamã vestido de mulher que em transe pronunciava palavras, como no ritual da dança mitológica da deusa Ame-no-Uzume que atraiu a atenção da deusa Amaterasu (idem). Com o tempo o matsuri estendeu-se por todo o povo da aldeia e após as cerimônias rituais de  preces, passava-se aos festejos de rua, alegres e enérgicos, que hoje adquiriram características populares e folclóricas. São xintoístas várias formas de entretenimento como "a dança (kagura), a música acompanhada de danças clássicas (bugaku), competição de arco-e-flecha (kyudo), arqueria montada (yabusame), turfe e a luta japonesa sumô" que são executadas alegremente como oferenda aos deuses (ibidem p. 71). Em tempos antigos era ato importante a prática de ritos ao kami pelo Imperador e pela alta corte, para assegurar a paz e a tranquilidade da nação (ibidem p. 76). De fato, matsuri compõe também a palavra matsuri-goto que significa governo, mas que transcendentalmente significa para o japonês “administrar, dentro de um espírito de matsuri, os assuntos deste mundo” (HERBERT, 1964, p. 269) Conceito de uma época em que os assuntos de governo e da religião não eram separados, ou seja, os atos de governo eram também religiosos (HARADA, op. cit., p.33). O chefe de uma comunidade (uji) era seu representante espiritual e temporal, e ao Imperador, pela sua ascendência divina, cabia-lhe a função de zelar como "alto sacerdote" pelo bem estar de todo o povo (Shunzo Sakamaki in MOORE, 1975, p. 152).  Compreendem o rito do matsuri a seguinte sequência da cerimônia (HERBERT, 1964, p. 270-271): a) Kiyome - purificação interior e exterior dos participantes; b) Shubatsu - purificação dos homens e das coisas no local onde se irá celebrar o matsuri; c) Kôshin - petição ao kami para que “faça descer o seu espírito sobre o local do matsuri”. Para isso são necessárias três coisas: 1. tocar um tambor ou campainhas. 2. abrir a porta interior do santuário; entoar o chamamento do kami, que por vezes é acompanhado de certas palavras místicas. d) Kensen - apresentação de oferendas ao kami; e) Norito-sôjo - salmodiar os norito (invocações); f) Tamagushi-hôten - oferenda de um ramo de sakaki; g) Bugaku - oferenda ao kami de cantos e danças; h) Ura-goto - adivinhação; i) Tessen - retirar as oferendas apresentadas ao kami; j) Shôshin - convidar o kami a retirar-se; k) Naorai ou nahorahi - refeição feita em comunhão. Os pedidos de boa colheita nos campos e proteção e prosperidade para os aldeões, são precedidos de oferendas várias, geralmente alimentos. Ao final, a saudação e demonstração da alegria por estarem na presença da divindade é feita com um banquete. O matsuri é bastante apreciado com maciça participação do povo, desfiles com andores portando santuários em miniatura (mikoshi) e carros alegóricos acompanhado de dança e música típicas da região ou da ocasião. Alguns desfiles lembram feitos históricos da comunidade. Os matsuri assemelham-se ao nosso carnaval brasileiro no que têm de alegria e descontração. No sumô , tradicional luta japonesa, sobre o dohyô (ringue onde se realizam as lutas) figura construção típica representando o teto de um santuário xintoísta. No início de cada torneio um monge xintoísta procede ao ritual de purificação do local e dos lutadores. Estes, no seu traje de apresentação, trazem penduradas as tiras de papel shide- utilizadas nas cerimônias de purificação xintoísta - atadas à cintura com uma corda trançada que lembra o mitológico shimenawa. Ao iniciar a luta, os lutadores se purificam passando água na boca e jogando sal no dohyô. A ética xintoísta Nascido em meio à Natureza, seu credo e suas divindades daí derivam. Onipresente e provedora, seus recursos - orgânicos, inorgânicos, animais, a flora e a fauna - são uma dádiva dos kami para o bem-estar do mundo (ONO, op. cit., p. 103). O primitivo japonês desenvolveu uma relação orgânica de amor e respeito à Natureza, que o dotou "das virtudes de reverência para com os Deuses, os soberanos e os pais, a bondade para com nossas esposas e nossas crianças..." (HERBERT, 1964, p. 121). A ausência do espírito de retribuição (castigo/recompensa) ligado ao proceder individual é substituído pela subordinação ao grupo. Relata Michiko Yusa: "noções como "ir para o céu" ou respeitantes a méritos religiosos não são motivos para se praticar o bem: se os japoneses praticam boas obras é porque sabem que tais atos vão contribuir para o bem-estar geral da sociedade" (YUSA, op. cit., p. 18). Xintoísmo não considera a existência de uma verdade absoluta como no monoteísmo, onde a coexistência entre os fiéis se dá pelo compartilhamento das mesmas crenças e valores. Os xintoístas consideram a harmonia (和- wa) a base para a coexistência, o que implica aceitação e respeito às diferenças. O homem não foi criado por deuses como no monoteísmo, isto é, não é produto do trabalho de uma divindade, mas produzido pela união do "espírito de dois deuses criadores", isto é, "um terrestre e outro divino" (HERBERT, 1964, p. 120, 103). Então, para o Xintô o homem é biologicamente descendente em linha direta de deuses, o que lhe faz parecer natural modelar sua vida pela de seus ancestrais divinos (ibidem p. 119). Não há um ancestral divino único. Criador e criatura dentro da obra da criação exercem uma função ativa e passiva. Comentando Masao Yamane, Herbert aduz: "sob uma óptica puramente prática, se um homem segue o modo de vida que lhe foi legado pelos seus ancestrais divinos, qual a necessidade que ele tem de codificar regras sobre a conduta que ele deverá observar em tais ou quais ocasiões?" (ibidem p. 120). No xintoísmo as destruições, a desgraça, o infortúnio, têm origem no Yomi, mundo  das trevas e origem do mal (HERBERT, 1964, p. 114). Mas mesmo os oni (demônios, entidades do mal), podem ser circunstancialmente reverenciados como entidades do bem, a despeito de seu comportamento ou característica. São seres invisíveis, assumindo por vezes forma animal cuja expulsão pelo exorcismo deve ser feita pelo monge (LITTLETON, 2003, P. 150). Entre os animais, a raposa adquiriu grande popularidade na cultura. Figurando em inúmeras lendas como animal inteligente que assombra e engana e tem o poder de se transformar em mulher. No Xintô, seu culto é associado ao kami Inari, deus da prosperidade e do arroz, que zela por sua boa colheita (idem). "O mal causado por esses seres é visto apenas como interrupção temporária do caminho natural" (idem). Mesmo o que pratica o mal pode a qualquer momento voltar para o mundo da luz e da bondade. Para o Xintô, a vida do homem é abençoada e "é uma só, ligada linearmente a de seus ancestrais" por isso, o culto não deve ser negligenciado (ONO, op, cit., p. 104). O   nascimento é produto do desejo do espírito divino e tem como missão, "por um lado, a responsabilidade de realizar as esperanças e ideais de seus ancestrais. De outro, ele tem o inescapável dever de tratar seus descendentes com grande amor e carinho. Então eles também poderão realizar as esperanças e ideais do espírito de seus ancestrais" (idem). Não existe no Xintô a noção de pecado como o oposto da virtude. O homem já é originariamente virtuoso, o pecado é apenas "algo extrínseco" ao homem, "um erro que não afeta a verdadeira natureza do homem" (HERBERT, 1964, p. 133). O erro não se liga à noção de pecado, mas a um inato senso de vergonha pela perda da honra. Para cuja recuperação, mesmo a vida era considerada um preço justo a se pagar (NITOBE, 2005, p. 60).  O japonês tem a convicção íntima de poder vencer e suplantar qualquer adversidade porque crê haver herdado de seus antepassados, divinos dons e faculdades especiais. Bastando-lhe apenas deixá-los manifestar e então, as virtudes dos kami surgirão espontaneamente. Hirata dizia que o homem japonês "foi trazido à existência pelos espíritos criadores dos sagrados kami ancestrais", razão porque possuem já a Via dos Deuses (HERBERT, 1964, p. 121).  Na ausência do Bem e do Mal como entidades absolutas, a moral e a ética baseiam-se na honra. Estendendo-se para além da própria, abarcando também a da família, revela-se satisfatório instrumento de controle social. A honra é o que liga o japonês ao senso ético, afirmava Nitobe. ( Inazo Nitobe apud in ibidem p. 130). O japonês não é dado à especulação filosófica, mas tem forte intuição calcada no sentimento, que se manifesta desde a abnegação até o sacrifício pessoal. O que geralmente permanece reprimido pela disciplina social, se manifesta por vezes de forma surpreendente (BRILLANT et alii, op. cit., p. 167). O Ocidente, de racionalismo cartesiano e positivismo científico, certamente estranhará a desnecessidade do burilar técnica das palavras e de definições precisas dessa cultura. Influenciada fortemente pelo xintoísmo, palavras são insuficientes para se narrar o Todo, que é inenarrável. E o Todo prescinde de palavras para ser apreendido. Para Sokyo Ono, é o que explica a longevidade de dois milênios da fé nipônica: é sentida, não pensada, isto é, apreendida com o coração e não com a razão; e assim também é transmitida na vida quotidiana: de coração para coração, sem necessidade de palavras (ONO, op. cit., p. 92). Embora com ênfase no sentimento, o Xintô não tem "os impulsos da paixão das grandes religiões; são de uma piedade serena e polidos, tanto para com os deuses como para tudo que é superior" (BRILLANT et alii, op. cit., p. 167). Ao estrangeiro, dificultoso se torna entender o Xintô, mesmo com explicações, o que não o impede de compreender o Caminho do Xintô, sem que realmente o tenha entendido racionalmente (ONO, op. cit., p. 94). Talvez porque, como relata Fujisawa, "não há no Xintô espaço entre fé e razão, porque jamais foi perdido seu primitivo contato com a dimensão da profundidade da vida, Do qual devem ter emersos no passado toda crença especial" (FUJISAWA, 1959, p. 16). O japonês não se interessa pelo que o faz crer, mas pelo que o faz fazer, constata Inazo Nitobe (HERBERT, 1964, p. 24). Para o xintoísmo é fundamentalmente essencial a pureza interior do coração do homem. (Engelbert Kaempfer apud in ibidem p. 122-123). No coração (sentimento) estão as regras morais e éticas necessárias ao homem, aí já incutidas pelos deuses, sendo desnecessário especificá-las. Basta que se trilhe o Michi, caminho dos deuses. Explica Edmond Rochedieu a doutrina do teólogo japonês Motoori (1730-1801): Os japoneses, que obedecem à direção necessária dos deuses, nunca sentiram    a necessidade de um sistema ético. O homem, gerado pelas duas divindades     criadoras, Izanagi e Izanami, possui naturalmente o conhecimento do que     deve fazer ou evitar. Todas as ideias morais indispensáveis à sua felicidade     foram inscritas na sua mente pelos deuses. Os desejos humanos, que fazem     parte da nossa natureza, estão ligados à harmonia geral do mundo [...] a     única moral válida é a do coração, que está de acordo com a natureza     humana, refletindo esta própria a harmonia geral (ROCHEDIEU, op. cit., p 126. Página 30. Abraço. Davi

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

PENÚRIA EM CHEN E TSAI

Confucionismo. Biografia de Confúcio. Memória Histórica de Sima Qian. 5. PENÚRIA EM CH’EN e TS’AI. Depois de Jan Ch’iu haver partido, Confúcio encaminhou-se de Ch'en para Ts'ai, no ano seguinte (491 a. C.) O Duque Chao, de Ts'ai, ia a Wu atendendo a uma convocação do rei. O duque havia mentido previamente a seus vassalos, ao mudar sua capital para Choulai, e agora que estava de viagem para Wu seus ministros temiam que ele fosse mudar a capital outra vez; e Kungsun P'ien atirou no duque e matou-o. No ano seguinte (490 a. C.) Confúcio passou de Ts'ai para Yeh (outro pequeno Estado), e o duque de Weh interpelou-o quanto ao que seria um bom governo. Confúcio respondeu: - "O bom governo consiste em conquistar a lealdade dos cidadãos próximos e a simpatia dos cidadãos afastados." De outra feita, o duque indagou sobre Confúcio a seu discípulo Tselu, que não soube responder. Ao saber disto, Confúcio falou: - "Ah Yu (apelido familiar de Tselu), por que não disseste que sou um homem incansável na procura da verdade, que me esqueço de comer quando me entusiasmo com alguma coisa, esqueço todas as preocupações quando alegre ou feliz, e que não temo a velhice que vem chegando?"  Saindo de Yeh, Confúcio voltou a Ts'ai. Chang­chu e Chiehni estavam juntos, arando o campo. Confúcio imaginou que fossem filósofos em retiro, e mandou Tselu indagar qual o caminho a seguir. "Quem é aquele que vai dirigindo a carruagem?" - perguntou Ch'angchu. Tselu respondeu: - "Aquele é Confúcio." "É K'ung Chiu, de Lu?" - tornou a indagar o outro, e Tselu respondeu que sim. "Ora, então ele devia saber o caminho." E Chiehni perguntou a Tselu: - "Quem sois?" "Sou Chung Yu." "Discípulo de K'unq Chiu?" Tselu assentiu, e Chiehni disse: - "Então o mundo está cheio de gente transviada, mas sempre a ponto de mudar o atual estado de coisas? Ouvi ainda: em vez de seguir a quem evita certos tipos de pessoas, por que não aderir logo a quem evita a sociedade inteira?" Tselu contou isso a Confúcio, e o mestre suspirou: - "Pássaros e animais [ou os que tentam imitá­los] não são companhia ideal para nós. Se houvesse uma boa ordem moral no mundo em que vivemos, por que me preocuparia eu em mudá-le?" Outro dia Tselu caminhava pela estrada e encontrou um ancião carregando um cesto de vime, a quem perguntou: - "Vistes o Mestre?" O ancião retrucou: - "Quem é o Mestre? Um homem que não usa os braços e as pernas para trabalhar e que nem sabe distinguir diferentes espécies de grãos!" E o velho enfiou seu bastão na terra e pôs-se a mondar o campo. Tselu relatou a Confúcio o que se passara, e ele conjeturou: - "Deve ser algum filósofo em retiro." Tselu voltou a procurá-lo, mas já ele havia desaparecido. Confúcio andou por T's'ai uns três anos. O país de Wu estava em guerra contra Ch'en, e Ch'u viera em auxílio de Ch' en (isto foi em 489 a. C.). O exército de Ch'u acampara em Ch'engfu, e ao terem notícia de que Confúcio estaria em algum lugar entre Ch'en e Ts'ai, mandaram procurá-lo. Confúcio saiu a apresentar seus cumprimentos. Então os ministros de Ch'en e Ts'ai reuniram-se para confabular: - "Confúcio é muito hábil. Já descobriu as fraquezas dos governantes de várias nações. Agora tem estado longamente por aqui e não parece gostar do que estamos fazendo. Ora, Ch'u é uma nação poderosa e pretende usar Confúcio; se ele chegar ao poder, em Ch'u, nossos países ver-se-ão em dificuldades e nós, ministros, estaremos em perigo." Por isto, mandaram soldados a deter Confúcio pelos arredores. O grupo de Confúcio não tinha meios de escapar, e os mantimentos começaram a escassear; muitos caíram de cama, enfermos; Confúcio, entretanto, continuava a ler, e a cantar acompanhando-se com um instrumento de cordas, sem alterar-se. Com evidente raiva, Tselu dirigiu-se ao Mestre: - "Também o gentil-homem se vê em dificuldades, às vezes" E Confúcio replicou: - "Decerto, mas só o homem vulgar é que, ao se ver em dificuldades, perde sua personalidade e comete toda sorte de tolices. Tsekung ficou visivelmente impressionado com essas palavras do Mestre, e ele continuou, noutro tom: - Ah Sze, tu imaginas que eu aprendi uma porção de coisas e as tenho de cor?" E Tsekung: - "Imagino, pois não é verdade?" Confúcio disse: - "Não, o que eu tenho realmente é uma linha mestra que passa através de todos os meus conhecimentos." Confúcio ficou então sabendo que seus discípulos estavam zangados e com o desapontamento na alma; chamou Tselu para dentro e o interrogou: - "Está no LIVRO DOS CANTARES: "Nem búfalos nem tigres, que erram pelo deserto" (uma comparação com eles próprios).  Achas errado o que eu ensino? Como é que eu me coloco, nesta situação?" Tselu respondeu: - "Talvez não sejamos bastante grandes e não tenhamos sabido granjear a confiança do povo. Talvez não sejamos bastante sábios e o povo não queira seguir nossos conselhos." Confúcio falou: - "Pois é assim? Ah Yu, se os grandes homens pudessem granjear sempre a confiança do povo, por que iriam Poyi e Shuch'i para as montanhas, morrer de fome? Se os sábios sempre tivessem os seus conselhos seguidos pelo povo, por que o Príncipe Pikan haveria de suicidar-se?" Tselu saiu e Tsekung entrou, e Confúcio disse: - “Ah Sze, está no LIVRO DOS CANTARES: "Nem búfalos nem tigres,  que erram pelo deserto." Há erro em meus ensinamentos? Como me coloco nesta situação?"  Tse­kung respondeu: - "Os ensinamentos do Mestre são demasiado grandiosos para o povo, e eis por que ele não os segue. Por que não baixais um pouco das vossas alturas?" Confúcio falou: “- Ah Sze, o bom lavrador semeia o campo, mas não pode garantir a safra,  e o bom artesão esmere-se no trabalho, mas não pode garantir que agradará a seus fregueses. Eis que não tendes mais interesse em cultivar a vós próprios, senão em serdes aceitos pelo povo... receio que não estejais buscando para vós mesmos o padrão mais elevado." Tsekung saiu, entrou Yen Huei e Confúcio lhe disse: - "Ah Huei, está no LIVRO DOS CANTARES: “Nem búfalos nem tigres, que erram pelo deserto." Há erro no que ensino? Como me coloco nesta situação?" E Yen Huei falou: "Os ensinamentos do Mestre são tão grandiosos... por isto o mundo não os pode adotar. Não obstante, deveis fazer o possível para divulgar vossas ideias, Que vos importa se das não são aceitas? O simples fato de não as aceitarem prova que sois realmente um homem superior. Se a verdade não é cultivada por nós, a vergonha é nossa; mas se nos dedicamos exaustivamente à pregação de uma ordem moral e ela não é seguida pelo povo, a vergonha é dos que estão no poder. Que vos importa isso? O fato de não vos aceitarem mostra que sois um verdadeiro gentil-homem." Confúcio ficou satisfeito e falou sorrindo: - "Pois é assim? Ó filho,  de Yen, és um homem precioso, eu devia ser teu servo!" Confúcio enviou então Tsekung a Ch'u, e o Rei Chao, de Ch'u, mandou um exército socorrer Confúcio, tirando-o assim de suas dificuldades. O rei ia dar a Confúcio terras medindo setecentos li (propriedades de vinte e cinco famílias, cada). Um ministro de Ch'u, de nome Tsehsi, comentou: - "Tem Vossa Majestade um diplomata mais hábil do que Tsekung?". O rei disse que não. "Tem Vossa Majestade um primeiro-ministro como Yen Huei?" O rei disse ainda que não. “Tem Vossa Majestade um general tão bom quanto Tselu?” De novo o rei negou. “Tem Vossa Majestade um administrador como Tsai Yu?" Outra vez o rei disse que não. E o ministro prosseguiu: - "No entanto, o antepassado dos governantes deste país recebeu aqui a categoria de barão e originalmente suas terras mediam apenas cinquenta li [li, cerca de um terço de milha]. Agora vem Confúcio, que leva o tempo todo a falar nos antigos regimes dos Três Grandes Reis e na tradição moral do Duque Chou e do Duque Shao ... Como esperais que o nosso país continue a dominar milhares de milhas quadradas, de geração a geração, se Confúcio conseguir pôr em prática a sua utópica ordem social? O Rei Wen surgiu da cidade de Feng e seu filho, o Rei Wu, surgiu da cidade de K'ao, começando com um território de cem li apenas, mas acabaram por fundar um império sobre toda a China. Não acho que seja bom para o nosso país dar terras a Confúcio, com tão hábeis discípulos a assisti-lo." Isto mudou completamente a disposição do rei. No outono desse mesmo ano (489 a. C.), o Rei Chao morreu em Ch'engfu. Havia em Ch'u um louco, chamado Chiehyu, que ao passar por Confúcio cantarolou assim:


Ó fênix! Ó fênix!
Que houve com o teu caráter?
Seja passado o que passou,
Mas concerta o que está por vir,
Pobre de mim! Meus sentimentos
Aos reis que existem por aí!

Confúcio desceu da carruagem para falar com o doido, mas ele fugiu correndo e assim o Mestre não pôde conversar. Então voltou Confúcio, de Ch'u para Wei. Era o ano quinto do Duque Ai, de Lu (ainda 489 a. C.), e Confúcio tinha sessenta e três anos de idade. Abraço. Davi


segunda-feira, 11 de agosto de 2025

A RELIGIÃO DO ISLÂ - PARTE XIII

Islamismo. Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo (1961 - ). A RELIGIÃO DO ISLÃ. Parte XIII. Se o ser humano experimenta prazer ou felicidade em outro que não seja Allah, esse prazer e felicidade não serão duradouros. Irá de um lugar a outro ou de uma pessoa a outra. A pessoa desfrutará em alguma ocasião ou em parte do tempo. Entretanto, muitas vezes, nestas ocasiões, onde se desfruta de algum prazer, não há um verdadeiro gozo. Às vezes, pode, inclusive, haver lástima. Mas, Deus está sempre com ele, em toda circunstância e momento. Onde quer que esteja Allah estará com ele [com Seu conhecimento e ajuda]... Se alguém adora a outro que não Allah – ainda se o ama e obtém algo de amor e alguma forma de prazer neste mundo, graças a ele – [essa falsa adoração] destruirá a pessoa de uma maneira muito pior que alguém que ingere veneno... É imperativo saber que se alguém ama algo por alguma razão que não seja Allah, esse objeto amado definitivamente será causa de prejuízo e castigo... Se alguém ama algo por alguma razão que não seja Allah, esse objeto de amor o prejudicará, estando ou não com ele...” Para que qualquer ação seja aceita por Allah, deve ser realizada segundo este aspecto do tauhid. Em outras palavras, se uma pessoa cumpre e entende esta forma de tauhid, da maneira apropriada, necessariamente implica que aceita e aplica as outras formas de tauhid. Portanto, suas ações podem, então, ser aceitas por Allah. Allah disse: “Dize: Sou tão-somente um mortal como vós, a quem tem sido revelado que o vosso Deus é um Deus único. Por conseguinte, quem espera o comparecimento ante seu Senhor que pratique o bem e não associe ninguém ao culto d’Ele.“ (18: 110). Um dos atos que se deve realizar somente para Allah é a súplica. O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “A súplica é a essência da adoração. Quando uma pessoa reza ou súplica a um ser, está mostrando confiança e dependência para com ele. Está demonstrando sua necessidade para com o ser que recebe a súplica. Está demonstrando sua confiança nesse ser ou a capacidade que esse ser tem de conhecer, entender e satisfazer sua necessidade. Esse tipo de sentimento no coração, que é refletido na súplica, deve ser dirigido apenas a Deus. É por isso que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) afirmava que a súplica é a essência da adoração. Então, todo aquele que suplicar a qualquer um que não seja Allah está associando companheiros a Allah ou, em outras palavras, está cometendo shirk. O que é a antítese do imaan e do tauhid. Este tipo de tauhid é, na realidade, uma consequência ou resultado necessário da crença correta no tauhid ar rububiyah. Se a pessoa se dá conta que não existe rabb (Senhor), exceto Allah, então, saberá que ninguém é digno de louvor ou merecedor de adoração além de Allah. Se ninguém é digno de louvor, exceto Allah; então, por que alguém adoraria a outro que não seja Allah? Sobre este aspecto do tauhid, Ibn Abu al-Izz al-Hanafi escreveu o seguinte: “O Qur’an é abundante em frases e parábolas que dizem respeito a este tipo de tauhid”. Primeiramente, o tauhid ar rububiyah afirma que não existe Criador, exceto Allah. Esta convicção implica que ninguém (nada) deve ser adorado, exceto Allah. Toma-se a primeira proposição [que Allah é Senhor] como evidência para a segunda [que Allah é o único digno e merecedor de adoração]. Os árabes criam na primeira proposição e disputavam sobre a segunda. Allah deixou claro: Sendo que sabem que não existe Criador, exceto Allah e que Ele é o Único que pode proporcionar à pessoa o que é benéfico e afastá-la do que é prejudicial, como, então, podem adorar a outros afora Allah e associar companheiros a Ele em Sua Divindade? Por exemplo, Allah disse no Qur’an:

“Dize (ó Mohammad): Louvado seja Deus e que a paz esteja com os Seus diletos servos! E pergunta-lhes: O que é preferível Deus ou os ídolos que Lhe associam? Quem criou os céus e a terra, e quem envia a água do céu, mediante a qual fazemos brotar vicejantes vergéis2 , cujos similares jamais podereis produzir? Poderá haver outra divindade em parceria com Deus? Qual! Porém, [esses que assim afirmam] são seres que se desviam.” (27: 59-60). Ao final de outros versículos, Allah diz: “Acaso há outro deus junto com Allah?” O que é uma pergunta retórica com uma resposta implícita, claramente uma negativa. Eles aceitavam a ideia de que ninguém faz essas coisas, exceto Allah. Allah utilizou isso como prova contra eles. Não significa perguntar se existe outro deus afora Allah, como sustentam alguns. Esse significado é inconsistente com o contexto dos versículos e o fato de que as pessoas aceitavam outros deuses que não Allah. Como Allah disse: “...Ousareis admitir que existem outras divindades conjuntamente com Deus? Dize: Eu não as reconheço...” (6: 19). E costumavam dizer sobre o chamado do Profeta: “Pretende, acaso, fazer de todos os deuses um só Deus? Em verdade, isto é algo assombroso!” (38: 5). Mas, nunca diriam que outro deus “E fixou na terra sólidas montanhas, para que ela não estremeça convosco, bem como rios, e caminhos pelos quais vos guiais.” (16: 15). Portanto, Allah disse: “Dize-lhes: Que vos pareceria se Deus, repentinamente, vos privasse da audição, extinguisse-vos a visão e vos selasse os corações? Que outra divindade, além de Deus, poderia restaurá-los? Repara em como lhes expomos as evidências e, não obstante, as desdenham!” (6: 46) e “Ó humanos, adorai o vosso Senhor, Que vos criou, bem como aos vossos antepassados, quiçá assim tornar-vos-íeis virtuosos.” (2: 21), e outros versículos similares.” Tauhid al Asma wa as Sifaat: O terceiro aspecto do tauhid, segundo esta maneira de estudar o monoteísmo, é reconhecer e afirmar a Unicidade de Allah com respeito a Seus nomes e atributos. Deve-se afirmar que ditos atributos são perfeitos e completos apenas em Allah. Esses atributos são únicos de Allah. Ninguém mais pode ostentá-los. Ao longo da história do islam, algumas seitas se desviaram neste aspecto do tauhid. Shuaib al Arnaut descreve no seguinte fragmento as diferentes posturas que se desenvolveram: “Não há dúvida alguma que o tema dos atributos de Allah deve ser considerado como um dos mais importantes dos fundamentos da fé. As opiniões de alguns muçulmanos diferiam sobre este tema. Alguns deles seguiam o enfoque da negação total dos atributos. Outros aceitavam os nomes de Allah em geral, mas negavam os atributos. Alguns, por sua vez, aceitavam os nomes e atributos, mas em algumas situações recusavam ou davam interpretações afastando-se de seus significados aparentes dos textos do Qur’an e da Sunnah. Outros adotavam a postura de que é obrigatório crer em todos os nomes e atributos mencionados no Livro de Allah e da Sunnah autêntica. Criam neles segundo seu significado aparente e evidente. Negavam a possibilidade de compreender sua forma (kaifiyah), como também todo o tipo de similaridade dos atributos divinos com os atributos dos seres criados. Os que sustentam esta última opinião são chamados salaf (antecessores piedosos) e ahlus Sunnah (povo da Sunnah). A crença correta sobre este tema, que remonta aos tempos do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) e seus companheiros, foi resumida por Saadi quando escreveu: “Quanto à crença em Allah é incluído: crer em todos os atributos que Allah descreveu em Seu Livro e todos os atributos que Seu Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) Lhe atribuiu. [A crença em tais atributos] se dá sem distorções ou negações e sem que se especifique como ou de que maneira são aqueles atributos. De fato, a crença é que não existe nada similar a Allah e, ao mesmo tempo, Ele é Aquele que tudo ouve e tudo vê. Portanto, o que Ele atribuiu a Si mesmo não pode ser negado, nem tampouco distorcido o significado de tais descrições. Além disso, os nomes de Allah não se negam, não se descrevem e nem são demonstrados de uma maneira que se assemelhe aos atributos de qualquer outro ser criado. Isso se deve ao fato de que não existe nada ou ninguém similar ou comparável a Ele. Não tem parceiros ou companheiros. Não se pode fazer uma analogia entre Ele, louvado e glorificado seja, e Sua criação. Com relação à crença nos atributos e nomes que se atribuem a Allah, deve haver uma combinação de afirmação e negação. Ahlus Sunnah wal Jamaah não permite afastar-se do que exemplificavam os Mensageiros, pois esse é o Caminho Correto. São muito importantes todos os versículos do Qur’an que tratem dos nomes, atributos e ações de Allah, além daquilo que deve ser negado em relação a Ele. Entre os versículos está crer no estabelecimento de Allah sobre o Trono, Sua descida ao nível mais baixo do céu, onde os crentes O verão na próxima vida – tal como foi confirmado em diversos ahaadith. Também se fala, sob este princípio, a noção de que Allah está próximo de nós e responde nossas súplicas. O que se menciona no Qur’an e na Sunnah em respeito à Sua proximidade e “estar com” os crentes não contradiz o que se afirmar com respeito à Sua transcendência e Sua posição acima da criação. Pois, Glorificado seja, não existe não similar a Ele em absolutamente nenhuma de suas características. Em um versículo, Allah ressalta que nada é similar a Ele e, ao mesmo tempo, que Ele tem atributos de perfeição. Allah disse: “...Por esse meio vos multiplica. Nada se assemelha a Ele, e é o Oniouvinte, o Onividente.”(42: 11). Portanto, há uma negação total de qualquer antropomorfismo, por sua vez são confirmados todos os atributos de Onividência e Onipresença Divinas. Este aspecto do tauhid é muito importante e não deve ser subestimado. Como assinala Ahmad Salaam, as pessoas, antes da chegada do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele), aceitavam a idéia de Allah como único Criador do universo. Sem dúvida, ao mesmo tempo, associavam companheiros a Allah nas mais distintas formas de adoração. Portanto, o Islam chegou para purificar este conceito de Allah como Senhor ou Rabb e deu entendimento apropriado. Ao fazê-lo, poderiam obter o conhecimento e entendimento corretos dos nomes e atributos de Allah. Se é conhecido e compreendido corretamente os nomes e atributos de Allah, nunca se recorreria a ninguém, sob nenhuma forma de adoração, que não a Allah. Então, uma compreensão correta e detalhada dos nomes e atributos de Allah é a verdadeira base para o cumprimento correto dos outros tipos de tauhid. Se o tauhid ar Rububiyah é como uma árvore, a raiz é o tauhid al asma was sifaat. Em outras palavras, o tauhid ar Rububiyah é construído sobre a base do tauhid al asma was sifaat. Se não há esta raiz ou base, a árvore se torna debilitada e morre. Certamente, segundo esta parábola, o verdadeiro fruto do tauhid al asma was sifaat, novamente, é o tauhid ar rububiyah. Quanto mais se sabe sobre Allah e Seus atributos, mais temor, amor e esperança serão alcançados. Portanto, um correto entendimento dos nomes e atributos de Allah é muito importante e benéfico. Os que não seguem este caminho, prejudicam-se e perdem um grandioso destino. A crença nos Anjos O segundo artigo da fé, mencionado pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele), é a crença nos anjos. Os anjos são uma das criações de Allah que, em geral, os seres humanos não podem ver. Foram criados a partir de luz, mas não têm forma ou corpo. São servos de Allah e não possuem nenhum aspecto divino. Submetem-se totalmente a Seus mandamentos e nunca se apartam do cumprimento de Suas ordens. Salaam assinala que se uma pessoa não crê nos anjos, então não pode crer na chegada da revelação ao Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Portanto, a crença no Qur’an não pode ser confirmada até que a pessoa creia nos anjos, em geral e no anjo Gabriel em particular, quem foi o veículo que trouxe a revelação ao Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Segundo Ibn Uthaimin, a crença correta nos anjos compreende quatro pontos: Primeiro, deve-se crer em sua existência. Segundo, deve-se crer neles em geral, mas também crer nos nomes que foram mencionados explicitamente no Qur’an ou na Sunnah autêntica. Por exemplo, um dos anjos se chama Jibril (Gabriel). Foi o anjo que trouxe a revelação ao Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Terceiro, deve-se crer em seus atributos tal como foi especificado no Qur’an e na Sunnah. Em um hadith consta que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) viu que o Anjo Gabriel cobria o horizonte e tinha seiscentas asas. Isso mostra que esta espécie da criação de Allah é grandiosa e maravilhosa. Também foi dito, como no hadith que estamos tratando, que um anjo pode aparecer em diversas formas, entre elas a forma humana. Isso prova o grande poder e capacidade que Allah tem para fazer o que deseja. Em quarto lugar, deve-se crer nas ações que realizam, tal como é mencionado no Qur’an ou num hadith autêntico. No Qur’an consta que adoram a Allah e O Glorificam. Também é indicado que alguns anjos têm funções específicas. Jibril está a cargo da “vida do coração”, o que refere à revelação que vem de Allah. Israafil está encarregado de tocar a trombeta que ressuscitará os corpos no Dia do Juízo. Mikaail é responsável pela chuva e a vegetação, as “fontes da vida sobre a terra. Ibn Uthaimin assinala que talvez a relação entre estes três anjos e suas responsabilidades de dar vida foi o que levou o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) a começar suas orações noturnas com a seguinte súplica: “Ó Allah! Senhor de Jibril, Mikaail e Israafil, Criador dos céus e da terra, Conhecedor do desconhecido e do conhecido, Tu julgas Teus servos naquilo que diferem, guia-me à verdade naqueles assuntos em que divergimos, por Tua Vontade. Tu guias a quem desejas pela Senda Reta.” Um quinto assunto que deve ser mencionado sobre a crença nos anjos é ter um amor sólido por eles devido à sua obediência e adoração a Allah. Além disso, eles declaram a Unicidade de Allah e cumprem Seus mandamentos. Também têm um amor e lealdade incondicionais aos verdadeiros crentes em Allah. Elevam suas preces a Allah em nome dos crentes e pedem a Allah que os perdoe. Apoiam-nos nesta vida e também na próxima. Um aspecto importante relacionado à crença nos anjos é que todos devem crer que há dois anjos junto de si, em todo o momento e que registram todos os seus atos. Os seguintes versículos se referem a estes anjos: “Eis que dois (anjos da guarda), são apontados para anotarem (suas obras), um sentado à sua direita e o outro à esquerda. Não pronunciará palavra alguma, sem que junto a ele esteja presente uma sentinela pronta (para anotar).” (50: 17-18)
São muitos os resultados benéficos que surgem com a crença correta nos anjos. Por exemplo, saber sobre os anjos permite à pessoa reconhecer a grandeza de Allah e Seu poder. Esta grandiosa criação, conhecida como anjos, é um indicador da grandeza de seu Criador. Além disso, deve-se agradecer a Allah por Seu extremo cuidado e preocupação para com os seres humanos. Ele criou estas criaturas para apoiar e proteger os crentes, registrar suas ações, etc. Sem dúvidas, um crente que creia nos anjos vai muito além disso. O crente sabe que os anjos são criaturas nobres que apoiam e ajudam tudo o que é verdadeiro e justo. Portanto, cada vez que o crente decide realizar uma boa ação, apoiar a verdade e sacrificar-se pelo que é correto, sabe que há criaturas neste mundo que o apoiam e ajudam em sua causa, tal como os anjos apoiaram e ajudaram os crentes no tempo do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). De fato, assim promete Allah, segundo os seguintes versículos: “Sem dúvida que Deus vos socorreu, em Badr, quando estáveis em inferioridade de condições. Temei, pois, a Deus e agradecei-Lhe. E de quando disseste aos fiéis: Não vos basta que vosso Senhor vos socorra com o envio celestial de três mil anjos? Sim! Se fordes perseverantes, temerdes a Deus, e se vos atacarem imediatamente, vosso Senhor vos socorrerá, com cinco mil anjos bem treinados.” (3: 123-125). “Ele é Quem vos abençoa, assim como (fazem) Seus anjos, para tirar-vos das trevas e levar-vos para a luz; sabei que Ele é Misericordioso para com os fiéis.” (33: 43) A crença nos Livros de Allah Crer nos Livros de Allah é o terceiro pilar de fé mencionado neste hadith. Referese às revelações que Allah enviou a Seus Mensageiros, como misericórdia e orientação para dirigir a humanidade ao êxito nesta vida e a felicidade na próxima. O Qur’an é a revelação final. É a palavra de Allah. Ibn Uthaimin ressalta que a crença nos Livros de Allah compreende quatro aspectos: primeiro deve crer que estes livros foram revelados por Allah. Página 128.