Judaísmo. Livro Judaísmo e
Cristianismo – As Diferenças. Por Trude Weiss (1908-1989). Capítulo 8. JESUS.
Parte V. A maneira pela qual Jesus aplicava esses princípios às situações da
vida real pode ser vista por seus rompantes de ira para com os discípulos que
desejavam se desvincular de certas obrigações familiares antes de segui-lo.
Quando um futuro discípulo dizia a Jesus: “Mestre, vou segui-lo, mas deixe-me
primeiramente dizer adeus aos que estão em minha casa”. Ele o reprovava: “Quem
coloca sua mão no arado e olha para trás é inadequado para o Reino de Deus”
Lucas 9,6. Em oposição ao judaísmo, que espera que o devoto ocupe seu lugar na
sociedade como bom filho, marido, pai, irmão e vizinho. Jesus exigiu de seus
seguidores que odiassem seu semelhante para serem melhores discípulos.
Portanto, ensinava: “Aquele que se aproxima de mim sem odiar seu próprio pai e
mãe, esposa e filhos, irmãos e irmãs, e sua vida, não pode ser um dos meus
discípulos” Lucas 14,26. Até que ponto Jesus desejava que seus discípulos se
desvinculassem de obrigações filiais pode ser julgado a partir dessa resposta a
um discípulo que solicitou: “Deixe-me primeiro ir e enterrar meu pai”. A
resposta de Jesus foi: “Siga-me e deixe os mortos enterrarem seus próprios
mortos” Mateus 8,21 e seguintes. O judaísmo considera a dedicação das últimas
reverências ao morto uma obrigação de “benevolência”. O próprio Deus, com o
intuito de dar exemplo aos seres humanos, não se nega a demonstrar sua bondade
aos mortos. Jesus ordenou a um discípulo para deixar seu pai morto,
desenterrado até que “os mortos” (aqueles que não aceitavam a mensagem de
Jesus) o enterrassem. Posição totalmente contrária ao verdadeiro espírito
judaico. A atitude negativa de Jesus com relação aos deveres mais elementares
do filho para com os pais deve ser considerada na análise ao novo tipo de
“amor” que ele supostamente introduziu. É verdade, Jesus exigiu, indo além da
letra da lei judaica e sem levar em consideração a natureza humana, “ame seus
inimigos e ore para seus perseguidores” Mateus 5,44. Entretanto, de que vale esse
ensinamento se seu promotor também rezou: “Aquele que se aproxima de mim sem
odiar pai e mãe é inadequado para ser um dos meus discípulos” Lucas 14,26. A
lei judaica não ordena que se ame seu adversário, pois isso seria antinatural.
Ela ordena, entretanto, que evitemos pensar em vingança contra ele e, ainda,
que o ajudemos numa emergência, pois isto é o que se espera de um ser
humano. Lei judaica não ordena que se
ame seu adversário, sendo que isso seria antinatural. Ela ordena, porém, que
evitemos pensar em vingança contra ele e, ainda, que o ajudemos numa
emergência, todavia isto é o que se espera de um ser humano. A lei judaica
ordena insistentemente amor e respeito aos pais, marido, esposa, filhos,
irmãos, irmãs e todos os outros membros da família. Uma preocupação irrestrita
em amar todos os semelhantes. O “amor cristão” é frequentemente colocado em
oposição ao “legalismo estrito” do judaísmo. Portanto, é oportuno ressaltar que
Jesus, conforme representado pelos Evangelhos, comumente não cumpria os elevados
princípios que pregava. O fato de Jesus não estar isento de vingança, o que é
proibido pela lei judaica. Torna-se evidente por ter ameaçado seus oponentes a
negar-lhe o Reino dos Céus; “Então direi a eles diretamente, nunca ouvi falar
de você. Afaste-se de mim, você que cometeu erro” Mateus 7,21-23. O judaísmo, a
religião do “legalismo estrito”, por outro lado, representam Deus como atraindo
para seu lado os pecadores arrependidos, sem querer se lembrar de suas
transgressões anteriores. Jesus ensinou: “Não resistais ao homem mau, antes,
aquele que te fere na face direita oferece-lhe também a esquerda, e aquele que
quer pleitear contigo, pra tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste. E se
alguém te obriga a andar uma milha, caminha com ele duas” Mateus 5,39-41. Mas
Jesus não seguia esse ensinamento. O Evangelho também registra que ele
retribuía o bem com o bem e o mal com o mal: “Todo aquele, portanto, que se
declarar por mim diante dos homens, eu me declararei por ele diante de meu Pai
que está nos Céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o
renegarei diante de meu Pai que está nos Céus” Mateus 10,32. Outros de seus
ensinamentos que o próprio Jesus não cumpria é a célebre bem-aventurança:
“Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão a misericórdia” Mateus
5,7. A atitude de Jesus e de seus discípulos para com aqueles que discordavam
dele podia ser tudo menos tolerante. Como se evidencia em sua hostilidade
cáustica em relação aos fariseus, a quem Jesus se referia como “serpentes” e
“ninho de cobras”. Além de os ameaçar com punição eterna no mundo vindouro,
Mateus 23,19-33, e muitas outras passagens similares. O quanto Jesus estava
longe de ser piedoso e isento de desejo de vingança pode ser avaliado pelo fato
de que ele amaldiçoou até mesmo uma árvore que não produziu os frutos que ele
esperava! Assim, lemos: “De manhã, ao voltar para a cidade, teve fome. E
Avistando uma figueira à beira do caminho, foi até ela, mas nada encontrou
senão folhas. E disse à figueira: Nunca mais produzas frutos. E a figueira
secou no mesmo instante” Mateus 21,18-20. Jesus estava também distante da
santidade necessária para prontamente retribuir o mal com o bem, o que fica
bastante evidente em suas inúmeras parábolas e ameaças diretas aos seus inimigos,
quando prometia punição futura no Reino dos Céus. Assim, ele assim se dirigia
àquele que não optavam por segui-lo Terra: “Apartai-vos de mim, malditos, para
o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos. Porque tive fome e
não me destes de comer. Tive sede e não me destes de beber. Fui forasteiro e
não me recolhestes. Estive nu e não me vestiste, doente e preso, e não me
visitastes” Mateus 25,41-43. Existe também uma contradição sem solução entre a
beatitude de Jesus: “Bem-aventurados os que promovem a paz porque serão
chamados filhos de Deus” Mateus 5,9 e sua declaração: Não penseis que vim
trazer paz à terra. Não vim trazer pez, mas espada. Com efeito vim contrapor o
homem ao seu pai, a filha a sua mãe e a nora a sua sogra. Em suma, os inimigos
do homem serão os seus próprios familiares” Mateus 10,34-37. Abraço. Davi
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