quinta-feira, 3 de outubro de 2024

OS ANALECTOS - LIVRO VI

Confucionismo. www.rl.art.br. OS ANALECTOS – LIVRO VI. Texto de Confúcio (551 a.C.479). 1. O Mestre disse: “A Yung pode ser dado o assento de frente para o sul”. 2. Chung-kung perguntou sobre Tzu-sang Po-tzu. O Mestre disse: “É sua simplicidade de estilo que o torna aceitável”. Chung-kung disse: “Ao governar o povo, não é aceitável ser exigente consigo mesmo e condescendente ao tomar medidas? Por outro lado, não é exagerar na simplicidade ser condescendente consigo mesmo, assim como ao tomar medidas?”. O Mestre disse: “Yung tem razão no que ele diz”. 3. Quando o duque Ai perguntou qual dos seus discípulos tinha sede de aprender, Confúcio respondeu: “Havia um Yen Hui que tinha sede de aprender. Ele não descarregava sua raiva em uma pessoa inocente, tampouco cometia o mesmo erro duas vezes. Infelizmente, o tempo de vida que lhe coube era curto, e ele morreu. Agora, não há ninguém. Ninguém com sede de aprender chegou ao meu conhecimento”. 4. Jan Tzu pediu grãos para dar à mãe de Tzu-hua, que estava fora em uma missão para Ch’i. O Mestre disse: “Dê-lhe um fu ”. Jan Tzu pediu mais. “Dêlhe um yü”. Jan Tzu deu-lhe cinco ping de grãos. O Mestre disse: “Ch’ih foi para Ch’i carregado por cavalos bem-alimentados e usando finas peles. Sempre ouvi dizer que um cavalheiro dá para ajudar os necessitados, e não para manter os ricos em uma vida farta”. 5. Ao tornar-se seu administrador, Yüan Ssu recebeu novecentas medidas de grãos, as quais declinou. O Mestre disse: “Os grãos não podem ser úteis para ajudar as pessoas no teu vilarejo?”. 6. O Mestre disse de Chung-kung: “Se um touro nascido de gado de arado tivesse cor castanha e chifres bem-formados, será que os espíritos das montanhas e dos rios o rejeitariam, mesmo que não o achássemos bom o suficiente para ser usado?”. 7. O Mestre disse: “Em seu coração, Hui pode praticar a benevolência durante três meses ininterruptos. Os outros atingem a benevolência meramente por ataques repentinos”. 8. Chi K’ang Tzu perguntou: “Chung Yu é bom o suficiente para que lhe seja oferecido um cargo oficial?”. O Mestre disse: “Yu é decidido. Que dificuldades ele poderia encontrar ao assumir um cargo?”. “Ssu é bom o suficiente para que lhe seja oferecido um cargo oficial?” “Ssu é um homem inteligente. Que dificuldades ele poderia encontrar ao assumir um cargo?” “Ch’iu é bom o suficiente para que lhe seja oferecido um cargo oficial?” “Ch’iu é um homem completo. Que dificuldades ele poderia encontrar ao assumir um cargo?” 9. A família Chi queria fazer de Min Tzu-ch’ien o administrador de Pi. Min Tzuch’ien disse: “Decline a oferta delicadamente por mim. Se alguém tornar a vir atrás de mim, estarei do outro lado do rio Wen”. 10. Po-niu estava doente. O Mestre visitou-o e, segurando sua mão através da janela, disse: “Vamos perdê-lo. Deve ser o Destino. Por que outra razão tal homem seria fulminado por tal doença? Por que outra razão tal homem seria fulminado por tal doença?”. 11. O Mestre disse: “Como Hui é admirável! Morar em um pequeno casebre com uma tigela de arroz e uma concha de água por dia é uma provação que a maioria dos homens acharia intolerável, mas Hui não permite que isso atrapalhe sua alegria. Como Hui é admirável!”. 12. Jan Ch’iu disse: “Não é que eu não esteja satisfeito com o Caminho do Mestre, mas me faltam forças”. O Mestre disse: “Um homem a quem faltam forças entra em colapso ao longo do trajeto. Mas você desiste antes de começar”. 13. O Mestre disse para Tzu-hsia: “Seja um ju [67] cavalheiro, não um ju mesquinho”. 14. Tzu-y u era o governador de Wu Ch’eng. O Mestre disse: “Você fez alguma descoberta lá?”. “Há um T’an-t’ai Mieh-ming que nunca toma atalhos e que nunca esteve em meus aposentos, exceto por razões oficiais”. 15. O Mestre disse: “Meng chih Fan não era dado a vangloriar-se. Quando o exército tomou a estrada, ele ficou na retaguarda. Mas, ao adentrar o portão, ele esporeava seu cavalo, dizendo: ‘Eu não fiquei para trás por modéstia. Simplesmente, meu cavalo recusava-se a ir adiante’”. 16. O Mestre disse: “Você pode ter a beleza de Sung Chao, mas será difícil escapar ileso neste mundo se, ao mesmo tempo, não tiver a eloquência do sacerdote T’uo”. 17. O Mestre disse: “Quem é que pode sair de uma casa sem usar a porta? Por que, então, este Caminho não é seguido?”. 18. O Mestre disse: “Quando a natureza de alguém prevalece sobre a educação recebida, o resultado será uma pessoa intratável. Quando a educação prevalece sobre a natureza, o resultado será uma pessoa pedante. Apenas uma mistura bem equilibrada das duas resultará em cavalheirismo”. 19. O Mestre disse: “Um homem sobrevive graças à sua retidão. Um homem que engana os outros sobrevive graças à sorte de ser poupado”. 20. O Mestre disse: “Gostar de algo é melhor do que meramente conhecê-lo, e encontrar alegria nesse algo é melhor do que meramente gostar dele”. 21. O Mestre disse: “Você pode explicar àqueles que estão acima da média sobre os melhores, mas não pode explicar àqueles que estão abaixo da média”. 22. Fan Ch’ih perguntou sobre a sabedoria. O Mestre disse: “Trabalhar pelas coisas às quais o povo tem direito e manter-se à distância dos deuses e dos espíritos enquanto lhes mostra reverência pode ser chamado de sabedoria”. Fan Ch’ih perguntou sobre a benevolência. O Mestre disse: “O homem benevolente colhe o benefício apenas após vencer as dificuldades. Isso pode ser chamado de benevolência”. 23. O Mestre disse: “O sábio encontra alegria na água. O benevolente encontra alegria nas montanhas. Os sábios são ativos; os benevolentes são plácidos. Os sábios são alegres; os benevolentes são longevos”. 24. O Mestre disse: “Com uma só reforma, Ch’i pode ser transformado em um Lu, e Lu, com uma só reforma, pode ser levado a atingir o Caminho”. 25. O Mestre disse: “Uma garrafa ku que não mede volume algum. Que garrafa ku estranha! Que garrafa ku estranha!”. 26. Tsai Wo perguntou: “Se a um homem benevolente fosse dito que havia outro homem benevolente no poço, iria ele, ainda assim, juntar-se ao outro?”. O Mestre disse: “Por que deveria ser esse o caso? Um cavalheiro pode ser mandado para lá, mas não pode ser atraído à armadilha. Ele pode ser enganado, mas não pode ser feito de bobo”. 27. O Mestre disse: “O cavalheiro que é muito culto mas que é levado às coisas essenciais pelos ritos dificilmente vai se voltar contra aquilo que apoiou”. 28. O Mestre foi ver Nan Tzu. Tzu-lu não gostou. O Mestre jurou: “Se fiz algo inapropriado, que o castigo do Céu caia sobre mim! Que o castigo do Céu caia sobre mim!”. 29. O Mestre disse: “Supremo, de fato, é o Caminho do Meio como virtude moral. Tem sido raro entre o povo há muito tempo”. 30. Tzu-kung disse: “Se houvesse um homem que desse generosamente ao povo e trouxesse auxílio às multidões, o que o senhor pensaria dele? Ele poderia ser considerado benevolente?”. O Mestre disse: “Nesse caso não se trata mais de benevolência. Se é preciso descrever tal homem, sábio é, talvez, a palavra adequada. Mesmo Yao e Shun achariam difícil realizar tanto. Mas, por outro lado, um homem benevolente ajuda os outros a firmar sua atitude do mesmo modo que ele próprio deseja firmar a sua e conduz os outros a isso do mesmo modo que ele próprio deseja chegar lá. A capacidade de tomar o que está ao alcance da mão como parâmetro pode ser considerado o método da benevolência”. www.rl.art.br. Abraço. Davi

terça-feira, 1 de outubro de 2024

JESUS. Parte V

 

Judaísmo. Livro Judaísmo e Cristianismo – As Diferenças. Por Trude Weiss (1908-1989). Capítulo 8. JESUS. Parte V. A maneira pela qual Jesus aplicava esses princípios às situações da vida real pode ser vista por seus rompantes de ira para com os discípulos que desejavam se desvincular de certas obrigações familiares antes de segui-lo. Quando um futuro discípulo dizia a Jesus: “Mestre, vou segui-lo, mas deixe-me primeiramente dizer adeus aos que estão em minha casa”. Ele o reprovava: “Quem coloca sua mão no arado e olha para trás é inadequado para o Reino de Deus” Lucas 9,6. Em oposição ao judaísmo, que espera que o devoto ocupe seu lugar na sociedade como bom filho, marido, pai, irmão e vizinho. Jesus exigiu de seus seguidores que odiassem seu semelhante para serem melhores discípulos. Portanto, ensinava: “Aquele que se aproxima de mim sem odiar seu próprio pai e mãe, esposa e filhos, irmãos e irmãs, e sua vida, não pode ser um dos meus discípulos” Lucas 14,26. Até que ponto Jesus desejava que seus discípulos se desvinculassem de obrigações filiais pode ser julgado a partir dessa resposta a um discípulo que solicitou: “Deixe-me primeiro ir e enterrar meu pai”. A resposta de Jesus foi: “Siga-me e deixe os mortos enterrarem seus próprios mortos” Mateus 8,21 e seguintes. O judaísmo considera a dedicação das últimas reverências ao morto uma obrigação de “benevolência”. O próprio Deus, com o intuito de dar exemplo aos seres humanos, não se nega a demonstrar sua bondade aos mortos. Jesus ordenou a um discípulo para deixar seu pai morto, desenterrado até que “os mortos” (aqueles que não aceitavam a mensagem de Jesus) o enterrassem. Posição totalmente contrária ao verdadeiro espírito judaico. A atitude negativa de Jesus com relação aos deveres mais elementares do filho para com os pais deve ser considerada na análise ao novo tipo de “amor” que ele supostamente introduziu. É verdade, Jesus exigiu, indo além da letra da lei judaica e sem levar em consideração a natureza humana, “ame seus inimigos e ore para seus perseguidores” Mateus 5,44. Entretanto, de que vale esse ensinamento se seu promotor também rezou: “Aquele que se aproxima de mim sem odiar pai e mãe é inadequado para ser um dos meus discípulos” Lucas 14,26. A lei judaica não ordena que se ame seu adversário, pois isso seria antinatural. Ela ordena, entretanto, que evitemos pensar em vingança contra ele e, ainda, que o ajudemos numa emergência, pois isto é o que se espera de um ser humano.  Lei judaica não ordena que se ame seu adversário, sendo que isso seria antinatural. Ela ordena, porém, que evitemos pensar em vingança contra ele e, ainda, que o ajudemos numa emergência, todavia isto é o que se espera de um ser humano. A lei judaica ordena insistentemente amor e respeito aos pais, marido, esposa, filhos, irmãos, irmãs e todos os outros membros da família. Uma preocupação irrestrita em amar todos os semelhantes. O “amor cristão” é frequentemente colocado em oposição ao “legalismo estrito” do judaísmo. Portanto, é oportuno ressaltar que Jesus, conforme representado pelos Evangelhos, comumente não cumpria os elevados princípios que pregava. O fato de Jesus não estar isento de vingança, o que é proibido pela lei judaica. Torna-se evidente por ter ameaçado seus oponentes a negar-lhe o Reino dos Céus; “Então direi a eles diretamente, nunca ouvi falar de você. Afaste-se de mim, você que cometeu erro” Mateus 7,21-23. O judaísmo, a religião do “legalismo estrito”, por outro lado, representam Deus como atraindo para seu lado os pecadores arrependidos, sem querer se lembrar de suas transgressões anteriores. Jesus ensinou: “Não resistais ao homem mau, antes, aquele que te fere na face direita oferece-lhe também a esquerda, e aquele que quer pleitear contigo, pra tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste. E se alguém te obriga a andar uma milha, caminha com ele duas” Mateus 5,39-41. Mas Jesus não seguia esse ensinamento. O Evangelho também registra que ele retribuía o bem com o bem e o mal com o mal: “Todo aquele, portanto, que se declarar por mim diante dos homens, eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos Céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus” Mateus 10,32. Outros de seus ensinamentos que o próprio Jesus não cumpria é a célebre bem-aventurança: “Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão a misericórdia” Mateus 5,7. A atitude de Jesus e de seus discípulos para com aqueles que discordavam dele podia ser tudo menos tolerante. Como se evidencia em sua hostilidade cáustica em relação aos fariseus, a quem Jesus se referia como “serpentes” e “ninho de cobras”. Além de os ameaçar com punição eterna no mundo vindouro, Mateus 23,19-33, e muitas outras passagens similares. O quanto Jesus estava longe de ser piedoso e isento de desejo de vingança pode ser avaliado pelo fato de que ele amaldiçoou até mesmo uma árvore que não produziu os frutos que ele esperava! Assim, lemos: “De manhã, ao voltar para a cidade, teve fome. E Avistando uma figueira à beira do caminho, foi até ela, mas nada encontrou senão folhas. E disse à figueira: Nunca mais produzas frutos. E a figueira secou no mesmo instante” Mateus 21,18-20. Jesus estava também distante da santidade necessária para prontamente retribuir o mal com o bem, o que fica bastante evidente em suas inúmeras parábolas e ameaças diretas aos seus inimigos, quando prometia punição futura no Reino dos Céus. Assim, ele assim se dirigia àquele que não optavam por segui-lo Terra: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer. Tive sede e não me destes de beber. Fui forasteiro e não me recolhestes. Estive nu e não me vestiste, doente e preso, e não me visitastes” Mateus 25,41-43. Existe também uma contradição sem solução entre a beatitude de Jesus: “Bem-aventurados os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus” Mateus 5,9 e sua declaração: Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer pez, mas espada. Com efeito vim contrapor o homem ao seu pai, a filha a sua mãe e a nora a sua sogra. Em suma, os inimigos do homem serão os seus próprios familiares” Mateus 10,34-37. Abraço. Davi