Editor do mosaico. A UNÇÃO. Tecerei alguns comentários baseados em dois textos bíblicos correlatos, que estão I João 2:20 "E vós tendes a unção do Santo, e sabeis todas as coisas". E versículo 27 do mesmo capítulo "E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade que alguém vos ensine; mas como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis". Brenann Manning (1934-2013) é um autor cristão americano que causa forte impressão em seus leitores. Sua história se identifica com o catolicismo, já que por muitos anos serviu a ordem dos frades menores, franciscanos, cumprindo os votos de pobreza, castidade e fidelidade a igreja. Em seus livros conta importantes episódios relacionados a seu período no catolicismo, experiências marcantes que fizeram crescer sua espiritualidade, acentuando o misticismo individual. Lembro-me, que num de seus escritos relatou uma situação em que esteve, por um período, morando entre os pobres numa cidade da América Central. Através de cartas à amigos nos USA, conseguia comprometimentos à donativos a essa comunidade. Um fato interessante ocorreu, dias antes dele despedir-se da coletividade, um de seus amigos enviou um cheque à uma das famílias com uma quantia razoável. Esse que recebeu a quantia, descontou o cheque, comprou e distribuindo alimentos, roupas e utensílios de pequena necessidade à toda comunidade. Antes de tornar-se franciscano serviu a US Mariner Special force, e por um descuido não foi enviado ao Vietnã, acabou perdendo o voo que transportaria os soldados para a guerra. Dias depois vencia seu prazo na Marinha dando baixa da corporação. Brennan tinha uma amiga com quem se correspondia a anos; os dois acabaram apaixonando-se e decidiram que se casariam. Como ainda estava debaixo dos votos da Ordem, pediu ao seu eclesiástico superior autorização para contrair núpcias. Isso era realmente impossível, pois se ele quisesse assumir esse compromisso deveria desligar-se da igreja. O celibato é condição imprescindível à desenvolver a vida pastoral e clerical. Desse modo espontaneamente foi desligado da ordem franciscana recebendo a carta de exclusão do sacerdócio e meses depois oficializou seu matrimônio. Um fato que Brennan não esconde de seus leitores, era seu vício com a bebida. Por anos foi alcoólatra, mesmo exercendo a vida religiosa, sendo que no catolicismo, seus superiores, tiveram compreensão de sua fraqueza com esperança que se libertaria com o tempo. Como tinha uma ótima retórica e fundamentação teológica, além de filosófica, agora como leigo, era constantemente convidado para fazer conferências e palestras evangelísticas. Isso no meio católico e protestante, mas com o tempo as dioceses o proibiram que ministrar nas paróquias e eventos católicos. Seu casamento durou pouco, pois como se agravava sua condição de alcoólatra era uma situação dificílima para sua esposa suportar com resignação tal estado de entorpecimento produzido pela bebida. Foi tremendamente penoso pra ele o divórcio; nutria uma forte impressão pela família, desejando a felicidade em seu lar com muitos filhos; que não se realizou. Algo que o ajudou muito nesse período da incontinência com a bebida, foi fazer parte do grupo dos alcoólatras anônimos. Com esse grupo e com outros, Brenann, elaborava palestras motivacionais e testemunho de como enfrentavam o alcoolismo e outras questões. Já no início dos anos 80 reunia grupos de homoafetivos em congresso, ministrando-lhes o amor de Cristo numa mensagem de tolerância, compreensão e integração social. Mostrando-lhes que Deus os amava como eram, e sua sexualidade podia ser desenvolvida sem culpa ou pecado, desde que, se comprometessem com seu parceiro num amor mútuo, afinidade e cumplicidade no relacionamento. Isso escandalizava os líderes cristãos da época. Num de seus livros O Evangelho Maltrapilho, Brenann, fala que as prostitutas estão no céu junto com todos os filhos de Deus. Uma referência ao famoso escritor russo Fiodor Dostoievsky (1821-1881) que com a personagem Sonia Marmeladov da obra Crime e Castigo, cujo primeiro nome significa sabedoria, tipificou a prostituta, não só para ilustrar a misericórdia divina com relação a mulher "caída", mas para ter dela sua própria salvação através da extravagante graça divina. Esse irmão em Cristo, morreu em abril de 2013 com 81 anos. Sua velhice foi bastante complicada em termos de saúde, já que adquirindo uma doença rara perdeu a visão, tinha dificuldade em se locomover, sendo carregado nos deslocamentos básicos como tomar banho, deitar-se e levantar-se. Se alimentava com auxílio de um enfermeiro. Muitos desses fatos estão relatados em seus livros, tendo muita coragem e confiando na graça divina para expor suas fraquezas ao público; coisa que já vi, mas em pouquíssimos escritores. Assim, em seus últimos dias viveu praticamente amparado, sendo guardado e sustentado pela graça divina da qual ele tanto fala em seus vários livros publicados; pelo seu testemunho pessoal nunca se afastando dela. Um exemplo, a graça divina, a ser seguido por nós. E quanto ao alcoolismo, ele se curou, talvez alguns de vocês estejam se perguntando? Bem, quanto a isso não tenho resposta. O Brennan tem um interessante livro com o título Deus o Ama do Jeito que Você É. Também O Impostor que Morra em Mim e O Obstinado Amor de Deus são outros excelentes livros. Infelizmente por tentar ser uma pessoa autêntica, procurando em suas palavras e atos ser genuíno, esse irmão foi muito criticado pela liderança cristã em seu país e seus livros ainda hoje são visto com reservas pelos ortodoxos e dogmáticos da teologia. Os que leem sua obra se apaixonam por saber que alguns confiando na graça divina, vivem a vida com intensidade dando frutos dignos de arrependimento. As vezes ficamos pensamos, mas porque sofremos? Sendo esse sofrimento causado pelos nossos pecados e outros fatores, o que devemos fazer para nos livrar dessa situação? Nessa particularidade é interessante acrescentarmos aquilo que Jesus falou em João 16:33 "Tenho vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo". As palavras do mestre são enfáticas ao asseverar que todos os seres, humanos e não humanos, sem distinção terão que enfrentar o sofrimento em suas vidas. Ele se manifesta em nosso nascimento, crescimento, envelhecimento e morte. Para um entendimento mais abrangente desse tema, sofrimento, precisamos ter a ideia de que, estamos nesse mundo de passagem; “forasteiros e peregrinos” como a bíblia fala em I Pedro 2:11; estivemos aqui antes, estamos hoje e retornaremos depois, quantas vezes forem necessárias pelos renascimentos. Do contrário não temos como justificar que alguém que conhecemos, vivendo de maneira justa, reta e integra diante de Deus sofra terríveis vicissitudes em sua vida. O sofrimento funciona como ajuste e correção de situações não resolvidas no passado, aperfeiçoando e desenvolvendo a vida presente. Ao referir-se a paz, imagino que o Mestre quis dizer, que o sofrimento é além de uma disciplina corretiva ao nosso ser, também o processo inevitável que nos conduzirá ao progresso espiritual. Como é dito em Gálatas 6:7 "(...) tudo o que o homem semear isso também ceifará". Dessa maneira, as situações que enfrentamos em nossas vidas são resultados daquilo que fizemos, no passado ou no presente, para recebermos como consequência o que estamos colhendo. Não tenho a intenção de insinuar um determinismo ou predestinação, mas nossos atos são resultado daquilo que escolhemos baseados em nossa vontade. Assim os dois aspectos conjugados reproduzem a evolução de nossa consciência espiritual; um nos levará infalivelmente ao Logos Eterno, o outro disciplina, corrigindo, nosso comportamento e conduta nos renascimentos futuros. Um bom exemplo como ilustração é o da lagarta que está sendo preparada para ser uma linda borboleta. Por um período de tempo ela sofre em seu casulo com terríveis dores advindas da metamorfose, transformação, pela qual passa, mudando completamente sua aparência física, incluindo nervos, peles, músculos, asas, antenas e outros adaptadores. Tudo para viver sua elevada vida de borboleta, que voando por galhos, árvores e flores, distribui o pólen, para reprodução dos vegetais, disseminando vida em abundância na natureza. Desse modo, abandona a primitiva e rastejante forma de lagarta, que contamina e infesta degradante mente a vida vegetal e animal. Acho que nessa vida estamos também passando por um processo semelhante. Nossa personalidade terrena, apegada ao materialismo e desejos egoístas de nossa vontade precisa ser depurada pelo fogo, sofrimento, que limpará toda a impureza e sordidez incrustadas pelo pecado. Onde nesse estágio espiritual somos introduzidos numa individualidade límpida, pura e santa que culminará com nossa salvação completa, tornando-nos homem perfeito como dito em Efésios 4;13 "Até que todos cheguemos a unidade da fé, e ao conhecimento do filho de Deus, a homem perfeito, a medida da estatura completa de Cristo". Acontece que muitas vidas serão necessárias à que cheguemos no topo da escada de Jacó, onde os anjos de Deus subiam e desciam por ela. Assim cotidianamente estamos aprendendo as lições ensinadas pela escola da vida, em alguns testes somos aprovados, mas em outros, temos que repetir a mesma aula. A pedagogia da vida é tão maravilhosa que nos dá tantas oportunidades, quantas forem necessárias para que aprendamos a lição, sendo aprovados no exame. Mas o que a unção tem a ver, com o que acabamos de falar? Acho que tudo, pois ela é a chave da solução do problema do sofrimento; a iniciadora e finalizadora do estágio de nossa transformação à estatura completa de Cristo. A unção, entendo, como nosso mestre espiritual, nosso guru interno ou o Espírito Santo que faz morada em nosso ser. Podemos inferir da passagem bíblica de I João 2:27, que a responsabilidade pelas escolhas quando passadas pelo crivo da vontade é individual, sendo legitimadas pelo livre arbítrio. Deus nos outorga essa liberdade sem interferir em nossa decisão, respeitando e abençoando o caminho que escolhemos, dentro daquilo que compreendemos como o melhor para proporcionar-nos felicidade e paz. Os dois textos da unção, penso, deixa claro que nossa opinião sobre nossos problemas tem preponderância sobre aquilo que os outros dizem sobre eles. Em outras palavras, posso ouvir o que as pessoas tem a dizer sobre o que estou vivendo no presente, mas esses conselhos posso aceitá-los ou rejeitá-los, dependendo do que seja melhor para mim e minha família. Em alguns casos por assumirmos um excesso de preciosismo pela organização - religião - ou instituição onde estamos afiliados, confundimos nossas escolhas públicas com as privadas. Uma está na esfera geral e comum, onde compartilhamos a responsabilidade com o grupo onde estamos inserido. A outra é particular, em nosso foro íntimo como obrigação exclusiva. Sendo que nessa situação respondemos diante de Deus pessoalmente pelo que decidimos; a despeito do que falou qualquer irmão ou amigo. Essa última instância, a privada, está ligada a unção interior comentada pelo apóstolo João em sua carta que citamos no início. O zelo exagerado, expresso em nossa espiritualização, impessoaliza a deliberação, fragilizando nosso pensamento em relação ao conflito ou questão que enfrentamos, criando dúvida se nossa escolha foi correta ou incorreta. A falsa impressão de que devemos dividir com outros, os lucros ou perdas de nossas escolhas acaba comprometendo o livre arbítrio. Retirando parte de nossa liberdade, mas ao final das contas, apenas nós arcaremos com o ônus ou bônus de nossa escolha. Assim, nossa consciência ganha importância fundamental nas decisões que temos de tomar. Precisamos estar sensíveis a voz interior manifestada na intuição, percepção, sensação e sentimento. Em questão de consciência não devemos nos deixar influenciar por terceiro, a obrigação do direcionamento de qual caminho vamos tomar é inteiramente nossa. E tenhamos certeza que, nosso mestre, a unção interior, nos conduzirá pela senda que trará progresso espiritual, felicidade, amor e paz. Buda disse: "Veja o falso como falso, o verdadeiro como verdadeiro. Olhe para o seu coração. Siga a sua natureza". Osho (1931-1990) explicando esse aforismo diz: "Buda não está dizendo, siga as escrituras. Ele não está dizendo siga-me. Ele não está dizendo, siga certas regras de conduta. Ele não está ensinando a você qualquer moralidade. Ele não está tentando criar um certo caráter em você, porque todo caráter é uma bela cela de prisão. Ele não está dando a você um certo caminho para viver. Ao invés disso, ele está lhe dando coragem para seguir a sua própria natureza. Ele quer que você seja corajoso o bastante para ouvir o seu próprio coração, e seguir de acordo com ele. Siga a sua natureza, quer dizer, flua com você mesmo. Você é a escritura (...) e escondido lá no fundo de você ainda está uma pequena voz. Se você se tornar silencioso, você será guiado por ela". Abraço. Davi.
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
TRABALHO DE ILUSTRAÇÃO E HÁBITOS PESSOAIS DE CONFÚCIO
Confucionismo. Biografia de Confúcio. Memória Histórica de Sima Qian. 7. TRABALHO DE ILUSTRAÇÃO E HÁBITOS PESSOAIS de Confúcio. O Duque Aí, de Lu, consultou-o sobre questões de governo, e Confúcio respondeu: - "O segredo de um governo está em escolher bem seus ministros." O Barão K' ang consultou-o sobre questões de governo, e Confúcio respondeu: - "Ponde homens corretos no poder e usei-os como exemplos para os incorretos, e os incorretos hão de voltar à correção [8] ." O Barão K'ang mostrava-se preocupado com bandidos e ladrões que infestavam o país, e Confúcio lhe disse: ,.- "Se de vossa parte não gostais de dinheiro, podeis distribuí-lo aos ladrões, e eles não o terão de roubar." Mas afinal, nem o governo de Lu achava meios de elevar Confúcio ao poder, nem ele próprio parecia desejoso de colocação oficial. Por esse tempo declinara o poderio dos imperadores Chou, as formas de procedimento social e religioso ("ritual e música") haviam degenerado, o estudo e a ilustração estavam em decadência. Confúcio pesquisou o cerimonial religioso e os documentos históricos das três dinastias (Hsia, Shang e Chou), e configurou os acontecimentos desde os imperadores Yao e Shun até à época do Duque Mu, de Ch’in, numa disposição cronológica. E certa vez comentou: "Eu seria capaz de falar sobre a ordem feudal (li ou "ritual") de Hsia, mas não há bastantes costumes remanescentes na cidade de Chi (governada pelos descendentes dos Hsia). Eu seria capaz de discutir a ordem feudal da Dinastia Shang (notoriamente governada por sacerdotes), mas não há bastantes costumes remanescentes na cidade de Sung (governada pelos descendentes dos imperadores Shang). Se houvesse bastantes vestígios eu seria capaz de evidentemente reconstituir tudo." Fez um levantamento das alterações nos costumes entre as dinastias Hsia e Shang, e, depois de observar como se modificaram tais costumes com a Dinastia Chou, falou: _ "Posso até predizer como será o desenvolvimento da História, por uma centena de gerações," Verificou que certa dinastia (Shang) representava uma cultura rica em formalidades cerimoniais, que outra (Hsia) representava uma cultura de vida simples, e que a Dinastia Chou combinara e mesclara as duas culturas precedentes de maneira equilibrada e perfeita; e assim decidiu escolher por ideal a cultura Chou". Nesse sentido preparou Confúcio uma série de obras históricas (por exemplo, o atual LIVRO DA HISTÓRIA) e profusa documentação sobre Etnologia e costumes antigos. Discutindo música, com o Grande Mestre de Música, de Lu, disse uma vez: - "Os princípios da Música devem ser conhecidos. Uma execução deveria começar tranquilamente: desdobrando-se em perfeita harmonia e clareza, e afinal culminando pela continuação ou repetição do tema. Noutra ocasião disse também: - Depois de meu regresso, de Wei a Lu; tornei-me capaz de restaurar a tradição musical e classificar a música de sung [partituras cerimoniais] e ya (música clássica de Chou ) , e de restituir aos cantares as respectivas melodias originais . Na antiguidade havia mais de três mil cantares, mas Confúcio eliminou as duplicatas e selecionou os que se apresentavam com boa forma. A coleção começava com os cantos de Ch’i e Houchi [ancestrais mitológicos dos imperadores Chou], cobria todo o largo período dos reis Shang e Chou, e estendia-se até à época dos tiranos Yu e Li. Abre-se com um cantar de amor conjugal, e a propósito se diz: "a canção Kuanchih abre a série de Fenq, Luming abre a série do Pequeno Ya, Wenwang abre a série do Grande Ya, e Ch'ingmiao abre a série de Sung." Confúcio cantava, ele próprio, as trezentas e cinco canções, tocando as respectivas músicas num instrumento de cordas, para verificar sua adequação aos tipos hsieo, wu, ya e sung. Graças aos seus esforços a tradição da música e dos rituais antigos foi assim salva do esquecimento e transmitida à posteridade, como elementos auxiliares na realização do ideal confuciano que visava um governo de reis e o ensino das "Seis Artes". Confúcio, velho, sentiu-se atraído para o estudo do Yiking, ou Livro das Mutações - com o seu Prefácio, T'uen, Hsi, Hsienq, Shuokue e Wenyuan. Leu o YIKING a ponto de puir-se o couro (que unia as inscrições de bambu), que teve de ser mudado três vezes: e ele só dizia: - "Dei-me alguns anos mais para estudar o YIKING, e então eu ficarei conhecendo bem o sentido da mutação nos fenômenos humanos." Confúcio lecionava poesia, história, cerimonial e música, a 3.000 alunos - dos quais 72, como Yen Tut sou, dominavam as "Seis Artes" (a referência é certamente às "Seis Clássicas"). Grande número de pessoas vinha estudar com ele. Confúcio ensinava quatro tipos de coisas: literatura, conduta humana, autenticidade pessoal, e honestidade nas relações sociais. Condenava (ou tentava por todos os meios evitar) quatro coisas: arbitrariedade de opiniões, dogmatismo, estreiteza de espírito, e egotismo. Mostrava interesse e cuidado com respeito a três circunstâncias: o banho cerimonial (na preparação para os cultos), a guerra e a enfermidade. Raramente falava sobre lucros, desígnios do Céu ou destino ou fatalidade ou sobre o "homem de verdade". Se um indivíduo não se mostrava profundamente inclinado ou determinado a encontrar a verdade. Confúcio não tentaria explicar e estimular-lhe o pensamento; se lhe dizia uma quarta parte do que teria a dizer e esse indivíduo, por si mesmo, não chegasse a perceber as três quartas partes restantes. Confúcio não tornaria a ensinar-lhe coisa alguma.[12] Em sua vida privada[13], na aldeia onde nascera ou com a sua gente, era gentil e cordial - como alguém que não era de muito falar e que, entretanto, nos lugares de culto público e nas cortes, mostrava-se loquaz, escolhendo minuciosamente as palavras. Na corte, falava serenamente, respeitoso para com os superiores e quase afável para com os subalternos. Ao entrar num recinto público, era seu costume curvar-se e logo avançar rápido para a frente. Quando lhe chegava um mensageiro do rei, assumia um ar grave; e quando um rei o convocava, ia sem esperar pela carruagem. Quando a carne ou o peixe não estavam frescos, ou quando não eram bem cortados, Confúcio não os comia. Quando a esteira não estava bem estendida, ele não se sentava. Em companhia de pessoas de luto, jamais comia até locupletar-se: e se havia de chorar (em cerimônias fúnebres), não cantava no mesmo dia. Ao avistar pessoas enlutadas ou quando passava por algum cego, alterava-se lhe o semblante, ainda que se tratasse de uma criança. "Nunca saí a passeio com três pessoas sem achar que pelo menos uma delas tivesse algo a ensinar-me" - dizia. E ainda:- "As coisas que me preocupam e temo, são: que eu me tenha esquecido de aperfeiçoar o meu caráter, que eu tenha negligenciado meus estudos, que eu não tenha sido capaz de seguir o caminho certo percebido por mim, e que eu não tenha sido capaz de corrigir meus próprios erros." Quando ouvia um homem cantar, e gostava, pedia-lhe que repetisse, e então fazia ouvir também a sua voz nos estribilhos. Recusava-se a falar e discutir sobre mitologia, proezas físicas exibicionistas, pessoas insubordinadas, e espíritos sobrenaturais. Sobre Confúcio, disse Tsekung: - "O Mestre ensinava-nos literatura e ilustração: isto pôde-se aprender com ele, o que não se pôde aprender com ele, o que não nos ensinou, foi o que pensava sobre a Natureza (ou o Céu) e seus desígnios." Yen Yuan, ou Yen Huei, suspirava e fabulava: - "Levantais a cabeça e o fitais, e ele vos parece altíssimo; tentais penetrá-lo e parece duríssimo; dá a impressão de estar à vossa frente e de repente o tendes atrás de vós. O Mestre é muito bom, disposto sempre a conduzir e ensinar alguém. A mim ensinou a tornar-me maior, lendo boa literatura, e a controlar-me pela observância da conduta adequada. Dou-me por encaminhado, mas depois de ter feito o máximo que podia e desenvolvido o que havia de melhor em mim, algo ainda o Mestre reserva que eu não consigo apreender. Por mais que eu faça para chegar à sua condição, não há meios." Um moço de Tahsiang chegou a dizer: - "Grande é Confúcio! Tudo sabe, e em nada se especializa." Ao ter conhecimento disso, Confúcio ponderou: - "Em que me hei de especializar? Em manejar arco e flecha, em guiar carruagens?” Tselu falou: - "De si próprio, o que Confúcio diz é que não ingressou no governo e assim teve tempo bastante para estudar as diferentes artes e a literatura." Na primavera do ano décimo quarto do Duque Ai, de Lu (481 A. C.), houve uma caçada; e o guia do Barão Shusun, de nome Chushang, pegou um estranho animal que foi tomado como sinal de má fortuna. Confúcio viu-o e declarou que era um unicórnio, e então levaram o animal para casa[15]. E Confúcio falou: “Ai de mim! nenhuma tartaruga ostentando mágicos anagramas apareceu no Rio Amarelo, nenhum sinal sagrado tampouco saiu do Rio Lo... Acabou-se!” . Quando morreu Yen Huei, Confúcio disse: - "Vejo que o Céu vai tirar de mim a minha missão." E ao ver o unicórnio, durante aquela caçada, falou: - Isto é o fim!", e suspirou, terminando: .- "Não há no mundo quem me compreenda." Ouvindo-o, Tsekung o interpelou: - "Por que dizeis que não há quem vos compreenda?”. E Confúcio respondeu: "Não culpo o Céu, nem culpo a Humanidade... O que tenho feito é o máximo que posso para adquirir sabedoria e atingir a um ideal mais elevado. Talvez somente o Céu me compreenda!". A respeito de Poyi e Shu Ch’i, Confúcio disse não haverem eles comprometido seus princípios e assim não se haviam desgraçado (eram sábios de fama, vivendo como reclusos); sobre Liushia Huei e Shaolien, disse que haviam comprometido seus princípios e se haviam desgraçado; sobre Yuchung e Yiyi, disse que haviam levado vida retirada e em elevadas palestras filosóficas, mas que, todavia, não eram realistas e haviam-se adaptado às circunstâncias, conforme o princípio da utilidade. "Mas eu sou diferente de todos esses: decido de acordo com as circunstâncias de cada momento, e procedo melhor" (literalmente: "nem pode, nem não pode"). Confúcio disse: - "Isto não pode ser! Isto não pode ser! Um gentil-homem peje-se de morrer sem haver realizado alguma coisa. Acho que não conseguirei chegar ao poder para pôr em prática meu ideal de governo. Que conta darei de mim, aos olhos da posteridade?" Por isso escreveu Primavera e outono (crônicas), com bases nas histórias existentes, a começar do Duque Yín (722 A. C.) até o ano décimo quarto do Duque Aí (481 A. C.), abrangendo assim os períodos de governo de doze duques (De Lu). Adotou, ao escrever, a posição de Lu , mas procurou respeitar os imperadores Chou, reportando-se à Dinastia Shang e observando as transformações de sistema verificadas nas Três Dinastias. Exprimiu-se em estilo conciso, mas prenhe de sentido. Eis por que, embora os governantes de Wu e Ch'u se outorgassem o título de "reis", em Primavera e outono encontram-se rebaixados de categoria e são citados apenas como "barões". Em certa ocasião, o imperador foi realmente intimado pelos duques a comparecer: mas em Primavera e Outono, esforçando-se por dar melhor aparência aos fatos, Confúcio escreveu que "o celestial Imperador veio caçar em Hoyang..." Palavras distintas assim eram usadas, implicando aprovação ou reprovação do autor às práticas do seu tempo, na esperança de que futuramente surgisse um grande rei que abrisse o seu livro e adotasse os princípios ali inscritos, para vergonha e exemplo dos soberanos desordeiros e rapaces. Quando tinha função oficial, Confúcio estudava os processos e documentos de cada caso, com seus colegas, e ouvia-lhes as opiniões, jamais impondo as suas próprias; mas ao redigir PRIMAVERA E OUTONO fê-lo exatamente como lhe parecia melhor, e os discípulos como Tsehsia não mexiam uma palavra. Ao apresentar a obra a seus discípulos, Confúcio disse: - "As gerações vindouras me compreenderão através de Primavera e Outono, e por Primavera e Outono me hão de julgar." Abraço. Davi
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
O CAMINHO DO CONHECIMENTO
Hinduísmo. Srimad Bhagavad Gita - O Canto do Senhor. Por Swami Vijoyananda. O CAMINHO DO CONHECIMENTO. Capítulo IV. 1– Disse o BENDITO SENHOR: Eu ensinei este eterno yoga à Vivaswata. Vivaswata o ensinou à Manú e Manú à Ikshvaku. 2– Assim, os reis sábios aprenderam este yoga de seus respectivos preceptores. Ó destruidor de teus inimigos, este yoga, depois de um longo período de tempo, foi esquecido. 3– Como tu és Meu devoto e amigo, hoje lhe falei sobre este antigo yoga. Em verdade, este é um grande segredo. 4– Disse Arjuna: Tu nasceste muito depois de Vivaswata, como, portanto, entenderei que falaste deste yoga no remoto passado? 5– Disse o BENDITO SENHOR: Ó destruidor de teus inimigos, você e Eu já nos encarnamos muitas vezes; Eu conheço todas estas encarnações, você não as conhece. 6– Ainda que (em realidade) não tenho nascimento, sou imutável e Senhor das criaturas, dominando Minha prakriti, me encarno, servindome de Minha própria maya (a inescrutável força divina). 7-8– Ó Bhárata, toda vez que declina a religião (a retidão) e prevalece a irreligião, Me encarno de novo. Para proteger aos bons, destruir aos maus e estabelecer a (eterna) religião, Me encarno em diferentes épocas. 9– Aquele que assim conhece realmente Minha divina encarnação e Minha obra, quando deixa este corpo não renasce mais; ele chega a Mim, ó Arjuna. 10– Livres do apego, do medo e da ira, absortos em Mim, refugiando-se em Mim, purificados pela austeridade e pelo discernimento, muitos alcançaram Meu Ser. 11– Seja qual for a maneira em que os homens Me adorem, Eu satisfaço seus desejos. Ó Partha, de todas as maneiras, é o Meu caminho que os homens seguem. 12– Desejando êxito na ação neste mundo, as pessoas adoram aos devas (seres celestiais). Neste mundo dos homens o êxito na ação chega logo. 13– As quatro castas foram criadas por Mim, segundo a atitude e as ações dos homens. Ainda que seja seu autor, (em realidade) saiba que sou imutável e não-ator. 14– As ações não Me mancham, nem desejo seus frutos; aquele que assim Me conhece não é aprisionado pelas ações. 15– Sabendo isto, os antigos aspirantes à liberação cumpriram seus deveres. Tu também atues como eles o fizeram no passado. 16– Até os sábios (às vezes) tem confusão com relação ao que é a ação e o que é a inação. Eu te direi o que é a ação, sabendo-o te libertarás do mal. 17– É necessário saber bem quais são as ações prescritas e quais as proibidas e também o que é a inação, porque é difícil saber qual é o modo adequado de atuar. 18– Aquele que vê a inação na ação e a ação na inação, é um sábio entre os homens, é um yogui e pode executar todas as ações. (Os resultados das ações que produzem todo tipo de momentâneas alegrias e pesares não afetam ao que trabalha sem egoísmo ou ao que se sente como um instrumento de Deus, de modo que toda sua ação é como a inação. Em troca, a inação de um egoísta ou irreligioso é pura indolência e lhe causa sofrimento e escravidão. Também se pode dizer que o ignorante pensa que o Ser atua, enquanto o sábio vê ao corpo e aos órgãos atuarem e sabe que para o Ser não há ação.) 19– Aquele cujas ações não são motivadas por algum plano prévio ou por desejo, cujas ações são purificadas pelo fogo do conhecimento, a ele os sábios chamam conhecedor. 20– Renunciando ao apego à ação e aos seus frutos, sempre satisfeito, sem depender de ninguém, o conhecedor, ainda que esteja ocupado na ação, em realidade não faz nada (que o possa prender). 21– Sem desejos, com a mente e o corpo controlados, abandonando todos os bens, ainda que leve a cabo as ações físicas, (o sábio) não fica manchado por elas. 22– Satisfeito com o que recai sobre ele, transcendendo os pares de opostos (como o calor e o frio, o agradável e o desagradável, etc.) livre da inveja, equânime diante do êxito e do fracasso, o sábio não se prende ainda que atue.
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
RELIGIÃO DO ISLAM. Parte XVI
Islamismo. Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo ( 1961 - ). RELIGIÃO DO ISLAM. Parte XVI. Allah deixa muito claro que todas as ações serão analisadas no Dia do Juízo. Allah disse: “E a ponderação, nesse dia, será a equidade; aqueles cujas boas ações forem mais pesadas serão os bem-aventurados. E aqueles, cujas boas ações forem leves serão desventurados por haverem menosprezado os Nossos versículos.” (7: 8-9). Devemos recordar a todo o momento que as recompensas de Allah para Seus servos são um ato de Sua misericórdia e, também, que Suas recompensas são sempre maiores que realmente merecemos por nossas boas ações. Certamente, o castigo de Allah é determinado mediante Sua justiça e Ele não castiga a ninguém além do que é merecido. O terceiro aspecto fundamental da crença no Último Dia é a crença no Paraíso e Inferno. O Paraíso é a morada eterna e a recompensa para os crentes. O Inferno é a morada eterna e o castigo para os incrédulos. A opinião mais sólida é que ambos existem na atualidade e que continuarão existindo para sempre. Não constituem meros estados de espírito como consideram alguns não muçulmanos e hereges muçulmanos. Allah e Seu Mensageiro os mencionaram e descreveram claramente e de forma inequívoca. Não existe nenhum motivo para que um muçulmano negue sua existência ou suas descrições. Acerca do Paraíso, por exemplo, Allah disse: “Por outra, os fiéis, que praticam o bem, são as melhores criaturas, Cuja recompensa está em seu Senhor: Jardins do Éden, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente. Deus se comprazerá com eles e eles se comprazerão n’Ele. Isto acontecerá com quem teme o seu Senhor.” (98: 7-8) “Nenhuma alma caridosa sabe que deleite para os olhos lhe está reservado, em recompensa pelo que fez.” (32: 17) Quanto ao Inferno: “Dize-lhes: A verdade emana do vosso Senhor; assim, pois, que creia quem desejar, e descreia quem quiser. Preparamos para os iníquos o fogo, cuja labaredas os envolverá. Quando implorarem por água, ser-lhes-á dada a beber água semelhante a metal em fusão, que lhes assará os rostos. Que péssima bebida! Que péssimo repouso!” (18: 29) “Em verdade, Deus amaldiçoou os incrédulos e lhes preparou o tártaro. Onde permanecerão eternamente; não encontrarão protetor ou quem os socorra. No dia em que seus rostos forem virados para o fogo, dirão: Oxalá tivéssemos obedecido a Deus e ao Mensageiro!” (33: 64-66) Ibn Taimiyah destaca que a crença no Último Dia também inclui a crença em tudo o que ocorra a uma pessoa logo após sua morte e antes do Dia da Ressurreição. Isso inclui o juízo no túmulo e o prazer ou castigo dentro do sepulcro. O castigo do túmulo é mencionado em um hadith autêntico, registrado por Tirmidhi. Ali foram mencionados os anjos Munkar e Nakir, eles se aproximam da pessoa e perguntam: “Que costumavas dizer a respeito deste homem [referindo-se a Muhammad]?” Outros escritos mencionam que os dois anjos virão e farão três perguntas: “Quem é teu Senhor? Qual é tua religião? Quem é teu Profeta?”. Existem minuciosos aspectos adicionais que se relacionam com a próxima vida e que todo crente deve conhecer e crer. Devido a limitações de espaço não se podem ser analisadas em detalhe, por aqui. Estas questões incluem: (1) A fonte ou poço do Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele); (2) As diferentes intercessões; (3) A distribuição dos livros das ações; (4) Travessia da ponte (siraat) sobre o Inferno. (5) A entrada no Paraíso ou no Inferno e todos os aspectos relacionados. A crença e o conhecimento dos grandes acontecimentos do Último Dia e da Próxima Vida deveriam ter uma influência profunda em cada indivíduo, sempre e quando esta pessoa se atenha às reflexões e análises deste Dia. Em primeira instância, deveria incitar os crentes a realizarem boas ações, por saberem das recompensas que os aguardam. Os benefícios do Paraíso são maiores que qualquer olho jamais tenha visto ou que qualquer pessoa jamais possa imaginar. Antes de qualquer coisa, esta incrível recompensa abrange a complacência de Allah e a oportunidade de vê-lo na Próxima Vida. Se as pessoas pudessem estar conscientes deste aspecto, a todo e qualquer momento em suas vidas, buscariam, ansiosamente, realizar tantas boas ações quanto fossem possíveis. Em segundo lugar, a advertência do castigo deveria persuadir as pessoas a não cometerem nenhum pecado, sem se importar quão leve seja. Nenhum pecado cometido neste mundo vale a pena se forem levados em conta o castigo que podemos receber na Próxima Vida. Além disso, ao cometer um pecado, o pecador também ganha o descontentamento de Allah, seu Senhor, o Criador e o Amado. Em terceiro lugar, de acordo com Ibn Uthaimin, a prestação de contas e a justiça no Dia do Juízo provocarão bem-estar e consolo aos crentes. É natural que os seres humanos odeiem a injustiça. Neste mundo, isso é algo que ocorre com frequência. Os que enganam e carecem de ética, muitas vezes, vivem neste mundo sem sofrer as consequências por seus atos. Sem dúvida, isso acontece porque e somente porque, em grande escala, este mundo não é um lugar propício para o juízo, as recompensas e os castigos. Essas pessoas não se safarão das maldades que vêm praticando. As boas ações de uma pessoa também não são realizadas em vão, o que muitas vezes aparenta ser, neste mundo. Virá o momento em que estas questões serão resolvidas, e melhor, resolvidas de uma forma justa. Esse momento será o Dia do Juízo Final.A crença no Decreto Divino O seguinte e último pilar da fé mencionado pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) é a crença no “Decreto Divino”, ou al-qadar. Idris analisa o significado disto e manifesta que: “O significado original da palavra qadar é medida ou cifra específica, seja em qualidade ou quantidade. Também há outras acepções que não se relacionam com o tema em questão. Desta maneira, yuqad-dir quer dizer, entre outras coisas, medir ou determinar a quantidade, qualidade, medida, etc. de algo antes de construí-lo. E esta última acepção da palavra é o que nos interessa.” É obrigatório que todos os muçulmanos creiam no conceito de qadar, ou Decreto divino, já que é mencionado claramente em muitos ahaadith autênticos. Ibn Qaiim nos mostra que existem quatro níveis, ou aspectos, na crença do qadar. Aquele que não crê nestes quatro aspectos, não tem uma crença em Allah correta e apropriada. O primeiro nível consiste em crer que Allah sabe tudo, particular ou universalmente, antes que as coisas existam. Isso se relaciona tanto às comumente chamadas ações de Allah, como, por exemplo: a produção da chuva, dar vida e outras, como também às ações dos seres humanos. Allah possui o conhecimento prévio de todas as ações da criação devido a Seu conhecimento eterno, que, segundo se diz, Ele há possuído desde sempre. Isto inclui Seu conhecimento acerca de todas as questões de obediência, desobediência, sustento e período de duração da vida. Este aspecto pode ser compreendido em numerosos versículos do Qur’an, como, por exemplo: “Ele possui as chaves do incognoscível, coisa que ninguém, além d’Ele, possui; Ele sabe o que há na terra e no mar; e não cai uma folha (da árvore) sem que Ele disso tenha ciência; não há um só grão, no seio da terra, ou nada verde, ou seco, que não esteja registrado no Livro lúcido.” (6: 59) O segundo nível na crença no qadar é crer no registro de Allah de todas as coisas, antes mesmo da criação dos céus e da terra. Por conseguinte, Allah não apenas teve e tem conhecimento do que passará, senão que registrou esta informação na Tabla Preservada (al-Lauhul Mahfudh). Isso não é algo difícil para Allah. Allah disse: “Ignoras, acaso, que Deus conhece o que há nos céus e na terra? Em verdade, isto está registrado num Livro, porque é fácil para Deus.” (22: 70) “Não assolará desgraça alguma, quer seja na terra, quer seja em vossas pessoas, que não esteja registrada no Livro [a Tabla Protegida], antes mesmo que a evidenciemos. Sabei que isso é fácil a Deus.” (57: 22) O terceiro nível consiste em crer que Allah dirige e governa sobre tudo o que existe e que se Ele não deseja algo, isso não encontrará maneira de existir. Novamente, isso se refere às ações de Allah, de dar vida, sustento, etc. e também às ações realizadas pelos seres humanos. Nada pode suceder a menos que Allah o decrete e permita que ocorra. Por exemplo, uma pessoa pode atentar contra a vida de outra, mas, sem dúvidas só matará a outra se Allah o permitir. Pode-se realizar todas as ações para atingir um fim, mas se Allah não quiser, não ocorrerá. No caso mencionado anteriormente, Allah pode fazer com que o tiro saia pela culatra ou que a mão que dispara trema, fazendo com que a finalidade não seja atingida. Este aspecto do qadar também pode ser compreendido com diversas provas. Por exemplo, Allah disse:... Se Deus quisesse, aqueles que os sucederam não teriam combatido entre si, depois de lhes terem chegado as evidências. Mas discordaram entre si; uns acreditaram e outros negaram. Se Deus quisesse, não teriam digladiado; porém, Deus dispõe como quer.” (2: 253) “Certamente, não é mais do que uma mensagem, para o universo. Para quem de vós se quiser encaminhar. Porém, não vos encaminhareis, salvo se Deus, o Senhor do Universo, assim o permitir.” (81: 27-29) Ibn Uthaimin também nos oferece um argumento racional para este aspecto da crença no qadar. Diz-se que deve se aceitar que Allah é o Dono, Senhor e Controlador de Sua criação. Desta maneira, não há forma de que algo ocorra sob Seu domínio sem que Ele saiba o que se passa, pois tudo se encontra sob Seu controle e faz parte de Seu domínio. Então, tudo que ocorre em Sua criação está sujeito à Sua vontade. Nada pode ocorrer a menos que Ele o deseje. Do contrário, Seu controle e autoridade sobre Seu domínio seriam deficientes e insuficientes, já que haveria coisas que aconteceriam sob Seu domínio, sem que necessitasse de Seu consentimento ou conhecimento. Estas hipóteses são inaceitáveis. O quarto nível na crença no qadar é a crença em que Allah é o Criador de tudo, Ele quem provoca a existência e outorga essência a tudo. Este aspecto pode ser demonstrado por vários versículos do Qur’an, como os seguintes: “Bendito seja Aquele que revelou o Discernimento ao Seu servo – para que fosse um admoestador da humanidade, O Qual possui o reino dos céus e da terra. Não teve filho algum, nem tampouco teve parceiro algum no reinado. E criou todas as coisas, e deu-lhes a devida proporção.” (25: 1-2). “Deus é o Criador de tudo e é de tudo o Guardião.” (39: 62). “Em verdade, criamos todas as coisas predestinadamente.” (54: 49). Ibn Uthaimin explicou este assunto com as seguintes palavras: “tudo é criação de Allah. Inclusive as ações da humanidade são criações de Allah. Apesar de ser produto do livre arbítrio e vontade do homem, continua sendo criação de Allah. Isto se deve a que cada ação do homem é resultado de duas coisas: uma vontade clara e habilidade [para realizar tal ação]. Por exemplo, suponhamos que à sua frente haja uma rocha, cujo peso é nove quilos. E eu ordene: “levante esta rocha” e você responde: “não quero levantá-la”. Neste caso, sua falta de vontade o impediu de levantar a rocha. Pensemos que peço pela segunda vez: “Levante a rocha”, então você responde: “sim, farei o que me pedes”. Neste momento você quis levantar a pedra, entretanto não foi capaz, portanto, não a levantou porque não foi capaz. Se digo pela terceira vez: “levante esta pedra” e você a levanta, então houve a capacidade e a vontade para fazê-lo. Todas as ações que realizamos são o resultado de nossa vontade e nossa plena capacidade. Quem criou essa habilidade e essa vontade foi Allah. Se Allah nos houvesse paralisado, não teríamos habilidade para realizar nenhuma ação. Se, podendo fazer uma ação, desviamos a atenção para outra coisa, não a realizaremos. Dessa forma, dissemos: Todas as ações do homem são criadas por Allah. Isso se deve ao resultado de nossa vontade e habilidade e está vontade é de Allah. A razão pela qual Allah é o Criador dessa vontade e capacidade baseia-se no fato de que a vontade e a habilidade são duas características de quem quer algo e de quem tem habilidade para alcançá-lo. E por isso quem criou esta pessoa com esta habilidade foi Allah. Aquele que criou a pessoa que possui tais características específicas é Aquele que criou ditas características. Isso clarifica a situação e prova que as ações dos seres humanos são criação de Allah.” Na verdade, há muitas perguntas e equívocos que surgem ao redor do conceito de qadar. Devido às limitações de espaço, não podemos analisá-las em detalhes aqui. Não obstante, em uma passagem, Jaafar Shaikh Idris trata adequadamente várias questões relacionadas com o tema. Ele escreveu: “Deus decidiu criar o homem como um indivíduo livre, sem dúvidas Ele sabe (e o que Ele não pode saber?), antes de criar cada homem, e que este usará seu livre arbítrio. Por exemplo, sabe qual será sua reação quando um Profeta lhe transmita a mensagem de Deus... ‘Mas, se somos livres para usar de nossa vontade’, um Qadari pode dizer, ‘podemos usá-la de forma tal que contradiga a vontade de Deus e, nesse caso, estaremos equivocados ao declarar que tudo é vontade ou está decretado por Deus’. O Qur’an responde a esta pergunta recordando-nos que é Deus quem determina as ações que podem ser arbitrárias e é Ele quem nos permite fazer uso de nossa vontade. ‘Em verdade, esta é uma admoestação: e, quem quiser, poderá encaminhasse até a senda do seu Senhor. Porém, só o conseguireis se Deus o permitir, porque é Prudente, Sapientíssimo’ (76: 29-30)”. ‘Por ser assim,’ diz um qadari ‘Ele poderia evitar que cometêssemos maus atos.’ Obviamente, Ele poderia, ‘Porém, se teu Senhor tivesse querido, aqueles que estão na terra teriam acreditado unanimemente...’ (10:99). Sem dúvidas, Ele ditou que os homens fossem livres, especialmente nas questões da fé e incredulidade. ‘Dize-lhes: A verdade emana do vosso Senhor; assim, pois, que creia quem desejar, e descreia quem quiser...’ (18:29). ‘Se nossas ações são vontade de Deus,’ alguém pode dizer que ‘estas são, na realidade, Suas ações.’ Esta ideia é uma grande confusão. Deus deseja o que nós desejamos a partir do momento em que nos outorga a vontade de eleger e nos faz capazes de utilizar esta vontade; por exemplo, Ele cria tudo que possibilita nossa capacidade do exercício da vontade. Ele não exerce esta vontade mediante fatos, pelo contrário, não se poderia dizer que quando alguém bebe, come ou dorme é Deus quem realiza estas ações. Deus as criou, Ele não as realiza ou executa. Outro argumento baseado numa confusão consiste em que se Deus nos permite realizar más ações, então Ele as aprova e aquilo causa satisfação n’Ele. “Certamente, desejar algo, no sentido de permitir que uma pessoa faça algo, uma coisa é aprovar sua ação e elogiá-la e outra. Página 144. Abraço. Davi
quarta-feira, 17 de setembro de 2025
A FUNÇÃO DA LEI. Parte I
Cristianismo. Livro O Evangelho de Deus. Por Watchmann Nee (1903-1972). A FUNÇÃO DA LEI. Parte I. Compreendemos que a posição do homem diante de Deus é a de um pecador. Agora, consideremos porque Deus estabeleceu a lei. Uma vez compreendida a lei, seremos capazes de compreender a obra de Deus. Deus sempre soube da condição do homem, mas o homem conhece sua própria condição? Posto que o pecado foi manifestado diante de Deus, ele também deve ter sido sentido na consciência do homem. Todavia, a consciência do homem está apercebida do pecado? Infelizmente, não. Porquanto o homem não percebe o pecado, precisamos do operar da lei. Neste livro vamos estudar este assunto. Que é a lei? A lei nada mais é do que a exigência de Deus para que o homem trabalhe para Ele. Em Romanos, Efésios e Gálatas, o apóstolo Paulo mostra repetidamente que o homem é salvo pela graça, não pela lei. Em outras palavras, o homem é salvo porque Deus trabalha para o homem, não porque o homem trabalha para Deus. Não é uma questão de sermos algo diante de Deus ou de fazermos algo para Deus, mas do próprio Deus vir para o nosso meio a fim de tornar-se algo e fazer algo por nós. Essa é a razão de o apóstolo, sob a revelação do Espírito Santo, constantemente enfatizar este ponto: que tanto para os gentios como para os judeus, a salvação procede absolutamente da graça e não da lei. Queremos gastar algum tempo para ver que é impossível o homem ser salvo pela lei. Não estou usando o termo lei em referência à lei mencionada no Antigo Testamento. Lei, conforme aplico aqui, refere-se a um princípio, isto é, o princípio de o homem trabalhar para Deus. Veremos se a nossa salvação depende ou não de fazermos algo para Deus. A maneira como utilizo a palavra lei não é sem base bíblica. O apóstolo Paulo usava as palavras de um modo muito preciso e significativo. Na Bíblia, a palavra Cristo é frequentemente utilizada. Na língua original, algumas vezes não há o artigo definido antes da palavra Cristo. Em outras ocasiões existe um artigo definido, e neste caso podemos entendê-la como o Cristo. Infelizmente, não muitas versões traduzem isso precisamente. Outra palavra frequentemente usada é fé. Algumas vezes há um artigo definido na frente dela; nesses lugares é a fé. Da mesma forma, existem lugares na Bíblia onde a palavra lei também tem um artigo definido antes dela, e devemos ler a lei. Os significados dessas poucas palavras com o artigo definido são bem diferentes de seus significados sem o artigo definido. Por exemplo, quando Cristo é mencionado, refere-se ao Senhor Jesus Cristo; mas quando o Cristo é mencionado, você e eu também estamos incluídos. Quando a Bíblia fala do Cristo individual, não há artigo definido; mas ao falar do Cristo que nos inclui, encontramos o Cristo. Quando a Bíblia fala do nosso crer individual, ela usa fé, sem o artigo. Todavia, ao falar naquilo que cremos, isto é, nossa fé, ela usa a fé. Os tradutores da Bíblia sabem que sempre que a Bíblia menciona a fé, ela não está se referindo ao nosso crer normal, mas àquilo em que cremos. Que, então, é a lei? Na Bíblia, a lei sempre se refere à lei de Moisés, a lei no Antigo Testamento. Porém, se não houver o artigo definido antes de lei, esta refere-se à exigência que Deus faz ao homem. Portanto, tenhamos em mente que lei na Bíblia não se refere meramente à lei dada a nós por Deus, por intermédio de Moisés. Em muitos lugares na Bíblia, lei refere-se ao princípio que Deus aplica a nós ou ao princípio da exigência de Deus para conosco. A lei significa apenas a lei mosaica, a lei dada no monte Sinai, ou a lei do Antigo Testamento. Ela também significa as condições para a comunhão entre Deus e o homem. A condição para a comunhão entre Deus e o homem é a exigência que Deus faz ao homem, o que Ele quer que o homem faça e execute por Ele. O homem é salvo pelas obras da lei? Deus salva o homem por que este faz coisas por Ele? Todo mundo diz que devemos fazer o bem antes de Deus nos salvar. Se pusermos isso em termos bíblicos, significa que devemos ter as obras da lei a fim de sermos salvos. Os que falam dessa maneira cometem dois grandes erros. O primeiro é que desconhecem quem é o homem. O segundo é que não compreendem qual era a intenção de Deus ao dar a lei ao homem. Se soubermos o que somos, certamente não diremos que o homem precisa ter obras da lei para ser salvo. E, se conhecermos o propósito de Deus ao dar a lei, tampouco diremos que o homem pode ser salvo pelas obras da lei. Por ter cometido esses dois grandes erros, o homem carrega um conceito errado e diz coisas erradas. O Primeiro Grande Erro — Não Conhecer o que o Homem . É por que o homem diz que pode ser salvo pelas obras da lei quando nem mesmo sabe o que ele é? É porque o homem não sabe quão maligno ele é; ele não sabe que é carnal. Uma vez que o homem se tornou carne, existem três coisas nele que são imutáveis: sua conduta, sua lascívia e sua vontade. Por ser carnal, o que quer que ele faça é pecado e é maligno. Ao mesmo tempo, sua lascívia interior está ativamente tentando-o, provocando-o a pecar o tempo todo. Além disso, a vontade e o desejo do homem rejeitam Deus. Uma vez que a conduta do homem é contrária a Deus, sua concupiscência incita-o a pecar e a sua vontade é rebelde contra Deus, não há possibilidade de o homem ter as obras da lei e ser obediente a Deus. Portanto, é impossível que o homem satisfaça a exigência de Deus por meio da justiça da lei. Não temos somente nossa conduta exterior, mas também temos a concupiscência em nosso corpo; e não temos somente a concupiscência em nosso corpo, mas também temos à vontade em nossa alma. Você pode ser capaz de lidar com sua conduta, mas quando a concupiscência desperta dentro de você, mesmo que não consiga produzir uma conduta exterior pecaminosa, ela existe em você e provoca-o o tempo todo. E, mesmo que você odeie sua lascívia e se esforce ao máximo para lidar com ela, a sua vontade é totalmente incompatível com a de Deus. Nas profundezas do coração, o homem é rebelde contra Deus e quer crucificar o Senhor Jesus. Por um lado, a cruz significa o amor de Deus; mas por outro significa o pecado do homem. A cruz significa o grande amor que Deus tem ao tratar com o homem; mas ela também significa o tremendo ódio que o homem tem de Deus. O Senhor Jesus foi crucificado não apenas pelos judeus, mas também pelos gentios. A vontade do homem para com Deus nunca mudou. A vontade do homem está em total inimizade contra Deus. Romanos 8:7-8 diz: “Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus”. A mente posta na carne é inimizade contra Deus. Os que estão na carne não estão sujeitos à lei de Deus, nem mesmo o podem estar. Não compreendemos suficientemente o homem. Achamos que o homem ainda é curável e útil. Por isso, dizemos que as obras da lei ainda podem salvar o homem. Mas o homem jamais pode estar sujeito à lei de Deus; simplesmente não é nossa natureza fazê-lo. Em nossa conduta não existe o poder de ser submisso e nossa natureza não consegue ser submissa. Não somente somos incapazes de ser submissos, nós simplesmente não estamos dispostos a ser submissos. Ser incapaz de se sujeitar é uma questão da nossa natureza e da nossa lascívia; não estar disposto a ser submisso é uma questão da nossa vontade. Fundamentalmente, na sua vontade, o homem não está sujeito a Deus. Portanto, a lei somente irá manifestar a fraqueza, a impureza e a pecaminosidade do homem. Ela não manifestará a justiça do homem. Se alguém diz que uma pessoa pode receber vida e ser justificada pelas obras da lei, esse realmente não conhece o homem. Se o homem não fosse carnal nem pecaminoso, a lei talvez pudesse dar-lhe vida. Essa é a razão de Gálatas 3:12 dizer: “Aquele que observar os seus preceitos [as obras da lei, por eles viverá”. Infelizmente, os seres humanos são todos pecadores. Eles são carnais e impotentes para se sujeitarem a Deus, e não têm coração de se submeter a Deus. O homem não tem força para fazer as obras da lei nem coração para isso. A lei é boa, mas a pessoa que faz as obras da lei não é. Todos devemos admitir isso. O Segundo Grande Erro — Não Conhecer a Intenção de Deus ao dar a lei .O homem acha que pode ser salvo pelas obras da lei porque nunca leu a Bíblia nem viu a luz ou a revelação celestial. Ele nunca compreendeu o desejo e a intenção de Deus. Ele nunca compreendeu o caminho da salvação. Se deseja saber se pode ou não ser salvo pelas obras da lei, você precisa primeiro perguntar por que Deus deu a lei. Somente depois de descobrir o propósito de Deus em dar a lei, é que você saberá se pode ou não ser salvo pelas obras da lei. Diante de mim está um púlpito. Se lhes perguntar o que é isso, alguns podem responder que é uma cadeira alta. Uma garotinha pode responder que é uma cama faltando dois pés. Outro pode dizer que isso é uma cômoda porque existem gavetas nela. Se perguntasse a um irmão, ele poderia dizer que isso é uma estante, porque se pode colocar livros nela. Se perguntasse a dez pessoas, poderia obter dez respostas diferentes. Um vendedor de livros, por exemplo, pode dizer-me que é um perfeito balcão para vendas. Cada pessoa teria uma resposta diferente segundo sua própria experiência e conceito. Contudo, se você quer saber o que isso realmente é, em primeiro lugar precisa perguntar à pessoa que o fez. Se ela disser que isso é uma cômoda, então é uma cômoda. Se ela lhe disser que é uma estante, então é uma estante. Se disser que é um púlpito, então, sem dúvida, é um púlpito. Da mesma forma, se me perguntar ou a qualquer outro qual é a função da lei, você está perguntando à pessoa errada. A lei foi dada por Deus, por isso temos de perguntar a Deus qual a sua função. Uma vez que Deus nos diga qual a Sua intenção em dar a lei, saberemos se o homem pode ser salvo pelas obras da lei ou não. Portanto, precisamos gastar algum tempo para examinar a Bíblia sobre essa questão. Precisamos ver passo a passo como a lei veio. Temos de ver historicamente a partir do registro da Bíblia porque Deus deu a lei ao homem. A Lei não É o Pensamento Original de Deus. A primeira coisa que devemos ver é que a lei não foi de modo nenhum a intenção original de Deus. A lei foi acrescentada posteriormente; ela foi introduzida para satisfazer certas necessidades urgentes. Ela foi produzida para cuidar de coisas que foram introduzidas ao longo do percurso. A lei não estava na intenção original de Deus; a graça estava. Em 2 Timóteo 1:9-10 é dito: “Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho”. Aqui o apóstolo Paulo diz-nos que Deus tinha um pensamento, e que esse pensamento começou antes dos tempos eternos, antes da criação do mundo. Esse era o pensamento original de Deus. E que tipo de pensamento era? Paulo diz que essa graça nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos. Antes dos tempos eternos, antes de o homem pecar, e até mesmo antes da criação do mundo, Deus já havia tomado a decisão de dar-nos Sua graça por meio de Cristo Jesus. Portanto, a graça era o pensamento original de Deus. Era algo que Deus planejou desde o início de tudo. Por que Deus quis dar-nos a graça? Paulo diz que Deus “nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça”. A vontade de Deus é dispensar Sua graça, e essa graça nos salva. Ele nos salvou e nos chamou com santo chamamento para que desfrutemos Sua glória. É isso que a graça de Deus está fazendo. Ele desejou salvar-nos e chamar-nos com santo chamamento segundo o Seu propósito, segundo o que Ele planeja fazer. Aqui Paulo foi muito cuidadoso; ele acrescentou uma frase para mostrar-nos se a lei está ou não de acordo com o propósito de Deus. Ele diz: “Não segundo as nossas obras”. A salvação de Deus não é de acordo com o quanto podemos fazer por Deus; não é segundo o quanto de responsabilidade podemos assumir diante Dele. Pelo contrário, é Deus vindo cumprir algo por nós, e é Deus dando-nos Sua graça. Essa graça sempre esteve relacionada com o Seu plano. Assim, lembremo-nos de que antes dos tempos eternos, o pensamento de Deus era a graça, não as obras nem a lei. Paulo continua: “Que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus”. Essa graça não havia sido manifestada até agora. Portanto, vejam que, embora essa graça estivesse planejada há muito tempo, foi somente quando o Senhor Jesus veio que conhecemos o que realmente a graça era. Que faz essa graça por nós? Prossigamos lendo: “O qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho”. Quando o Senhor Jesus foi manifestado, Ele aboliu as obras bem como o resultado das obras. O resultado de obras más é a morte. Mesmo que você tenha feito as piores obras, o máximo que a lei pode fazer é exigir a sua morte. Após sua morte, a lei nada mais pode fazer. Você poderia perguntar: “Que acontece se minhas obras não violaram a lei? Ainda assim preciso morrer?” Sim, você precisa. Mas o Senhor também anulou a morte. O Senhor aboliu as obras e também a morte. Esse é nosso evangelho, o qual foi planejado antes dos tempos eternos, embora não tenha sido manifestado até o aparecimento do Senhor Jesus. Assim, o pensamento fundamental de Deus era a graça. Após o homem ter sido criado, tanto Adão como Eva pecaram e se rebelaram. O pecado entrou no mundo por meio de um homem. Mas Deus não deu a lei ao homem naquele tempo. Mesmo por um período de aproximadamente mil e seiscentos anos após o homem ter pecado, Deus não deu a lei ao homem. Deus não teve exigências com o homem naquele período. Deus permitiu à história que tomasse seu curso natural. Então um dia, quatrocentos e trinta anos antes de Moisés instituir a lei, Deus falou a Abraão, o pai da fé, e escolheu-o para ser aquele por meio de quem Cristo viria ao mundo. Deus escolheu Abraão e deu-lhe a grande promessa de que todas as nações seriam abençoadas pelo seu descendente (Gênesis12:3; 22:18).
segunda-feira, 15 de setembro de 2025
QUEM É O CABALISTA? HISTÓRIA DA CABALA E DO ZOHAR
Judaísmo. Livro Um Guia a Sabedoria Oculta da Cabala. Por Rabi Michael Laitman (1946 - ). QUEM É CABALISTA? O Cabalista é um pesquisador que estuda sua própria natureza utilizando um método preciso, comprovado e que resistiu à prova do tempo. O Cabalista estuda a essência de sua existência utilizando ferramentas simples que todos podem empregar - sentimentos, intelecto e coração. Um Cabalista é uma pessoa comum como outra qualquer. Não precisa ter nenhuma habilidade, talento ou ocupação especial. Não precisa ser um sábio ou ter a expressão facial de um santo. Em algum momento de sua vida, tomou a decisão de procurar um caminho que lhe oferecesse respostas confiáveis às perguntas que o perturbavam. Mediante um método preciso de estudo, pôde adquirir um sentido adicional, um sexto sentido, o sentido espiritual. Com a ajuda deste sentido, o Cabalista percebe as esferas espirituais tão claramente como nós percebemos nossa realidade aqui e agora; ele recebe conhecimento a respeito das esferas espirituais, dos mundos superiores e da manifestação das forças superiores. Estes mundos denominam-se "superiores" porque se encontram mais além, mais acima do que o nosso. O Cabalista eleva-se do seu nível espiritual atual para o nível espiritual seguinte, ou mundo superior. Este movimento o leva de um mundo superior ao seguinte. Ele percebe as raízes a partir das quais se desenvolveu tudo o que existe aqui, tudo o que preenche o nosso mundo, incluindo nós mesmos. O Cabalista encontra-se ao mesmo tempo em nosso mundo e nos mundos superiores. Esta qualidade é comum a todos os Cabalistas. O Cabalista recebe a informação real que nos circunda e percebe esta realidade. Por isso pode estudá-la, familiarizar-se com ela e transmiti-la para nós. Propõe-nos um método novo para conhecer a fonte de nossas vidas e conduzir-nos para a espiritualidade. Oferece-nos esse conhecimento em livros escritos em uma linguagem especial. Lidos de forma especial, esses livros converter-se-ão em naves que nos permitirão descobrir também a verdade por nossos próprios meios. Nos livros que escreveram, os Cabalistas nos transmitem técnicas baseadas em experiências pessoais. A partir de sua vastíssima perspectiva, encontraram a maneira dde ajudar aqueles que viriam depois, para que subam a mesma escada que eles. Este método denomina-se "a Sabedoria da Cabala". HISTÓRIA DA CABALA E DO ZOHAR. O primeiro Cabalista que conhecemos foi o patriarca Abraham. Ele percebeu as maravilhas da existência humana, propôs perguntas a respeito do Criador, e os mundos superiores lhe foram revelados. Transmitiu às gerações seguintes o conhecimento adquirido e o método usado para adquiri-lo. A Cabala foi transmitida oralmente durante muitos séculos. Cada Cabalista agregou sua experiência única e sua personalidade a este corpo de conhecimento acumulado, na linguagem própria para as almas de sua geração. A Cabala continuou a desenvolver-se depois que a Bíblia (os 5 livros de Moisés) foi escrita. No período compreendido entre o Primeiro Templo e o Segundo (586 a.C * antes da era comum – 515 a.C), já se estudava Cabala em grupos. Depois da destruição do Segundo Templo (70 *d.C – era comum) e até a nossa geração, houve três períodos particularmente importantes no desenvolvimento da Cabala, nos quais apareceram os mais importantes escritos a respeito de seus métodos de estudo. O primeiro período teve início durante o século III, quando o livro do Zohar foi escrito por Rav Shimon Bar Yochai (150 – 230), o "Rashbi", um aluno de Rav Akiva (40 – 160). Rav Akiva e muitos dos seus estudantes foram torturados e assassinados pelos romanos, que se sentiram ameaçados pelo ensinamento da Cabala. Depois da morte de 24,000 dos seus discípulos, Rav Akiva (50 - 135 d.C) e Rav Yehuda Ben Baba autorizaram o Rashbi a transmitir a Cabala que lhe havia sido ensinada. Somente o Rav Shimon Bar Yochai e outros quatro estudantes haviam sobrevivido à matança e, depois da captura e encarceramento do Rabí Akiva, o Rashbi escapou com seu filho Eliezer. Viveram numa gruta durante 13 anos. Eles saíram da gruta com o Zohar, com um método completo para o estudo da Cabala e tendo atingido a espiritualidade. Rashbi alcancou os 125 níveis que um ser humano pode conseguir durante sua vida neste mundo. O Zohar nos relata que ele e seu filho atingiram o nível denominado "Eliahu o Profeta", o que significa que o próprio profeta em pessoa vinha ensinar-lhes. O Zohar é um livro escrito em forma de parábolas e em aramaico, um idioma que se falava nos tempos bíblicos. O Zohar nos diz que o aramaico é o "inverso do hebraico", o lado oculto do hebraico. Rabí Shimon Bar Yochai não o escreveu ele mesmo, mas transmitiu a sabedoria e a forma de atingi-la metodicamente ditando seu conteúdo a Rav Aba. Aba redigiu o Zohar de maneira que só pudessem entendê-lo aqueles que fossem dignos disso. O Zohar explica que o desenvolvimento humano se divide em 6.000 anos, durante o qual as almas transitam em um processo de desenvolvimento contínuo a cada geração. Ao final do processo, todas as almas atingem o "fim da correção", isto é, o nível mais elevado de espiritualidade e perfeição. Rabí Shimon bar Yochai foi um dos maiores de sua geração. Escreveu e interpretou muitos temas Cabalísticos que foram publicados e são conhecidos até o dia de hoje. O livro do Zohar, por sua vez, desapareceu depois de ser escrito. Conta a lenda que os escritos do Zohar permaneceram ocultos numa gruta perto de Sfat, em Israel. Foram encontrados vários séculos depois por residentes árabes da região. Um dia, um Cabalista de Sfat comprou pescado no mercado, descobrindo com surpresa o valor inestimável do papel em que estava embrulhado. Imediatamente se dedicou a comprar dos árabes o resto das peças, reunindo-as num livro. Isto ocorreu porque está na natureza das coisas ocultas que elas sejam descobertas no momento oportuno, quando as almas adequadas reencarnam e ingressam no nosso mundo. Deste modo o Zohar foi revelado ao longo do tempo. Pequenos grupos de Cabalistas estudaram estes escritos em segredo. No século XIII, na Espanha, Rav Moshé de León (1240-1305) publicou este livro pela primeira vez. O segundo período de desenvolvimento da Cabala é muito importante para a Cabala de nossa geração. É o período do Ari, Rav Isaac Luria (1534-1572), autor da transição entre os dois métodos de estudo da Cabala. Nos escritos do Ari aparece pela primeira vez a linguagem pura da Cabala. Ari proclamou o começo de um período de estudo aberto e em massa da Cabala. Ari nasceu em Jerusalém em 1534. Tendo perdido o pai ainda pequeno, sua mãe o levou ao Egito, onde criando-o na casa de seu tio. Durante sua vida no Egito, mantinha-se graças ao comércio, mas dedicava a maior parte de seu tempo ao estudo da Cabala. Segundo a lenda, passou sete anos isolado na ilha da Roda no Nilo, estudando o Zohar, os livros dos primeiros Cabalistas e os escritos de outro membro de sua geração, o "Ramak", Rav Moisés Cordovero. Em 1570, chegou a Safed, em Israel. Embora jovem, começou imediatamente a ensinar Cabala. Sua grandeza foi logo reconhecida; todos os sábios de Safed, muito versados na Torá revelada e na oculta, vieram estudar com ele, que se tornou famoso. Durante um ano e meio, seu discípulo Chaim Vital registrou as respostas a muitas das perguntas que surgiam durante seus estudos. Alguns destes textos foram escritos pelo Ari, conhecidos por nós como "Etz Hachayim" (A Árvore da Vida )"Sha'ar Hakavanot" (O Portal das Intenções), "Sha'ar Hagilgulim" (O Portal da Reencarnação) e outros. Ari nos legou um sistema básico para estudar a Cabala, que continua vigente até o dia de hoje. Ari faleceu ainda jovem, em 1572. Segundo sua vontade, seus escritos foram arquivados, para que a sabedoria não fosse revelada antes do tempo certo. Os grandes Cabalistas forneceram o método e o ensinaram, mas sabiam que sua geração era ainda incapaz de apreciar sua dinâmica. Por isso preferiram muitas vezes esconder ou mesmo queimar seus escritos. Sabemos que Baal HaSulam (1885-1954) queimou e destruiu a maior parte de seus escritos. É significativo o fato de o conhecimento ter sido confiado ao papel e depois destruído. O que se revela no mundo material tem efeitos no futuro e será mais facilmente revelado uma segunda vez. Rav Vital ordenou que certas seções dos escritos do Ari fossem ocultas e enterradas com ele. Uma parte foi legada a seu filho, que as organizou como “As Oito Portas”. Muito depois, um grupo de estudiosos liderados pelo neto de Rabí Vital resgataram da tumba a outra parte dos escritos. Apenas nos tempos do Ari, começou-se a estudar o Zohar em grupos abertamente. A partir dali o estudo do Zohar prosperou durante duzentos anos. No grande período da Hassidut (1750 – fins do século XIX) praticamente todo grande rabino era um Cabalista. Apareceram Cabalistas principalmente na Polônia, Rússia, Marrocos, Iraque, Yemen e outros países. Depois, no início do século XX, o interesse pela Cabala decaiu até quase desaparecer por completo. O terceiro período agrega um método adicional às doutrinas do Ari, redigido em nossa geração por Rabí Yehuda Ashlag, autor da interpretação Sulam (escada) do Zohar e dos ensinamentos do Ari. Este método mostra-se particularmente apropriado para as almas de nossa geração. Rav Yehuda Ashlag, conhecido como "Baal HaSulam" por sua versão Sulam do Zohar, nasceu em 1885, em Lodz, na Polônia. Durante sua juventude, absorveu um profundo conhecimento da lei oral e escrita, sendo depois juiz e mestre em Varsóvia. Em 1921 emigrou para Israel com sua família, ocupando o posto de rabino de Givat Shaul, em Jerusalém. Já estava imerso na redação de sua própria doutrina quando começou a escrever o comentário do Zohar em 1943. Baal HaSulam terminou de redigir seu comentário do Zohar em 1953. Morreu no ano seguinte, tendo sido enterrado no cemitério de Givat Shaul em Jerusalém. Sucedeu-lhe seu filho mais velho, Rav Baruch Shalom Ashlag, o "Rabash". Seus livros estruturam-se segundo as instruções de seu pai. Elaboram com elegância os escritos paternos legados à nossa geração, facilitando seu entendimento. Rabash nasceu em Varsóvia em 1907, emigrando para Israel com seu pai. Somente depois de seu casamento o pai lhe permitiu integrar os seletos grupos de estudo da sabedoria oculta -a Cabala. Rapidamente o autorizou a dar aulas para iniciantes. Depois da morte de seu pai, encarregou-se de continuar ensinando o método especial que tinha aprendido. Apesar de seus grandes feitos, insistiu, como seu pai, em manter um modo de vida muito modesto. Ao longo de sua vida trabalhou como sapateiro, pedreiro e empregado de escritório. Vivia exteriormente como uma pessoa comum, mas dedicava cada minuto livre ao estudo e ao ensino da Cabala. Rabash faleceu em 1991. Rav Yehuda Ashlag, o Baal HaSulam, é o líder espiritual adequado para nossa geração. É o único de sua geração que escreveu um comentário completo e atualizado do Zohar e dos escritos do Ari. Estes livros e os ensaios de seu filho, Rav Baruch Ashlag, o Rabash, são a única fonte que dispomos nos ajudar em nosso progresso espiritual. Ao estudar seus escritos, estamos estudando na verdade o Zohar e os escritos do Ari através dos comentários mais recentes (últimos 50 anos). Atuam como cinto de segurança para nossa geração, pois nos permitem estudar textos antigos como se tivessem sido escritos agora, usando-os como trampolim para a espiritualidade. O método do Baal HaSulam serve para todos. A Sulam (escada) que construiu em seus escritos assegura que nenhum de nós deve temer o estudo da Cabala. Todo aquele que estudar Cabala durante três a cinco anos subirá às esferas espirituais, à realidade total e ao "entendimento divino", nome do que está acima (além) de nós e do que ainda não percebemos. Estudando segundo os livros de Rav Yehuda Ashlag, atingiremos a autêntica correção. O método de estudo tem por objetivo despertar em nós o desejo de compreendermos os mundos superiores. Aumenta nosso desejo de conhecermos nossas raízes e de conectar-nos com elas. Então seremos capazes de nos aperfeiçoar e de nos autorrealizar. Os três grandes Cabalistas são uma mesma alma, que apareceu uma vez como Rav Shimón, em uma segunda ocasião como o Ari e uma terceira vez como Rav Yehuda Ashlag. Cada ocasião correspondeu ao momento oportuno de maturidade e merecimento de cada geração, descendo a alma para ensinar o método adequado. As gerações são cada vez mais dignas de descobrir o Zohar. O que foi escrito e oculto por Rav Shimón Bar Yochai foi descoberto mais tarde pela geração de Rabí Moshé de León e depois pela do Ari, que começou a interpretá-lo em termos de Cabala. Estes escritos também foram arquivados e depois parcialmente redescobertos a seu devido tempo, enquanto nossa geração tem o privilégio de aprender com o Sulam, que habilita a qualquer um a estudar a Cabala e a auto-corrigir-se já. Vemos que o Zohar fala a cada geração. À medida que passam as gerações, o livro é mais revelado e melhor compreendido. Cada geração abre o livro do Zohar a seu modo, segundo as raízes de sua alma. Ao mesmo tempo, tenta-se ocultar os escritos cabalísticos, para que os que sintam a necessidade os procurem e s descubram por si mesmos. Os Cabalistas sabem evidentemente que o processo de mudança requer duas condições: momento adequado e maturidade da alma. Somos testemunhas de um acontecimento muito interessante, caracterizado pelo surgimento e a sinalização de uma nova era no estudo da Cabala. Abraço. Davi